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quinta-feira, 26 de julho de 2007


Alegre(s) Devaneios

"Não há grandeza que baste / Quando a desgraça é tamanha!" [Joaquim Namorado]

O cansaço que o cidadão comum tem face à miséria da sua vida, o desprezo que nutre pela política caseira, a gargalhada feita aos talentos mirrados dos homens dos partidos, é um sentimento forte mas atribulado. A perda de dignidade, a descrença no futuro e o testemunho de insegurança, é um pesado luto para todos. Estamos mais mortos que vivos.

Alguns, porém, não só carecem de honra e memória, mas tudo fazem, num descaramento vil e inusitado, para não perder uma qualquer ocasião para a exaltação pífia. Sempre houve homens assim. Os dos obséquios, dos salamaleques, do discurso gratulatório. A moral bovina é nesta paróquia uma filosofia de vida. O emprego uma admirável piedade que o expediente da governação protege. No velho regime impunha-se o silêncio. Apelava-se à delação. Pagava-se emprego com favores. Nada mudou. Se até à chegada de Sócrates se observava isso sem espanto de maior, a partir daí o atrevimento e a intolerância chegam sem reservas. Mas o que há de novo em tudo isto é a mentira, a falsidade e o desprezo intelectual com que, agora os novos "feitores", nos brindam.

Com os indígenas à beira da ruína e mais preocupados com o dia-a-dia e as contas ao fim do mês do que com a vida política e os partidos; com alguma imprensa em lamúria de felicidade rosa e a opinião pública esclarecida em orgasmos pelo debate sobre estratégias e tácticas políticas (leiam-se os jornais e blogs para confirmar essa sublimação pós-modernista); com um movimento sindical inútil, velho de ideias e pantanoso (veja-se a obsequiosidade e a presteza da UGT); com um raminho de enturvados intelectuais em remedos de exortação fascizante (caso particular da desastrada Inês Pedrosa, a tal da cidadania de miséria à boa maneira salazarista) ou em vaidade de escrita (onde o arq. Saraiva tem lugar de honra); em suma, com tudo isso assim disposto, o que nos resta? Pouco, para consolação. Algum colunista sem metafísica de míope e com “espinha vertical” (que os há, admiravelmente, no jornal Público), um Vasco P. Valente para desopilar, algum Pacheco Pereira, uma mão cheia de bloguistas independentes, e pouco mais.

Por isso o opinioso protesto de Manuel Alegre (Contra o medo, liberdade) neste naufrágio de mentiras que é a vida social e política portuguesa, mesmo que tenha sido “um clássico” como o sr. Sócrates assim considera, é uma pedrada no charco. Um testemunho histórico. Vindo de onde vem, não salva almas mas faz luz. Pode-se dizer tudo do Manuel Alegre, mas não se lhe negue as virtudes próprias de um verdadeiro cidadão. Que tardam entre todos nós.