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sexta-feira, 17 de julho de 2009


IN MEMORIAM HERMÍNIO PALMA INÁCIO - AQUI

O Almanaque Republicano publicou (por enquanto) 2 (dois) posts para um In Memoriam a Hermínio da Palma InácioAQUI e AQUI.

Num tempo de frescas tintas revisionistas da história, em que nem o sarcasmo satisfaz os desejos dos mais jubilosos, faz bem - ao pesquisar, ler, escrever e encontrar tanta vida nessas vidas - acreditar num tempo outro dos Homens e na importância outrora da Palavra. Neste tempo abusado de "arrotos comoventes" à governação (qualquer uma), nesta "feira cabisbaixa" que é a paróquia, a "viver sem projecto" ou alma nacional, é bom mergulhar – sem veneração, mas com narrativas abraçadas contra esse "respeitinho" a modos de ser preciso (O’Neil, sempre!) – na nossa história contemporânea recente.

Quando num só dia se ouve uma sra., que é Ministra da Educação de um país dito civilizado, pregar o ódio contra os educadores, pincelando enormidades educacionais incompreensíveis – pelo menos, para quem estuda há dezenas e dezenas de anos esses assuntos – e cegamente desvairadas na sua pequenez intelectual; quando é dado assistir ao provinciano e reaccionário Alberto João, sempre desbragado quanto saudosista do rapé autoritário, expelindo as suas sandwiches ou circulares aos indígenas; e quando numa madrugada, para acabar a praga, se assiste na TV – "Directo ao Assunto", RTPN - a uma série de disparates, acompanhados de um imprevisto espumar de raiva por um rapazinho - masquée com monóculo de "esquerda" - contra homens dignos, contra trabalhadores da educação, contra sindicalistas e a instrução pública, percebe-se porque razão Salazar governou o que governou e este país é o que é.

Não é uma simples sonoridade pós-moderna, uma sandice ideológica ou mera fúria geracional, como alguns exprimem em imprudência: é a exibição de uma descarada falta de estudo, de esforço intelectual e de trabalho profano, à mistura com uma irritabilidade e vaidade paranóica. Tudo bem regado – que o arraial promete sempre prebendas –, entre muita ignorância e falsificação histórica, de afadigadas loas à governação.

Contra isso, faz bem à alma acompanhar homens assim.

quarta-feira, 11 de junho de 2003

PORTUGAL (A NAÇÃO)


«Portugal a cabeça, cuja fronte patenteia três sentidos - o que respira, o que concede a palavra e o da visão -, é o Consciente de Europa.
Encarnação de Marte - o Mestre da Força, da Acção e da Luta -, é o estratego excelente, o criador das Quinas, dos Escudos ou Heróis, o construtor eminente dos Castelos - a sua invencível Fortaleza - e o realizador, por mérito próprio, do seu nobre, glorioso e ariano Solar.

Representando o princípio masculino, a força centrífuga, o movimento de translação, é o génio do Amor, da Aventura e da Saudade, o protector dos Argonautas, o Siva da Fé, aquele que, debruçado na sua Ponte-Cais, olhando fixo o cristalino do Mar, avista ali, diante de si, num só ponto, os quatro pontos cardeias, a par da vitória daqueles Argonautas contra todos os Titãs e contra o próprio Mestre da Morte e dos Infernos, e, por fim, como prémio, o mundo-terra a seus pés.

Portanto, os Portugueses - os homens dos portos - vencedores do Mar Tenebroso e descobridores dos quatro caminhos do Mundo, foram os construtores, os instituidores, os fundadores do Império.»

Os Atlantes, Vasco da Gama Rodrigues, 1961

segunda-feira, 9 de junho de 2003

CAMPOS DO MONDEGO


"Sem ordem nem desordem" [Eluard]

Voltar à saudade sebástica, ao antiquíssimo cantar nestes campos do Mondego, com mar ao fundo. Para escusar a fadiga relembremos António Telmo, Manuel Gandra, Agostinho da Silva, António Quadros, José Marinho, Leonardo Coimbra, e muitos muitos outros.

«Coexiste comigo muita gente
que vive comigo apenas porque
dura comigo
» F.P.

O salutar descanso nos doces campos do Mondego e o regresso sempre mais razoável, prudente e sensato. Longe vai o tempo de longas vigílias para fazer mandas aos profanos. Pascoaes, Sampaio Bruno o Encoberto(Telmo dixit), Sant’Ana Dionísio, Botelho, Álvaro Ribeiro, Dalila Pereira da Costa, e muitos muitos outros.

«A vida é tão brava
A alma tão vasta
Ai passa ao de leve
A soidade hausta

Choras e ris
Acoit’o bater
Duma flor de Liz
Neste Alvoracer

A Alva é de brôa
Seu colmo seu linho
Num búzio ressôa
Eterno menino

Luz que vem de estrêla
Estrêla desce à terra
Anuncia à bela
O viria qu’encerra

Senhora do Ó
Que estás em botão
Já trazes ao colo
A palma da mão.

[Francisco Palma Dias, Senhora do Ó]

Retomando a ventura de mestre Ferreira, o encadernador, folheio a Revista Leonardo, levada assim para fim de semana. Volta-se as paisagens como páginas. Refeito que foi o ânimo, estranho o discurso de alguns, concebidos no Integralismo bafiento, que na blogosfera fazem um exercício petulante e caprichoso, contra cavalheiros livres e incómodos, infames. O nevoeiro da Santa Liberdade é a má língua do passado. É o arrocho desbragado da vida. A pátria rumando contra Porto Graal. Aqui, professores mesmo que loquazes, não podem ensinar a voar sobre o abismo. Porque, afinal, ‘onde se está a viver, se se vive distante da vida?

Chega-se a Coimbra pelas terras do Mondego. Pedro e Inês. Morada esguia e perversa. A armadilha do caminho e do corpo. ‘A terra que pisas já não é a mesma em que o olhar se deitava antes de teres partido’. Há muitos, muitos anos.