Hoje na labuta de organizar a livralhada que se acumula numa sala mais afastada das outras, por maldição política diga-se, levei com o Bordiga (Bordiga et la passion du communisme, das Edições Spartacus, 1974; Bordiga ou la crise du prolétariat, Payot; e alguns mais), o Camatte (de novo sobre Bordiga) e o Jean Barrot (O Movimento Comunista) à mistura. Foi demais, confesso.
Enquanto meditava nas excelentes edições da &ETC, desse editor da vadiagem que é Vitor Silva Tavares, ainda e sempre incomodativo, ou no que é feito do Júlio Henriques e dessa prendada Pravda, Revista de Malasartes, eis que mais ao lado deparo com a colecção dos Textos de Apoio da Portucalense Editora, todos eles fortemente proibitivos nos tempos do Marcelismo, e com outra colecção sobre 'O Movimento Operário Português' das Edições Afrontamento. Tudo direitinho, prenhe de anotações que o tempo registou. O número dois dos Textos de Apoio, é um magistral trabalho sobre 'As lutas operárias contra a carestia de vida em Portugal. A greve geral de 1918', do nosso amigo que assina no Abrupto. As notas que constam de cada capítulo são preciosas. Sempre tive pelas anotações ou nopas de pé de página uma relação de paixão. Bem como pela bibliografia da cada obra. Manias. O livro de JPP foi importante para toda uma geração de esquerda. Outro, estacionado mesmo ao lado, do mesmo JPP com distribuição pela Livraria Júlio Brandão (qual a importância desta distribuidora de Famalicão; quem estava por detrás das suas iniciativas? Já não me lembro bem e talvez JPP saiba), trata-se das 'Questões sobre o movimento operário português e a revolução russa de 1917'. De novo a mesma caminhada do autor, os mesmissimos pressupostos que na altura guiavam o jovem JPP. Dizia, à laia de conclusão no prefácio:
«Quando as condições para a maturidade política, teórica e organizativa, dos comunistas portugueses paraciam estar realizadas, o golpe militar de 1926 veio encerrar a experiência do movimento operário do período parlamentar. À luz desse golpe pode-se hoje compreender melhor os limites do movimento operário e os impasses a que a acção anarco-sindicalista tinha levado. Permite-nos compreender do mesmo modo como a acção decisiva da revoluçõa soviética de Outubro para a prática política operária foi retardada em Portugal pelas barreiras que a ideologia dominante no proletariado português lhe impôs, assim como pela incipiente formação teórica e militância política dos comunistas do P.C.P.»