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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
HOJE ... ANDÁMOS ASSIM!
... sem carnavais, em conforto sossegado e sem nouvelles decadentes da coisa pública. De companhia e com boa qualidade de vinho! Na volta pela freguesia colhemos (surripiámos ... por vigia dela) esta singular converseta (ali em cima guardada) na Casa das Letras, versão facebookiana da Oficina das Letras. Ficámos um homem completo. Esta noite, em perfeita "sacanagem", irá correr por demais. Deixamos Jorge Amado mover a quadra:
"O mundo só vai prestar
Para nele se viver
No dia em que a gente ver
Um maltês casar
Com uma alegre andorinha
Saindo os dois a voar
O noivo e sua noivinha
Dom Gato e Dona Andorinha"
Boa noute!
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Bahia de Todos os Santos
"- Você já foi à Bahia, nêga?
- Não!
- Então vá ... " [Dorival Caymmi]
... O baiano que faz da amabilidade uma verdadeira arte, que é arguto até não mais poder, que é cordial e compreensivo, descansado e confiante. Que desmorona com uma piada agressiva todo um edifício de retórica. Escondendo sob o fraque solene um coração jovem. Gostando de rir, de conversar, de contar casos.
Eis uma cidade onde se conversa muito. Onde o tempo ainda não adquiriu a velocidade alucinante das cidades do Sul. Ninguém sabe conversar como o baiano. Uma prosa calma, de frases redondas, de longas pausas esclarecedoras, de gestos comedidos e precisos, de sorrisos mansos e de gargalhadas largas. Quando um desses baianos gordos e mestiços, um pouco solene e um pouco moleque, a face jovial, começa a conversar, se fechardes os olhos e fizerdes um pequeno esforço de imaginação, podereis distinguir perfeitamente distinguidos o seu remoto ascendente português e o seu remoto ascendente negro, recém-chegado outro das florestas da África. De quem é esta gargalhada clara e solta se não de negro? De quem é esta solene consideração para com o doutor, que é salafrário personagem da historia que ele conta, se não do português imigrante, rude admirador dos mais sábios? Essa mulataria baiana, essa mestiçagem onde o sangue negro entrou com uma boa parte, não produziu o clássico mulato espevitado, pernóstico, egoísta, adulador e violento com os inferiores (...)
Iemanjá tem cinco nomes e muitos títulos. É a rainha e princesa do mar, é a mãe-d'água, é Nosso Senhor dos Navegantes e é a Nossa Senhora da Boa Viagem. Tem cinco nomes e por todos eles atende aos seus filhos bem-amados, os marítimos dos grandes navios, os mestres dos pequenos saveiros, os canoeiros que renovam diariamente a aventura da travessia da Barra em busca dos portos do rio Paraguaçu. Sua festa no Rio Vermelho, no mês de Fevereiro, não é a única que lhe dedicam os homens do cais da Bahia. Ela é festa também na Gameleira, na ilha de Itaparica, na Ribeira em Plataforma. Porque ela possui diversas moradas no mar que banha a cidade. Vive em sua pedra no Dique, vive na Ribeira, mora no Rio Vermelho. É múltipla como os seus nomes. É a lenda mais bela dos negros da Bahia (...)"
[Jorge Amado, in Bahia de Todos os Santos. Guia das ruas e dos mistérios da cidade do Salvador, Livraria Martins Editora, Setembro 1945 (aliás, 8ª ed., 1961) - sublinhados nossos]
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