terça-feira, 13 de julho de 2004


[Sótãos]

"... quando era muito pequenina, também eu tive o meu sótão forrado de jornais velhos, assim com uma janela luminosa

(Os jornais rasgavam-se a toda a hora pois até no chão havia. Inspecção maternal impôs paredes brancas. Revolta filial impôs paredes pintadas com palavras de revolta. Tabefe maternal repôs a ordem)...

nos vários sótãos que fui tendo havia clubes de malfeitores, redacções de jornais que não passavam do primeiro número e cuja equipa era composta apenas por Miss Josephine Marsh, gargalhadas, brigas de vida ou morte, confidências, o funeral de um pássaro morto, reis, rainhas, pobres esfarrapados, aventureiros, o Tom Sawyer, o Huck e gatos com pulgas, um "single" dos Beatles que tocava Love Me Do e outras que não me lembro, livros aos montes, caixas de bolachas, festivais da canção e concursos de dança. E, na maior parte das vezes, só lá estava eu e uma seita de criaturas inventadas ...

Hoje (...) falta-me o sótão e a solidão". [de R. Maltez, enquanto vela o mar, as gaivotas e o pinhal del Rey. Afinal "canto nosso até ser fado"]