sábado, 17 de julho de 2004
O "governo" do dr. Sampaio
"Também os acho pouco asseados: todos sujam as suas águas para as fazer perecer profundas" [Nietzsche]
Confirma-se. O "governo" do dr. Sampaio, sem grandes surpresas, diluindo a intencionalidade de alguns analistas mais manhosos, não conseguiu demover o eterno interesse dos grupos económicos e, singularíssimo, apresenta rostos contorcidos e fermentados para a luta política. Varrido o escol Barrosista, despedidos que foram para o suplício da privada, os novos ministros num arranjo cénico à Parque Mayer lá estão, desconjuntados e fora do seu palco de origem, prontos na sua vaidade ministeriável para imortalizar o pronto-a-servir de Lopes & Portas.
Enquanto isso, o dr. Sampaio, numa ironia very british, fervilha de júbilo pelo cumprimento do dever imperioso da democracia representativa. No seu intimo o dr. Sampaio desvanece-se de emoção perante a presunção da diatribe entre um PP assim musculado e um PPD, de lábia sonsa é um facto, mas refém do cozinhado governamental. Coisa, já se sabe, que os críticos de sofá político não conseguem entender na sua lufa-lufa antisantanista. Na verdade, fora a confusão na orgânica governamental que o ilustre Lopes atabalhoadamente pratica, o que se verifica é uma deliciosa e fascinante insinuação entre um PPD/PSD ávido de ritmo eleitoral (não é verdade mr. José Luís Arnaut & dr. Mexia?) e o re-fundamentalismo de Bagão Félix, em versão agora marialva. O sr. Álvaro Barreto, um clássico, está lá para dar sobriedade governamental. Os outros ... porque não havia mais ninguém.
Assim sendo, não restam dúvidas que enquanto todos ecoam palavras de consagração ao inteligente Lopes (o tal que não pode ser menosprezado), o dr. Portas confeccionou uns valentes pares de ministros, em lugares específicos, capazes de em dois anos o salvarem da hecatombe eleitoral. Não se cuide o dr. Lopes (o tal, dizem, que não pode ser subestimado) que o sequestro está à vista. Resta saber quem desertará em primeiro lugar. Aguardemos.