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domingo, 29 de março de 2009
TARCÍSIO TRINDADE
"Olha para o artista no andaime
A desenhar os frescos da gare marítima
Como se olhasse para uma igreja gótica.
- Menino, que tal lhe parece aí de baixo?
- Mestre, vou deixar a távola e a rima
E embarcar à aventura
Ser Bartolomeu em miniatura"
[Tarcísio Trindade, "António Tavares de Carvalho em Alcântara a ver trabalhar o Almada", in "Os Meninos e as Quatro Estações", Ed. Panorama, 1960 (aliás ed. fac-sim. da Livraria Campos Trindade, 2008]
Único e curioso livro de poemas publicado por Tarcísio Vazão de Campos e Trindade, ou Tarcísio Trindade, nos tempos idos de 1960 e agora em reimpressão, em justa homenagem, pelos seus filhos. Tarcísio Trindade é um dos mais estimados livreiros-alfarrabistas do país, sendo proprietário da famosa Livraria Campos Trindade (nº44, da Rua do Alecrim, Lisboa), agora dirigida por seu filho Bernardo.
Nascido em 1931, Tarcísio Trindade frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa, foi antiquário em Alcobaça e seu Presidente da Câmara, desde 1969 até ao 25 de Abril de 1974. Perfeito gentleman, de rara intuição e cultura, deve-se a ele a "descoberta" [na Feira do Rastro de Madrid, Espanha, segundo o próprio] do precioso incunábulo "Tratado da Confissom" [impresso em Chaves em Agosto de 1489, e que antecipa de seis anos a "entrada da tipografia de língua portuguesa no nosso país", que até então era representado pela Vita Christi, impressa em Lisboa (1495) por Valentim Fernandes], a que se seguiu a sua posterior identificação (1965) pelo então jovem assistente da Universidade de Lisboa, José V. de Pina Martins, e venda [por Tarcísio Trindade e João Pires, em 1965] ao dr. Miguel Quina, tendo depois a Biblioteca Nacional adquirido esse exemplar único da nossa história tipográfica.
Tarcísio Trindade, ao avaliar pelo que nos é dito, tinha anunciado a publicação de uma obra sobre relojoaria antiga portuguesa e inglesa e outros livros de poesia, bem como (sabemos nós), através do estudo de documentos e livros provenientes da sua valiosa biblioteca particular (onde cabe uma preciosa cisterciense), tinha manifestado a vontade de assinar um estudo sobre o Mosteiro de Alcobaça e a Ordem de Cister. Não foi, no entanto, possível tão ardente paixão. Julgamos que a próxima homenagem que lhe for feita (e que será em breve) poderá esclarecer o interesse e a valia dessa entusiástica intenção. Aguardemos.
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