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segunda-feira, 17 de outubro de 2011
O INTELIGENTE
"O mais inteligente dos homens é, em douta opinião, aquele que se chama imbecil ao menos uma vez por mês, e hoje quem vai nisso? É reparar no que dizem, escrevem e fazem os nossos pluralistas duma figa.
Noutros tempos, um imbecil compenetrava-se de que o era, até convinha. Na longa noite fascista (oh, estes lugares-comuns são deliciosos) era prudente. Agora, acabou-se! E baralharam tão bem as cartas, numa batota tão sabida e repetida, que um homem inteligente já não se distingue do imbecil. Estes tipos, pós 25 de Novembro, fizeram-no de propósito.
Um imbecil, aliás não tem preço. Isto é, não vale nicles. Um traque sempre é qualquer coisa. E esta referência escatológica lembra-me que estou na hora de jantar..."
Luiz Pacheco, in Textos de Guerrilha
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
O MINISTRO IDEAL
"O ministro sustentava-se no poder perfeitamente, como em lago dormente o barco bem lastrado, e se appareciam alguns signaes de tempestade, diziam as más línguas que ["O Ministro Ideal"] alijava alguns cabedaes, e o perigo sempre se conjurava. Vários jornaes que tinham começado a fazer-lhe guerra, haviam-se calado como por encanto ..."
in, "Ministro Ideal", de Arthur Lobo d’Avila, Parceria A. M. Pereira, Lisboa, 1907.
Boa Tarde!
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
Elucidário político
[para um bom uso do dicionário, conforme preito de JPP]
- Governo, O que manobra o aparelho de Estado, e que para isso tem de dar provimento aos seus clientes, à sinecura indígena || Amantes do Estado, essa prostituta (in, J. P. Machado) fina e que fazem muitos arranjinhos pelo território (não confundir a acção com aquela do governeiro prof. Carmona, de Lisboa). || Diz respeito à governança quando está possuído pela D. Maria, do Botas de S. Comba. Neste caso, fala-se em ser boa governadeira || Dizem que muitos governicham por aí (caso de Santana Lopes) e aqui mesmo (versão Sócrates) || Não consta que governismo e gonçalvismo sejam a mesma coisa, mas esperamos a doutrina do sr. José Manuel Fernandes para esse governatório || V.r. Servir-se, arranjar-se, fazer pela vida (os da Refer, dizem, são muito bons). || Diz-se: está-se governado, que é o mesmo que dizer que se está fecundado. || Governar a meio, designa-se o governamento do sr. eng. Sócrates || Fala-se em governatriz, quando se tem qualidades para governar, mas não deve haver confusão com meretriz ou cortesã. || Governista, é quando se tem um José Lello dentro de si, a incomodá-lo. || Governador, é o freguês da paróquia (ver Carmona Rodrigues). || Estar de cavaco emprega-se quando o governo, em putativo leito de rosas, está de amena cavaqueira com o dr. Cavaco Silva.
- Ministério, (do lat. Ministeriu-). Trabalho manual, profissão, emprego, talento de ministrice ou do cargo da ministrança. || Designa, por vezes, a organização secreta conseguida entre o sr. Sócrates, o sr. Costa e o sr. Silva Pereira. || Ministrar usa-se quando algum colunista glosa o partido do governo. Exemplo: o fornecedor do eng. Sócrates e que saiu do pelico para ministrar, é o virtuoso Vitalino Canas || Quando os ministradores são meros serventuários dão ao nome de Manuel Pinho, Correia de Campos ou Lurdes Rodrigues. || Entrar na ministrice traduz o trabalho do sábio dr. Aberto Costa || Ministraria designa um exercício de ministros em versão power-point || Ministerialista quer dizer partidário e incondicional do governo, vulgo José Lello. || Ministério é também expressão que significa o raminho de ministros (quando ministras podem ser apenas mesinhas-de-cabeceira) à volta do eng. Sócrates, e que administram a coisa própria e a alheia. Se forem ordinários vêem de deputados, se são extraordinários, não se dão por eles. || Diz-se: haver-se como ministro (o mesmo que menestrel quando trovam na economia, nas finanças ou na educação) ou quando se ministrifica, o que é o caso de Correia de Campos. || Alguns ministros ou ministeriáveis são ministrículos, o que equivale a ser o nosso peão das nicas. || Por vezes diz-se, curiosamente, de um ministro com incontinência verbal que "deu-lhe água de cu lavado" em pequeno, o que é de fácil verificação.
sábado, 27 de janeiro de 2007
Fotografia: um raminho de Ministros
"Eis, enfim, a definição da imagem, de toda a imagem: a imagem é isso de que estou excluído" [Barthes]
Entre a confidência, o detalhe & a distribuição anatómica dos corpos (e rostos) na imagem do raminho de ministros (ali ao lado), há um código "natural", uma "cena" reunida de puro convite à conversão do leitor. Acolá, os olhares ministeriais interrogam-se e perturba-nos a impudência observada. Os sorrisos enigmáticos, muito bem improvisados, não deixam de ser tumultos moralizadores a qualquer rebelião indígena. A uma harmonia assim, o nosso remorso é uma simples minúcia. Sob os auspícios do Expresso, tão piedosa felicidade fotogénica é uma conspiração. Uma vingança.
Barthes fala-nos da fotografia como "um elipse da linguagem e uma condensação de todo um inefável social", isto é, a fotografia constituiria uma "arma anti-intelectual, com tendência a escamotear a política em benefício de uma 'maneira de ser', de um estatuto sócio-moral". Nada de mais exacto. A máscara ociosa de Manuel Pinho é uma pura deserção ao gélido rigor da fé económica, sendo um castigo a todos nós; a pose divertida de Lurdes Rodrigues revela uma transgressão inolvidável, uma falha na senhorial crispação com que todos os dias nos visita; Pires de Lima apresenta a fortuna da posição ousada e, confesse-se, uns lábios prometedores, logo utile dulci. O espelho deformador da imagem do raminho de ministros aí está, radiante de fulgor. A pátria agradece. Desolados e privados de fé jubilosa, vamos também de folia. A noite promete!
"Eis, enfim, a definição da imagem, de toda a imagem: a imagem é isso de que estou excluído" [Barthes]
Entre a confidência, o detalhe & a distribuição anatómica dos corpos (e rostos) na imagem do raminho de ministros (ali ao lado), há um código "natural", uma "cena" reunida de puro convite à conversão do leitor. Acolá, os olhares ministeriais interrogam-se e perturba-nos a impudência observada. Os sorrisos enigmáticos, muito bem improvisados, não deixam de ser tumultos moralizadores a qualquer rebelião indígena. A uma harmonia assim, o nosso remorso é uma simples minúcia. Sob os auspícios do Expresso, tão piedosa felicidade fotogénica é uma conspiração. Uma vingança.
Barthes fala-nos da fotografia como "um elipse da linguagem e uma condensação de todo um inefável social", isto é, a fotografia constituiria uma "arma anti-intelectual, com tendência a escamotear a política em benefício de uma 'maneira de ser', de um estatuto sócio-moral". Nada de mais exacto. A máscara ociosa de Manuel Pinho é uma pura deserção ao gélido rigor da fé económica, sendo um castigo a todos nós; a pose divertida de Lurdes Rodrigues revela uma transgressão inolvidável, uma falha na senhorial crispação com que todos os dias nos visita; Pires de Lima apresenta a fortuna da posição ousada e, confesse-se, uns lábios prometedores, logo utile dulci. O espelho deformador da imagem do raminho de ministros aí está, radiante de fulgor. A pátria agradece. Desolados e privados de fé jubilosa, vamos também de folia. A noite promete!
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