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quinta-feira, 27 de novembro de 2003

FOTOGRAFIAS


"A teoria é uma armadilha estendida na esperança de que o real se deixe aprisionar" [Baudrillard]

O tempo, o detalhe, recordações, o pensamento e o imaginário, o óbvio e o obtuso, emoções, lembranças, impulsos, um outro olhar, tempo que não volta. "Fazer, experimentar e olhar", eis a fotografia, como diria Barthes. Ou "colocar na mesma mira a cabeça, o olho e o coração" (Cartier-Bresson). Há blogs que mostram isso mesmo. Para além das letras decifradas, fica-nos os fragmentos do real do Bruno Espadana, o intimismo na Ângela Berlinde, as molduras textuais da Montanha Mágica ou da Janela Indiscreta, a luz e cor da Deusa do Blog ou as imagens-quadros do Abrupto. Mas também no Letteri Café, Silêncio, Dudi, Grafolalia ...

Eça vs Camilo

Agradeço ao Impensável o esclarecimento sobre a Carta de Eça, na sua desavença com Camilo, que gostosamente citei em posta anterior. Nem me passou pela desdita fazer qualquer reparo ao assunto, dado ser vox populi, creio. Doutro modo, as causas para que a polémica entre os dois não "vingasse" são hoje de difícil configuração, passe alguma deixas de Alexandre Cabral, João Reis e muitos outros. Por outro lado, declaro, desde já, que vacilo entre o génio sarcástico de Camilo e a escrita irónica de gentleman revolucionário, por muito moralizante que seja, de Queirós, não pertencendo a nenhuma das claques em contenda. Certo que prefiro o Camilo da sua primeira fase, mais radical e intratável, mais colectivista e malicioso que a que se lhe seguiu. Ou que ainda leio com indisfarçado prazer A Campanha Alegre do Eça, o Conde de Abranhos, ou as Notas Contemporâneas. Ao que parece, ainda não se esgotou as diatribes entre Queirosianos e Camilianos, esse eterno registo incontornável. Apesar do silêncio de alguns anos a esta parte dos nossos intelectuais de serviço.

terça-feira, 25 de novembro de 2003

EÇA DE QUEIROZ [1845-1900]




Nasce na Povoa de Varzim, a 25 de Novembro de 1845

" (...) Aleivosia é um termo formidável e sombrio que, se me não engana o vetusto e único dicionário que me ampara nesta dura labutação de estilo, significa - 'maldade cometida traiçoeiramente com mostras de amizade, insídia, perfída, maquinação contra a vida e reputação de alguém, etc.'. Tudo isso é pavoroso. Mas eu suponho que, sob essas vagas palavras de implicação e aleivosia, V. Ex.ª [Camilo] quer muito simplesmente queixar-se de que eu e os meus amigos o não consideramos um escritor tão ilustre, com tão alto lugar nas letras portuguesas como costumam considerar os amigos de V. Ex.ª. Ora aqui V. Ex.ª se ilude singularmente.

Eu nunca tive, é certo, a oportunidade deleitável de apreciar, nem em copioso artigo, nem sequer em curta linha, a obra de V. Ex.ª. Mas sou meridional, portanto loquaz. Por vezes, entre amigos e fumando a cigarette, tem vindo a 'talho de fouce' conversar sobre a literária de v. Ex.ª. (...)

Porque eu, falando de V. Ex.ª, considero sempre a sua imaginação, a sua maneira de ver o mundo, o seu sentimento vivo ou confuso da realidade, o seu gosto, a sua arte de composição, a fraqueza ou a força do seu braço; e, pelo menos, admiro sem reserva em V. Ex.ª o ardente satírico, neto de Quevedo, que põe ao serviço da sua apaixonada misantropia, o mais quente e o mais rico sarcasmo peninsular. E os seus amigos, esses, admiram apenas em V. Ex.ª, secamente e pecamente, o homem que em Portugal conhece mais termos do Dicionário!

Sempre, 'a todo o talhe de fouce', em artigo, em local, em anúncio de partida, em felicitações de dias de anos, é V. Ex.ª pelos seus discípulos e amigos louvaminhado e turibulado - como o grande homem do vocábulo, esteio forte da Prosódia, restaurador da Ordem gramatical, supremo arquitecto das frases arcaicas, acima de tudo castiço, e imaculadamente purista! E ainda mais na intimidade, os amigos de V. Ex.ª o celebram como o homem que melhor sabe descompor o seu semelhante! E isto tão obstinadamente murmurado ou clamado, que esta geração mais nova, para quem já vou sendo um velho e V. Ex.ª quase um fantasma, não tendo como eu e os do meu tempo rido e chorado sobre os seus livros de paixões e ironia, o imaginam, a V. Ex.ª um intolerável caturra, de capote de frade, debruçado sobre um sebento léxico, a respigar termos obsoletos para com eles apedrejar todos os seus conterrâneos. (...)"

[Eça de Queirós, in "Carta a Camilo Castelo Branco"]