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sábado, 24 de fevereiro de 2007
Pátria assim!
"Para se amar uma pátria assim, com tal pompa e tal doçura,
com tamanha e tão delicada memoria de ternura,
será preciso que ela seja escrava, ao mesmo tempo, de um passado
glorioso, e de um presente cujo escândalo seja
em vileza diária a demissão de um povo, à culpa do estrangeiro
que reinará nos palácios e nas praças, usurpando o verdadeiro
senso de que só escravo se torna quem o era já.
...
Mas nós não temos de estrangeiros outros mais que nós. Não dá
portanto o que pensamos para tais doçuras.
Pois de nós mesmos - porcos - não brotam pátrias puras"
[Jorge de Sena, in 'Má Vlast', de Smetana, in Poesia II, Moraes, 1978]
sexta-feira, 14 de novembro de 2003
MARÉ NEGRA DO "PRESTIGE" - UM ANO DEPOIS
Maré negra do 'Prestige' - Um Ano Depois
"Conheço o sal que resta em minhas mãos
Como nas praias o perfume fica
Quando a maré desceu e se retrai." [Jorge de Sena]
Dias Estranhos / La Hispaniola / Lembra-te / Nunca Mais / Burla Negra
domingo, 2 de novembro de 2003
JORGE DE SENA [1919-1978]
n. em Lisboa, 2 de Novembro de 1919
"... Olhe que não sou brasileiro apenas pelo sentimento. Sou cidadão brasileiro desde 1963 (...) Por isso é que sempre me apresento como escritor português, cidadão brasileiro e professor norte-americano. Mas as minhas lealdades não são triplas e sim duplas, no que não vejo incompatibilidade alguma (para lá do respeito que devo às instituições do país em que me emprego e onde vivo). No plano cultural e de amor aos países (amor bastante infeliz, porque a luso-brasilidade é uma raça danada), já que no plano político não a devo tecnicamente a Portugal. Este é que me deve a mim." [Carta a Drummond de Andrade, 1972]
"Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.
Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso? ... " [J. de S., No País dos Sacanas]
"Como pode um homem carregado de filhos e sem fortuna alguma
ser poeta neste tempo de filhos só da puta ou de putas sem filhos?..." [J. de S., in Quarenta Anos de Servidão]
"... Esclareça-se: uma coisa é literatura
Comprometida ou não, e uma outra coisa
É literocambada, ou seja uma pandilha
Ou várias assaltando à naifa e gritos
De a bolsa ou a vida. Inútil é fingirem
Que são das letras ou qualquer política:
Vieram para elas, baba da afluência,
Por não haver já viela onde as facadas rendam." [J. de S.]
"... A autentica actividade poética, porém, empenhada em transformar e realizar em si própria o mundo, tem o direito de rir-se da sua própria situação precária e triste. É que a actividade poética sabe-se dupla: e conhece, daqueles que são seus, quais os que a visitam e quais gosta de visitar. E de sempre os maiores forma os que a receberam mal, sem delicadeza alguma ... (vide Baudelaire), Interesse da poesia pela poesia?... A poesia vive-se e suporta-se." [J. de S., in O Reino da Estupidez I]
"... Por certo que a poesia é a coisa mais importante do mundo, tão importante que nem coisa é. Mas a verdade é que é tal o meu amor pela poesia, que me repugna deixar-me pensar assim. A importância da poesia é mínima: a importância de algo que, no mais puro e interiorizado sentido, não serve para nada, nem sequer para nos encher de mais humanidade ou de mais beleza. Só a poesia dos outros nos poderá momentaneamente encher de serenidade, de comovida alegria, daquela esperança lacrimosa que é a recompensa de termos vivido, por instante, fora de nós e do mundo que, visto por nós, ainda nós próprio é (...) O mundo é precisamente esse desperdício, esse empobrecimento de cada hora, a cada papel que se rasga, cada memoria que passa, cada morte que há. A humanidade um somatório imenso do que não chegou a ser, e do que se supõe que foi..." [idem, ibidem]
"... Vamos rasgar, ó poetas, esta mentira da alma,
vamos gritar aos homens que os enganam,
que não é a força, que não é a glória,
que não é o sol nem a lua nem as estrelas,
nem os lares nem os filhos, nem os mares floridos,
nem o prazer nem a dor nem a amizade,
nem o indivíduo só compreendendo as causas,
nem os livros nem os poemas, nem as audácias heróicas,
- a redenção sou eu, se formos nós sem forma,
sem liberdade ou corpo, sem programas ou escolas!" [J. de S.]
Links: Jorge de Sena (Projecto Vercial) / Bio-Bibliografia (Instituto Camões) / Exposição Sinais de Jorge de Sena / Homenagem a Jorge de Sena (Fac.Eng.da U.P.)
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