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domingo, 26 de outubro de 2008
JOSÉ CARDOSO PIRES: 10 ANOS DEPOIS
... Cardoso Pires morreu na madrugada de 26 de Outubro de 1998 (...)
'O Zé era um homem eternamente solitário apesar de estar sempre rodeado de gente'. Lobo Antunes [António]conta que em casa dele havia muito poucos livros e que não havia um único livro seu à vista. 'Tinha muito pudor'. Recebia imensos livros, rasgava a página da dedicatória e deitava fora o resto, revela. Tal como não tinh fotografias suas ou da família na sala mas tinha três do Hemingway (...)
in Cláudia Moura, "Um Escritor não chora", Notícias Magazine (D.N./J.N.), 26/10/2008
... Antes do seu primeiro exílio, em 1959, fundou e coordenou a revista Almanaque, com uma redacção composta por Augusto Abelaira, José Cutileiro, Luís de Sttau Monteiro, Alexandre O'Neill e Vasco Pulido Valente. 'O programa era simples: ridicularizar os cosmopolitismos como sinónimos de provincianismo, sacudir os bonzos e demonstrar que a austeridade é uma capa do medo e da ausência de imaginação', disse a Portela [Artur]. Mais tarde, com Vítor Silva Tavares, fundou o suplemento & etc. do Jornal do Fundão, para depois dirigir o Suplemento Literário e A Mosca, ambos do Diário de Lisboa (...)
no auto-retrato Fumar ao Espelho [Cardoso Pires] questionava 'E agora, José?'. 'A cada interrogação aspira, fundo e lento, até o morrão do cigarro abrir brasa no vidro do espelho, e há altura em que pensa de alto 'Acta est fabula', se assim me posso exprimir em sinal de despedida (...) E com esta me despeço, adeus até outro dia, e que a terra nos seja leve por muitos anos e bons neste lugar e nesta companhia'.
in César Avó, "E agora, José?", revista Tabu, nº111, 25/10/2008
sábado, 18 de outubro de 2008
EVOCAÇÃO DOS 10 ANOS DA MORTE DE CARDOSO PIRES
"A Câmara Municipal de Lisboa, através do Pelouro da Cultura, evoca o 10.º aniversário da morte de José Augusto Neves Cardoso Pires. O romancista, contista, ensaísta, dramaturgo, jornalista, crítico e copy-writer de publicidade, nasceu a 2 de Outubro de 1925, na aldeia de São João do Peso, e viria a falecer a 26 de Outubro de 1998, em Lisboa, cidade que inspirou inúmeras crónicas, mas, principalmente, habitou toda a sua obra literária.
Conheça o programa cultural que a Direcção Municipal de Cultura organizou e que inclui, entre outras actividades, mostras bibliográficas e uma exposição de cartazes de divulgação das inúmeras obras do autor." [via Hemeroteca Municipal de Lisboa]
Locais: Biografia de J. Cardoso Pires / Obras de (sobre) J. Cardoso Pires / Recursos na Internet sobre Cardoso Pires
quinta-feira, 2 de outubro de 2003
AQUILINO, EM PÉ-DE-PÁGINA
"Um escritor, um velho, esta cercado de retábulos, Horácios e Anatoles, poeiras quinhentistas - e de samarra pelas costas. Trabalha de sol a sol, desunha-se na escrita apesar de ter aprendido com os anos os mil e muitos golpes com que se talha uma peça de prosa: aplainada aqui, nós salientes acolá, remates em boa conta, o quantum satis. Tem voz rude e lábio sensual, nada de boas maneiras. Além disso é aldeão e (note-se) sem nome de senhoria, coisa que os homens de letras cá da republica não perdoam visto que são, eles próprios, noventa por cento da província mas com famílias, rendeiros e prestigio em meninos.
Um Pascoais, por exemplo, tem à partida larga vantagem na cidade dos letrados justamente por ser do interior onde tudo é puro, autêntico e etc., e tanto assim que até se lhe respeitam as ideias de querer redimir o país, dividindo-o em Famílias e Casas. É acima de tudo poeta, e notável, mas lá em Amarante tinha património, nome, laços de influência.
O tal escritor de sol a sol é que não dispunha desse passado para se abonar. Aprendera por cartilhas de padre lapuz, com o rosa rosae pelo meio da tabuada e, pois bem, assim que se apanhou fora da aldeia deu as boas noites ao catecismo e à família real e decidiu entregar o corpo ao manifesto [...] Os caricaturistas desenharam-no então em estilo Malhadinhas: olho sagaz, queixada forte, perfil a traço grosso ..."
[José Cardoso Pires, in & ETC, nº1, 17/01/1973]
JOSÉ CARDOSO PIRES [1925-1998]
José Cardoso Pires [1925 -1998]
n. 2 de Outubro de 1925
Nasce em São João do Peso (Castelo Branco), o escritor José Cardoso Pires. Frequenta o Liceu Camões e estuda Matemáticas Superiores (FCUL), torna-se "praticante de piloto sem curso", viajando bastante, faz o serviço militar na Figueira da Foz (e Vendas Novas), frequentador do grupo surrealista de Cesariny (e outros), tem alma de ser agente de vendas, correspondente e interprete de inglês, lecteur no departamento luso-brasileiro de King's College (Londres), redactor e colaborador de revistas [Gazeta Musical, Todas as Artes, Eva, Afinidades (Faro, 1942), Bloco (c/ Salazar Sampaio, Luiz Pacheco, 1945), Almanaque (redacção composta por Sttau Monteiro, O'Neill, Vasco Pulido Valente, Augusto Abelaira e José Cutileiro), Estrada Larga, &ETC, JL, Letras e Artes, Seara Nova, O Tempo e o Modo, Vértice] e jornais [O Globo, Diário de Lisboa], é co-fundador da excelente colecção de bolso «Os Livros das Três Abelhas», uma obra e escrita notável.
"... Homem, nem de certezas nem de incertezas, nem olímpico nem angustiado, o autor de «O Delfim» investiu-se, como uma espécie de predestinação, no papel de detective por conta própria, apostado na descoberta de enigmas ou crimes, secularmente sepultados, sob o espesso silêncio português, raiz e matriz do tempo sonâmbulo (a frase é dele) que lhe coube viver. Viver e reviver em contos e romances inseparavelmente realistas e alegóricos, onde em quem os ler respirará um pouco aquele ar refeito de um passado português que foi o da sua geração e, eminentemente, o seu" [Eduardo Lourenço, in Publico, 27/10/98]
"O seu amor pela nossa língua, o sofrimento do seu trabalho exigente, palavra a palavra, vírgula a vírgula, a construção de um discurso lisboeta, José escrevia lentamente, como quem tece, sofrendo, irritado, como se uma palavra mal escolhida pudesse manchar irremediavelmente a brancura do papel. (...) Em tudo punha, sempre, um cuidado extremo. Emendava, emendava até à «boca da máquina», para nosso desespero. Tudo era terrivelmente importante para ele. Porque as palavras (traiçoeiras) arrastam às vezes outros sentidos, e a escrita, como a vida, além de uma estética, era para José fundamentalmente uma ética." [Nelson de Matos, in Expresso, 31/10/1998]
"[José Cardoso Pires] escrevia a solo, na Caparica, numa casa habitada como uma cela, com objectos esparsos que não desviassem o olhar do mar e da luz e da liberdade encostada à vida. Um escritor precisa de saber fazer frente ao tempo, pô-lo a andar e dizer-lhe para voltar mais tarde, daí a uns anos. O tempo apura a mão e ameaça a mão. A mão precisa do tempo e a relação entre os dois é sempre estranha, uma imprecisão cheia de equívocos e eternidades, uma relação de amantes. A mão e o tempo, juntos para sempre." [Clara Ferreira Alves, idem, ibidem]
Algumas obras: Os caminheiros e Outros Contos, Centro Bibliográfico, Lisboa, 1949 / História de Amor, Gleba, 1952 / O Anjo Ancorado, Ulisseia, 1958 / O Render dos Heróis, Gleba, 1960 / Cartilha do Marialva, Moraes, 1960 / O Delfim, Moraes, 1968 / O Hospede de Job, Arcádia, 1972 / Dinossauro Excelentíssimo, Arcádia, 1972 / E Agora José, Moraes, 1977 / O Burro-em-Pé, Moraes, 1979 / Corpo-Delito na Sala de Espelhos, Moraes, 1980 / Balada da Praia dos Cães, O Jornal, 1982 / Alexanfra Alpha, Dom Quixote, 1987 / A Republica dos Corvos, Dom Quixote, 1988 / A Cavalo no Diabo, Dom Quixote, 1994 / De Profundis, Valsa Lenta, Dom Quixote, 1997 / Lisboa Livro de Bordo, Dom Quixote, 1997
Algum roteiro: José Cardoso Pires / A Vida (biografia) / José Cardoso Pires / José Cardoso Pires (Vercial) / Um Delfim da escrita dialéctica e transparente / O Círculo dos Círculos (EPC) / Textos (sobre JCP) & Álbum de fotografias
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