quinta-feira, 22 de julho de 2004
O Circo Lopes & Portas ou o governo segundo o dr. Sampaio
Não se trata de qualquer descoberta. As coisas sucedem em política, sempre, tal e qual como se aguardava que acontecessem. Em verdade, entre o enfado e o riso, o sentimento claro sobre o laborioso esforço cénico da formação do governo Lopes & Portas é uma desmedida chacota, divertida estouvadice, que por ser tão enjoativa e de má toada deixa toda a gente desassossegada. O tropeço incómodo, mesmo antes de começar a função, destes desencontros ministeriais, a bazófia do soporífero Portas sobre o repositório ambiental de Nobre Guedes ou o mau-olhado aplicado à putativa performance militar de Teresa Caeiro, torna este ofegante governo um enorme disparate. Não se sabe porque razão temos de aturar, mesmo que a diversão seja insuperável, os meneios destes jovens mendigados da coisa pública. Até o inefável Diogo Feio, pasme-se, chegou a Secretário de Estado da Educação.
A paródia destes senhores, com a bênção do dr. Sampaio, revela um total desnivelamento dos critérios de selecção da classe política e sugere ter-se chegado ao grau zero da incompetência. O interesse público assim confiado a infantis funcionários partidários torna impossível abordar qualquer questão com serenidade e objectividade possível. Os episódios lamentáveis destes dias manifestam um atrevimento político do senhor Presidente da República, a saber: a defesa de um governo que, pela primeira vez na história lusa, é possuidor do perfil mais medíocre de sempre. Sabia-se que em toda a vida económica, social e cultural portuguesa se declarava um facilitismo constrangedor, uma banalidade desesperante. Agora, pela mão diluída do dr. Sampaio resplandece no espaço governamental uma alucinada mediocridade. Infeliz deste país que tudo permite. Eis tudo.