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terça-feira, 19 de agosto de 2003

A POSSE



de repente
no país do
bacharel de cananéia
dos bacharéis de canudo e
anel no dedo e dos
doutores de borla e capelo
no país dos
coronéis
latifundiários de baraço
e cutelo (melhor
dizendo de serrote elétrico
corta-homens)
de nobres na curul e
pobres no curral
um
metalúrgico (sem
anel de grau sem
toga doutoral sem
sabença de papel passado) um
torneiro mecânico
formado na
universidade da vida
(severina) assoma
no altiplano de
brasília e toma
posse
da república numa
apoteose de povo
dando novo sentido à palavra
pátria

[Haroldo de Campos, A Posse, Folha de S. Paulo, 19/01/2003]

IN MEMORIAM HAROLDO DE CAMPOS [1929-2003]



No passado dia 16 de Agosto morreu o poeta, ensaísta, tradutor Haroldo de Campos. Funda (com Augusto de Campos e Décio Pignatari) em 1952 o Grupo Noigandres, de poesia concreta, que influencia a corrente concretista e experimental portuguesa, em especial E. M. de Melo e Castro [vidé PO-EX textos teóricos e documentos da poesia experimental portuguesa, Ana Hatherly & E. M. de Melo e Castro, Moraes, 1981], e depois trabalha "como tradutor, crítico e teórico literário, além de Professor Titular do curso de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Literatura na PUC/SP" [Ver]. "O grupo formado por Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari usou pela primeira vez a expressão «poesia concreta» no Festival de Música de Vanguarda do Teatro Arena em 1955. No ano seguinte, o movimento Concretista seria definido com uma exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo." [idem]. Traduz Joyce, Dante, Mallarmé, Ezra Pound, Maiavóski ...

Morre aos 73 em São Paulo. Uma vida intensa de crítica ás ditaduras, uma resistência estética e literária exemplar. "Extemporâneo, nunca cedeu. Perspassou a média e a mediocridade dominante. Internacionalizou a literatura brasileira, ao tomar para sí, e reativar os valores da antropofagia rebelde de Oswald de Andrade, posta à margem, pelos mesmos epígonos sectários de sempre. Sem vacilos ou recuos, arriscou-se na continuidade, consciente, seguindo nas experiências e experimentações, do percurso desbravado antes pelo 'patriarca' de nossa modernidade literária. Comprou briga com tudo que era passado de todas as épocas e na rasteira deste combate, foram 'redescobertos' Sousândrade, Pedro Kilkery ,Gregório de Mattos,Mallarmé, Joyce , Maiackóviski, com Décio Pignatari e o irmão Augusto e Velimir Klebinikóv em parceria com Aurora Fornomi Bernadini. (...) Instigante, revolucionário, vigoroso na demolição de ranços e rancores incrustados em nossa literatura." (Thaelman Carlos 16/08/2003, CMI Brasil).