segunda-feira, 26 de maio de 2003

AUGUSTO SANTOS SILVA ... PARA TODOS OS EFEITOS

Num momento em que reina a maior das perplexidades, onde 'o mundo está perigoso', faz bem ler textos como o de Augusto Santos Silva n'O Publico de sábado. Quando a direita mais conservadora espuma com sorriso nos lábios, tecendo os mais torpes comentários, com a evocação de uma alegada santidade do poder judicial, separando as emoções do factum da coisa 'ela mesma', com o noviciado requerimento de um formalismo jurídico-político enternecedor, cabe aqui salientar alguém, que sem qualquer rebuço, diz o que lhe vai na alma. Solidariamente. Sem tibiezas.

A peregrina ideia que não é possível questionar o poder judicial e os seus mecanismos processuais, dado a suposta angelicalização dos seus praticantes é inqualificável. Quando se ouve falar o senhor Procurador Geral tem-se dúvidas da sanidade mental das instituições e das motivações que estão por detrás desta "desbund" mediática a que todos assistimos, onde parece mais que todos estão mais voltados para as luzes das TV's, que para o exercício recatado da justiça e da defesa dos cidadãos. Assim sendo, porque não pode Augusto Santos Silva fazer um registo pessoal, seguindo as suas convicções? Acaso as metodologias usadas quer pelo poder judicial, quer por algumas instituições (atente-se no silêncio ensurdecedor do Ministério da Justiça sobre a devassa do segredo de estado) reforçam a serenidade que todos querem sugerir? Augusto Santos Silva teve coragem de o dizer, mesmo que fizesse parte de um governo que contribuiu para a configuração desta mesma justiça que agora questiona. Para todos os efeitos ...

«Não sei o que se passa. Por isso faço a pergunta básica da democracia: quem controla? Quem investiga a investigação? Quem escrutina o aparelho do Estado?»