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domingo, 3 de agosto de 2003

FOGOS & NOTAS VÁRIAS

- É sempre a mesma coisa todos os anos. Chega-se a Julho e Agosto, e de repente parece que fomos atirados para um outro país. Quem ouve o inefável ministro Figueiredo Lopes a dar ordens ao abrigo de um plano inexistente (ou que só na sua cabeça existia) fica na dúvida em que raio de país estamos. É que, afinal, fazem mil e umas leis, normas e planos que invariavelmente nunca são aplicados, ou quando o são imediatamente são colocados de lado para uma nova reformulação. Este ministro diz a mesma coisa que os seus anteriores diziam. E seguramente que os vindouros dirão a mesmíssima coisa. Triste país este, que é governado por tamanha gente.

- O Ministro da Defesaestá atirado para lume brando. E, de facto, merece-o. Nem se compreende como alguém com o perfil ético e político de Portas, conseguiu, um dia, ser ministro de alguma coisa. Não tem idade mental, estirpe democrática e humanidade para o desempenho do cargo. Quanto muito no Independente poderia mandar em alguma coisa, porque são todos bons rapazes. Mas no governo de um país, valha-nos Deus. Enfim, como diria Joyce"como não podemos mudar de país, mudemos de assunto".

- Estes dias em férias são óptimas para compras de livros, há muito esgotados ou desaparecidos. Não há concorrência nesta época do ano. A praia é um trabalho infinito e que requer tempo, mesmo para os mais audases. Ainda bem, para nós, que também somos praiantes de barriga ao sol, mas estamos atentos e cuidadosos sobre as insolações estivais. Et pour cause ...

Algumas das aquisições nestes dias de Agosto. [brevissima anotação]

* Catalogo da Valiosa e Interessante Livraria que pertenceu ao Ex.mo Snr. Dr. Pedro Augusto Ferreira (Continuador do Portugal Antigo e Moderno) por elle dispendiosa e pacientemente adquirida em leilões e vendas particulares, desde 1864 e que será vendida em Leilão, pelas 6 horas da tarde do dia 7 e seguintes no proximo mez d'Abril no Bazar de António Freitas, Rua de Passos Manoel, 199 - Porto s/d [Nota: contem todos os preços da arrematação, enc.]

* Catalogo // das // Obras mais raras, valiosas e estimadas // da // Livraria // do bem conhecido e afamado bibliophilo // Agostinho Vito Pereira Merello // ex-corretor do Numero da Bolsa. // Bibliotheca Particular a mais importante do paiz, constando 12:358 lotes // Catalogada por seu filho // Julio Roque Pereira Merello // Agente de leilões da Praça de Lisboa // Seguido de um catalogo dos valiosos quadros, estampas e jornaes // Precedido de um breve prefacio por // Theophilo Braga // Lisboa // Typographia da Companhia Nacional Editora // ... // 1898, VII-337 pgs

"Habent sua fata libelli. É este um antigo aphorismo em que está implicita toda a historia litteraria; os livros têm a sua sorte, e não é menos dramatica a série de peripecias que constituem a sua historia externa, como a dos conflictos theoricos ou doutrinarios que levantaram, actuando na corrente da civilização. O livro é um prestigio (...) Quem ousará condemmar a bibliomania, se é ella um meio indirecto de conservar muitas riquezas do passado que fatalmente se perderiam na voragem do tempo! Sem essa preoccupação de enthezourar todas as raridades e especialidades bibliographicas, seria impossivel construir a Historia litteraria, a grande creação entrevista no seculo XVII por Bacon (...)

A livraria, que esteve sempre occulta como um thezouro cubiçado, é conhecida emquanto á sua importancia pelo fervor, sacrificios e constancia com que o proprietario se batia em todos os leiloes e pesquizas para alcançar as mais invejaveis preciosidades litterarias e artisticas. Desde 1844 a 1895 gastou Pereira Merello a ajuntar livros, capitalisando na sua Bibliotheca a melhor parte dos seus rendimentos provenientes das sua funções de Corrector do Numero da Praça de Lisboa. (...) Pereira Merello, de origem italiana, cultivou as letras na sua mocidade; escreveu artigos sobre economia e commercio em alguns dos mais importantes jornaes de Lisboa (...) Começou a a collecionar livros, quando ainda andavam em dispersão as bibliothecas dos conventos, e prosseguiu, quando ao correr do martello do leiloeiro se espatifavam as livrarias pacientemente formadas como a de Pereira da Costa. Foi n'este campo de combate que Pereira Merello se encontrou com Innocencio Francisco da Silva (...) É certo que tornaram-se inimigos inconciliaveis; Merello fechou a sua livraria com os setes sellos do Apocalypse, e elle mesmo levado pela preoccupação do livro chegou ao ponto em que já se não dominava, tornando-se elle proprio victima de uma como vesania. Para adquirir as obras mais raras já não olhava a dinheiro (...) todo o seu capital adquirido foi gasto com enthusiasmo em livros, quadros e em curiosidades de bric-à-brac. Faz lembrar por vezes essa figura mysteriosa e sympathica do Cousin Pons do romance de Balzac. Os livros custavam-lhe o melhor do seu sangue, o dinheiro e odios profundos com os outros bibliomanos; guardava-os com as mesmas etiquetas dos leilões, em sacos e em caixas, de forma que perdia o conhecimento d'elles. Daqui resultava o tornar a comprar muitos exemplares do mesmo livro, tal como aconteceu com outro acerrimo bibliophilo do Porto o Dr. João Vieira Pinto (...) Ao fim de quarenta annos de trabalho estava formada esta grandiosa Bibliotheca particular (...)"

[Theophilo Braga, A Livaria de Pereira Merello, pag. V/VI]

* Catálogo de Quatro Importantes Livrarias que serão vendidas em Leilão sob a direcção de João Vicente da Silva Coelho organizado por José dos Santos e com um prefácio de Gustavo de Matos Sequeira. ... constituindo o fundo das livrarias que formam do Conselheiro Anselmo José Braamcamp, do dr. JoãoForjaz, do dr. José Pereira de Paiva Pita e da família Cunha Sotomayor. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1925, 354 pag. [Trata-se de catálogo onde participam o dono da Livraria Coelho de Lisboa, José dos Santos da Livraria Lusitana (Lisboa) e com prefácio do bibliófilo Gustavo de Matos Sequeira.]

"Nenhuma terra de Portugal possue como Coimbra a característica inconfundível da sua tradicional cultura erudita, artística e literária. (...) Abastada de livrarias, a cidade do Mondego marca assim esse logar e a cada uma que se dispersa outra se forma. Estas que agora se vão vender em almoeda reflectem bem nitidamente a feição originária, o ar erudito, na abundância de clássicos, na escolha castigada dos melhores autores e na variedade dos assuntos.
A primeira, que pertenceu ao estadista Anselmo José Braamcamp, recheada de curiosidades clássicas e de bons livros de sciência política, (...) Segue-se a livraria do dr. João Forjaz, de Bemcanta (...) Mais copiosa e mais variada do que as anteriores è a biblioteca que foi do lente dr. Paiva Pita abundantíssima de obras jurídica de mérito e de clássicos dos melhores como (...) Áparte estes excelentes livros mencionados, enriquecem a livraria uma porção considerável de manuscritos que forma pertença do bispo Azeredo Coutinho, que foi de Elvas e Pernambuco, manuscritos entre os quais se destacam alguns de interesse capital para a história eclesiástica e geral destas duas cidades, mormente de Elvas. (...) A última biblioteca que foi da família Cunha Sotomayor, de Coimbra, (...)"
[Gustavo de Matos Sequeira]