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quarta-feira, 27 de agosto de 2003

ANOTAÇÕES

- o debate em torno do(s) terrorismo(s) cresce de tom, mas invariavelmente o maniqueísmo triunfa. Tenha-se em conta os editoriais do Expresso, Publico, DN, os artigalhos nos jornais pelos colunistas habituais (a propósito, Helena Matos continua a debitar, em demasia, opiniões peludas e assim sendo, só quem é contra a corrente pode lançar esgares de paixão pelos seus comícios no Publico) e alguns textos paridos pela blogosfera lusitana. Registe-se o debate entre Paulo Varela Gomes e Pacheco Pereira (um belíssimo post final), mas que não responde à questão: o que é o terrorismo (ou terrorismos) e como combatê-lo(s). Fazer uma bibliografia sobre o tema, disponível na Net, seria desejável ...

- Arnaldo Jabor no Estado de S. Paulo: "(...) Não se trata de uma guerra, pois o inimigo quer morrer. Se não há medo da morte, não há vitória possível. Portanto, não há guerra nem simétrica nem assimétrica. Só há uma grande psicose imunda, milenar, que tinha ficado retida no deserto miserável onde o mundo ocidental nasceu e que agora volta como um 'retorno do reprimido', um grande nojo da vida que tinha ficado esquecido. Talvez nossa origem nos mate, nossa placenta sangrenta volte para nos sufocar. A idéia de 'solução' iluminista já era. O que está acontecendo é da ordem da natureza, como os furacões ou terremotos. Podemos prevê-los, mas não evitá-los. Repito o óbvio: quanto mais ataques houver, mais homens-bomba nascerão, quanto mais retaliação, mais derrota. (...)
O islamismo fanático desmoralizou a Razão ocidental no 11 de setembro. Daqui para frente, seremos movidos por eventos aleatórios. Acaba o sonho de se alcançar uma harmonia política futura, um sonho de ordem qualquer. Michou a idéia de 'futuro redentor'. Outro dia, o Baudrillard, que é odiado pela Academia, mas que é inteligente, disse: 'Acabou o universal; só há o singular contra o mundial.' Perfeito. A genialidade de Osama consistiu em atacar isso: o sonho universal da civilização, a alma da razão. (...)
O Islã fanático pode fazer isso porque está fora da história, fora do compromisso com um futuro harmônico, fora da razão. Os fanáticos só têm certezas; nós estamos tontos de dúvidas. Nós achávamos que chegaríamos a um futuro sem perigos. Os fanáticos já estão lá. A guerra é assimétrica não só por absurdas esquadras contra um homem só, mas também porque só a América tem uma ideologia. (...)
Há um grande 'toque' na morte de Sérgio Vieira de Mello: Bush e o Ocidente deviam mudar sua estratégia de retaliação e 'solução'. Deveríamos acabar com essa 'cruzada' absurda, mas somos incapazes de entender a mensagem. Há uma sabedoria no fatalismo muçulmano não-fanático que seria educativo para o Ocidente: suportar o impossível, ter humildade diante do inevitável e querer menos esse 'progresso' incessante e bárbaro que só nos fará andar de costas até o ano 700. E, lá, seremos recebidos por Maomé, que terá a cara de Osama Bin Laden.

- The Danger of American Fascism, by Henry A. Wallace (The New York Times), 1944 [via American Samizdat]

- Ronald Reagan, 23 de Outubro de 1983: "Many Americans are wondering why we must keep our forces in Lebanon. Well, the reason they must stay there until the situation is under control is quite clear: We have vital interests in Lebanon, and our actions in Lebanon are in the cause of world peace."
Ronald Reagan, 7 de Fevereiro 1984: "I have asked Secretary of Defense Weinberger to present to me a plan for redeployment of the Marines from Beirut airport to their ships offshore. This redeployment will begin shortly and proceed in stages." [via Whiskey Bar ]

- " ... the Army [USA] is doing two things it has rarely done since the grim days of the Vietnam War. It has begun rotating officers and senior NCOs out of Iraq, which means replacing seasoned commanders with freshly arrived officers who don't know the country or the troops they are leading." [via The Agonist]

- Olavo de Carvalho, o show do Los Hermanos e Paulo Polzonoff. Um texto espantoso [blog Polzonoff]

- Baghdad Burning, blog Iraquiano. "Girl Blog from Iraq... let's talk war, politics and occupation". Lê-se: "We are seeing an increase of fundamentalism in Iraq which is terrifying."

- o meu Benfica não está bem. Contra os boavisteiros tiveram desculpa, tal a barbárie do jogo axadrezado. No último jogo pouco se viu. Hoje contra a Lazio, espera-se que jogue bem e ganhe. As duas coisas. E que a rapaziada anti-vermelha do Porto, core de vergonha. E que, logo depois, como cavalheiros, tratem de levar os italianos de regresso ao aeroporto. Para não perderem o hábito e a vergonha.

terça-feira, 27 de maio de 2003

COMUNIDADE VIRTUAL DA LITERATURA

Eis um forum de debate sobre dito interdisciplinar de 'discussão sobre literatura, teoria literária'. Em português.

500 Cantigas d’Amigo. Edição da Editora Campo das Letras e o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. Hoje, pelas 18 horas, na Livraria da Biblioteca Nacional.

«O corpus das 500 cantigas d' amigo, compostas entre 1220 e 1350, por um total de 88 poetas, é o maior corpus de poesia amorosa de voz feminina que sobreviveu da Europa medieval e antiga. Oferece um campo ainda pouco explorado para o estudo da voz feminina, ou seja, do discurso, do direito, da sexualidade, da mentalidade (por muito que essa voz possa ser manipulada, os aspectos arcaicos destes poemas, a nível social, linguístico e musical, sugerem que essa voz é genuína nas suas origens). Além disso, muitos estudiosos defenderam que entre as cantigas d' amigo há sequências organizadas para execução. Se elas existem – e acredito que possa ser demonstrado que sim – estas seriam as primeiras sequências de cantigas amorosas em qualquer língua vernácula na história da literatura europeia, providenciando uma oportunidade única para estudar a evolução de uma forma de arte lírico-dramática a partir das suas partes constituintes, algo com que Aristóteles aparentemente apenas podia sonhar.

Assim, lemos cantigas d' amigo não apenas porque as achamos belas, musicais, engenhosas, eróticas, bem delineadas, mas porque são a fonte principal para um capítulo ainda por escrever na história da cultura europeia. Mas isso será assunto para uma outra ocasião. Aqui direi, tão brevemente quanto possível, quais as suas fontes, quando e como foram editadas até hoje e como as tratei nesta edição. [Rip Cohen]»

sábado, 24 de maio de 2003

ANOTAÇÕES SOBRE DECADÊNCIA


Em tempos, num alfarrabista, apanhei uma dissertação em filologia românica de A. Machado Pires, com o título sugestivo, «A ideia de decadência na geração de 70». Trabalho de excepcional qualidade, com vastas referências bibliográficas sobre um tema da cultura portuguesa muito importante. Lembrei-me de voltar a ela, dada a correspondência possível com a situação cultural e política que hoje existe no País e em todos nós. Melhor meio não encontro que fazer a recolha, a partir do trabalho atrás citado, deste tema que tantos escritores e homens de letras recorreram e que hoje parece regressar em força.

«Decadência provém do latim medieval decadentia (o termo não existe no latim clássico), com os sentidos de 'deterioração', 'ruína', 'ir-se abaixo', 'colapso' (confronte-se com o ingl. breakdown, existindo também neste idioma decadence, decline e decay com sentidos semelhantes). Em última análise, decadência prende-se ao verbo lantino cadere, 'cair'; o prefixo DE inculca a ideia de 'de cima para baixo' (cfr. c. o ingl. breakdown), isto é, 'cair na vertical', 'cair acelerada e irremediavelmente', deteriorar-se até à ruína ou à extinção. Decadência opõe-se a progresso (não será, de resto, por acaso, que a decadência como categoria de análise histórica se aviva no século XIX, quando a ideia e a crença no progresso se desenvolvem fortemente). Progresso implica caminhar par a frente, criar nocas condições, melhorar (ou pelo menos supor que se melhora). Decadência significa retrogredir, deteriorar-se o que era bom, piorar (...) [pag. 4-5]