Mostrar mensagens com a etiqueta Blogosfera. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Blogosfera. Mostrar todas as mensagens

sábado, 12 de março de 2011

FOI BONITA A FESTA PÁ!




"Chamais-me, Cidadão? Eu aqui estou:
Alas à Liberdade!
Nunca mais pura cauda se arrastou
Nas lages da cidade!
" [Alexandre O’Neill]

Dia curioso e surpreendente. Inchado de liberdade, sonoridades vocais, de movimentos progressivos. Eis Lacan e o grito do recém-nascido, em pura metonímica. Da escuridão destes dias saíram ladrilhos de memorandos, mui ataviados de panfletos em letras redondas. Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Volumosa, autorizada. Cor unum et anima una. E dessas almas, naturalmente lúcidas, brotou uma nova itinerância para todos nós - os condenados às galés da fazenda. É preciso uma grande orgia. Porque foi bonita a festa, pá!

PS:Ah! os cultores corporativos do bloco central já capricharam pequenas maldades. Vieram espumar as suas mazelas, enriquecendo a lexicologia política. O sr. Sócrates justificou o grito da "canalha" com a sua contumaz imaginação cénica. O sr. Augusto SS, resignado, truncou o seu dia de trabalho precário. E o merceeiro Teixeira dos Santos, ao que parece, faz exercícios venatórios ao colo do governo colonial da fuhrer Merkl. Há ironia e malícia no ar. O dr. Coelhoatrevido no ímpeto e bisonho na praxis - ameaça fulminar qualquer acareação com o regente-engenheiro. Santo Assis ainda não rabujou, vindo do asilo parlamentar. Na verdade, não há vida além do mofo de S. Bento e do facebook do dr. Cavaco. Pelos colunistas, há advertências, sermões & tripas viradas. Há motins literários. A casta & reaccionária Helena Matos (Oh! Labii reatum! Oh! Geração do 69) arrufou, vaidosamente máscula, sumariamente caluniante. Rosariada de náusea (ou sexo de escrita) contra a vida e o seu linguarejar. O dr. Pacheco Pereira, leninista e sem lucidez, choraminga abruptamente contra os profissionais da TV. Não leu o discurso último do dr. Cavaco, um dos subscritores do PREC d’hoje. Valha-nos, ao menos, isso! No resto "enquanto os filósofos etiquetam, os relógios tiquetaqueiam". O’Neill … na porta!

sábado, 26 de junho de 2010

O BIBLIÓMANO


"Le Bibliomane thésauriseur est heureux de posséder ses livres, parce qu'il les aime avec jalousie: sa bibliothèque est un sérail ou les eunuques même n'entrent pas; ses plaisirs sont discrets, silencieux et ignorés: il ne permet pas à un ami la vue d'une de ses maîtresses, souvent fort peu dignes d'exciter l'envie; il se persuade que nul rival ne lui dispute les attraits d'impression et de reliure desquels il est épris; il jouit solitairement : il nie ses richesses, comme s'il craignait les voleurs; il en rougit comme s'il les avait mal acquises; il se fâche quand on le presse de questions à ce sujet, et il mentira plutôt que de s'avouer propriétaire d'un volume qu'il a légitimement acheté.

Ses livres gisent enfermés à triple serrure, cachés derrière un rideau opaque, semblable au voile de l'arche sainte; encore ces précautions sont-elles rarement justifiées par la nature même des ouvrages, qui ne franchissent guère la rigoureuse catégorie de la morale et de la religion: il y a chez ces bibliomanes une passion concentrée, purement égoïste et nourrie de son propre aliment, passion qui se croirait profanée si l'objet n'était pas un mystère au monde.

Le Bibliomane vaniteux a de belles éditions, de splendides reliures, une bibliothèque bien choisie et bien rangée: il dépense des sommes immenses pour la compléter; c'est un soin dont il se remet entièrement à un bouquiniste intelligent, à un bibliographe officieux; du reste, il ne lit pas, et souvent il n'a jamais lu: il collectionne des livres, comme il ferait des tableaux, des coquilles, des minéraux, des herbiers. Sa bibliothèque est une curiosité qu'il montre à tous, au premier venu, à des femmes, à des agents de change, à des enfants, peu lui importe que les gens sachent ce que c'est qu'un livre, et, qui plus est, un beau livre !

Le Bibliomane envieux désire tout ce qu'il ne possède pas; et, dès qu'il possède, son désir change de but: sait-il que tel livre existe chez un amateur avec lequel il rivalise, aussitôt sa quiétude est aux abois; il ne mange plus, il ne dort plus, il ne vit plus que pour la conquête du bienheureux livre qu'il convoite; il emploie tout, jusqu'à l'intrigue et la séduction, pour attirer à lui le bien d'autrui; les refus, les difficultés augmentent, irritent sa concupiscence; bientôt il sacrifierait sa fortune entière à un seul instant de possession; mais un rien , la découverte d'un second exemplaire du même livre, une critique en l'air, une réimpression, voilà cette impatience qui s'abaisse et cette ardeur qui se glace. Tout à l'heure l'envieux souhaitait la mort du maître de ce cher livre, afin de s'enrichir aux dépens du défunt! Ce bibliomane est malheureux, comme tout envieux doit l'être, et son malheur recommence à chaque nouveau désir. C'est le Lovelace des livres: il en devient amoureux, et il les poursuit avec acharnement jusqu'à ce qu'il les ait entre les mains; alors il les dédaigne, il les oublie, et il cherche une autre victime.

Le Bibliomabe fantasque n'adore ses livres que pour un temps; il les recueille avec curiosité, il les habille avec générosité, il les installe avec honneur, il les entretient avec faveur; tout-à-coup l'amour se lasse, se refroidit, s'éteint: le dégoût a commencé! adieu, gentes demoiselles! le grand Seigneur réforme son harem: aux Circassiennes succéderont les Espagnoles, aux blanches Anglaises, les négresses du Congo; le grand Seigneur vend ses femmes à l'encan; mais demain il en achètera de moins jolies qui auront pour lui le charme du caprice et de la nouveauté.

Le Bibliomane exclusif ne fait cas que d'un certain ordre de livres, et ne courtise ni les plus rares ni les plus singuliers; il a une collection, c'est là son dieu et son âme; tout ce qui est en dehors de sa collection ne l'intéresse pas; mais il ne néglige aucune recherche, aucuns frais, pour étendre cette collection, pareille à ces immenses et informes monuments orientaux élevés sur le bord des chemins, avec les pierres que chaque voyageur y dépose en passant. Le bibliomane exclusif consacrera son temps, son argent et sa santé, à l'entassement d'une bibliothèque toujours curieuse, mais aussi toujours monotone. Ici, Pétrarque se multiple en douze cents volumes; là, ce sera Voltaire en dix mille pièces réunies une à une, ou bien le théâtre seul fournira des milliers de brochures, ou bien la Révolution française régnera paisiblement sur des cimetières de paperasses"

Extracto de "Les Bibliomanes", por Paul Lacroix (Bibliophile Jacob) - via Blog "LE BIBLIOMANE MODERNE" [ler mais]

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

SÓCRATES, A FECHADURA E A RUA


"A liberdade é sempre e só liberdade dos que pensam de outro modo”" [Rosa Luxemburgo]

Estes "estupendos" 5 anos, com marca e talento do sr. Sócrates & amigos, obraram uma fazenda em ruína, uma propaganda sinistra, uma paróquia raivosa. O compêndio político destes dias faz mesmo esquecer o infausto tempo do dr. Cacavo & amigos e suas posteriores sequelas. Um grupo de sujeitos repugnantes (e disciplinados) tomou de assalto a coisa pública, banqueteou-se sem cerimónia, armadilhando meticulosamente tudo de passagem. Não há nenhum lugar na paróquia onde essa catrafilada de gente não esteja presente. Para glória de poucos, vergonha de alguns e miséria de tantos!

O actual arresto das contas públicas e a servidão fascizante imposta à canalha da rua e do trabalho, não é mais que a reprise desse espectáculo indecoroso de apropriação da res publica por esses grupos de interesses e que confortavelmente se instalaram na vida pública. A barulheira, que por ai vai, em volta da putativa liberdade de imprensa será sempre uma récita abeiçada de mestre-escola, demagógica e populista. Todos os governos, sem excepção, usaram e abusaram da intimidação e propaganda para esmagar as investidas contra os interesses e estratégias do seu grupo. E, de outro modo, sempre existiram jornalistas, acofiados ao poder, sem lealdade e dever deontológico, que tranquilamente souberam ser pulhas. Nada de novo, nenhuma desilusão.

O que há de original, por agora, é que o disfarce caiu de vez e tocou a rebate. Muito por culpa da situação económica e financeira, mas, principalmente, pela falta de carácter que manifesta o sr. Sócrates, mais os seus sensaborões amigos. Inúteis, vaidosos e histriónicos, o ajuntamento dos amigos da governação agravou a chinfrineira e a multidão, de pés para a cova, percebeu-a. A pirotecnia jurídica levada a cabo pelo sr. Procurador, o sanfonar irado do sr. Lacão, as brejeirices incansáveis de Santos Silva ou a prosápia de José Lello, agravou por demais a coisa. Curiosamente, também pela blogosfera, os muito arranjadinhos Abrantes ruminaram lascivas lendas em prol do altíssimo chefe Sócrates & amigos. Muitos receberam o prémio Simplex, uns tantos ainda cismam piedosas intenções, outros já trataram das feridas. A alma humana é, de facto, um abismo!

Entretanto, parece que a extenuante lide pela "liberdade de imprensa", presumidamente desatrelada que está dos interesses económicos do grupo prevaricador, vale uma petição, uma burlesca manif e um consequente orgasmo político. Ao que se sabe, o sempre rijo João Miranda, por uma vez, recolheu a sua vocação liberal e aderiu a essas "manifestações organizadas por blogs e SMS". O que, como se sabe, "são aquilo com que uma certa esquerda sempre sonhou". Está, pois, o nosso João Miranda, quase um professorzeco arremelgado contra o poder, quiçá um enternecedor sindicalista, desses que singram pela rua, essa putain respectueuse. Que tudo lhe corra bem, na sua reclusão de revolucionário, é o que desejamos. E aos demais!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O CÃO DE PARAR


REGRESSO DO CÃO DE PARAR

A 14 de Janeiro de 2007 não conseguimos "escapar" ao encantamento professo e à sensibilidade narrativa sobre a problemática do "cão de parar", que o nosso camarada e amigo A. Caseiro, no seu eloquente cantar d'amigo, nos modulava em arquitectada sabedoria e sublime paixão. Os seus testemunhos luminosos, a sua eloquente inspiração, a sensibilidade da sua investigação e a cadência documental que a acompanhava eram tais, que o "mérito sobre este antiquíssimo saber" não nos podia deixar indiferentes. E fizemos o "Cão de Parar" para que fosse espaço conversável. Para que, dessa imensa riqueza que será sempre o convívio entre "a natureza, o homem, os deuses e os animais", essa "demanda" fosse proveitosa. Parámos por um dia, tropeçamos de espanto, mas é sempre tempo do regresso. O "Cão de Parar" está de volta!

Ao tempo, foi este o nosso Edital:

"um cão perdigueiro de dous narizes, o melhor da matilha" [Camilo]

Sendo presente que existe um conjunto estimado de documentos escritos sobre o cão de parar, de altíssima memória, ou trabalhos autorizados sobre o elogio do cão - "de aves, de falcão, de busca, de mostra, de parar" - e outros, bem valiosos, que a poeira dos arquivos condena ao esquecimento; sabendo que há um grémio de ilustres e respeitados amantes das "antigas artes de cetraria, altanaria ou montaria" e do perdigueiro português, em particular; não se desconhecendo que o debate, entre diligentes espíritos lusitanos, levanta inspiradas perplexidades, generosas polémicas e amenas narrativas, quase sempre de quantiosa erudição; vêm estes apontamentos dar testemunho da vivacidade sobre o estudo e a grandeza do debate sobre o "cão de parar", louvando e prestando homenagem fraternal ao Mestre A. C., cuja familiaridade e sensibilidade a esta narrativa nos assombra e encanta. A ele, pois, este espaço de conversação e de elogio do cão.

Declaramos, pois, que O Cão de Parar está aberto a todos os seus amantes, recenseando informações e memórias (bio)bibliográficas, registando curiosidades, elogios, testemunhos, notícias e apontamentos, para que destas inscrições & impressões se desenvolva o gosto e o mérito sobre este antiquíssimo saber, que põe em convívio a natureza, o homem, os deuses e os animais. Que a demanda seja proveitosa.

E para que conste, aos leitores, se fez este edital. Vale!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009


BLOGS!?? ONDE ESTAVÁMOS NÓS???

A introdução (sempre essa problemática cruciante) dos blogs partidários na blogosfera doméstica entusiasmou tanto a plateia literária (ou pocilga política) que, de imediato, a praça pública, ora de gatas ora em finca-pé, homenageou laboriosamente tais criaturas. As histórias promulgadas no Simplex, de feição humorista-socratista, concorrem com o lento latejar da lida de inéditos da sra. Ferreira Leite, para os lados do Jamais.

Num, o depoimento político ou negócio de recados, capricha a necrologia do regime, a lembrar os vieux temps marcelistas, firmados pelo autorizado carteiro, com o "cabelinho à fosga-se", o sr. João Tiago Silveira. No outro estabelecimento, olhos fitos no trautear cavaquista, o viveiro arruinado da Rua de São Caetano à Lapa faz estampadas postas para conjurar a dita luxúria da escola do dr. Cavaco.

No primeiro, a ciência política é uma simplória gambiarra do governo, enquanto a economia política se lhes afigura uma epidemia glossológica (siga-se para o efeito, mansamente, os trabalhos desse leitor de lombadas financeiras, o jovem Galamba ou as primorosas estatísticas do superlativo Hugo Mendes). Naquele outro, o espectador conclui, invariavelmente, que não só a política precisa de ser modernaça (isto segundo a predicada bondade filosófica do paladino José Gomes André) como a sra. Ferreira Leite, antes & depois do balsedo eleitoral ou pela intensidade vulgaríssima da sua doutrina visionária e que tanto obrou em tempos idos, é essa salvação certa contra os tementes do sr. Sócrates.

Curiosamente, no Simplex, a pragmática celebrada (das origens ao presente) de alguns viciosos catilinários do sr. Sócrates & Maria de Lurdes segue o método exposto pelo subtil Curzio Malaparte (sempre de utilidade didáctica nestes assuntos). Isto é, a coberto dos interesses corporativos mais descarados (que não graciosamente ideológicos), prolifera a técnica de paralisar os adversários, concentrando esforços em objectivos principais e "atacar directa e duramente sem fazer barulho". Assim se explica o rancor analfabeto de João Paulo Pedrosa, crocando exteriorizadas postas reaccionárias contra certa esquerda, que o leva singularmente a nunca observar, manusear ou debater as políticas seguidas pelo seu patrono. Como aluno do sr. Santos Silva (o picaresco malhador), não poderia estar melhor. Não por acaso o rapaz, serôdia e tacanhamente, diz-se militante da ala direita do sr. Sócrates. Como se não o soubéssemos já!

sexta-feira, 31 de julho de 2009


LIBERDADE RESPEITOSA

Paulo Querido organizou uma joeirada conferência – le dernier cri de idolatria ao poder – que mostrou arrumados bloggers à volta do sr. primeiro-ministro, radiantes do prodígio e mimados pelo agasalho. Tão inolvidável evento foi curioso de seguir, evidentemente ex-post, dada a natureza do choque tecnológico em curso.

E o que se passou nesse alpendre modernista? Ao que nos dizem, supõe-se que o sr. Sócrates se deixou folhear (docemente) numa sala (cantina da LX Factory), sóbria e à moda antiga, por consagrados génios da política indígena e outras tantas intelectivas eminências da bloguística paroquial. Nesse armazém de sabedoria ou sessão de esclarecimento o mistério para nós era saber o que fariam ali tão pasmados bloggers, como se de expositores de tratassem, fora do mau génio do seu teclado ou affaire tecnológico. Temos para nós (salvo veneráveis excepções) que se aos bloggers lhe tirarem o habitat natural, a costumada convicção ou erudição do blogger deixa de o atormentar e o seu reportório torna-se manso e sombrio. O que se verificou, piedosamente.

Depois, se a cenografia era fechada se bem que envolvente, os detalhes épicos desse inolvidável espectáculo foram esclarecedores. Um curioso grupo de delegados, que desconhecíamos que existissem fora das sedes partidárias ou do governo, apadrinhou a redacção do sr. Sócrates com prosa migada e palavras sem dor. Desses, que entrados na vida pública capricham no serviço, registe-se, pelo assombro do nervosismo e comicidade teatral, o marçano do ministério da educação de Lurdes Rodrigues, o jovem Hugo Santos Mendes (seguir todo o enredo aqui, aqui, aqui, aqui e aqui). Se na sua obra na Sociologia da Educação, onde o rapaz está matriculado, nada consta de excitante, já a inteligência do moço para dar recados ou conselhos ao sr. Presidente do Conselho é total. Curiosamente, Paulo Querido, o mestre-de-cerimónias, pelo que aqui se lê, conhece o intelecto do jovem Hugo tão bem como perfilha a ignorância do sr. Sócrates nos assuntos da governação. Só por tal audácia Paulo Querido pode dizer que a acção de propaganda foi um sucesso. Subscrevemos.

Em minúcia, o que se viu foi uma peça de fancaria governamental, um arraial saloio de meninas e meninos bem comportados a interpelar o admirável leader. Todos em "liberdade respeitosa". Todos dispostos à excitante ventura de fazer uma pergunta ao sr. presidente do conselho. Mas que se tratasse de uma, soi-disant, blog conferência é puro arroto semântico. Que nos desculpem.

sexta-feira, 10 de julho de 2009


JOÃO GONÇALVES, SEM TÉDIO

"os homens se despedem, /.../ lançando ao mar os barcos de outra vida" [Jorge de Sena]

O Portugal dos Pequeninos, qual "espreitador do mundo novo", subiu numa tarde calmosa de Julho às terras da Figueira. Não cuidou sequer nas sábias palavras de Ramalho Ortigão, quando este confessa ao entrar na vila, "terror mesclado de tédio", em tempos de banhos. Não! João Gonçalves, em exercício espiritual, não tem desses abismos de alma. O mar, a foz do Mondego, a qualidade do manjar na Celeste Russa (que me perdoe a minha amiga Rosa Amélia pelo bordado culinário) e, principalmente, o pronunciamento nos dias do Festival de Cinema (saudade eterna), restabelecem-no na sua bem-aventurança. Até porque "hoje não tem importância que os versos estejam errados ou não" (Jorge de Sena, claro).

O Portugal dos Pequeninos, assim temperado, deu livre comunicação aos seus alevantados pensamentos, no encontro com os leitores. Foi cáustico na rebelião, casto nos arrochos, elegante nas informalidades. As admiráveis tiradas ou perturbações das ordens do regime, foram judiciosas. Pouco irritadiças! Quase ternas. João Gonçalves veio à Figueira, alumiou sentimentos, falou com sinceridade sobre a paróquia, pediu mentes esclarecidas e livres. Sem salvadores! Em troca ficou de continuar a dar-nos o prazer da sua letra, o luxo da sua ironia. E assim se espera que cumpra!

sexta-feira, 15 de maio de 2009


"FRASES QUE IMPÕEM RESPEITO"

- "Augusto Santos Silva considera 'gravíssimas' as declarações do presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público sobre alegadas pressões aos procuradores do caso Freeport. Estas afirmações 'não podem passar sem consequências', disse o dirigente socialista à entrada das jornadas parlamentares do PS, que decorrem em Guimarães [vide exame crítico do conselheiro SS, AQUI]

- "Para [Augusto] Santos Silva - que garantiu estar a falar na 'plenitude do seu ser' – enquanto cidadão, dirigente e ministro - o presidente do SMMP ‘tem que dizer que pressões são, sobre quem são feitas e quem as exerce’, isto porque ‘o facto de alguém dizer que há pressões não quer dizer que elas existam’" [SS em retiro espiritual ou breve resumo de política prática]

- "Mudou a presidência do sindicato dos magistrados do ministério público e a conversa mantém-se. João Palma, assim que tomou posse, logo repetiu a ladainha de que os magistrados sofrem pressões: ‘há pressões, umas conhecidas e outras não, e se for necessário, se não acabarem, direi quais são e quem as faz’.
A história, aliás, não é nova. Primeiro, aparecem nos jornais – sempre nos mesmos, sempre nos mesmos – umas notícias que falam da existência de pressões, logo a seguir vem o sindicato referir sem concretizar as mesmas pressões que os jornais noticiaram sem concretizar. Depois, claro, chega o 'agarrem-me se não eu denuncio'" [notícias ou aviso do céu do sr.Pedro Adão e Silva, conhecido turista à esquerda do sr. Sócrates, em 30/03/09]

- "[Ao post]... só há a acrescentar uma coisa: é que neste caso a questão é mais grave que de costume: é que o Ministério Público (contrariamente aos juízes) é uma magistratura hierarquizada, e o seu mais alto representante institucional - o Procurador-Geral da República - já disse mais que uma vez que nunca houve pressões nenhumas. Como se admite que venha agora o "visconde" dizer o contrário?

Além de violar o princípio da separação de poderes, o pseudo-proletário 'sindicalista' desrespeita a hierarquia em que está integrado!" [reflexão varonil anti-sindical do sr. Carlos Esperança, ex-professor primário]

- "Mais para a frente na entrevista, Palma também disse que há pressões no caso Freeport: quando, como, de quem, contra quem? Aos costumes disse nada. Tão pouco se importou com o facto de o procurador-geral da República ter desmentido quaisquer pressões. Se ele acha, é verdade ..." [confissão para aleitamento do eleitorado do sr. Sócrates, pelo rapaz mui cooperativo]

- "O que é ao certo uma pressão? Como se reconhece? No contexto político-mediático português, a palavra tem vindo a revelar-se deslumbrantemente polissémica ..." [nota erudita ou tratado de escrita para o ensino no Largo do Rato, por Dona Câncio]

Saúde e Fraternidade!

quarta-feira, 22 de abril de 2009


A EDUCAÇÃO DO MEU UMBIGO

Quando a história da governação do sr. Sócrates na instrução e educação em Portugal se fizer (com rigor, seriedade e modernidade), o estudioso terá de consultar o excelente blog de Paulo Guinote. Os textos aí produzidos, as notas valiosas de investigação, as ideias e propostas enunciadas - em defesa da Escola e da Instrução Pública - constituem um contributo insubstituível para entender o sistema educativo, a dimensão "político-pedagógica do profissional da educação", a profissão docente e a sua autonomia face ao Estado e às corporações de interesses, nesse período.

Contra a demanda irresponsável e a hostilidade reaccionária dos sábios da 5 de Outubro (e dos seus patrulheiros), o acervo documental que nos facultou Paulo Guinote (e um extraordinário grupo de docentes, que aí se reagruparam) é uma fonte imprescindível para entender os jogos do poder político, os (des)propósitos sindicais e revela o espírito que "exalta a vida" (Vaneigen), nessa afronta que a memória não esquecerá. O aprofundamento com que todas as questões foram analisadas e contraditadas, à revelia daqueles que venderam a alma (pedagogos e especialistas em eduquês), aliada à participação colectiva de vasto número de profissionais livres e libertos, estabeleceu uma rede de histórias notáveis e de respeito. O campo educativo, que as cabeças intelectivas à ordem do sr. Sócrates formatou, deixou marcas profundas e irreparáveis.

A Educação do Meu Umbigo saiu em suporte de papel. Auspiciosamente! Para facultar os espíritos deformados, para reclamar o exercício da liberdade e ridicularizar grotescos experts, para manter a memória. Como tal, indispensável.

quinta-feira, 16 de abril de 2009


A TONSURA DESTES DIAS

Na chamada Blogosfera, a tonsura destes dias fez-se, por motivo de devoção, gorjeio & acabamento teorético, à volta da questão da trova & da "gramática" da sra. Fernanda Câncio. Isto é a produção jornalística com que a sra. tricota a pauta impressa no D.N. parece que incomodou uns tantos liberais, alguns sacerdotes que habitam no Expresso e outros prelados da objectividade da informação, dando origem a uma curiosa polémica.

A sra. Câncio, espírito que paira entre assuntos fracturantes e autoridade consultora do sr. eng. Sócrates & governo, e que não lemos por tédio e precaução anti-reaccionária, verteu insólitos (quanto persistentes) pensamentos que a matriz ética ou deontológica (não se sabe qual) não poderia permitir – ao que nos dizem. Invocando a existência de conflitos de interesses, com origem numa putativa relação privada, os fascículos saídos arrebataram os trovadores da Blogosfera e, pasme-se, até o Expresso, desse precoce sábio Henrique Monteiro.

O sedutor debate (e o dissenso) que se seguiu teve o seu esplendor neste curioso texto ("A democracia da suspeita"), que – passe o facto de confundir moral com ética e esta com deontologia – se subscreve, em parte. Mas, como talvez diria o dr. Pacheco Pereira (e bem!), "essa não é a questão fundamental". Porque, afinal, a prosa oratória da sra. Câncio só é perfeita (e consumida) por quem já está disso convencido. Os encómios aos seus textos "testiculares" surgem, curiosamente, da maioria de adeptos das tais causas fracturantes, que (sem inocência) trocam a melíflua nutrição da sua prosa, pretensiosamente radical, que lhes reverdece a alma e lhes adoça a vida privada, pela pouca original atitude de cedência face ao exame do poder autoritário e de pensamento único que tudo corrompe - e que sublimam para o dia de finados. Com ou sem declaração de interesses, a questão em debate não permite esquecer a ostentada (e medíocre) propaganda que se observa e é total. No resto, a converseta é estimulante e, até mesmo, imperiosa. Porque os tempos do jornalismo estão "feios" e a causa "corrompida pela língua", como diria Kraus. E assim o cremos!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009


Blog: Gentes & Lugares - Toponímia

Manuel Carvalho, ancorado em terras de Aveiro (paixão nossa que o tempo libertou), oferece-nos um espaço vigorado de gentes & lugares, "porque sem gente não há lugares, mesmo que os haja". Satisfazendo os nossos desejos, afinal ventura dos que sorriem sempre, recorda em cada post homens & lugares, nomes inolvidáveis & pedras erguidas, venerando datas e páginas ilustres da nossa história. Nação gloriosa!

Tábua:JOSÉ ESTÊVÃO Coelho de Magalhães 1809-1862 (biografia) / JOSÉ ESTÊVÃO Coelho de Magalhães (bibliografia activa e passiva) / JAIME DE MAGALHÃES LIMA 1859-1936 (biografia) / ver tudo AQUI.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009


AZIA pela Blogosfera

Daniel Oliveira contraiu a doença de mestre-escola. Numa posta, que não é mais que um suplemento vigilante de exortação à pregação de um coio de jornalistas acofiados ao poder, pretende refutar os ditos de circunstância de José Pacheco Pereira sobre o jornalismo de clientela e o estado parodista da blogosfera. Sobre o exame desses pregadores caluniosos que pululam na imprensa e pela Blogosfera, onde apresentam esplêndidos compêndios reaccionários "pret-à-porter" e (decerto) com aprovação do senhor Sócrates & Cia, o vigilante Daniel Oliveira escreve um papel em branco.

O brevíssimo tratado de raiva anti-JPP é, desta maneira, um catecismo que em vez de dissecar as meditações pachecais dessa escolástica figura – desde a sua patologia (neo)liberal sobre o Estado à miséria da produção de exóticas teorias sobre a administração Bush, até ao imoral apoio ao business espectáculo do governo de Israel -, acompanha o labor da infâmia e a manipulação insidiosa de alguns jornaleiros e comentadores contra JPP, mas do mesmo modo contra os cidadãos (da esquerda ou da direita) que fazem da resistência e desobediência civil contra o autoritarismo, o insulto e a mentira um orgulho de cidadania e um trânsito democrático contra a alienação, e que histericamente tais espíritos jornaleiros combatem. De facto, o bloqueio ideológico que os Bettencourt Resende, Hermínio Monteiro, Fernando Madrinha, João Marcelino, Fernanda Câncio, José Leite Pereira, Sousa Tavares, Rui Ramos, Peres Mettelo, António Costa (D.E.), Santos Silva (e tantos mais corifeus sem ética, nem vergonha) exalam nos seus boletins paroquiais é para Daniel Oliveira totalmente indiferente, ou quanto muito rimadas e piedosas intenções apenas a suspirar.

Daniel Oliveira, como outros, não conseguindo dissimular a rusticidade de um activismo institucional comprometido (na blogosfera) e a obediência cega (quando não, submissão) às regras e à aporia da amizade, neste seu texto, desresponsabiliza os novos "democratas" (arrependidos!) que arribaram à blogosfera e cujo revisionismo militante é provocatório, senão mesmo fascizante. Compreende-se, assim, como o crítico Daniel Oliveira, intervenha bizarramente contra JPP, demonizando-o, deixando de lado alguns hóspedes que a blogosfera acolheu, absorvido que estava na defesa de causas fracturantes, e que, ingenuamente, lhe sussurravam serem de esquerda. A beata Câncio & seu grupelho, e alguns jovens maviosos que deram então serventia ao Blogue de Esquerda ou ao antigo Cinco Dias, estão por aí como exemplo. Tem, portanto, Daniel Oliveira muita análise política para se ocupar. Cocheiros do sr. Sócrates e rosas todo o ano são inestimáveis repastos que abundam por todo o lado. Assim queira o meu caro amigo Daniel surpreender os seus leitores e não sussurrar, apenas, a arqueologia do disparate.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008


Ensino: agravos, calúnias & blogs

1. Maria de Lurdes Rodrigues, ainda ministra da educação, deu ontem uma série de entrevistas às televisões a propósito da manifestação de repúdio dos professores contra a sua pessoa. Esteve em todas elas, pastoreando os incautos espectadores e celebrando a sua incompetência política. Em todas elas, a arrogância e "teimosia" assumidas apontam para a sua insipiência em "matéria de gestão de organizações". Que é total.

Tratando quer um "quartel”" quer uma escola, como sendo uma única e a mesma organização, logo iguais conceptualmente, o seu exercício intelectual e académico põem em evidência as suas fracativas competências científicas-pedagógias na matéria. E revelam o estado do ensino académico indígena. E logo ela que, não por acaso, aparece como sendo uma putativa expert nesse folheto curioso que é a sociologia das organizações. Se não se soubesse que tal panegírico é assunto recopilado via o imaginário providente de João Freire (anarquista aposentado), com o apoio dos inefáveis empregados do regime que vegetam no ISCTE ou desconhecendo-se como a douta socióloga aplica na prática política e governativa os ensinamentos teóricos que lecciona, seríamos julgados a acreditar na bondade das suas medidas. Infelizmente não é assim! Qualquer um que queira saber as razões que estão por detrás do conflito entre (todos) os professores e a ministra tem à sua disposição na internet todos os materiais para uso do contraditório nessa matéria. Que o faça, livremente. Se for ainda capaz.

2. Calúnias. Não falamos das afirmações do caluniador e provocador Emídio Rangel, porque o caso é de foro psicanalítico e não argumentativo. As palavras insulsas ficam sempre bem a quem as profere.

Mas os editoriais do DN e do JN, pelo fraseado gasto e a manifesta inverdade no que escrevem, para além de ridículo são de lamentar. O editorial do DN é, de facto, de uma leviana ignorância e maledicência ao considerar puras deturpações como "casos concretos". O jornalista (?), presume-se o próprio Marcelino, não estudou a matéria em causa, limitando-se a repetir os rumores lançados pela ministra da educação. É ignorante porque afirma que "professores avaliados tem apenas de preencher uma ficha de definição de objectivos com duas páginas" – o que não é verdade totalmente – repetindo ad nauseam o que é lançado via governo. O porquê deste extraordinário e típico rumor era curioso de descobrir. O João Marcelino tinha (e tem) ocasião de saber se é ou não assim: basta ir a uma qualquer escola ou consultar documentação na internet.

Mais: o João Marcelino repete "que há muitos professores que já foram avaliados". O Marcelino, dando préstimos a iguais afirmações da ministra, não sabe que tipo de professores foram avaliados, em que contexto e como. Esquece-se de dizer que a tais docentes (os contratados e os que subiam de escalão até final do ano lectivo) não se utilizou a mesma metodologia (só tiveram de fazer a sua autoavaliação) com que agora se brinda os docentes do quadro e que, curiosamente, se encontram actualmente a trabalhar, na sua maioria, em caixas de supermercado ou estão no desemprego. Mas podia saber quem foi "avaliado" (e como?) se fosse autónomo, tivesse interesse, fosse atento e soubesse fazer uma simples pesquisa. Isto é, se fosse jornalista.

Por fim, é inútil referir o study case desse típico gerente dos jornais dos regimes, o senhor José Leite Pereira, director do JN. Num editorial abjecto, repetindo a pataco as enormidades do seu camarada João Marcelino (porque será?) pincela uma sensaborona croniqueta, onde o que avulta é apenas a pífia repetição desse espantalho das corporações e da defesa de direitos adquiridos. Para isso estamos conversados. Não é o jornalista Leite Pereira que pode vir dar lições sobre essa matéria. Ou a vergonha caiu de vez?

3. Por sua vez a Blogosfera, quase sempre escrava de factos e da retórica política posta a correr por criaturas sem nome, dorme "como um cevado". Bem comportadinha e sem liberdade de acção, como qualquer liceal, faltou à chamada. O ensino ou a educação irritam-lhe ou parcos neurónios, sonega-lhe a inspiração e a verve. A Blogosfera embirra com o ensino e os educadores. Fosse outro o escarcéu, já tinha publicado excelentes gatafunhos de gramática política & parido tão artificiosos como retrincados textos. Muitos dos blogs, ditos de referência, estão mais para a agulha e o dedal partidário. Ou sindical. Ou corporativo. Afinal porque razão haveriam de prosar e debater o ensino ou a educação? Acaso alguns desses extraordinários "cães de guarda" do regime, na sua boémia internauta, poderiam gastar as teclas, contestar ou opinar sobre a questão, talvez, absolutamente vital do país que é o ensino e a educação? Não podiam! Isto porque, tais fervorosos bloguers frequentam, como almas gémeas ou como comensais, o repasto do regime. Ora nunca se viu alguém morder a mão que lhe dá de comer. Evidentemente que não.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008


Temos andado ... assim!

"Non exiguum temporis habemus, sed multum perdimus"

Uma estucha a vidinha. De medonha que é não tem havido lugar, por estes lados, a recitações ou comentários da paróquia. Temos folgado da bloga! Andamos afastados dos campos estremecidos da poesis e da política paroquial. A miséria é tanta, a destruição tamanha, tão sólida e duradoira, que nos retirámos quase moribundos. A derrocada do país é total. E irremediável. Nunca tão poucos fizeram tanta ruína ... sozinhos. O sinistro cárcere que se instalou no reyno - por mais protestos de liberdade que existam – e o espectáculo vergonhoso da derrocada das instituições (e dos homens), é uma usurpação e uma maldição agonizante. O protesto, outrora radiante por tão bramado que era, resta hoje um tumulto que apenas arde nas nossas almas. A época das flores tarda. E curiosamente – tomem nota – falta ainda muito para o mês de Abril.

Mas – dizem alguns - a vida lá fora corre. E, na blogosfera, pelo que se vai sabendo, a paciente minúcia no arquejo da política destes tempos de trevas ou essa antiga & curiosa habilidade receituária de genuflexão ao(s) poder(es), exercício herdada da defunta União Nacional, são virtuosamente revelados por estes senhores e outros mais. Longe vai o tempo onde a bloga irradiava intelecto e elevação. Hoje a blogosfera, afogada que está em encómios aos diferentes raminhos partidários, é apenas um comércio político. Por isso, o roteiro, o aparato, a bizarria e o gosto (Oh! O gosto!!!…) da cantilena política oficial, o rinchar desse gentio bajulador (sem espinha vertical) e todos esses protagonistas das récitas Sócratistas, têm o "sabor decorativo" de outrora.

Paz às suas almas.

sábado, 27 de janeiro de 2007

Entrevista profana ao ... Miniscente

Mestre Luís Carmelo, na sua bondade de resgate opinativo sobre alguns aspectos conceptuais da blogosfera (coisa de mystério a neófitos), solicitou a este estabelecimento, que cuida de cativos instruídos & imprime letras carinhosas, a devassa de um inquérito. O desejo do Mestre, cumpre-se. É, pois, com ventura sorridente, que aqui partilhamos, à nossa ilustrada clientela, tão elevada missão. Graças! Luís Carmelo.

E, com a devida vénia ao editor, e para espargir os nossos paroquianos, deixamos um pequeno testemunho sobre tão delicado assunto [... a blogosfera]:

«A blogosfera é um dos poucos divertimentos intelectuais, que nos resta, contra o tédio. Palavra com 10 letras, de muita circulação em cafés, alcovas partidárias e oficinas de jornais, é a "máquina desejante" [chez Guattari] pós-moderna que mais aparenta viver. Não sabemos se é da crise de paradigma que nasce o ofício ou se, pelo contrário, é pela blogalização que se vai domesticar a crise. O certo é que esta epidemia do bloganço ainda está pouco vigiada, regulamentada ou admoestada, segundo rezam autorizados comentadores lusos. Assim, mui incivilizada contra o enfado, a blogosfera indígena é daquelas que mais aprontam "o grande espectáculo do desastre, o incêndio, a decomposição" [Tzara] da fazenda pública. Daí que os psiquiatras andem falidos, pois a blogofilia é "ainda menos aborrecido do que divertirmo-nos" [Baudelaire].
Alguns exegetas (nós, evidentemente) falam da blogosfera como uma sociedade invisível, à maneira de Daniel Innerarity, em que se assume uma nova relação entre espaço e sociedade, com movimentos e produção social própria, de "dimensão silenciosa" e fora do controlo do poder do Estado. Esta movediça desterritorialização, de transgressão global e em rede, marca uma nova discursividade, inscreve a vertigem da dissidência, sendo portanto a transformação mais radical dos nossos dias. E é sinal, pois, de uma "outra globalização": o investimento do desejo. Basta, por isso»

[ler todo o Inquérito, aqui mesmo]

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

COLISEU & O FANTÁSTICO CHANG



Vem este acrescento a propósito de cativas reminiscências que ditosas preces & freguesias viciosas nos elevaram no dia d'hoje. Basta recordar-nos dos "mundos dos impossíveis" ou poder louvado que, felicidade nossa, fizeram luz (ou Lux, conforme as criaturas) na nossa fabulosa vetustez. Coisa antiquíssima essa - a ida ao Coliseu. Diabólicos magos, a celebre mulher das barbas, a civilização por num dia, o palhaço pobre, os animais amestrados, o malabarista prodigioso (versão Teixeira Santos), o domador bíblico, o faminto leão (d'Alvalade, é claro!), a bailarina sequiosa. Tal como hoje, um mundo de vitalidade. Basta acompanhar o martírio dos colunistas, os textos obscuros do Azeredo Lopes, via comissão de exame prévio ou dita ERC, a languidez do dr. Cavaco ou a doutrina caseira do fenómeno Sócrates, a letra sensorial de João Miranda & as pinochadas d'O Insurgente. Abençoado Coliseu.

PS: em prece social(izante) enviamos os votos de Boas Festas à gerência.

quinta-feira, 30 de junho de 2005

5 - ANIVERSÁRIOS - 5



5 blogs, sem salas privativas, bom sortido de postas para paladares exigentes, óptimos de serviço público para estadia prolongada e justamente considerados como elegantes & graciosos de sedução, fizeram nestes santos dias os seus aniversários. O cartel assim caprichoso é de arromba. O que seriam as nossas noutes de blogosfera sem essa arte de bloguear cousa estimosa & de perfeição venturosa!?

Parabéns Aba de Heisenberg, Memória Virtual, Natureza do Mal, Respirar o Mesmo Ar e Terras do Nunca. Saúde e Fraternidade.

quarta-feira, 22 de junho de 2005

ANIVERSÁRIO DO AVATARES


"Recebo humildemente esta desordem
da carne, das palavras,
dos dedos brutos do tempo.
- Recebo tudo, e canto como quem deixa um sinal
maravilhoso
" [H. Hélder]

Um estilo de paixão biográfico. O desejo a raiar a felicidade. A escrita luzindo, porque "é tudo sublevado para o olhar" [Herberto, claro!]. A cordial gratidão de todos nós. Um coração excelente! Estão assim passados 2 (dois) anos de virtudes admiráveis do Avatares do Desejo. Parabéns!

[em jeito de ... "Defesa do Poeta", por Natália Correia, ali ao lado. Para o Bruno]

sexta-feira, 17 de junho de 2005

VÊM AÍ ... OS COMUNISTAS!


"Se alguma janela aberta o incomoda
peça ao condutor que a feche
" [Alexandre O'Neill]

João Miranda, o petit Dutra Faria do Blasfémias, está expungindo em redobradas postas o maligno comunismo & outros tantos ismos, livrando-nos do materialismo insano e do furor da sovietização. A chusma de gaiatos, todos piedosamente liberais, que sabem de economia libidinal, história do mercado & de poesis marxista, é laboriosamente pasmosa. Palmas! Nas suas prosaicas frivolidades, enunciadas sobre estes nossos calamitosos tempos de cárcere bolchevista, parca sementeira liberal e de pouca viril fecundação teorética, o vigário Miranda julga-se o chantre do rebanho de salvação libérrima, a luz dos indígenas lusos. A pastorícia neoliberal, assim tão caridosa entre os erradios nativos, é uma tarefa tão imperiosa, tão esmagadoramente necessária e urgente, que quase sempre se ornamentam os ânimos com o que a providência tem mais à mão: o vício do disparate.

O pasmo intelectual do jovem João, ao longo do inefável reportório de curiosidades e vistosas alegorias, legou para os vindouros a pranteada lei des débouchées, que todos desconhecem na sua aparição económica; condensou a memorável acareação entre o (seu) pai dos povos Hitler e o fascista Estaline de modo presencial & cristalino; autorizou a imortalização dos benefícios ministeriais como boa prática cristã-liberal, pelo que está inscrito; desconstruiu a fonte da riqueza abolindo qualquer construído produtivo a proletas, funcionários públicos ou mendigos, com sapiência elevada; finalizando, agora, o desabafo, grave & ilustrado, com a exigência da (re)nomeação da ponte dita 25 de Abril para a humana e reverente Ponte Salazar. Contumaz, o autor da nomeada, aventa todas as hipóteses sobre qualquer assunto ou moralidade, desde que possa escorchar na Abrilada. Porque vêm aí os russos, perdão ... os comunistas! Oh! horror! Ah! desgraça! Eia! João!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

O JUDEU NO POLÍPTICO DE SÃO VICENTE


A Rua da Judiaria faz alusão aos Painéis do Museu das Janelas Verdes ou Políptico de São Vicente, identificando o homem gordo com um livro aberto, no Painel dito da Relíquia, como um judeu, e logo o famoso Isaac Abravanel.

Pode ser que sim, mas a longa controvérsia em torno dos "mistérios dos painéis" desde a publicação do ensaio inicial de Joaquim de Vasconcelos em 1895 não permite, com toda a segurança, afirmá-lo.

Aliás tudo à volta do políptico de S. Vicente é absolutamente extraordinário. E a paixão que o debate suscita, com alguma violência diga-se e tragédia mesmo (exemplo disso foi o suicídio de Henrique Loureiro), sugere que se seja prudente nalgumas das "certezas" proferidas. Quer no que toca a execução dos Painéis para a Sé de Lisboa, às diferentes interpretações e significados esgrimidos (Tese Vicentina, Fernandina, esotérica, etc), quer ao reconhecimento das diferentes figuras aí representadas, o que conduz a dizer que se está ainda longe da sua inteira compreensão. Paradoxalmente, ou talvez não, os historiadores remetem-se a um prudente silêncio interpretativo.

De facto, a questão não é pacífica e requer um cabedal de conhecimentos, desde o domínio da cultura da época e a leituras e saberes iconográficos, mitológicos, cabalísticos mesmo, que não estão ao alcance de qualquer um. Como exemplo da dificuldade existente, refira-se a arrumação primitiva das tábuas, o patrocinador do trabalho, ao debate sobre o menino do gorro (Painel do Infante), à suposta confusão entre o Infante D. Henrique (que ainda hoje é representado nos livros de historia como aquele homem do chapéu grande, que se vê no Painel do Infante) pela figura de D. Duarte, etc.

Como exemplo da controvérsia, diga-se que ao suposto judeu que a tese oficializada defendia há ainda poucos anos, o Dr. Belard da Fonseca há muito a resolveu a partir da leitura do texto que o homem gordo mostra, e de pesquisas feitas, e que diz tratar-se do borgonhês Olivier de la Marche. O texto decifrado pode ser lido na obra Os Mistérios dos Painéis - O Cardeal D. Jaime de Portugal, de Belard da Fonseca, que depois o traduziu. A cruz referida na Rua das Judiaria seria a Cruz de Santo André, e a cor da loba e do barrete usado, verde escura, era a libré dos "pannetiers" da casa de Bergonha. Inútil explicar quem era Olivier de La Marche. Apenas se pretende referir que não é fácil ter certezas nesta questão. Ficaria assim posta de parte tratar-se da figura de Abravanel, alquimista, sábio, bibliófilo e conselheiro de D. Afonso V, astrólogo ["A Era Messiânica manifestar-se-á quando Saturno e Júpiter estiverem conjuntos no signo Peixes (particularmente influente no que respeita a Israel por ser signo água ...)", in Dicionário do Milénio Lusíada, de Manuel Gandra, referindo-se a Isaac Abravanel]. Curiosamente D. Afonso V era um interessado por alquimia, tendo ao que alguns dizem escrito um livro (julgo que só circula policopiado), denominado "Tratado Alquímico". Para uma consulta bibliográfica sobre a questão dos Painéis, aqui se deixa algumas referências:

Obras a consultar: Joaquim de Vasconcelos, Tábuas da Pintura Portuguesa do Século XV, in Comercio do Porto, 27/28 Junho de 1895 / José de Figueiredo, O Pintor Nuno Gonçalves, Lisboa, 1910 / Alfredo Leal, Os Painéis do Infante e a Obra do Sr. José de Figueiredo, Lisboa, 1917 / José Saraiva, Os Painéis do Infante Santo, Leiria, 1925 / Affonso Dornelas, Os Painéis do Mosteiro de S. Vicente, Elementos para a sua Identificação, II vols, 1931 / Albino Lapa, História dos Painéis de Nuno Gonçalves, 1935 / Artur da Motta Alves, Os Painéis de S. Vicente num Códice da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Lisboa, 1936 / Georges Kaftal, Essai Iconographique sur Les Paneaux Atribués à Nuno Gonçalves, in Boletim dos Museus Nacionais, vol II, fas. 6, 1942 / Garcez Teixeira, O Significado dos Painéis de S. Vicente, Museu, vol. IV, 1945 / João Couto, Nuno Gonçalves, O Políptico de S. Vicente, Col. Museu, 1954 / Reynaldo dos Santos, Nuno Gonçalves, London, 1955 / Adriano de Gusmão, O Nuno Gonçalves da Phaidon – Erros, Omissões e Plágios, Eur. Amer., 1956 / Adriano de Gusmão, Nuno Gonçalves, Colecção saber, 1957 / António Belard da Fonseca, O Judeu, o seu Livro e a Crítica, 1958 / Vitorino Magalhães Godinho, in Revista de História, nº 37, São Paulo, 1959 / Armando Vieira Santos, Os Painéis de São Vicente de Fora, 1959 / António Belard da Fonseca, O Mistério dos Painéis as Personagens e a Armaria, 1959 / António Belard da Fonseca, O Mistério dos Painéis, IV vols, 1959-1967 / António Belard da Fonseca, Dom Henrique? Dom Duarte? Dom Pedro?, Lisboa, 1960 / António Manuel Gonçalves, Do Restauro dos Painéis de São Vicente de Fora, Museu, 1960 / Jorge de Sena, Os Painéis ditos de 'Nuno Gonçalves', in Revista Ocidente, nº 305/306, 1963 / José dos Santos Carvalho, Iconografia e Simbólica do Políptico de São Vicente de Fora, 1965 / Charles Sterling, Les panneaux de Saint Vicent e leurs Enigmes, in Revue d’Art, nº 159, 1968 / Jaime Cortesão, "A Historia dos Painéis de S. Vicente", in Historia dos Descobrimentos Portugueses, Circulo de Leitores, 1979 / José Luís Conceição Silva, Os Painéis do Museu das Janelas Verdes, Guimarães, 1981 / Jorge Segurado, Painéis de S. Vicente e Infante Santo, Ed. Noticias, 1984 / Paula Freitas & M. Jesus Gonçalves, Painéis de S. Vicente de Fora uma questão inútil?, 1987 / Dagoberto L. Mark, O Retábulo de S. Vicente da Sé de Lisboa e os Documentos, Caminho, 1988 / Theresa Schedel de Castello Branco, Os Painéis de S. Vicente de Fora - As Chaves do Mistério, 1994