A casa do poeta que pertenceu à geração neo-realista - João José Cachofel (1920-1982) escreveu nas revistas 'Altitude', 'Novo Cancioneiro', 'Vértice', 'Seara Nova' e na 'Presença' -, nas cercanias da Sé Velha, em Coimbra, foi sempre uma porta aberta a todos os que da literatura e da arte faziam tertúlias pela noite dentro. Sabe-se agora que a sua casa de Coimbra será adquirida pela autarquia. Muitos debates, textos e ensaios oposicionistas de lá partiram. João José Cochofel merece.
Álcool [in, Obra Poética, Editorial Caminho, 1988]
Partir
sim, mas partir realmente,
definitivamente,
cobra que deixa a pela já crestada dos sóis
e se empoleira nas árvores como um passáro
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Partir
que os hotéis de luxo têm seus quartos guardados para mim,
e os salões embandeirados de luz
esperam-me
Partir para Jungfraus e Niagaras,
e à noite embriagar-me entre cristais e mulheres!
Depois,
raspar com as unhas no chão e enterrar-me,
deixando os olhos de fora
para que neles poise
o último orvalho da manhã.