O Circo de LisboaA capital da paróquia - a bela e mansa
Lisboa - está travestida política e socialmente num enorme circo. De vida alegre e fácil, plena de radiosas e abundantes personagens de que não se sabe o modo de vida, a
Lisboa civilizada, moderna, cosmopolita e optimista de outrora é fantasma de si mesma. Apagou-se, definitivamente! A
saloiada partidária reformou-a.
Lisboa é hoje apenas uma mercearia da classe política, um medíocre estábulo onde os
sôres dôtores encostam o rabo, simples emprego rendoso.
Lisboa já não tem amigos, nem sentimentos, nem gosto, nem nada. Coitada dela!
Não se compreende, portanto, o pânico, a inquietação e o choro que alguns tresmalhados indígenas ensaiam ao ver
Lisboa "ardendo" suavemente. Nem temos paciência para ouvir os coveiros de ontem, na sua rotina de fantasia elogiativa, proclamarem, com sóbria audácia, a "
grande barrela à cidade". O sr.
Costa, florido rapaz que cavalga tais ditames, disse os adeuses à desvairada e incompetente governação da qual é adepto e pretende
fugir para o pousio da
Câmara. Com piada, faceta curiosa que o eng.
Saraiva não vislumbra, pretende vir a ser um infeliz náufrago do governo. Sonha, na sua lamúria por
Lisboa, que escapa à fogueira da sorte. Puro engano.
O sr.
Marques Mendes, com a inteligência que lhe coube, teve o despautério de fazer arribar à capital a toleirona figura do sr.
Negrão. Com ele arrastou, de novo, a gentalha dos putativos notáveis. E, para que a cerimónia circense fosse inteligível, a garotada do sr.
Portas, agora sebento de gozo, fez reaparecer o sempre valentão
Telmo. A demência não justifica tudo, mesmo que
Lisboa estivesse fadada para o calvário que aí vem. Porém ... é a vida.
Entretanto, os enxertados sr.
Júdice e esse tratadista da corrupção, o sr.
Saldanha Sanches, com inchadas modéstias e num alarido enjoativo, vieram, ao que dizem, em socorro de
Lisboa. Não se percebe a que se deve tanto desvelo de missão. Deixando, por ora, o pitoresco
Júdice balbuciando as suas inúteis trivialidades, espanta-nos o caso solitário de
Saldanha Sanches. Este guerreiro da imaculada anti-corrupção, num passe de encantamento aparece a
suportar uma vereação e um partido que não se pode orgulhar do que quer que seja nessa matéria. O probo sr.
Sanches não desconhecerá a história camuflada dos autarcas socialistas de Lisboa, nem do resto do país, e dos apoios com que sobrevivem. O probo sr.
Sanches, decerto estará a par da circulação de um famoso documento sobre o
ranking financeiro que se pode pessoalmente obter das cidades e vilas nesta insana paróquia e que tem levado a esses lugares, numa corrida desvairada, a
folgada classe política. O probo sr.
Saldanha Sanches não é tido por idiota, nem consta que reze o Padre-Nosso aos prevaricadores. Se assim é, para cooperar com todo este
circo, o que faz correr o nobre fiscalista? A que se quer habilitar, o probo sr. Sanches? Pode dizer?