Fomos a caminho da Figueira da Foz. O dia prometia ser de companhia. E foi. A exposição comemorativa do nascimento de Gaspar Simões, nascido naquela cidade há cem anos estava excelente, ou não fosse superiormente organizada por Henrique Cayatte. "Evocação de uma presença - Gaspar Simões (1903-2003)" no Centro de Artes e Espectáculos (CAE), integrando a programação do Coimbra 2003, era o título. Lá estava parte da biblioteca do Gaspas, como lhe chamava Luiz Pacheco, um grupo significativo de papéis presencistas, fotos e imagens dos intervenientes de antanho, e um acervo testemunhal do crítico literário, do romancista e do homem de letras.
A Divisão de Acção Cultural, Museu, Biblioteca e Arquivos da C. M. Figueira da Foz lançou um lindo e estimado Catálogo Bibliográfico - obrigado H. Cayatte - muito ilustrado, para esta evocação. De referir, para além da já tradicional bibliografia activa e passiva, os textos de Carlos Reis, «João Gaspar Simões queirosiano»; de António Pedro Pita, «João Gaspar Simões e a dinâmica do Neo-realismo»; e um texto de Eduardo Prado Coelho, «João Gaspar Simões e a Nova Crítica».
Dizia Gaspar Simões numa carta a Casais Monteiro:
«Sou um homem morto para a epistolografia. Que dirá o futuro sobre esta minha aversão? Como se morderão de raiva os meus biógrafos, não encontrando rastos da minha vida nestes anos que giram à volta dos meus trinta e um anos. Como se vê, penso serenamente na posteridade. Esta carta, com pouco mais de gramática que as anteriores, vai ser disputada ruidosamente pelos coleccionadores de manuscritos do ano 2000. Que bom pensar assim tão confortavelmente na posteridade» [in Catálogo ...]. Será que sim?
Uma última questão. Por que carga de água deve o bonito Centro de Artes da cidade da Figueira ficar com o nome do presidente que o mandou construir? Não há vergonha na cara destes boys. Será que teremos, no futuro, além do Centro de Artes Santana Lopes um ... Santana Lopes's Kasino, em Lisboa? Está tudo doido?