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sábado, 14 de abril de 2007
Uma questão de Carácter
"O político tem como o perdigueiro a analogia de farejar e levantar a caça" [L. A. Palmeirim]
A laboriosa carreira política do eng. Sócrates, pelo que se ouve e lê, estaria, segundo alguns iluminados, para continuar. A delicada questão da sua putativa via académica, inevitavelmente nunca existiu. É o que redizem por aí, em santa harmonia, modestos comentadores, o esculápio Menezes, dois ou três puristas de estratégia, o dr. Coelho e o cintilante spin doctor Luís Paixão Martins. Aliás o eng. Sócrates está aqui para nos salvar do mal, que como se sabe é impetuoso e infame. É assim no martírio da educação ou no festim do choque tecnológico, com ou sem OTA e TGV, entre o enrugado SNS do altíssimo dr. Campos ou no virote do castigado défice. Os aplausos do raminho afamado de politólogos do reino, em trechos enturvados de emoção, são o melhor momento deste Portugal perfeito.
Portanto, os amotinados da coisa pública, entre uns petiscos vulgares para correr o fastio da iteração do dizer político, regressam rápido, de régua e esquadro na mão, aos cenários masturbatórios da análise estadística. Não espanta, provavelmente, que nenhuma barrela política, que muitos com excessiva ingenuidade aguardam há muito, tenha lugar. Os sábios colunistas não o permitiriam, o indizível júbilo da canalha não consente e, mesmo, a PGR parece que não engendra desacato algum em toda esta história. Deste modo, questões como o "carácter", a "credibilidade" e a "confiança" do primeiro-ministro de um país europeu, não vêm ao caso. Há é que governar!
Este curioso prenúncio atesta bem como Portugal - o país mais atrasado de todas as Europas - está sujeito não só às epidémicas palavras do conciliábulo da classe dirigente ou dos seus patronos, como ainda se solidariza com o ludíbrio dos profissionais da política. A civilização nativa é uma lamúria episódica. Como o carácter ou a sua falta. O resto, sim o resto, é que nunca é uma perda de tempo. Salvé nobres cidadãos!
segunda-feira, 9 de abril de 2007
Mariano Gago e o caso Unigate
Um animado Mariano Gago consumiu a sua (há muito esperada) conferência de imprensa com factos confusos quando não obscuros e proclamou aos indígenas, sob uma encantadora indignação muito fora de prazo, um provisório encerramento compulsivo da Universidade Independente. A vexatória questão Unigate, a desvergonha do funcionamento (financeiro, curricular e pedagógico) daquela instituição de ensino privado e a solenidade do acto público, assim o exigia. Muito bem.
Porém, mesmo que a imaginação de quem respeitosamente o ouviu seja piedosa, parece que as piores das circunstâncias permanecem. O formidável trabalho de expurgação sobre a situação irregular da Universidade Independente, levado a cabo pela conferência de imprensa de hoje, e, do mesmo modo, a clarificação sobre o balbúrdia que foi a Universidade nos tempos idos de 1995/1997, rendeu muito pouco. A vassourada de Mariano Gago não foi higiénica, nem produziu efeitos. A questão, longe de se dissipar, permanece e agrava-se mesmo, tais as contradições presentes e, principalmente, a repugnante ousadia do Ministro em defesa de um ensino sem qualidade sustentado em certificados ou no esperançado canudo, sem que se prescreva a necessidade de esforço, de trabalho, de rigor e validade científica e pedagógica. E, aqui, reside a questão central em todo este caso Unigate. Aliás, pode dizer-se mesmo, de todo o ensino privado e público, do básico ao secundário, do superior ou cooperativo.
Não nos ocupamos, pois, do caso da credibilidade (ou não) do senhor primeiro-ministro, por muito respeitosos possam ser os admiráveis argumentos de Mariano Gago ou mesmo se tal provoca qualquer "regozijo" na canalha partidária. Convenhamos, apenas, que o discurso utilizado por Mariano Gago não é rigoroso nem justificado. Bastará referir a necessidade da existência de um continuidade curricular e pedagógica numa Universidade recém aberta (o que não se verificou entre 1995/97) e atender ao facto que as irregularidades existirem há muitos anos atrás, sem que o controle por parte da Inspecção-Geral da Ciência e do Ensino Superior tenha detectado qualquer falta séria.
Assim, o facto de a UNI passar, de um momento para outro, de uma instituição a funcionar normalmente para registar, depois, um "calamitoso" e "lastimoso" estado de degradação, só ornamenta a frontaria de quem quer. O que é evidente é que uma Inspecção Geral de Ensino que está dependente da tutela, por muito que os senhores inspectores consigam a proeza de terem estatuto de independência e autonomia, não pode apresentar nunca o vigor e a energia que se pretende e que, eles mesmo, exigem e aspiram. Saber que na velha Inglaterra a inspecção de ensino está afecta à Rainha, fora do compadrio partidário e da caridade política, diz muito e explica, também por aqui, a situação do ensino e da educação na paróquia. Vai-se seguir tal exemplo de idoneidade, ou irá continuar esse sentimento de indiferença e de imoralidade? Que o diga Mariano Gago, se para tal estiver interessado.
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