segunda-feira, 9 de junho de 2003
CAMPOS DO MONDEGO
"Sem ordem nem desordem" [Eluard]
Voltar à saudade sebástica, ao antiquíssimo cantar nestes campos do Mondego, com mar ao fundo. Para escusar a fadiga relembremos António Telmo, Manuel Gandra, Agostinho da Silva, António Quadros, José Marinho, Leonardo Coimbra, e muitos muitos outros.
«Coexiste comigo muita gente
que vive comigo apenas porque
dura comigo» F.P.
O salutar descanso nos doces campos do Mondego e o regresso sempre mais razoável, prudente e sensato. Longe vai o tempo de longas vigílias para fazer mandas aos profanos. Pascoaes, Sampaio Bruno o Encoberto(Telmo dixit), Sant’Ana Dionísio, Botelho, Álvaro Ribeiro, Dalila Pereira da Costa, e muitos muitos outros.
«A vida é tão brava
A alma tão vasta
Ai passa ao de leve
A soidade hausta
Choras e ris
Acoit’o bater
Duma flor de Liz
Neste Alvoracer
A Alva é de brôa
Seu colmo seu linho
Num búzio ressôa
Eterno menino
Luz que vem de estrêla
Estrêla desce à terra
Anuncia à bela
O viria qu’encerra
Senhora do Ó
Que estás em botão
Já trazes ao colo
A palma da mão.
[Francisco Palma Dias, Senhora do Ó]
Retomando a ventura de mestre Ferreira, o encadernador, folheio a Revista Leonardo, levada assim para fim de semana. Volta-se as paisagens como páginas. Refeito que foi o ânimo, estranho o discurso de alguns, concebidos no Integralismo bafiento, que na blogosfera fazem um exercício petulante e caprichoso, contra cavalheiros livres e incómodos, infames. O nevoeiro da Santa Liberdade é a má língua do passado. É o arrocho desbragado da vida. A pátria rumando contra Porto Graal. Aqui, professores mesmo que loquazes, não podem ensinar a voar sobre o abismo. Porque, afinal, ‘onde se está a viver, se se vive distante da vida?’
Chega-se a Coimbra pelas terras do Mondego. Pedro e Inês. Morada esguia e perversa. A armadilha do caminho e do corpo. ‘A terra que pisas já não é a mesma em que o olhar se deitava antes de teres partido’. Há muitos, muitos anos.