Gosto de passar em Ereira e lá ficar, imaginando as velhas 'casas foreiras', as águas do Mondego cercando-a, milharais sem fim, a casa do Torreão, o deambular de mestre João de Ruão nas suas ruelas, a luz das fogueiras para a navegação lá ao fundo, o sabor a sal, a poesia em todo o lado.
Pátria de Afonso Duarte, poeta que como diz Jorge de Sena «atravessou saudosistas, esótericos, modernistas, presencistas e Novo Cancionairo, depois de já ter atravessado António Nobre e Guerra Junqueiro». Mas, principalmente, o «poeta do amor e da liberdade», como só a Ereira nos podia oferecer.
Soneto da Ereira
Exaltam-me a cegonha e pato bravo.
Só não posso com estas codonizes
Com ironias, tontas de repizes,
- Paspalhão, paspalhão! - enquanto cavo.
Meu mundo é outro, queres dizê-lo? Dizes?
Eu bem sei, paspalhão! - Ao fim e ao cabo,
- Príncipe que fugiu a ser escravo -
Não me dão outro, bons pardais felizes.
[Afonso Duarte]