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terça-feira, 24 de maio de 2011
BOA GENTE!
“A memória é como o homem atingido
pela flecha envenenada: antes que curem
a ferida ele pergunta quem o atingiu,
como se chama, onde está, o seu aspecto.
Então talvez saiba mais sobre a flecha
e o archeiro, mas é demasiado tarde
para ser salvo”
Pedro Mexia, "A Flexa Envenenada", in "Em Memória", 2000
quarta-feira, 26 de novembro de 2003
MEUS KIDOS MOSQUETEIROS
Meus kidos mosqueteiros:
Fui no outro dia ao escritório do meu pai com a minha irmã para ela me contar a história dos três mosqueteiros que vem num jornal qualquer acho que é um tal Indy porque a minha stora diz para ler para não vir a ser uma merceeira como a senhora Leite e depois dar erros nas redacções trocar os números e nâo saber a tabuada e a irmã Berta contou-me a estória do menino Lomba, do Mexia e desse como me jurou a mana que fala do Zorro diz os números da tabuada e fala francês e que é o Luciano que é nome bonito demais para fazer carreira jornalística disse o mana e que falou sobre halterofilismo ou lá o que é isso e que eu já vi na TV num programa ou da Teresa Guilherme ou do Bush não me recordo bem e a mana Berta leu um bonito conto sobre os meninos e as meninas de 16 anos que querem votar mas o Barroso não deixa e gostei de ouvir dizer que os meninos de 16 anos não tem frustrações que é aquilo que os stores da universidade tem quando vão para as aulas e elas tem um cadeado e depois conheci que me leu a mana o Pacheco que só tinha visto pela televisão e que tem um computador e um lápis que escreve no computador e depois aparece num ecrã de cinema e sabe os países e a geografia como a minha stora de ciências também sabe e depois parece que o menino Lomba não gosta do menino Cunhal que o meu avô está sempre a falar e não percebi porque o Pacheco tem de dizer o que dizem todos que é dizer mal do Cunhal apenas porque como também diz o meu avô é revolucionário como me explicou a minha empregada que está sempre a falar de Abril que é um mês bonito mas adiante que eu quero é falar daquele que tem um nome bonito demais para ser jornalista que escreveu sobre uma reunião de meninos em paris de França ao que parece segundo disse o meu papá o Luciano é mais velho que a fotografia do jornal porque até se recorda dos maoistas e dos troskas que não sei bem o que são porque segundo me disse a minha empregada depois um menino mau de nome staline mandou bater neles todos mas o Luciano tem suores que lhe embaciam os óculos como me explicou a mana e só vê socialistas e comunistas em todo o lado coitado ao que me contaram apanhou a doença infantil do bushismo que é pior que uma gripe como me disse a stora na aula e não há vacinas para isso como se queixa o Luciano que diz que há sinais de delinquência politica dos grandes países europeus o que é verdade pois eu vi como em França o balneário dos jogadores de futebol foi estragado e coitado deles não se puderam vestir em condições como disse aquele senhor que é major e depois a minha mana não me contou mais porque tinha que fazer os deveres mas eu gostei muito de ler os Três Mosqueteiros e por isso vos mando esta carta
Belinha
domingo, 8 de junho de 2003
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Um deslumbramento este sábado. A capa do DNA de uma beleza comovente e outras ilustrações ( O baile) do par Joana Imaginário e Francisco Lança, que nos saltam ao longo da revista, marcam este(s) sábado(s). O texto de Pedro Mexia sobre Retratos de Sombra, de Mega Ferreira, é talvez um grande e belissimo ensaio. Fica-se com a estranha impressão que PM está mais à vontade quando fala sobre livros que não são de poesia, que estes últimos. Hoje deu-me imenso prazer ler o Album de Família; ler que, «talvez o mito de Pessoa se concretize, realmente, nessas realidades: a arca, os heterónimos, a Baixa. Mas, pelo menos, imortalizou uma palavra:'desassossego', a mais lídima sucessora da estafada 'saudade'».
Ainda o DN, um texto absolutamente a não perder. Falo do texto de António Tabucchi, A velha Europa e o futurista Bush.
«A primeira vez que a Europa foi chamada «Velha» com desprezo (esse desprezo vulgar que certos rapazotes mal-educados demonstram pelas pessoas idosas) foi em Abril de 1909. Aconteceu em Milão ainda que tenha sido em francês, em parte por razões de difusão, em parte porque o autor da invectiva era um italiano nascido em Alexandria e criado em Paris e, por isso, tendencialmente francófono: Filippo Tommaso Marinetti.
A invectiva teve lugar na revista literária Poesia, órgão do grupo que Marinetti tinha reunido ao seu redor, os futuristas, e antecede o Segundo Manifesto desse movimento, titulado «assassinemos o luar!» (...)
A «Velha Europa» marcada por uma «pensativa imobilidade» contra a qual Marinetti arremete era a Europa de escritores e intelectuais como André Gide (que em 1908 tinha fundado a Nouvelle Revue Française), Julien Brenda, o futuro prémio Nobel Romain Rolland (que perante o rebentar da Primeira Guerra Mundial levantaria uma grande polémica com o panfleto pacifista Por cima de contendas, e, mais tarde, com a Declaração de Independência do espírito, ao qual aderiram entre outros Einstein, Bertrand Russell e Benedetto Croce), Henri Barbusse, Heinrich Mann (o qual pela sua oposição aos nazis acabou primeiro em França e depois nos Estados Unidos), Robert Musil (que com As atribulações do jovem Törless, de 1906 devia parecer ao gesticulante Marinetti de um insuportável refinamento «tradicionalista»), Gaetano Salvemini (cuja Revolução Francesa de 1905 exaltava valores como Liberté-égalité-fraternité, realmente demasiado «velhos» para Marinetti)(...)
Há menos de um século de distância, as palavras de Marinetti parecem ter reaparecido recentemente na boca do actual Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Culpa da História? Talvez. Mas, como dizia Josif Brodskij referindo-se aos meandros da História, inclusive a esta, da mesma forma que aos homens, no fundo não tem muita escolha. (...)
A chegada da Administração Bush coincidiu com a plenitude da chamada «revolução tecnológica», pois se bem que esta estava já em acção nos tempos da guerra fria das duas potências, a União Soviética e os Estados Unidos mediam a sua superioridade através da respectiva superioridade tecnológica, após a queda da União Soviética os Estados Unidos tinham ficado como donos absolutos do campo. E desde então a tecnologia experimentou uma evolução incrível em todas as suas aplicações, da medicina à biologia, das comunicações ao armamento. Um presidente como Bush, um texano que em toda a sua vida não viu mais nada além de vacas e poços de petróleo, que não viajou nunca, que ignora totalmente o mundo, que não fala mais nenhum idioma além do seu inglês de vocabulário limitado, com um grau de cultura baixo e com um coeficiente de inteligência que não desperta propriamente entusiasmo (as suas respostas nas entrevistas em directo são eloquentes a esse respeito) provavelmente confundiu «tecnologia» e «civilização».(...)
Um presidente como Bush, um texano que em toda a sua vida não viu mais nada além de vacas e poços de petróleo, que não viajou nunca, que ignora totalmente o mundo, que não fala mais nenhum idioma além do seu inglês de vocabulário limitado, com um grau de cultura baixo e com um coeficiente de inteligência que não desperta propriamente entusiasmo (as suas respostas nas entrevistas em directo são eloquentes a esse respeito) provavelmente confundiu «tecnologia» e «civilização». (...)
Ainda o DN, um texto absolutamente a não perder. Falo do texto de António Tabucchi, A velha Europa e o futurista Bush.
«A primeira vez que a Europa foi chamada «Velha» com desprezo (esse desprezo vulgar que certos rapazotes mal-educados demonstram pelas pessoas idosas) foi em Abril de 1909. Aconteceu em Milão ainda que tenha sido em francês, em parte por razões de difusão, em parte porque o autor da invectiva era um italiano nascido em Alexandria e criado em Paris e, por isso, tendencialmente francófono: Filippo Tommaso Marinetti.
A invectiva teve lugar na revista literária Poesia, órgão do grupo que Marinetti tinha reunido ao seu redor, os futuristas, e antecede o Segundo Manifesto desse movimento, titulado «assassinemos o luar!» (...)
A «Velha Europa» marcada por uma «pensativa imobilidade» contra a qual Marinetti arremete era a Europa de escritores e intelectuais como André Gide (que em 1908 tinha fundado a Nouvelle Revue Française), Julien Brenda, o futuro prémio Nobel Romain Rolland (que perante o rebentar da Primeira Guerra Mundial levantaria uma grande polémica com o panfleto pacifista Por cima de contendas, e, mais tarde, com a Declaração de Independência do espírito, ao qual aderiram entre outros Einstein, Bertrand Russell e Benedetto Croce), Henri Barbusse, Heinrich Mann (o qual pela sua oposição aos nazis acabou primeiro em França e depois nos Estados Unidos), Robert Musil (que com As atribulações do jovem Törless, de 1906 devia parecer ao gesticulante Marinetti de um insuportável refinamento «tradicionalista»), Gaetano Salvemini (cuja Revolução Francesa de 1905 exaltava valores como Liberté-égalité-fraternité, realmente demasiado «velhos» para Marinetti)(...)
Há menos de um século de distância, as palavras de Marinetti parecem ter reaparecido recentemente na boca do actual Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Culpa da História? Talvez. Mas, como dizia Josif Brodskij referindo-se aos meandros da História, inclusive a esta, da mesma forma que aos homens, no fundo não tem muita escolha. (...)
A chegada da Administração Bush coincidiu com a plenitude da chamada «revolução tecnológica», pois se bem que esta estava já em acção nos tempos da guerra fria das duas potências, a União Soviética e os Estados Unidos mediam a sua superioridade através da respectiva superioridade tecnológica, após a queda da União Soviética os Estados Unidos tinham ficado como donos absolutos do campo. E desde então a tecnologia experimentou uma evolução incrível em todas as suas aplicações, da medicina à biologia, das comunicações ao armamento. Um presidente como Bush, um texano que em toda a sua vida não viu mais nada além de vacas e poços de petróleo, que não viajou nunca, que ignora totalmente o mundo, que não fala mais nenhum idioma além do seu inglês de vocabulário limitado, com um grau de cultura baixo e com um coeficiente de inteligência que não desperta propriamente entusiasmo (as suas respostas nas entrevistas em directo são eloquentes a esse respeito) provavelmente confundiu «tecnologia» e «civilização».(...)
Um presidente como Bush, um texano que em toda a sua vida não viu mais nada além de vacas e poços de petróleo, que não viajou nunca, que ignora totalmente o mundo, que não fala mais nenhum idioma além do seu inglês de vocabulário limitado, com um grau de cultura baixo e com um coeficiente de inteligência que não desperta propriamente entusiasmo (as suas respostas nas entrevistas em directo são eloquentes a esse respeito) provavelmente confundiu «tecnologia» e «civilização». (...)
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