"E é tudo - excepto mais confusões" [
Ludwig Wittgenstein]
Martins da Cruz demitiu-se. Não deixa qualquer saudade, nenhuma lágrima se derramará por ele. Foi, desde a primeira hora, arrogante e insolente com os seus colegas embaixadores. Senão, que dizer do afastamento do embaixador Francisco
Seixas da Costa da vice-presidência da assembleia-geral das Nações Unidas, que cedo revela o carácter do ex-Ministro; e como interpretar a movimentação de mais de trinta embaixadores dos seus locais de trabalho, num
tour nunca visto na diplomacia portuguesa, reflectindo mais a personalidade doentia e persecutória do ex-Ministro que as razões funcionais que a podem explicar; ou a transformação do Ministério dos Negócios Estrangeiros numa coutada visando os seus próprios interesses e do grupo que o apoia no governo (vidé a perseguição ao seu colega de partido,
João Salgueiro, apenas por ele ter estado no "
lado errado" da contenda entre
Deus Pinheiro e
Durão Barroso, e que foi verdadeiramente inaceitável); e como classificar os comentários "infelizes" e desbragados sobre altos dirigentes de países amigos a propósito da sua capacidade militar, no contexto da questão iraquiana.
De outro modo, a sua governação foi inoperante e ineficaz, bem escudada atrás dessa metáfora de "
business centers", e onde a peregrina ideia de uma diplomacia económica nunca passou disso mesmo.
Martins da Cruz foi isso tudo, e talvez mais como agora se sabe, mas nunca esteve verdadeiramente debaixo do "fogo" jornalístico. Estes seguem bem a máxima de
Patton: "
a investigação tal como a diplomacia é a arte do possível". E o possível pode não ser o necessário e o importante, entenda-se.
Por fim, neste obsceno caso das demissões de
Pedro Lynce e
Martins da Cruz, refira-se o estranho fenómeno do insucesso dos comentaristas. Com honrosas excepções (
António José Teixeira, algum
Pacheco Pereira e uma fatia do professor
Marcelo) quase todos os comentaristas não o foram, no seu exacto sentido. E assim, falharam redondamente nas análises, sendo que os putativos
Luís Delgado,
Bettencourt Rodrigues (mais o primeiro que o segundo) nunca chegaram a compreender o que se estava a passar. Ou se compreenderam, tentaram com bastante infantilidade configurar um cenário fora da objectividade que se exige a um qualquer comentarista: bom senso político, honestidade intelectual e pragmatismo.
Quanto a
Durão Barroso ... o caso segue dentro de momentos. As palavras por si proferidas de apoio a
Lynce e a
Cruz, a incapacidade de decisão numa situação de melindre político e, principalmente, a falta de coragem na demissão dos dois ministros, desvela que há algo de errado no reino do
barrosismo. E pagará, mais tarde ou mais cedo, por isso mesmo. A paciência esgotou-se!