Partido Socialista: um imenso vazio (II)
A contenda em torno da "
luta pela conquista do centro", suposto o eleitorado flutuando como qualquer corsário em busca de abrigo, é recorrente no discurso oficioso. Desastradamente, tal linha conceptual original e comovente, mesmo que nos assegurem a sua referência nos manuais de literatura política, manifesta dificuldades na sua aplicabilidade. A
pluralidade de estratégias de sobrevivência dos
vários clientes que configuram essas posições "
ao centro", só têm sentido em situações bem particulares. E mesmo aí, não é conveniente construção mecanicista na análise e muito menos o assumir, como hipótese, que esse "
centro" é
inamovível ideologicamente. E muito de "
ideológico" mudou nestes tempos últimos, sendo que os eleitores, fortemente informados (globalização
oblige), não são já o lugar da "
irracionalidade". Quer isto dizer, que existe uma "lógica de cuidado" de características noviciadas, perante o impasse económico, social e cultural a que a todos assistimos. Falar da conquista do "
centro" significa, portanto, neste contexto, exactamente o quê? E se considerarmos que há muito está esgotada a
bipolarização, sendo necessárias alianças à direita e à esquerda, então para que serve a luta pelo "
centro"?
Noutro registo: sabia-se da impossibilidade de
António Vitorino, por motivos familiares e por características pessoais, assumir a liderança do seu partido (alguém, curiosamente, explicava as indefinições de
Vitorino recorrendo à metáfora "
sebenteira": isto é, alguém que ao longo de vinte páginas de didáctica jurídica não permite expor o que quer que seja de substantivo, quando é confrontado com resoluções definitivas revela as costumeiras contrariedades). Ninguém duvida que foi uma perda inultrapassável.
Por outro lado,
José Lamego intervém meramente como urgência de ganhar posição num futuro
Ministério dos Negócios Estrangeiros. Por seu turno,
João Soares, por definição, não tem nada a perder e portanto está à vontade, mas o ter perdido com
Santana afasta-o de qualquer cenário credível.
Resta
José Sócrates, estabelecido na ala mais "
direitista" do seu partido, personagem estimada pela classe governamental e mediática. A putativa inflexão à direita do espaço socialista pode-se não verificar totalmente, porque é sabido que o trabalho e o esforço partidário não são o mais forte em
Sócrates, pelo que ficará sempre refém do aparelho, que não controla. E, de facto,
Sócrates não representa a linha de esquerda do seu partido. Esta, embora pouco expressiva capitalizou o despautério de
Sampaio, passe não anunciar ninguém que a habilite à liderança.
Helena Roseta seria uma possibilidade, mas
Jorge Coelho nunca o permitiria. Fica, pois, o maior partido da oposição num
imenso vazio. Num tumultuoso reboliço. Alguém irá ganhar com isso. Estaremos cá para ver.