terça-feira, 17 de junho de 2003

BLOGS, "CLOSER" E MEC


«Se eu vos disser que não me lembro de andar tão excitado desde o meu contrabando da matriz do "Closer" dos Joy Division, escondido numa fita que dizia "Grupo Folclórico de Monção" na caixa, talvez fiquem com uma ideia de como ando entusiasmado com os blogues portugueses».

Começa, assim, o texto de Miguel Esteves Cardoso no DNA último e que está disponível no Pastilhas. Lembrei-me logo do Padre António Vieira, quando dizia que «a maior saudade é a da vida». Tinha razão. E estou a ver o Miguel com «as fitas matrizes de ‘Closer’ num saco de plástico da Sapataria Lisbonense» (Escrítica Pop, Miguel Esteves Cardoso, Querco, 1982), para imaginar o gozo que sentiu. Com um sorriso, cúmplice, de Vieira. E nosso, já agora!

«’Closer’ é limpidamente belo – tem a transparência silenciosa da solidão, sem nunca se transformar em auto-compaixão ou sentimentalismo. É o momento em que nos damos fé duma tristeza insolúvel, e da futilidade de a conhecer. Não há revolta – apenas um lento despertar, corajosamente assumido e aceitado. O encanto principal dos Joy Division não é o virtuosismo, ou sequer a criatividade da música – é, sobretudo, uma inesquecível sinceridade (…)» (op.cit.)

Não há qualquer «messianismo» ou nostalgia, olhando para trás. Apenas o gozo que a libido ainda nos permite. E o blogar não é mais que isso mesmo. O prazer de encantamentos mil, livre e liberto. Ou modo de estarmos vivos. Ainda.
Mas, se nenhuma leitura é inocente, e algumas são mesmo perversas, a decifração ou desconstrução das linguagens e discursos presentes no «território» da blogosfera, exije meios de inscrição conceptuais, que permita aceder à «provocação» que o movimento da blogosfera faz aos velhos medias e a todos nós, intervenientes e leitores. Porém não é, ainda, o tempo de os blogs serem «objecto cientificamente analisável», embora se comece já a notar algumas fissuras na rede de interdependências que o discurso deste novo medium configura e que aos media institucionais (des)legitima. Alguns blogs deixaram argumentação - Abrupto, Pastilhas, Mar Salgado, Blog de Esquerda, Montanha Mágica, Gato Fedorento - sobre a matéria. Temos alguma dúvidas, mas o que nos interessa salientar são os seguintes pontos nodais, a saber:

- as novas tecnologias de informação contaminam toda a cultura, nivelam o imaginário de todos e conduzem a novas formas de sociabilidade, no sentido das «tribos» em Maffesoli. As redes de «unidades sociais afectivas» contra a desconstruções dos afectos, só podem decorrer a partir das condições materiais de existência (Marx ou Bourdieu).

- o dizer de Maffesoli, quando refere «uma cultura de sentimento» num «presente vivido colectivamente» e que a Internet transporta, muito bem, dado que o simulacro se cola ao real, habita essa «comunidade emocional». E, aí está a União dos Blogs Livres, ou a listagem classificada nalguns blogs, todos diferentes, porém todos iguais.

- poderá esta «socialidade» moderna ('presenteísta, tribal e estética') provocar uma guerrilha com os media? Que reencantamento encontrar num veículo comunicacional que destabilizaria (como alguns assumem) a organização e os conteúdos jornalísticos?

- a «estetização da vida quotidiana» (Featherstone) invade todos os saberes, tornando-os tecnicamente utilizáveis (circulação de imagens, textos, signos, …). Este jogo tecnológico – de sedução plena – presente nos intervenientes da blogosfera conduzirá a um novo mercado de «signos-mercadoria», a outro negócio? E se sim, então o saber cairia (sempre assim foi ou será?) ou existiria, apenas, como valor de troca, ou mercantilização do saber através das competências ou performances operacionais.

- o jogo comunicacional (destinatário/ destinador) é uma relação desigual, dado que na falta de regras não haverá «jogo». Outros jogam pelo prémio do «jogo» e não mais pelos simples «jogo», gozo ou fruição. A chegada à blogosfera de militantes partidários, é disso prova.

- um controlo disciplinar exercido por alguns (simbolicamente, sò que o seja) permite estratégias de sobrevivência, numa lógica de cuidado curiosa nalgum discurso bloguista. Afinal o putativo «umbiguismo» e a lucidez dessa praxis discursiva, é isso mesmo. Ritos de passagem? Rituais perdidos?

Enquanto a problemática ganha o fedback necessário para uma «gramática» blogosferiana, fiquemos recostados nos maples,em auto-serviço, fazendo espaço conversável. Se nos permitirem

sábado, 14 de junho de 2003

DORMIR



«Nos brancos abismos é que se estuda, e dormir faz bem às palavras»

[Herberto Helder]

SOCIEDADE DO RAIO - 140 ANOS


A referência 'mítica', quer do imaginário do movimento académico, como o prof. António Nóvoa considera (A Sociedade do Raio na Coimbra Académica de 1861-1863), quer da literatura esóterica assente nas sociedads secretas e que a Sociedade do Raio protagonizou, fez 140 anos. Muito se disse sobre a filiação dos seus intervenientes e das medidas conspirativas dos seus membros.

Antero de Quental foi um dos seus mentores, juntamente com José Falcão, José da Cunha Sampaio e seu irmão Alberto, e muitos outros. Em 1863 a reestruturação pretendida por Antero não vingou. Alguns criaram novos 'modelos clandestinos' (Nóvoa, op. cit.) como José da Cunha Sampaio a partir da Loja Maçonica Reforma, e outros partiram para outras lutas.

Seja como for, e independente da bibliografia havida, ainda não está feito o estudo, quer da influência de Hegel, Marx, Proudhon ou Comte na Sociedade do Raio e na Academia Coimbrã; quer da solidarieade verificada para com o povo polaco e a atenção que, então, davam os estudantes à situação internacional; quer, por último, da importância (como muito bem refere Nóvoa) contributiva para 'uma experiência formadora de percursos individuais e de projectos colectivos' (op. cit.) que a agitação consumou.

MANUEL FERREIRA E AS CARTAS FAC-SIMILADAS DE PESSANHA

A notícia publicada no Público (dia 13 de Junho) deixou atónitos alguns amadores de livros e bibliófilos: a venda em leilão (leilão da Biblioteca de Sérgio Oliveira) de supostas cartas originais trocadas entre Camilo Pessanha e Ana de Castro Osório, de elevado valor em praça, e que mais tarde se verificou serem reproduções saídas à estampa pela Colóquio Letras. Ora, se de facto o erro em causa é lamentável num leilão daquela envergadura, parece-nos justo que se diga que o nome do livreiro e excelente catalogador Manuel Ferreira não pode estar em causa sob pretexto algum. Porque não passa pela cabeça de quem quer que seja, que Manuel Ferreira tenha deliberadamente forjado qualquer fraude. Manuel Ferreira, com provas dadas ao longo de dezenas de anos não é desses. Como reconheceu, ao Público, 'facilitou' e quando soube do erro rapidamente resolveu o caso com o cliente, como sempre o faria. O mesmo procedimento ético, segundo se lê na notícia, não se pode dizer do anterior proprietário da biblioteca, que não só sabia que as cartas não eram originais e se calou, bem como entendeu não ressarcir o livreiro alfarrabista. O que é lamentável.

LEILÃO LIVROS

Tomem nota - Dia 25 e 26 de Junho, pleas 15 horas, no Palácio do Correio Velho, ali à Calçada do Combro. Algumas dicas, pessoais:

- Conjunto significativo de textos manuscritos de Luiz Pacheco e 17 cartas de Pacheco ao 'seu amigo' Luis Piteira. Peças de colecção
- Parte do espólio do Doutor Armindo Rodrigues de Sttau Monteiro, divididos em: Relações Luso-Britânicas na II GM; Demisssão do embaixador e neutralidade de Portugal na II GM (correspondência trocada com Salazar); Política Internacional (Guerra de Espanha) e Vida Académica e vida pública. Importante e valioso
- Parte do espólio do escritor Sttau Monteiro, com vários cadernos manuscritos em torno do teatro, cinema e política nacional.
- 1ª edição da Mensagem de Fernando Pessoa, rara e valiosa
- Conjunto de Manuscritos importantes, composto por cartas (de D. João VI, D.Luiz I ao Marquês Sá da Bandeira), ofícios, pareceres (D. Pedro V) e outros documentos.
- Rico conjunto de obras versando Direito
- Exemplar da suposta 3ª edição das Rimas de Luiz de Camões, 1607, muito raro
- Outros: Brasões da Sala de Sintra (Braamcamp Freire);História da Igreja em Portugal (Fortunato de Almeida);

quinta-feira, 12 de junho de 2003

LADAINHA DO SONO




"Sono, cama dossel que a todos querem servir
Mas mais a quem não sabe já o que é dormir,
Ó Sono, meu amor, eu clamo. Vem-me ouvir.
....................................
Sono! Coca, papão, fedor de fumarada,
Máscara nariguda, renda perfumada,
Beijos duma qualquer ou beijos só da amada!
Ladra Nocturna, Borborinho Transtornado,
Cheirinho a levantar-se de tumba escavada!"

[Tristan Corbière].

quarta-feira, 11 de junho de 2003

PORTUGAL (A NAÇÃO)


«Portugal a cabeça, cuja fronte patenteia três sentidos - o que respira, o que concede a palavra e o da visão -, é o Consciente de Europa.
Encarnação de Marte - o Mestre da Força, da Acção e da Luta -, é o estratego excelente, o criador das Quinas, dos Escudos ou Heróis, o construtor eminente dos Castelos - a sua invencível Fortaleza - e o realizador, por mérito próprio, do seu nobre, glorioso e ariano Solar.

Representando o princípio masculino, a força centrífuga, o movimento de translação, é o génio do Amor, da Aventura e da Saudade, o protector dos Argonautas, o Siva da Fé, aquele que, debruçado na sua Ponte-Cais, olhando fixo o cristalino do Mar, avista ali, diante de si, num só ponto, os quatro pontos cardeias, a par da vitória daqueles Argonautas contra todos os Titãs e contra o próprio Mestre da Morte e dos Infernos, e, por fim, como prémio, o mundo-terra a seus pés.

Portanto, os Portugueses - os homens dos portos - vencedores do Mar Tenebroso e descobridores dos quatro caminhos do Mundo, foram os construtores, os instituidores, os fundadores do Império.»

Os Atlantes, Vasco da Gama Rodrigues, 1961

terça-feira, 10 de junho de 2003

LUSITANA ANTIGA LIBERDADE


Lusitana Antiga Liberdade

Eis que arribou à blogosfera Henrique Barrilaro Ruas, li no Santa Liberdade. Faz tempo que não leio nada dele. Lembro-me esse espantoso texto sobre Santa Maria de Seiça, publicado na Cultura Portuguesa. E a soidade regressa. Seja bem vindo Henrique.

«Terras por onde passa (a meia hora) a linha dos comboios e, um pouco mais além, a estrada de Lisboa ao Porto não podem ser terras de ceara farta do Espírito. A não ser, meu Deus, que seja certo que o Espírito sopra donde quer e para onde quer. E pode ser que lá venha o dia em que novos Povoadores e novas Cisteres, como os outros que despertaram dos séculos de ferro, tragam de novo a bênção. Já nem sei se de azeite, de vinho, de broa e de carqueja, de tojo e de giesta, de caça miúda e de couves mais altas que um homem - mas de Alegria, Senhor... Da alegria que nasce de um coração que aprendeu e compreendeu a antiga e veneranda regra:"Ora et labora!

[SANTA MARIA DE CEIÇA, in, Cultura Portuguesa nº 2, Janeiro-Fevereiro de 1982]

segunda-feira, 9 de junho de 2003

CAMPOS DO MONDEGO


"Sem ordem nem desordem" [Eluard]

Voltar à saudade sebástica, ao antiquíssimo cantar nestes campos do Mondego, com mar ao fundo. Para escusar a fadiga relembremos António Telmo, Manuel Gandra, Agostinho da Silva, António Quadros, José Marinho, Leonardo Coimbra, e muitos muitos outros.

«Coexiste comigo muita gente
que vive comigo apenas porque
dura comigo
» F.P.

O salutar descanso nos doces campos do Mondego e o regresso sempre mais razoável, prudente e sensato. Longe vai o tempo de longas vigílias para fazer mandas aos profanos. Pascoaes, Sampaio Bruno o Encoberto(Telmo dixit), Sant’Ana Dionísio, Botelho, Álvaro Ribeiro, Dalila Pereira da Costa, e muitos muitos outros.

«A vida é tão brava
A alma tão vasta
Ai passa ao de leve
A soidade hausta

Choras e ris
Acoit’o bater
Duma flor de Liz
Neste Alvoracer

A Alva é de brôa
Seu colmo seu linho
Num búzio ressôa
Eterno menino

Luz que vem de estrêla
Estrêla desce à terra
Anuncia à bela
O viria qu’encerra

Senhora do Ó
Que estás em botão
Já trazes ao colo
A palma da mão.

[Francisco Palma Dias, Senhora do Ó]

Retomando a ventura de mestre Ferreira, o encadernador, folheio a Revista Leonardo, levada assim para fim de semana. Volta-se as paisagens como páginas. Refeito que foi o ânimo, estranho o discurso de alguns, concebidos no Integralismo bafiento, que na blogosfera fazem um exercício petulante e caprichoso, contra cavalheiros livres e incómodos, infames. O nevoeiro da Santa Liberdade é a má língua do passado. É o arrocho desbragado da vida. A pátria rumando contra Porto Graal. Aqui, professores mesmo que loquazes, não podem ensinar a voar sobre o abismo. Porque, afinal, ‘onde se está a viver, se se vive distante da vida?

Chega-se a Coimbra pelas terras do Mondego. Pedro e Inês. Morada esguia e perversa. A armadilha do caminho e do corpo. ‘A terra que pisas já não é a mesma em que o olhar se deitava antes de teres partido’. Há muitos, muitos anos.

É A CULTURA ESTÚPIDO!

Leio e assino, por baixo, o que o Contra a Corrente diz com seriedade:

«A blogosfera é, acima de tudo, um espaço de liberdade onde, cada um, alinhava uma espécie de diário inconsequente, sobre os mais diversos temas: política, amor, literatura, futebol, cinema, suinicultura, etc. É um espaço de comunhão, afectos, humor, vaidade (muita vaidade!), ódios. É um meio de comunicação efémero: não sendo palpável, como o são as folhas de um livro, jornal ou revista, nem um recorte se guarda. Vai tudo ficando para trás, por entre links e links de arquivo, que nunca mais se lerão. Terá o seu tempo, que pode ser de meses, anos ou décadas. Não é alternativa a nada, nem se substitui a nada. Como dizem os políticos, em relação às sondagens, “vale o que vale.”».

Absolutamente de acordo.

domingo, 8 de junho de 2003

AGRADECIMENTO AO FUMAÇAS


Com especial enlevo quero deixar ao João Carvalho Fernandes, do Fumaças, um agradecimento sincero , pela atenção que nos dedicou. Se bem que pensemos, que o JCF é bem melhor a dar-nos dicas sobre a nona arte (a gastronomia, como diria Forjaz Sampaio), vinhos de perdição e sobre puros (Será JCF pró-cubano confesso, como espero?), do que a interpretar a degustação da política nos tempos modernos (já se vê que estamos noutro lado da mesa), ficariamos mal se não lhe prestassemos uma justa atenção. Com tempo, depois do Verão, lhe darei uma listagem de livros de cozinha antigos ( o Zé Quitério é fundamental, mas bem recente), que fica sempre bem num blog de mesa e escritos como o Fumaças.
E como castiguei, ao jantar, uma Quinta de Vale Meão, aproveito para com ele saudar o JCF, dizendo como o velho jornalista e bibliófilo Cardoso Martha:

«Da vida sábia e sem perda
Melhor exemplo não topo
Que um livro na mão esquerda
E na mão direita um copo.

Com igual fervor constante
Tua mão colide e agrega
Bons livros, na tua estante
Bons vinhos, na tua adega!»

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

Um deslumbramento este sábado. A capa do DNA de uma beleza comovente e outras ilustrações ( O baile) do par Joana Imaginário e Francisco Lança, que nos saltam ao longo da revista, marcam este(s) sábado(s). O texto de Pedro Mexia sobre Retratos de Sombra, de Mega Ferreira, é talvez um grande e belissimo ensaio. Fica-se com a estranha impressão que PM está mais à vontade quando fala sobre livros que não são de poesia, que estes últimos. Hoje deu-me imenso prazer ler o Album de Família; ler que, «talvez o mito de Pessoa se concretize, realmente, nessas realidades: a arca, os heterónimos, a Baixa. Mas, pelo menos, imortalizou uma palavra:'desassossego', a mais lídima sucessora da estafada 'saudade'».

Ainda o DN, um texto absolutamente a não perder. Falo do texto de António Tabucchi, A velha Europa e o futurista Bush.

«A primeira vez que a Europa foi chamada «Velha» com desprezo (esse desprezo vulgar que certos rapazotes mal-educados demonstram pelas pessoas idosas) foi em Abril de 1909. Aconteceu em Milão ainda que tenha sido em francês, em parte por razões de difusão, em parte porque o autor da invectiva era um italiano nascido em Alexandria e criado em Paris e, por isso, tendencialmente francófono: Filippo Tommaso Marinetti.
A invectiva teve lugar na revista literária Poesia, órgão do grupo que Marinetti tinha reunido ao seu redor, os futuristas, e antecede o Segundo Manifesto desse movimento, titulado «assassinemos o luar!» (...)

A «Velha Europa» marcada por uma «pensativa imobilidade» contra a qual Marinetti arremete era a Europa de escritores e intelectuais como André Gide (que em 1908 tinha fundado a Nouvelle Revue Française), Julien Brenda, o futuro prémio Nobel Romain Rolland (que perante o rebentar da Primeira Guerra Mundial levantaria uma grande polémica com o panfleto pacifista Por cima de contendas, e, mais tarde, com a Declaração de Independência do espírito, ao qual aderiram entre outros Einstein, Bertrand Russell e Benedetto Croce), Henri Barbusse, Heinrich Mann (o qual pela sua oposição aos nazis acabou primeiro em França e depois nos Estados Unidos), Robert Musil (que com As atribulações do jovem Törless, de 1906 devia parecer ao gesticulante Marinetti de um insuportável refinamento «tradicionalista»), Gaetano Salvemini (cuja Revolução Francesa de 1905 exaltava valores como Liberté-égalité-fraternité, realmente demasiado «velhos» para Marinetti)(...)

Há menos de um século de distância, as palavras de Marinetti parecem ter reaparecido recentemente na boca do actual Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Culpa da História? Talvez. Mas, como dizia Josif Brodskij referindo-se aos meandros da História, inclusive a esta, da mesma forma que aos homens, no fundo não tem muita escolha. (...)

A chegada da Administração Bush coincidiu com a plenitude da chamada «revolução tecnológica», pois se bem que esta estava já em acção nos tempos da guerra fria das duas potências, a União Soviética e os Estados Unidos mediam a sua superioridade através da respectiva superioridade tecnológica, após a queda da União Soviética os Estados Unidos tinham ficado como donos absolutos do campo. E desde então a tecnologia experimentou uma evolução incrível em todas as suas aplicações, da medicina à biologia, das comunicações ao armamento. Um presidente como Bush, um texano que em toda a sua vida não viu mais nada além de vacas e poços de petróleo, que não viajou nunca, que ignora totalmente o mundo, que não fala mais nenhum idioma além do seu inglês de vocabulário limitado, com um grau de cultura baixo e com um coeficiente de inteligência que não desperta propriamente entusiasmo (as suas respostas nas entrevistas em directo são eloquentes a esse respeito) provavelmente confundiu «tecnologia» e «civilização».(...)

Um presidente como Bush, um texano que em toda a sua vida não viu mais nada além de vacas e poços de petróleo, que não viajou nunca, que ignora totalmente o mundo, que não fala mais nenhum idioma além do seu inglês de vocabulário limitado, com um grau de cultura baixo e com um coeficiente de inteligência que não desperta propriamente entusiasmo (as suas respostas nas entrevistas em directo são eloquentes a esse respeito) provavelmente confundiu «tecnologia» e «civilização
». (...)

ATÉ JÁ, JOÃO PEREIRA COUTINHO!

A nota compungida do infame João Pereira Coutinho, na Coluna Infame, raia o absurdo. Lemos e não acreditamos. O colunista de extrema direita boçal que escrevinha no Independente (ex-Indy, diga-se) ficou ressaibiado por o tratarem como é. Não se entende o porquê. Afinal há muito que deixei de ler esse vómito cuja directora é Serras Lopes, muito por culpa de não querer dar dinheiro a homens como o João Pereira Coutinho. E como eu, muitos. Daí o estado financeiro desse pasquim. Desde que saiu o Miguel Esteves Cardoso- que é de direita mas que se pode levar a jantar, sem nos envergonhar - o Independente morreu. Na Coluna Infame não vi nada de extraordinário. O JPC era igual a si próprio. Sempre acossado sabe-se lá porque e por quem; sempre soez como o é na Vida de Cão; sempre pretensamente erudito sem que se lhe vislumbre qualquer conceptualização sobre qualquer coisa.

Escreve JPC com prazer, o que pode significar a única coisa que lhe dá gozo e o aproxima de um ser humano. Escreve bem, muito bem, mas não chega para o aturarmos com a sua 'hipomania' doentia. Diz que regressa à blogosfera. Faz bem, porque precisamos de alguém assim. Afinal, que seria a nossa vida sem fulanos como JPC?

Até já JPC!

sexta-feira, 6 de junho de 2003

JOSÉ PACHECO PEREIRA - O CORRECTOR OFICIAL

Como sempre faço, lá passei pelo Abrupto, e fiquei siderado. Não era para menos. O nosso amigo americano JPP ficou ofendido intelectualmente com o texto publicado no Público sobre as pretensas afirmações desse guru Wolfowitz, arauto do novo império ou do novo Sol da Terra que JPP agora reclama com paixão, depois de sucessivamente ter suspirado pela URSS, pela China e Albânia.

O nosso corrector de serviço - sózinho desta vez, pois o doutor Vasco Graça Moura estava allhures a poetar - diz no seu blog aos jovens messiânicos da direita liberal (e só a esses suponho), todos deliciosamente ingénuos, mas que o vigor do génio de Pachecal afastará do pecado do espanto, o seguinte:

«De novo , continuam as falsificações deliberadas de declarações e entrevistas de dirigentes americanos na lista negra dos anti-americanos europeus (...)». Repare-se neste continum de falsificações levadas a cabo por esses malandros anti-americanos, que JPP tanto gosta de citar. Tenha-se em conta o que o JPP diz no texto, o modo como o configura inicialmente e, principalmente, o recurso às fontes de sustentação. Nada nos é dito de onde o genial JPP, desencantou as afirmações sobre as afirmações do tal Wolfowitz. E foi pena, porque não acredito que JPP, tenha deliberadamente ocultado a fonte da 'verdadeira' notícia. E bem tentámos,fazendo as buscas nos pesquisadores habituais. Eis o que nos deu, sem quaisquer outros considerandos, que a vergonha começa a invadir a face a muitos.

Aqui está a afirmação contextualizada da afirmação produzida por Wolfowitz. Trata-se do site oficial do 'US Department of Defense'. Deve chegar, ou não?

(...) Q: What I meant is that essentially North Korea is being taken more seriously because it has become a nuclear power by its own admission, whether or not that’s true, and that the lesson that people will have is that in the case of Iraq it became imperative to confront Iraq militarily because it had banned weapons systems and posed a danger to the region. In the case of North Korea, which has nuclear weapons as well as other banned weapons of mass destruction, apparently it is imperative not to confront, to persuade and to essentially maintain a regime that is just as appalling as the Iraqi regime in place, for the sake of the stability of the region. To other countries of the world this is a very mixed message to be sending out.

Wolfowitz: The concern about implosion is not primarily at all a matter of the weapons that North Korea has, but a fear particularly by South Korea and also to some extent China of what the larger implications are for them of having 20 million people on their borders in a state of potential collapse and anarchy. It’s is also a question of whether, if one wants to persuade the regime to change, whether you have to find -- and I think you do -- some kind of outcome that is acceptable to them. But that outcome has to be acceptable to us, and it has to include meeting our non-proliferation goals.
Look, the primarily difference -- to put it a little too simply -- between North Korea and Iraq is that we had virtually no economic options with Iraq because the country floats on a sea of oil. In the case of North Korea, the country is teetering on the edge of economic collapse and that I believe is a major point of leverage whereas the military picture with North Korea is very different from that with Iraq. The problems in both cases have some similarities but the solutions have got to be tailored to the circumstances which are very different. (...)

quinta-feira, 5 de junho de 2003

AMERICA GOES BACKWARD


America Goes Backward in The New York Review of Books

Está perigoso o mundo, e não é só na velha Europa que habita a dita 'histeria' anti-americana, ou melhor a ideia que a administração actual dos EUA é um enorme embush, porque lá mesmo a vida não está facil.

America Goes Backward (Stanley Hoffmann): «Less than two and a half years after it came to power, the Bush administration, elected by fewer than half of the voters, has an impressive but depressing record. It has, in self-defense, declared one war—the war on terrorism —that has no end in sight. It has started, and won, two other wars. It has drastically changed the strategic doctrine and the diplomatic position of the United States, arguing that the nation's previous positions were obsolete and that the US has enough power to do pretty much as it pleases. At home, as part of the war on terrorism, it has curbed civil liberties, the rights of refugees and asylum seekers, and the access of foreign students to US schools and universities. It holds in custody an unknown number of aliens and some Americans treated as "enemy combatants," suspected but not indicted, whose access to hearings and lawyers has been denied. The Republican majority in both houses of Congress and the courts' acceptance of the notion that the President's war powers override all other concerns have given him effective control of all the branches of government. The administration's nominees to the courts would consolidate its domination of the judiciary.»

Um texto a consultar.

LUIZ PACHECO EM ESTELA GUEDES


Estranhei não mais ouvir falar da Maria Estela Guedes, depois de alguns poemas em tempos idos e do célebre livro que escreveu sobre Herberto Helder (H.H. Poeta Obscuro). Eis que, com supresa minha, vou dar a uma página, dedicada a Ernesto de Sousa, muito trabalhada, colectivamente participada, bastante interressante, cujo webmaster é a própria M. Estela Guedes.. Aí mesmo, encontro, numa comemoração do 33º aniversário, o texto Pachecal, O LIBERTINO PASSEIA POR BRAGA, A IDOLÁTRICA, O SEU ESPLENDOR, de 1970. Ficámos felizes. É que somos daqueles que julgam que Luiz Pacheco merece ser lembrado, pelo muito que fez e deu às letras portuguesas. Et pour cause ...

BOLETIM DA LIVRARIA TELLES DA SYLVA

A Livraria de livros raros J. A. Telles da Sylva, superiormente dirigida por Margarida Maria Pacheco de Noronha Soares Franco, acaba de mandar aos seus clientes o boletim nº 18 (vidé Bibliomanias). Como sempre é um trabalho bibliográfico de excelência, absolutamente notável. Para os interessados, aqui deixo a morada: Rua Laura Alves, 19 - 3º Esq., 1050-138 Lisboa. De referir, sumariamente, alguns livros que constam deste novo boletim:

- Vimioso/Notas monográficas, 1968, do Abade de Baçal ; Arte Portuguesa, VI vols (enc.) de João Barreira; Constituições Synodaes do Bispado do Porto ( impressas por António Mariz na cidade de Coimbra, 1585), obra muito rara; A Caça no Império Português, de Henrique Galvão, Freitas Cruz e António Montês (Edição, O Primeiro de Janeiro, 1945), bastante estimada; Nobiliário do Conde de Barcelos (1974), justamente apreciado; O Carmo e a Trindade, subsídios para a história de Lisboa, de Gustavo Matos Sequeira (3 vols, 1939-41); um raro Tratado Pratico da Cultura de Amoreira e da Creação dos Bichos da Seda ..., de Simão C. Almeida Ozorio, 1773.

BIBLIOMANIAS


Bibliomanias

Eis o que move o site (único em português?) de livros antigos e raros portugueses: «Trata-se, aqui, dum gozo antigo e estimado. O amor pelos livros antigos, raros, esgotados, luxuosos, apreciados, curiosos, etc. Que o livro é como uma mulher e no qual, "o bibliófilo mira com os olhos apaixonados, mexe com um frémito de emoção, palpa com gozo, cheira, luta por ele e, quando o conquista, uma alegria enorme, uma alegria de posse lhe invade as quatro assoalhadas do coração". Como diria Joaquim Pessoa, como nós e vós diríamos».

Passeia-se ao longo de vários links, com referências a bibliófilos portugueses, a leilões - o célebre leilão Ameal, descrito por Gustavo de Matos Sequeira, lá está -, ao alfarrabismo; bibliografia Camiliana, Queirosiana, Pessoana (claro!) e um núcleo de textos que Bibliomanias gosta (Almada, Luiz Pacheco, Francisco Palma Dias, César Monteiro) e que denomina Arca Literária; várias páginas sobre poesia e poetas portugueses; um núcleo sobre catálogos de leilões de livrarias, colocadas em praça; página sobre maçonismo e o começo de uma bibliografia sobre a temática. É um auxiliar para novos encontros e encantos, a quem gosta de livros. De consulta obrigatória, dizemos nós, até porque somos nós os seus autores.

quarta-feira, 4 de junho de 2003

A NÁUSEA DE SARTRE

Hoje não esquecer de comprar com o Público, a Náusea de Jean-Paul Sartre - colecção Mil Folhas. A edição que possuo de 1958 de Europa América está em mau estado, passe a capa de Sebastião Rodrigues e a tradução de António Coimbra Martins. Confesso que é livro estimado. Aliás quer A Náusea (1938), quer O Muro (1939), paridos antes da guerra são, para mim, os dois melhores livros de Sartre. N'A Náusea a ideia do homem como sujeito de possibilidades que perde ou ganha nas ecolhas (livres) que faz, mesmo que a dúvida se instale, está perto do pensamento de Heidegger e na matriz literária de Fawlkner ou de John dos Passos. A não perder.

"Tudo é gratuito, a jardim, esta cidade, e eu mesmo; quando acontece da gente se dar conta disso, isso atinge o cabeça e tudo começa a flutuar; eis a náusea"

"Vejo o futuro. Está ali, pousado na rua, mais pálido um tudo nada que o presente. Que necessidade tem de se realizar? Que vantagem é que isso lhe dará? A velha afasta-se, trôpega, pára, compõe uma madeixa que lhe saiu de debaixo do lenço. Recomeça a andar: ainda agora estava além, agora está aqui ... torna-se-me tudo confuso: eu vejo ou prevejo os gestos dela? Já não distingo o presente do futuro, e, todavia, há uma duração, uma realização, que se opera pouco a pouco; a velha avança na rua deserta, desloca os seus grandes sapatos de homem. É isso o tempo, o tempo inteiramente nu, que acede lentamente à existência, se faz esperar, e que, quando chega, nos enfastia, porque conhecemos então que já estava ali havia muito"

"É então isto a Náusea, esta ofuscante evidência? As voltas que dei à cabeça! Tanto que escrevi acerca dela! Agora sei: existo - o mundo existe - e sei que o mundo existe. É tudo. Mas é-me indiferente. É estranho que tudo me seja indiferente: mete-me medo que assim seja"

BREVIÁRIO ECONÓMICO


A confraria neoliberal anda às turras com a política económica. Ninguém se entende. Não vindo nos manuais, os neoconservadores andam às aranhas. Não bastava concorrerem para um discurso desbragado contra economistas de respeito - helás Cadilhe, Silva Lopes - abonando as piedosas intenções da licenciada Manuela Ferreira Leite, mais o desaparecido ministro Tavares (decerto em encomendas com nostros hermanos), para agora zurzirem até no mestre em política orçamental Cavaco Silva, atirado que foi para a prateleira dos economistas 'mortos'. É obra.

Entretanto, na pátria neoconservadora (o Sol da Terra para esses inefavéis liberais) da administração americana, profetiza-se na condução da política económica justamente o contrário que a a rapaziada neoconservadora em economia esperava. Raios que (ainda) a política orçamental não desapareceu ... no ar neoconservador do império! E lá se vai o mito (e as sebentas) da Escola de Chicago. Hayek não resiste a tamanha desfaçatez bushiana. A senhora Thatcher não voltará a escrever mais nenhuma carta a Hayek, mesmo que tal fosse possivel. E é pena.

- No Palácio das Necessidades paira o espectro da luta de classes. Suspeita-se que, deliberadamente, a senhora ministra das Finanças considere a 'falência' dos Negócios Estrangeiros, e mande evacuar o nobre palacete, para logo de seguida o vender à conta do famoso défice. Martins da Cruz, o espantado ministro, irá fazer o quê?

- João Tallone, presidente da EDP, entrou «a matar». O ex-consultor do Estado para a restruturação do sector energético não aceita que a GALP participe no capital da EDP, o que leva o impagável Ferreira do Amaral a ficar à beira de um ataque de nervos. Bem ...sempre pode regressar, o Ferreira do Amaral, aos estudos de geneologia e heráldica. Sempre é menos custoso e de maior acalmia intelectual.

terça-feira, 3 de junho de 2003

REVISITAÇÕES

Hoje a noite está excelente. Foi excelente e para continuar. Daí este passeio na net que nos desvela, ao contrário do que sugeria Oscar Wilde - «toda a arte é absolutamente inútil» - que há caminhos (virtuais) que nos trazem o prazer do olhar e da escrita. Algumas dicas aos neófitos:

Jorge Colombo - um grande ilustrador e fotógrafo português, a viver em New York. Tem uma page notável, a que se regressa sempre, com deslumbramento. Vá ver AQUI.

Julio Cortázar - O realismo fantástico vindo da Argentina. Eterno exilado, morre em 1984, na terra que foi sua por opção, a França. A narrativa labiríntica, 'matematizada', poliédrica, de Cortázar leva a mil leituras, nestas noites-ligadas-a-noites sem dormir nocturno. Cortázar, a obra e a voz, aqui. Um curioso texto, sobre o escritor, publicado na revista Agulha. E, por último, uma página a não perder sobre toda a obra de Julio Cortázar, para visita atenta.


Para leer en forma interrogativa [Julio Cortázar]

Has visto
verdaderamente has visto
la nieve los astros los pasos afelpados de la brisa
Has tocado
de verdad has tocado
el plato el pan la cara de esa mujer que tanto amás
Has vivido
como un golpe en la frente
el instante el jadeo la caída la fuga
Has sabido
con cada poro de la piel sabido
que tus ojos tus manos tu sexo tu blando corazón
había que tirarlos
había que llorarlos
había que inventarlos otra vez.

segunda-feira, 2 de junho de 2003

AVISOS!

Saiu á luz, a mais nova e importante obra do jornalista José Manuel Fernandes e, ainda, director do Jornal O Público.

Volumoso in-folio, com encadernação do editor e levemente aparado à cabeça, será o melhor método para calar anti-americanos confessos, crianças desvalidas da social-democracia e monteiristas luminosos. Será um must nos blogs da direita à esquerda. Não sabemos o título, mas o informador Pedro Mexia fará uma comunicação a propósito, no próximo DN, a que se seguirá uma vernissage dirigida por um arauto da Santa Liberdade e poemas de El Rei D. Miguel.

Vende-se, por cima do Arco Liberal.

EREIRA DE AFONSO DUARTE

Gosto de passar em Ereira e lá ficar, imaginando as velhas 'casas foreiras', as águas do Mondego cercando-a, milharais sem fim, a casa do Torreão, o deambular de mestre João de Ruão nas suas ruelas, a luz das fogueiras para a navegação lá ao fundo, o sabor a sal, a poesia em todo o lado.

Pátria de Afonso Duarte, poeta que como diz Jorge de Sena «atravessou saudosistas, esótericos, modernistas, presencistas e Novo Cancionairo, depois de já ter atravessado António Nobre e Guerra Junqueiro». Mas, principalmente, o «poeta do amor e da liberdade», como só a Ereira nos podia oferecer.

Soneto da Ereira

Exaltam-me a cegonha e pato bravo.
Só não posso com estas codonizes
Com ironias, tontas de repizes,
- Paspalhão, paspalhão! - enquanto cavo.

Meu mundo é outro, queres dizê-lo? Dizes?
Eu bem sei, paspalhão! - Ao fim e ao cabo,
- Príncipe que fugiu a ser escravo -
Não me dão outro, bons pardais felizes.

[Afonso Duarte]

sábado, 31 de maio de 2003

COIMBRA



Às 9h da manhã, um homem
subia as escadas monumentais com uma
borboleta poisada no ombro.
Nunca vi ciência mais exacta

Manuel Silva-Terra [in, Encantada Coimbra, D. Quixote)

À VOLTA DOS BLOGS


Confesso que há blogs para todos os gostos e feitios. Truculentos uns, gratulatórios outros, dissidentes todos. Alguns poéticos, outros instruídos pregadores da mocidade, outros ainda pasmados de tanta informação. Dá gosto lê-los, que nem todos podemos ser intelectuais. Hoje, fui ler os ditos.

- Contra a Corrente - óptimo discurso recitado pela paróquia de Isaiah Berlin. O Carlos estudou Berlin mas não pratica. Opina como qualquer anti-liberal sobre valores do Estado, hierarquizando-os como um maltrapilha social anti-individual, toma partido. Berlin não foi, aqui, totalmente, digerido. Á parte isso, tem um bom gosto na música que ouve. Ao menos nisso, é coerente. Afinal misturar perigosos Miles Davis, Stan Getz e João Gilberto, num perigoso pluralismo musical, é corajoso, é tolerante num adepto de Isaiah. Bom blog

- Fumaças - A direita liberal que descobriu os 'puros'. Ali estão eles, fálicos, ao gosto de João Carvalho Fernandes. Quando jogar bridge e praticar desporto líquido (como diria mestre Baptista Bastos) estará instruído. Não exigimos Batuta, pode descansar. Pode começar por prazeres mais terrestres e menos burgueses. Bom blog

- Janela Indiscreta - De muita estimação. 6-bloguista-6 prudentissimos. Com informação e fruição q.b. Um achado, o que juntamento com o anterior referência que tinha do umblogsobrekleist, já dá 2 blogs a não perder.

(continua)

IRAQUE E JOSÉ MANUEL FERNANDES

Dizia sabiamente Oscar Wilde, que «quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo». Nada de mais lúcido, pensou logo o direcktor José Manuel Fernandes (JMF), d' O Público.

Os críticos do magistral embuste do uso e porte de armas químicas pelo Iraque, desde o The Guardian ao Le Monde, ou o New York Times e mesmo (pasme-se) o cavernoso National Review, andam espantados com as afirmações dessa luminária Rumsfeld, Donald para os amigos neo liberais, e principalmente sobre as últimas afirmações do guru Paul Wolfowitz, que afirma: «Por razões burocráticas centrámo-nos numa questão, as armas de destruição maciça, porque era o único motivo sobre o qual todo o mundo se podia entender».

A rapaziada pelo mundo é bestialmente azémola. Somos mesmo, como diria Camilo, «burros não tristes por fora, mas felizes por dentro». Mas, helás, o nosso JMF não quer ser de companhia. O nosso direcktor, em Editorial, explica-nos tudo. Afinal o Oscar tinha razão. O malandro do Saddam podia não ter as tenebrosas armas, nunca encontradas pelos cowboys ianques, mas o caso é que o homem «possuía forma de os obter, e esse é que era o perigo».

Portanto, meus amigos, mesmo que o «mistério persista, os motivos para a guerra não desaparecem», diz-nos JMF. Nós, os mais brilhantes asnos, suspiramos de alivio e demos graças Fernandes. Depois, à moda de António Pedro fomos pastar na esperança que ... é verde. Felizes! Tão intelijumento era o Fernandes.

sexta-feira, 30 de maio de 2003

A DIREITA ... FÉLIX

Esta nova direita, que não se cansa de vociferar contra a administração do Estado, porque é gastador compulsivo, porque o Estado não sabe administrar a coisa ou porque menos Estado é sempre melhor Estado, ao fim de um ano de nos tentar fazer a cosatumeira lavagem ao cérebro (Ah! que o 28 de Maio foi há dias) com piedosas intenções políticas, quando vai de governar consegue ser mais papista que o Engenheiro Guterres em dia de missa. Ou consegue ser mais hilariante que os posts desse impagável Lombas (o infame da nova direita liberal, o mais soft via frequência da FNAC, o que lê em inglês no original e tem sempre dúvidas sobre o mulherio e muito mais. Enfim ...).

Então, anda o ministro Bagão Félix, acoplado com a prof.ª Manuela Ferreira Leite (a putativa candidata ao próximo nobel das finanças), a clamar contra o fartar vilanagem dos dinheiros públicos, contra o excessivo peso do pessoal na máquina do Estado, e zás, quando uma sua secretária de Estado - Margarida Aguiar de seu nome - pretende limpar essa mesma administração, sorvedoura de dinheiros públicos, colocando alguns directores (que nem se sabem o que fazem, nem nunca são avaliados) na 'prateleira da função pública, é obrigada a dita senhora a lidar com o Bagão, de momento protector desses privilégios? Excelente! Compreende-se, assim, que as "divergências funcionais" do ministro com a sua secretária de Estado da Segurança Social sejam verdadeiras cenas do pitoresco da direita: voz tonitruante na ameaça, melosa na sua praxis.

A direita feliz ... já corre!

quinta-feira, 29 de maio de 2003

TODOS A MONSANTO! VIVA A PEDAGOGIA!


Paulo Portas considera que a sua chamada á pedra, ao exame do colectivo de juizes do caso Moderna é, passo a citar, «pedagógico». Mais, assume que «um político ir pelo seu pé» depor em Monsanto, é formidável e, decerto, não só pedagógico como de forte cariz ambientalista. Fica assim expresso a vertente pedagógica e ecológica que habita em qualquer ministro. E jura que não vai de Jaguar. A ecologia dos afectos, já não reina aqui. Aplausos!

quarta-feira, 28 de maio de 2003

JOÃO JOSÉ COCHOFEL

A casa do poeta que pertenceu à geração neo-realista - João José Cachofel (1920-1982) escreveu nas revistas 'Altitude', 'Novo Cancioneiro', 'Vértice', 'Seara Nova' e na 'Presença' -, nas cercanias da Sé Velha, em Coimbra, foi sempre uma porta aberta a todos os que da literatura e da arte faziam tertúlias pela noite dentro. Sabe-se agora que a sua casa de Coimbra será adquirida pela autarquia. Muitos debates, textos e ensaios oposicionistas de lá partiram. João José Cochofel merece.

Álcool [in, Obra Poética, Editorial Caminho, 1988]

Partir
sim, mas partir realmente,
definitivamente,
cobra que deixa a pela já crestada dos sóis
e se empoleira nas árvores como um passáro
......................
Partir
que os hotéis de luxo têm seus quartos guardados para mim,
e os salões embandeirados de luz
esperam-me
Partir para Jungfraus e Niagaras,
e à noite embriagar-me entre cristais e mulheres!

Depois,
raspar com as unhas no chão e enterrar-me,
deixando os olhos de fora
para que neles poise
o último orvalho da manhã.

MACÁRIO CORREIA: RECICLADO

Fomos maus com o engenheiro Macário no tempo do Cavaquistão. Fomos detestáveis na boçalidade dos nossos desejos. O engenheiro, demasiado ecológico, era para abater. A ele e aos fundamentalistas anti-tabaco. Atacámos muitas vezes de Cohiba em punho, Château de Beaulon na mão. Fomos cruéis. As mulheres eram sempre 'pedaços de mau caminho' pela noite dentro. Fomos marialvas. Desaparecido o engenheiro lá nas bandas de Tavira, a workar no poder local, eis que regressa à cena política, vesgastando os cinzentões da coisa pública. Ficámos em estado de choque. E gritou-se bem alto, que se ouviu em Cacela-a-Velha: Volta Macário, estás perdoado! Não é para mais. O artigo saído n'O Público fez-nos ter vergonha. Sai um Davidoff ... já!

«A vergonha do caso Moderna faz com que o CDS-PP vá adiando sucessivamente o seu congresso, enquanto a imagem global do governo é afectada, mas ninguém ousa, de dentro, pôr o dedo na ferida e a mão na consciência. Quem adoptou princípios moralistas para terceiros não os aplica a si próprios. A nomeação de Nobre Guedes e a semelhança, em certos casos, de Marco de Canavezes com Felgueiras demonstram o resto

(...) É preciso agir. Mais do que nunca.»

terça-feira, 27 de maio de 2003

COMUNIDADE VIRTUAL DA LITERATURA

Eis um forum de debate sobre dito interdisciplinar de 'discussão sobre literatura, teoria literária'. Em português.

500 Cantigas d’Amigo. Edição da Editora Campo das Letras e o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. Hoje, pelas 18 horas, na Livraria da Biblioteca Nacional.

«O corpus das 500 cantigas d' amigo, compostas entre 1220 e 1350, por um total de 88 poetas, é o maior corpus de poesia amorosa de voz feminina que sobreviveu da Europa medieval e antiga. Oferece um campo ainda pouco explorado para o estudo da voz feminina, ou seja, do discurso, do direito, da sexualidade, da mentalidade (por muito que essa voz possa ser manipulada, os aspectos arcaicos destes poemas, a nível social, linguístico e musical, sugerem que essa voz é genuína nas suas origens). Além disso, muitos estudiosos defenderam que entre as cantigas d' amigo há sequências organizadas para execução. Se elas existem – e acredito que possa ser demonstrado que sim – estas seriam as primeiras sequências de cantigas amorosas em qualquer língua vernácula na história da literatura europeia, providenciando uma oportunidade única para estudar a evolução de uma forma de arte lírico-dramática a partir das suas partes constituintes, algo com que Aristóteles aparentemente apenas podia sonhar.

Assim, lemos cantigas d' amigo não apenas porque as achamos belas, musicais, engenhosas, eróticas, bem delineadas, mas porque são a fonte principal para um capítulo ainda por escrever na história da cultura europeia. Mas isso será assunto para uma outra ocasião. Aqui direi, tão brevemente quanto possível, quais as suas fontes, quando e como foram editadas até hoje e como as tratei nesta edição. [Rip Cohen]»

LEILÃO DE LIVROS

Não esquecer o leilão de livros no Hotel Roma deste dia 28 e 29 de Maio. Modernistas raros a cobiçar...

ZONA NON ... E CUBA

A revista online Zona Non aí está. Saliento alguns textos sobre Cuba entre eles o de Rui Bebiano, 'Uma Imensa Tristeza', afinal uma pré-publicação de artigo na Periférica. A ler.

«“Morre-se de nostalgia em Cuba”, afirmou Karla Suárez há pouco mais de um ano, em entrevista publicada pelo Diário de Notícias. É provável que sim. Não a nostalgia do passado pré-revolucionário, sobrevivente na memória da geração que o conheceu ou nos manuais de história concebidos como hagiografias. Mas, é legítimo suspeitá-lo, a dessa alegria perdida que apenas a liberdade sem adjectivos, incandescente, pode redimir.»

ARRUMAÇÕES ... E LÁ CAI O JPP

Hoje na labuta de organizar a livralhada que se acumula numa sala mais afastada das outras, por maldição política diga-se, levei com o Bordiga (Bordiga et la passion du communisme, das Edições Spartacus, 1974; Bordiga ou la crise du prolétariat, Payot; e alguns mais), o Camatte (de novo sobre Bordiga) e o Jean Barrot (O Movimento Comunista) à mistura. Foi demais, confesso.

Enquanto meditava nas excelentes edições da &ETC, desse editor da vadiagem que é Vitor Silva Tavares, ainda e sempre incomodativo, ou no que é feito do Júlio Henriques e dessa prendada Pravda, Revista de Malasartes, eis que mais ao lado deparo com a colecção dos Textos de Apoio da Portucalense Editora, todos eles fortemente proibitivos nos tempos do Marcelismo, e com outra colecção sobre 'O Movimento Operário Português' das Edições Afrontamento. Tudo direitinho, prenhe de anotações que o tempo registou. O número dois dos Textos de Apoio, é um magistral trabalho sobre 'As lutas operárias contra a carestia de vida em Portugal. A greve geral de 1918', do nosso amigo que assina no Abrupto. As notas que constam de cada capítulo são preciosas. Sempre tive pelas anotações ou nopas de pé de página uma relação de paixão. Bem como pela bibliografia da cada obra. Manias. O livro de JPP foi importante para toda uma geração de esquerda. Outro, estacionado mesmo ao lado, do mesmo JPP com distribuição pela Livraria Júlio Brandão (qual a importância desta distribuidora de Famalicão; quem estava por detrás das suas iniciativas? Já não me lembro bem e talvez JPP saiba), trata-se das 'Questões sobre o movimento operário português e a revolução russa de 1917'. De novo a mesma caminhada do autor, os mesmissimos pressupostos que na altura guiavam o jovem JPP. Dizia, à laia de conclusão no prefácio:

«Quando as condições para a maturidade política, teórica e organizativa, dos comunistas portugueses paraciam estar realizadas, o golpe militar de 1926 veio encerrar a experiência do movimento operário do período parlamentar. À luz desse golpe pode-se hoje compreender melhor os limites do movimento operário e os impasses a que a acção anarco-sindicalista tinha levado. Permite-nos compreender do mesmo modo como a acção decisiva da revoluçõa soviética de Outubro para a prática política operária foi retardada em Portugal pelas barreiras que a ideologia dominante no proletariado português lhe impôs, assim como pela incipiente formação teórica e militância política dos comunistas do P.C.P.»

segunda-feira, 26 de maio de 2003

HELENA MATOS: MAIS VASCO MENOS PULIDO

Não temos o prazer de conhecer a senhora jornaleira Helena Matos, mas do que lemos parece-nos sempre que está entre a pretensão de querer ser uma VPV de saias, com menos corpo e menos espírito, menos polida e menos escorreita de linguagem. Durante a intervenção ianque no Iraque a senhora que escreve n'O Público estilhaçou todos os argumentos em defesa da política bushiana várias vezes, tão soez foi na argumentação. Depois fica-se sempre no enfado de ler muitas linhas sem qualquer gozo de escrita. Helena Matos é frígida na linguagem. Gela-nos o estímulo da fruição intelectual. Ficamos castrados de tanta palavra, sem nexo algum.

Há pouco tempo meteu-se, sabe-se lá porquê, com a Maçonaria, todas elas e ao mesmo tempo. Tudo no mesmo saco meteu, com sempre o faz, sem polimento algum mas muito malícia, sempre. Esta semana, desata num berreiro contra a "reacção desadequada de Ferro Rodrigues" face ao caso Pedrosa, para finalizar na inadequada preparação do mesmo para o exercício do poder. Na página seis d'O Publico de sábado diz-nos sagazmente que, «a democracia não está agora em causa e o pior que o PS pode fazer é passar a imagem de que se considera acima da lei». Extraordinária evocação. Muito libertina por sinal.

A escriba, como muitos que escrevem por aí, entende que Ferro Rodrigues deveria, para efeitos performativos do poder, ser feito de uma massa blindada ás emoções da vida privada, numa clonagem do super-homem com os tomates de Margaret Tatcher. Compreende-se o que a senhora exige dos políticos. Mas suspeito que todos são, ainda, humanos. Quando alguns frios e cerebrais jornalistas, como o inefável Ministro da Defesa é exemplo, chegarem ao poder, talvez sim. Por ora fiquemos no campo dos humanos. Se der licença.

AUGUSTO SANTOS SILVA ... PARA TODOS OS EFEITOS

Num momento em que reina a maior das perplexidades, onde 'o mundo está perigoso', faz bem ler textos como o de Augusto Santos Silva n'O Publico de sábado. Quando a direita mais conservadora espuma com sorriso nos lábios, tecendo os mais torpes comentários, com a evocação de uma alegada santidade do poder judicial, separando as emoções do factum da coisa 'ela mesma', com o noviciado requerimento de um formalismo jurídico-político enternecedor, cabe aqui salientar alguém, que sem qualquer rebuço, diz o que lhe vai na alma. Solidariamente. Sem tibiezas.

A peregrina ideia que não é possível questionar o poder judicial e os seus mecanismos processuais, dado a suposta angelicalização dos seus praticantes é inqualificável. Quando se ouve falar o senhor Procurador Geral tem-se dúvidas da sanidade mental das instituições e das motivações que estão por detrás desta "desbund" mediática a que todos assistimos, onde parece mais que todos estão mais voltados para as luzes das TV's, que para o exercício recatado da justiça e da defesa dos cidadãos. Assim sendo, porque não pode Augusto Santos Silva fazer um registo pessoal, seguindo as suas convicções? Acaso as metodologias usadas quer pelo poder judicial, quer por algumas instituições (atente-se no silêncio ensurdecedor do Ministério da Justiça sobre a devassa do segredo de estado) reforçam a serenidade que todos querem sugerir? Augusto Santos Silva teve coragem de o dizer, mesmo que fizesse parte de um governo que contribuiu para a configuração desta mesma justiça que agora questiona. Para todos os efeitos ...

«Não sei o que se passa. Por isso faço a pergunta básica da democracia: quem controla? Quem investiga a investigação? Quem escrutina o aparelho do Estado?»

domingo, 25 de maio de 2003

MATRIX E HACKING

O texto de Paulo Querido no Expresso é curioso. Sempre achei duvidoso o modo como algum cinema tentava ilustrar cenas de hacking, sempre da maneira mais grosseira. Confesso que não entendo nada do assunto, mas o disparate era bem visível. No texto de P.Q. no Expresso somos confrontados com uma cena do Matrix Reloaded muito rápida mas que alguns iniciados conseguem visualizar imediatamente. Fiquei espantado, mais a mais quando parecia real toda a cena com a intervenção do famoso scanner nmap e com a secure shell, utilizada para acesso a outro computador. E lembrei-me de alguns grupos hackers portugueses que tiveram alguma visibilidade na "nossa" luta a favor do povo de Timor Leste. Foi citado mais que uma vez o grupo Toxyn, autores de um célebre ataque a uma página indonésia;os Pulhas que os secundaram imediatamente e os Kaotik Team. Há ainda todo um movimento 'hacker' importante, com jornais, revistas e grupos de culto. Saliente-se o incontornável 2600 Magazine.

sábado, 24 de maio de 2003

ANOTAÇÕES SOBRE DECADÊNCIA


Em tempos, num alfarrabista, apanhei uma dissertação em filologia românica de A. Machado Pires, com o título sugestivo, «A ideia de decadência na geração de 70». Trabalho de excepcional qualidade, com vastas referências bibliográficas sobre um tema da cultura portuguesa muito importante. Lembrei-me de voltar a ela, dada a correspondência possível com a situação cultural e política que hoje existe no País e em todos nós. Melhor meio não encontro que fazer a recolha, a partir do trabalho atrás citado, deste tema que tantos escritores e homens de letras recorreram e que hoje parece regressar em força.

«Decadência provém do latim medieval decadentia (o termo não existe no latim clássico), com os sentidos de 'deterioração', 'ruína', 'ir-se abaixo', 'colapso' (confronte-se com o ingl. breakdown, existindo também neste idioma decadence, decline e decay com sentidos semelhantes). Em última análise, decadência prende-se ao verbo lantino cadere, 'cair'; o prefixo DE inculca a ideia de 'de cima para baixo' (cfr. c. o ingl. breakdown), isto é, 'cair na vertical', 'cair acelerada e irremediavelmente', deteriorar-se até à ruína ou à extinção. Decadência opõe-se a progresso (não será, de resto, por acaso, que a decadência como categoria de análise histórica se aviva no século XIX, quando a ideia e a crença no progresso se desenvolvem fortemente). Progresso implica caminhar par a frente, criar nocas condições, melhorar (ou pelo menos supor que se melhora). Decadência significa retrogredir, deteriorar-se o que era bom, piorar (...) [pag. 4-5]

sexta-feira, 23 de maio de 2003

M.E.C. ... DE VOLTA!

Sempre prendado, que não se troca contra reclamações o 'nosso' Miguel Esteves Cardoso re-começou a fornecer as pastilhas que todos nós ansiosamente necessitamos. Quando se olha, hoje, para a merda dos jornais que tempos; para a inexistência de revistas dignas desse nome (salve-se as Construções Portuárias, mas isso é outra água); para o cinzentismo que grassa por todo o lado, faz bem ir ler e re-ler o M.E.C. Ainda há dias dei por mim a folhear com um curioso brilho nos olhos, a Popmusic-Rock e a Escrítica Pop. E lá regressei de novo aos Feelies, aos Joy Division, Gang of Four (meus Deus há que tempos...), Annette Peacock e muitos mais numa doce mixagem. Graças M.E.C.

VINCENT GALLO

De novo V. Gallo. Regresso ao cinema com "Brown Bunny", que Vasco Câmara n'O Publico refere. Não conheço bem V.Gallo como actor ou realizador, mas a sua música (quantas semanas passei a ouvir When?) é uma admirável companhia. Irresistível, perturbador. Como afinal tudo o que faz ou nos diz, assim deste modo como nos confessa n'O Publico: «Numa provocação há sempre verdade. De facto nunca li um romance. Li partes de 'O Padrinho', na altura em que o filme saiu, mas deixei-o a meio. Vivi algum tempo com William S. Burroughs, mas nunca li nada dele, a não ser postais que me enviava. Nunca li um argumento, mas consigo estar horas a ouvir um realizador a contar-me a história do seu filme. A palavra escrita não me provoca emoção. Os meus pais não liam. A Bíblia lá de casa nunca foi lida. Só consigo ler livros técnicos, porque servem para concretizar algo ou melhorar a produtividade»

O culto de Vincent Gallo é grande. Como as suas metamorfoses no campo das artes em geral. Impossível resistir, experimentem.

Locais: The official website for Vincent Gallo by Vincent Gallo / Vincent Gallo appreciation page / Vincent Gallo drowning in brown / Vincent Gallo Réalisateur, Acteur / Vincent Gallo - Filmography, Awards / My Vincent Gallo Page

quinta-feira, 22 de maio de 2003

À VOLTA DOS BLOGS

À Volta dos Blogs

Como hoje o tempo foi de maçada, resolvemos bolinar de encontro aos vários blogs que copiosamente, aqui, encontramos referenciados. Começamos a caminhada, que «pretium laborum non vile», por aqueles que a memória não atraiçoa.

umblogsobrekleist - de vasta erudição, encantador e útil. De leitura diária obrigatória, mais a mais se se pensar o que seria a nossa vida, sem um joguinho de xadrez, antes, depois ou com o cinema. Lembrei-me agora, completamente a despropósito, que a Rosa Luxemburgo era brilhante jogadora de xadrez. Facto que os Manos Silva decerto não devem esquecer, nas sua guerrilhas psicológicas com a malta Infame.

Aproveite-se o pretexto para dizer Pedro Oom, em «Os Legados do Surrealismo», tirado da revista Sema:

"Mário Cesariny herdou as botas rotas
de André Breton
António Josè Forte herdou a gabardine
de Benjamim Péret - que não chegou a
ver a cor porque se perdeu no caminho.

Natália Correia herdou o chinó que
Nora Mitrani usava no púbis

Eu estou à espera que Marcel
Duchamp me deixe o tabuleiro
de xadrez.
"

PAULO PEDROSO

Estou como o Pedro Lomba, «o tempo não é para boatos, graçolas ou para a morbidez em que este país se está a tornar especialista». Mesmo assim, arrisco a dizer que vem aí tempestade. Há coisas que se dizem ou planeiam que mais tarde ou mais cedo se fazem pagar. Seguindo a lema do Lombas, e tal como Joyce diria, «se não podemos mudar de país, mudemos de assunto»

quarta-feira, 21 de maio de 2003

NOTAS VÁRIAS

No CTHEORY, agora com novo grafismo, podemos ler um texto de Jean Baudrillard, The Violence of the Global, antes editado como «La Violence du Mondial»

« ...The establishment of a global system is the result of an intense jealousy. It is the jealousy of an indifferent and low-definition culture against cultures with higher definition, of a disenchanted and de-intensified system against high intensity cultural environments, and of a de-sacralized society against sacrificial forms. According to this dominant system, any reactionary form is virtually terrorist. (...) Look at Afghanistan. The fact that, inside this country alone, all recognized forms of "democratic" freedoms and expressions -- from music and television to the ability to see a woman's face -- were forbidden, and the possibility that such a country could take the totally opposite path of what we call civilization (no matter what religious principles it invoked), were not acceptable for the "free" world. The universal dimension of modernity cannot be refused. From the perspective of the West, of its consensual model, and of its unique way of thinking, it is a crime not to perceive modernity as the obvious source of the Good or as the natural ideal of humankind. It is also a crime when the universality of our values and our practices are found suspect by some individuals who, when they reveal their doubts, are immediately pegged as fanatics. (...)».

Ainda no CTHEORY, uma entrevista com o mexicano Manuel De Landa, filósofo vadio, sobre o seu último trabalho, Intensive Science and Virtual Philosophy.

«Theories of self-organization are in fact being used to explain what Adam Smith left unexplained: how the invisible hand is supposed to work. From a mere assumption of optimality at equilibrium we now have a better description of what markets do: they take advantage of decentralized dynamics to make use of local information (the information possessed by buyers and sellers). These markets are not optimizing since self-organizing dynamics may go through cycles of boom and bust. Only under the assumption of optimality and equilibrium can we say "the State should not interfere with the Market." The other assumption (of contingent self-organization) has plenty of room for governments to intervene. And more importantly, the local information version (due to Hayek and Simon) does not apply to large corporations, where strategic thinking (as modeled by game theory) is the key. So, far from justifying liberal assumptions the new view problematizes markets. (Let's also remember that enemies of markets, such as Marx, bought the equilibrium assumption completely: in his book Capital he can figure out the "socially necessary labor time," and hence calculate the rate of exploitation, only if profits are at equilibrium). Now, the new view of markets stresses their decentralization (hence corporations do not belong there), and this can hardly justify globalization which is mostly a result of corporations. And similarly for warfare, the danger begins when the people who do not go to war (the central planners) get to make the decisions. The soldiers who do the actual killing and dying are never as careless as that.»

terça-feira, 20 de maio de 2003

LEILÃO DE LIVROS

No próximo dia 28 e 29 de Maio, no Hotel Roma, haverá um leilão de livros de arte, história, literatura, modernistas e muito mais. Informa o Bibliomanias, que será pelas 21 horas e a cargo de Luís Burnay, da antiga D.Pedro V. Pelo que se sabe, vai a leilão algumas primeiras edições preciosas, a saber: A Antologia Erótica e Satírica da Natália Correia; A Ceramica Brazonada do Conde Castro e Solla, já rara; um lote bem curioso de opúsculos de Rui Cinatti, hoje infelizmente esquecido; a rara Revista Contemporânea (250 a 500 E, como base) do José Pacheco; um rarissimo opúsculo de cunho surrealista de José A. França, Balanço das Actividades Surrealistas em Portugal (15/30 E); um lote de 4 livros do amigo de F. Pessoa, Augusto Ferreira Gomes alguns muito raros; a Revista Graal de Couto Viana; o muito raro terceiro livro de Herberto Helder, Poemacto, edição Contraponto do Pacheco (75/150 E);a rara 1ª edição do Exercício sobre o sonho e a vigília de Alfred Jarry seguido de o Senhor Cágado e o menino, de António Maria Lisboa; a Revista Litoral de Carlos Queirós; a Revista Lusitânia de C. Michaelis de Vasconcellos; uma rarissima primeira edição de Mestre Almada, A Chave diz: faltam duas tábuas e meia de pintura no todo da obra de Nuno Gonçalves ...; um opúsculo raro de Vitorino Nemésio, Violão de Morro. Tem Xácara, tem samba, tem farsa ...; o rarissimo Tempo de Fantasmas de O'neill (30/60 E); três raras edições de Luiz Pacheco entre as quais a Comunidade e o Libertino; a segunda edição da Mensagem de Pessoa (100/200 E);o primeiro livro de Saramago, a Terra do Pecado (60/120 E); uma rara edição de Cesariny, Alguns Mitos Maiores ...; a defesa de Padre António Vieira perante o Santo Ofício, muito estimada ...e muitos mais.

A não perder.

BLOG PARA O EXPRESSO, JÁ!

Na blogosfera caiu um manifesto petulante de sabedoria e prenhe de seriedade, dada à lux como resposta a um artigalho intitulado «Pacheco Pereira agita a Web» no Expresso, pelo Paulo Querido. O agitprop incompreensível, porque revelador do perfil de altar iluminado e iluminante que o bando dos oito nos lança sobre a forma de choro desvalido, torna-se assim o novo melhoral para a azia jornalística existente no burgo, e de que, curiosamente, os subscritores se afastam como o diabo da cruz. Assinam, todos muito arrumadinhos, os da A Coluna Infame, Blog de Esquerda, Blogue dos Marretas, O País Relativo, Cruzes Canhoto, Prazer_Inculto, Valete Fratres!, O Intermitente.

A coisa não seria de espantar, se a excitação demonstrada pelo bando militante não fizesse a ponte entre a direita engraçada e a esquerda festivaleira. Sem empacho algum, desatam num chorrilho de postumeiras vontades sobre jornais e jornalistas, seguindo o farol da tradição que «inimici sui amicum nemo in amicitias sumit», no que foi acompanhado imediatamente por outros blogs, todos eles numa de «amicus fidelis». Afinal se pretendiam dizer mal do amigo Pacheco Pereira, porque não passaram a publicidade, e deram por bem empregada a pena?

Afinal que tinha o artigalho de Paulo Querido, que é bem melhor jornalista que xadrezista, assim tão bizarro? Acaso não é verdade, que a entrada do Pacheco na blogosfera agitou a dita? E não nos é referido, ao longo do texto, que PP foi recebido com fidalguia e com a etiqueta devida? E será que, de facto, não vem PP «reforçar qualitativamente uma blogosfera de expressão portuguesa»? Ou era só para bater no Expresso, tecendo mandas aos do DN sempre bestialmente governamental e a esse jornal de extrema direita, que é hoje o Independente?

Ora parece que a furibunda diatribe do bando, assim atirados como gato a bofe contra Paulo Querido, é mais uma pose de magister a dar uma de lição de blogar, que outra coisa qualquer. E vindo de um Lombas, agora bolinando entre a teimosia de querer ser conhecido pelo Luiz Pacheco da direita e a chateza de não saber se Paulo Portas mentiu ou não ao tribunal; ou de um fogoso mercador de poesia, de nome Mexia, que calcorreia o rincão natal a dar desvairadas meta-comunicações sobre a poesis aos crentes; ou que dizer, desse luzeiro dos jornais, suspicaz filósofo encartado no seu isolamento de vida de cão, no Independente, e que conseguiu à sua custa baixar supinamente a tiragem do seu jornal, tal o bom-gosto e o bom-senso que o move; afinal, a trombeta assim esgrimida por tais personagens, iluminada com tão íntegros profissionais da imprensa como subscritores, explica-nos bem a brandura que têm com a direcção dos seus jornais. É que, de facto, não há qualquer diferença entre o engenheiro Saraiva e os seus pares Ribeiro Ferreira ou Inês Serra Lopes. Não é tempo de fustigarem os seus directores, meu caros bloguistas, em vez de mandar missivas por portas travessas?

GASPAR SIMÕES NA FIGUEIRA DA FOZ

Fomos a caminho da Figueira da Foz. O dia prometia ser de companhia. E foi. A exposição comemorativa do nascimento de Gaspar Simões, nascido naquela cidade há cem anos estava excelente, ou não fosse superiormente organizada por Henrique Cayatte. "Evocação de uma presença - Gaspar Simões (1903-2003)" no Centro de Artes e Espectáculos (CAE), integrando a programação do Coimbra 2003, era o título. Lá estava parte da biblioteca do Gaspas, como lhe chamava Luiz Pacheco, um grupo significativo de papéis presencistas, fotos e imagens dos intervenientes de antanho, e um acervo testemunhal do crítico literário, do romancista e do homem de letras.

A Divisão de Acção Cultural, Museu, Biblioteca e Arquivos da C. M. Figueira da Foz lançou um lindo e estimado Catálogo Bibliográfico - obrigado H. Cayatte - muito ilustrado, para esta evocação. De referir, para além da já tradicional bibliografia activa e passiva, os textos de Carlos Reis, «João Gaspar Simões queirosiano»; de António Pedro Pita, «João Gaspar Simões e a dinâmica do Neo-realismo»; e um texto de Eduardo Prado Coelho, «João Gaspar Simões e a Nova Crítica».

Dizia Gaspar Simões numa carta a Casais Monteiro:

«Sou um homem morto para a epistolografia. Que dirá o futuro sobre esta minha aversão? Como se morderão de raiva os meus biógrafos, não encontrando rastos da minha vida nestes anos que giram à volta dos meus trinta e um anos. Como se vê, penso serenamente na posteridade. Esta carta, com pouco mais de gramática que as anteriores, vai ser disputada ruidosamente pelos coleccionadores de manuscritos do ano 2000. Que bom pensar assim tão confortavelmente na posteridade» [in Catálogo ...]. Será que sim?

Uma última questão. Por que carga de água deve o bonito Centro de Artes da cidade da Figueira ficar com o nome do presidente que o mandou construir? Não há vergonha na cara destes boys. Será que teremos, no futuro, além do Centro de Artes Santana Lopes um ... Santana Lopes's Kasino, em Lisboa? Está tudo doido?

sábado, 17 de maio de 2003

A ESPUMA DE UM EX-MAOISTA ENVERGONHADO

O ex- maoista envergonhado José Manuel Fernandes anda numa, como diria o Raul Proença, de "cretinizar inteligências". Não se sabe, ainda, se a sua de mestre-escola assumida, se a dos leitores d'O Público.

O piedoso articulista diz-nos, a dado passo, no "Editorial" de sexta-feira:" (...) um país [nota: Bélgica] que nem é bem país, antes um conjunto de três regiões linguísticas que se esgatanham umas às outras, entendeu ter «jurisdição universal» para crimes de guerra. Assim qualquer general da NATO - que por acaso tem sede em Bruxelas - passa a estar em risco de ser preso inopinadamente ao dirigir-se para uma reunião de rotina". Eis como o Fernandes esgrime o florete jornalístico.

Andou muito desde que saiu da "Voz do Povo" e fazia entrevistas ás operárias. Está mais solto de linguagem, menos adocicado na prosa, mais iconoclasta, se bem que sejam já visíveis os defeitos que tem na curvatura da espinha. Mas está bem, como teremos de o aturar até o Belmiro achar que sim, ou o PSD entender que ainda é cedo, utilizaremos esse extraordinário Fernandómetro que nosso direktor utiliza. Uma sugestão. Não se pode fazer um abaixo assinado e mudar a capital da Europa de Bruxelas para Braga. Assim como assim, tal como o Coutinho recomenda no lote dos «três pês», era um fartar vilanagem. Era só meditar pela calada da noute. Vamos a isso?

ESTA SEMANA O FILÓSOFO É ...

Correu mal a semana de cão do JPC. Já cansado com a putativa correria a Sevilha, ou a fugir dos "três pês" da Bracara Augusta, o escriba infame não nos atirou com um punhado de filósofos esta semana na "Vida de Cão". Está mal. Depois do chateza do Ludwig em prosa anterior, o escriba caiu nos braços de Teresa Guilherme, de Aristóteles e de Kant. Neste caso pode-se dizer que a razão perdeu o Pereira Coutinho. Esse infatigável mineiro da filosofia. Está mal!

FELGUEIRAS "RULA"

O que se viu ontem em Felgueiras é execrável. Um bando de populares (!?) correndo e batendo num homem, agastado e humilhado, é bem o retrato da populaça que habita cá no burgo. Um coio de indigentes que vive de e para o futebol - a suprema alienação da pós-modernidade - em sinistro bando, resolve invectivar quem não alinha com a bagunça que reina pelo país. O retrato de Felgueiras está aí. Para ficar.

Duas imagens nos ficam na memória: a primeira, o faccis dos poltrões socialistas de Felgueiras, enquanto o jornalista da RTP1 explicava o que aconteceu. O ar de alarves com que aparecem na TV, a felicidade de estar na mesma caixa onde os Baiões, os da Moderna, os Cruz ou as Fátimas é elucidativo do bem estar do cidadão portuga. A populaça entendeu bem o que Warhol disse, isto é, há que aparecer, sempre com rasgado sorriso nas beiçolas, onde a TV está. E se for em tertúlia ajumentada melhor. A segunda imagem é o aparecimento de um pobre coitado, vestido com farda de futebolista domingueiro, frente ao Assis para lhe fustigar o lombo. Este popular, que decerto trabalha para receber uns míseros cêntimos no seu dia-a-dia, vinga-se pela calada da noite. Entretando a GNR - pronta a partir para o Iraque a nova província dos USA - aparece meia hora depois, com três exemplares extraordinários.

Que raio de País é este? Será que um bando de marginais á solta em Felgueiras manda mais que as autoridades públicas? E que diz a isso o inefável Ministro? Não é um crime público o que todos vimos? Porque se espera?

ALMOCREVE DAS PETAS

O título de Almocreve das Petas, deve-se, tão somente, termos ficado encantados, in illo tempore, com o periódico do mesmo nome ["O Almocreve de Petas ou a Moral Disfarçada da Vida"], publicado em 1798 por José Daniel Rodrigues da Costa, natural de Leiria, ao que se sabe em Colmeias [30/10/1757, informação de Mestre Inocêncio], que é ainda de grande estimação e bastante curioso. Mais tarde, sob direcção de Couto Brandão surge em 1910, "O Almocreve das Petas" da qual só conhecemos um simples exemplar, bem mais fracativo.

Escreveu ainda, o tal José D. Rodrigues da Costa, alguma pérolas como: "Jantar imaginado com sobremeza, café e palitos, dado em meza redonda, na casa de pasto do Desejado, sendo cozinheiro o Pensamento e freguezes Gente de diversos paladares ..." - decerto dedicado ao abominável J. C. das Neves, o papa-almoços ; "Papéis contra papéis, ou Queixas de Apollo para açoute de máos poetas" - dirigido certamente ao pregador Pedro Mexia; e muitos livros e opúsculos que indicaremos se nos der gozo e tivermos pachorra.

SAUDAÇÃO

... aos Manos da Blogosfera. Aqui estamos, respeitosamente, a apresentar a carta de alforria a todos vós, manos inteligentes e cultos, patriarcas das letras e da coisa pública.
O Almocreve é uma palavra com mil letras. Conhecemos bem as nove primeiras mas serão escritas como a libido nos permitir. Seremos brutais na boçalidade dos vossos desejos. O Almocreve será terrível e não faz propaganda. Carregamos o fardo de todos vós e a herança de poucos. Somos como lobos em deserto puro. Estranha maldição a de todos vós. Graças senhor!

Minhas senhoras e meus senhores é entrar é participar para distrair a mente serem luminosos em prosas de merecida estimação e quando à noite vos deitardes levareis reflexão intensa um estágio económico-político com liberdade de expressão ao fundo iniciações cabalísticas por jornalistas encartados dvd's eróticos para colunas infames consultas poéticas em antiquário discurso varonil F-16 para liberais não masoquistas uma rifa de S. Paulo da Moderna petas verdadeiras postas a circular por peixeiras inteligentes uma subida a S. Bento com paragem no Almarjão e egrégias virtudes de vida de cão que o Mondego é aqui. Basta de mau gosto!

Sois encantadores!