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sábado, 19 de junho de 2010

MARCELO REBELO DE SOUSA: O ESPIRITUOSO



"O conselheiro de Estado Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou hoje a ausência do Presidente da República, Cavaco Silva, nas cerimónias fúnebres do escritor José Saramago, considerando que é mais importante a sua presença espiritual do que física"

Espiritual, o que é? Abrimos o útil José Pedro Machado e lemos: "Espiritual: Do espírito ou a ele referente || Que diz respeito à religião ou à consciência || Místico; incorpóreo".

Ora aí temos a traquinice joeirada do formidável intelecto de Marcelo R. de Sousa. Que nos diz Marcelo? Que o dr. CavacoPresidente da República de Portugalnão participa nas cerimónias fúnebres do mais importante cidadão da cultura portuguesa contemporânea, porque, com paciência existencial (quiçá esotérica) e só com essa superior instrução, deve, no seu ofício presidencial, estar presente indelevelmente em espírito e não na sua forma pessoal seca e tesa.

Dai que por vezes, durante as cerimónias fúnebres no edifício dos Paços do Concelho de Lisboa, se sentiu vagamente o fenómeno desse incredibile ergo divinum da presença espiritual do dr. Cavaco.

Em rigor, o que se passou é que esse ser etéreo que é o dr. Cavaco se tinha transladado incorporeamente para o local. Nesse espiritual "a posse ad esse" intimativo, como parece ser o apostolado da sua mundança como presidente, o dr. Cavaco evitou envolver-se esotericamente com esse demiurgo das letras (ainda um simples infra-etéreo, presume-se) que dá pelo nome Sousa Lara. Lamentavelmente, a providência não cuidou ainda deste último teleológico sujeito.

O mesmo já não acontece nos sermões exotéricos do prof. Marcelo, que, bem estremecido e sem tibiezas abusadas, declara hoje & para todo o sempre que vê o lampejar espiritual de Cavaco Silva a pairar sobre a paróquia. Espirituoso, este Marcelo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2003

EM LOUVOR DO PROF. MARCELO


[Em Louvor do Prof. Marcelo] – "Quando em Lisboa já toda a gente dorme e até os noctívagos mais foliões e retardatários tomaram o caminho da cama, algures, num bairro qualquer da cidade, numa rua uma casa portuguesa, uma luz está alerta. Alguém ali trabalha ainda, trabalha e vela, atento e esforçado, com os olhos a arder, vencendo o sono a poder de profaminas e café, estorcendo o intelecto, arruinando a saúde, o cabelo a encanecer-lhe gravemente (...)

E que faz ele? Lê; lê e lê catadupas de livro que lhe chegam diariamente às mãos, com dedicatórias nobres, estimulantes, ou aquele antipático carimbo 'Homenagem do Editor'; livros que vai abrindo; incapaz de dominar o caudal de espessa prosa ou a grácil espuma da versalhada que lhe despejam em cima. Lê, mas não só isso. Depois de ler diariamente bons centos de paginas (...) inda tem tempo para formar opinião delas, seja poesia (clássica ou novíssima), ficção filosofia ou colecção de policiais e, quase, miraculosamente, sobejam-lhe algumas horas para escrever essa dita opinião que é para os leitores, na quinta-feira, saberem e escusarem de ler os livros de que gostou. A pensar nos leitores, na sua cultura, no seu porvir, a esforçar-se por todos, o bom e querido ..."

[Luiz Pacheco, O Salema Sucateiro, in Textos de Guerrilha, 1ª série, 1979]

[Salazar e Armindo Monteiro] – "Uma vez (há muitos anos felizmente) estava o Salazar descansado a palestrar com a senhora Maria sobre assuntos de Moral e Religião (e, também, certas praticas sexuais, mas em voz baixinha), quando apareceu lá em casa um intriguista qualquer, talvez o Bissaya Barreto, e disse:

- Ó Tóino, sabes que há por aí um tipo que percebe muito de Finanças?
- Ah, sim?...
- Ó Tóino, olha que é muito inteligente, quinté sabe inglês, e ambicioso que se farta.
- Ah, sim!?...
Nessa noite, o Totocas não dormiu nada e às 5 ouviu o canto do galo, que lá em casa tanto servia de despertador como para canja. Desceu à secretária, com as duas ceroulas que usava sempre e já trazia do seminário, para proteger o pirilau, e nunca as tirava. Despachou assim:

Armindo Monteiro, Embaixador em Londres, já!

(a) António Oliveira Salazar”

[Luiz Pacheco, Tratem-no por Luisito, in Textos de Guerrilha, 2ª série, 1981]