quinta-feira, 22 de julho de 2004
Catálogo 66 da Livraria Bizantina
Acaba se sair o Catálogo da Livraria Bizantina (Rua da Misericórdia, nº 147, Lisboa), com um conjunto simpático de monografias e outras peças curiosas, a preços perfeitamente acessíveis.
Algumas referências: Almanaque Ilustrado de Fafe (nºs de 1928, 1930 e 1955) / Boletim Oficial das Festas do 1º de Maio do Concelho do Cartaxo em 1937 / Antologia de Poesia Latina Erótica e Satírica, Afrodite, 1975 / Arte de Roubar Patrões. Conselhos a criados e criadas .... Escripto com Penna de Oiro por uma Macacão Callejado no Serviço, 1883 / O Integralismo Lusitano, de Leão Ramos Ascenção, Edições Gama, 1943 / As Monjas de Semide, por Lino d'Assumpção, Coimbra, 1900 / Sintra e seu Termo, de José de Oliveira Boléo, Lisboa, 1940 / Critica da Critica, e Defensa da Defensa. Dez cartas dedicadas ao Conde de Oeiras, por Pe. Joaquim Velho do Canto, Off. Pedro Ferreira, 1760 / O Gozo de Si Mesmo, do Marquez de Caraccioli, Typ. Rollandiana, 1789 / Notas para a Historia do Jornalismo em Elvas, por António José Torres de Carvalho, nº 1 a 48, 1931-32 / Elucidário do Viajante do Buçaco, de Augusto Mendes Simões de Castro, 1932 / O Mosteiro de Arouca, por Maria Helena da Cruz Coelho, 1988 / Contribuições para a Historia da Imprensa em Moçambique, Codam, 1973 / Subsídios para Historia das Candidaturas Norton de Matos (1949), Quintão Meireles (1952) e Humberto Delgado (1958), Edições Delfos / Colleçam das Antiguidades de Évora escriptas por André de Rezende, Diogo Mendes de Vasconcellos, Gaspar Estaco, Fr. Bernardo de Brito e Manoel Severim de Faria, organização de Bento Joze de Souza Farinha, 1785 / Monografia do Parque da Pena, por Mário de Azevedo Gomes, 1960 / O Convento e a Igreja de S. Francisco de Évora, por M. Carvalho Moniz, 1959 / A Verdade Monárquica, de Alberto de Monsaraz / Vieira de Castro e a Sua Tragédia, por Gomes Monteiro, 1932 / Mosteiro e Coutos de Alcobaça, por M. Vieira Natividade, 1960 / Monografia do Concelho de Loulé, por Athaide Oliveira, 1986 / Camillo Castello Branco. Notas e Documentos: Desaggravos, por Silva Pinto, 1910 / O Concelho de Macedo de Cavaleiros, por Armando Pires, 1963 / Acerca do Integralismo Lusitano, de Raul Proença, 1964 / Memórias da Villa de Arrayolos, de J. H. da Cunha Rivara, Arraiolos, 1983, II vols / Belém e Arredores Através dos Tempos, de José Dias Sanches, 1940 / O Movimento da Unidade democrática e a Moção Política do Porto, por Pedro Veiga (Petrus), 1968
terça-feira, 20 de julho de 2004
Fidelino de Figueiredo (1889-1967)
n. a 20 de Julho de 1889
"... Nem sempre tem sido bem comprehendida a função da bibliographia, como trabalho auxiliar, nem na sua qualidade nem na sua extensão. Essa funcção é bem maior e bem differente do que frequentemente pensam os bibliographos. É fóra de duvida que a bibliographia deve constituir uma especialidade autónoma, como a divisão das funções aconselha, mas é absolutamente necessario que essa bibliographia soffra uma radical transformação, erguendo-se de capricho de collecionadores à categoria de actividade util, de trabalho auxiliar da critica, sem que nessa subalternidade haja dedignidade. Sem uma solida educação critica e sem a vista de conjuncto que dá a representação dum fim superior, o colleccionador é quasi sempre destituido de qualquer noção de valor, que presida à escolha das espécies. Em resultado, como não sabe avaliar, collecciona tudo, sem attender à qualidade, e organiza collecções de superfluidades ..." [Fidelino Figueiredo, in A Critica Litteraria como Sciencia, 1920]
Locais: Fidelino de Figueiredo / Bibliografia / O Homem e a Obra
Papéis & Arrumações
- separata (rara) de Luís de Bívar Guerra, "História Genealógica de uma família do Alentejo", 1949, onde o autor disserta sobre "a assimilação dos judeus no nosso país", quer pela "via religiosa" quer "pelos casamentos mistos". É referido que "da confusão entre os actos do cristianismo e as práticas cripto-judaicas foi nascendo neles um catolicismo adulterado pelas reminiscências do mosaismo", apresentando uma classificação das "famílias eivadas de cristã-novice, quanto à assimilação pelo casamento" em cinco grupos. São considerados casos como o de Barros e Sá ("violentemente acusado de judeu"), e é analisada em pormenor a família Bougado (chamada pelo povo por "Queridos" apelido antes do baptismo) de Matosinhos, citando seguidamente Diogo Ribeiro e Leonor de Castro (de Beja) que tiveram uma filha Maria ("a judia bonita") que casou com Belchior Dias Bocarro de Évora, etc... Apresenta no fim a continuidade genealógica dessa família, bem como os processos consultados para o trabalho.
- separata do Boletim «Estremadura» da Junta da Província (Janeiro a Dezembro de 1959) de Gastão de Bettencourt, intitulada "Folclore do Sul do Brasil Presença de Portugal", onde o autor pretende, a partir do sul do Brasil e com "afinidades" com a região ribatejana, descrever "os núcleos primitivos da colonização naquelas fecundas terras" e, evidentemente, a "vida do gaúcho" (que se assemelha "à vida do nosso campino" "nos costumes campeiros"). É referido que "festejam-se, tal como cá, os três santos de Junho e, dos costumes açoritas lá fixados", a "típica festa do «Divino»" [...Espírito Santo], e depois é feito um estudo comparativo entre um conjunto de danças e músicas do lado brasileiro (Chimarrita, ao que se sabe de procedência açoreana; cordeona, com motivos de fadango; dança pesada, tirana, quero-quero, mancada ou polca antiga) e português. Curioso.
- separata (rara) de Luís de Bívar Guerra, "História Genealógica de uma família do Alentejo", 1949, onde o autor disserta sobre "a assimilação dos judeus no nosso país", quer pela "via religiosa" quer "pelos casamentos mistos". É referido que "da confusão entre os actos do cristianismo e as práticas cripto-judaicas foi nascendo neles um catolicismo adulterado pelas reminiscências do mosaismo", apresentando uma classificação das "famílias eivadas de cristã-novice, quanto à assimilação pelo casamento" em cinco grupos. São considerados casos como o de Barros e Sá ("violentemente acusado de judeu"), e é analisada em pormenor a família Bougado (chamada pelo povo por "Queridos" apelido antes do baptismo) de Matosinhos, citando seguidamente Diogo Ribeiro e Leonor de Castro (de Beja) que tiveram uma filha Maria ("a judia bonita") que casou com Belchior Dias Bocarro de Évora, etc... Apresenta no fim a continuidade genealógica dessa família, bem como os processos consultados para o trabalho.
- separata do Boletim «Estremadura» da Junta da Província (Janeiro a Dezembro de 1959) de Gastão de Bettencourt, intitulada "Folclore do Sul do Brasil Presença de Portugal", onde o autor pretende, a partir do sul do Brasil e com "afinidades" com a região ribatejana, descrever "os núcleos primitivos da colonização naquelas fecundas terras" e, evidentemente, a "vida do gaúcho" (que se assemelha "à vida do nosso campino" "nos costumes campeiros"). É referido que "festejam-se, tal como cá, os três santos de Junho e, dos costumes açoritas lá fixados", a "típica festa do «Divino»" [...Espírito Santo], e depois é feito um estudo comparativo entre um conjunto de danças e músicas do lado brasileiro (Chimarrita, ao que se sabe de procedência açoreana; cordeona, com motivos de fadango; dança pesada, tirana, quero-quero, mancada ou polca antiga) e português. Curioso.
segunda-feira, 19 de julho de 2004
Mayakovsky (1893-1930)
n. a 19 de Julho de 1893
Locais: Vladimir Vladimirovich Mayakovsky 1893-1930 / Mayakovsky and His Circle / Vladimir Mayakovsky / Vladimir Majakovski (1893-1930) / Vladimir Vladimirovich Mayakovsky / Slap in the Face of Public Taste (Manifesto Futurista)
Livros & Arrumações
- conferência de Magnus Bergstrom intitulada "O Amor e a Saudade em Portugal", "pronunciada no Teatro Nacional de Almeida Garrett, aos 2 de Fevereiro de 1930, na primeira representação em português, da ópera «Crisfal», poema de Afonso Lopes Vieira e música de Ruy Coelho". Refere: "... D. Duarte, taciturno e filósofo, estudando a saudade nas suas causas, define-a «sentido do coraçom». Bernardino Ribeiro simboliza-a no rouxinol, que, depois de pousar num verde ramo e de cantar docemente, se deixa cair morto sobre a água ..."
- n'A Arte Musical, ano VI, nº 121 (15 de Janeiro de 1904) existe um texto biográfico sobre o Conde de Farrobo . Refere o autor, Francisco da Fonseca Benevides, que o Conde de Farrobo prestou "grandes serviços á cauda liberal, na lucta entre D. Pedro e D. Miguel". Salienta que tendo a esquadra liberal a 11 de Outubro de 1832, comandada por Sartorius, "destroçado a esquadra miguelista", os marinheiros vencedores amotinaram-se "por não lhe pagarem as soldadas". Nessa situação o Conde de Farrobo adiantou "os fundos necessários". Ao que nos é dito a "grandiosidade do Conde de Farrobo era porém excedida pelo seu incurável desleixo" e, assim, "foram tristes os últimos annos da [sua] vida", de tal forma que "a perda da sua fortuna foi acompanhada de um espécie de depressão mental", tendo falecido a 24 de Setembro de 1869. Apresenta, ainda, a revista um interessante trabalho sobre "Violas d'Arco" e um curioso texto de Alberto Pimentel, "Camões e a Opera".
- conferência de Magnus Bergstrom intitulada "O Amor e a Saudade em Portugal", "pronunciada no Teatro Nacional de Almeida Garrett, aos 2 de Fevereiro de 1930, na primeira representação em português, da ópera «Crisfal», poema de Afonso Lopes Vieira e música de Ruy Coelho". Refere: "... D. Duarte, taciturno e filósofo, estudando a saudade nas suas causas, define-a «sentido do coraçom». Bernardino Ribeiro simboliza-a no rouxinol, que, depois de pousar num verde ramo e de cantar docemente, se deixa cair morto sobre a água ..."
- n'A Arte Musical, ano VI, nº 121 (15 de Janeiro de 1904) existe um texto biográfico sobre o Conde de Farrobo . Refere o autor, Francisco da Fonseca Benevides, que o Conde de Farrobo prestou "grandes serviços á cauda liberal, na lucta entre D. Pedro e D. Miguel". Salienta que tendo a esquadra liberal a 11 de Outubro de 1832, comandada por Sartorius, "destroçado a esquadra miguelista", os marinheiros vencedores amotinaram-se "por não lhe pagarem as soldadas". Nessa situação o Conde de Farrobo adiantou "os fundos necessários". Ao que nos é dito a "grandiosidade do Conde de Farrobo era porém excedida pelo seu incurável desleixo" e, assim, "foram tristes os últimos annos da [sua] vida", de tal forma que "a perda da sua fortuna foi acompanhada de um espécie de depressão mental", tendo falecido a 24 de Setembro de 1869. Apresenta, ainda, a revista um interessante trabalho sobre "Violas d'Arco" e um curioso texto de Alberto Pimentel, "Camões e a Opera".
sábado, 17 de julho de 2004
O "governo" do dr. Sampaio
"Também os acho pouco asseados: todos sujam as suas águas para as fazer perecer profundas" [Nietzsche]
Confirma-se. O "governo" do dr. Sampaio, sem grandes surpresas, diluindo a intencionalidade de alguns analistas mais manhosos, não conseguiu demover o eterno interesse dos grupos económicos e, singularíssimo, apresenta rostos contorcidos e fermentados para a luta política. Varrido o escol Barrosista, despedidos que foram para o suplício da privada, os novos ministros num arranjo cénico à Parque Mayer lá estão, desconjuntados e fora do seu palco de origem, prontos na sua vaidade ministeriável para imortalizar o pronto-a-servir de Lopes & Portas.
Enquanto isso, o dr. Sampaio, numa ironia very british, fervilha de júbilo pelo cumprimento do dever imperioso da democracia representativa. No seu intimo o dr. Sampaio desvanece-se de emoção perante a presunção da diatribe entre um PP assim musculado e um PPD, de lábia sonsa é um facto, mas refém do cozinhado governamental. Coisa, já se sabe, que os críticos de sofá político não conseguem entender na sua lufa-lufa antisantanista. Na verdade, fora a confusão na orgânica governamental que o ilustre Lopes atabalhoadamente pratica, o que se verifica é uma deliciosa e fascinante insinuação entre um PPD/PSD ávido de ritmo eleitoral (não é verdade mr. José Luís Arnaut & dr. Mexia?) e o re-fundamentalismo de Bagão Félix, em versão agora marialva. O sr. Álvaro Barreto, um clássico, está lá para dar sobriedade governamental. Os outros ... porque não havia mais ninguém.
Assim sendo, não restam dúvidas que enquanto todos ecoam palavras de consagração ao inteligente Lopes (o tal que não pode ser menosprezado), o dr. Portas confeccionou uns valentes pares de ministros, em lugares específicos, capazes de em dois anos o salvarem da hecatombe eleitoral. Não se cuide o dr. Lopes (o tal, dizem, que não pode ser subestimado) que o sequestro está à vista. Resta saber quem desertará em primeiro lugar. Aguardemos.
Erle Stanley Gardner [n. 17 Julho 1889 - 1970]
"Murder is not perpetrated in a vacuum. It is a product of greed, avarice, hate, revenge, or perhaps fear. As a splashing stone sends ripples to the farthest edges of the pond, murder affects the lives of many people." [in, The Case of the Horrified Heirs, 1964 - Ver Aqui]
Papeladas & Arrumações
- curioso "ensaio de critica leve, de philosophia amena", denominado "Cartas Biologicas", de Pires de Mirandola, editor Carlos Viana (s/d). Diz-nos: "... É evidente que nem todos podem mandar e que, por mais systemas e teorias que se inventem, ha-de ser sempre um pequenissimo núcleo de homens que ha-de governar os povos e estes quando são sensatos, intelligentes e praticos como o inglez, o allemão, o belga e outros assim o entendem e executam. O portuguezinho valente não: ... não há um único que não se julgue habilitadissimo e competentíssimo para salvar a Pátria e então se chega a ser qualquer coisa como caixeiro ali da respeitabelissima tenda dos srs. Jyronimo Martins & Filhos o menos com que se contenta é com uma estatua de pedra. Qualquer sapateiro de escada, em vez de se occupar conscientemente em deitar tombas e por meias solas, a única coisa em que pensa é tocar um solo de rabecão e se apparece alguém com geito para o rabecão esse quer logo ser jornalista ou deputado ..."
- interessante conferência "proferida na Faculdade de Letras de Coimbra em 10 de Março de 1963", por Adriano Moreira, sobre "O Neutralismo". Como "determinantes políticas do neutralismo" é referido: "sendo o anticolonialismo o principal elemento da ideologia neutralista, o nacionalismo é a sua preocupação dominante."
- curioso "ensaio de critica leve, de philosophia amena", denominado "Cartas Biologicas", de Pires de Mirandola, editor Carlos Viana (s/d). Diz-nos: "... É evidente que nem todos podem mandar e que, por mais systemas e teorias que se inventem, ha-de ser sempre um pequenissimo núcleo de homens que ha-de governar os povos e estes quando são sensatos, intelligentes e praticos como o inglez, o allemão, o belga e outros assim o entendem e executam. O portuguezinho valente não: ... não há um único que não se julgue habilitadissimo e competentíssimo para salvar a Pátria e então se chega a ser qualquer coisa como caixeiro ali da respeitabelissima tenda dos srs. Jyronimo Martins & Filhos o menos com que se contenta é com uma estatua de pedra. Qualquer sapateiro de escada, em vez de se occupar conscientemente em deitar tombas e por meias solas, a única coisa em que pensa é tocar um solo de rabecão e se apparece alguém com geito para o rabecão esse quer logo ser jornalista ou deputado ..."
- interessante conferência "proferida na Faculdade de Letras de Coimbra em 10 de Março de 1963", por Adriano Moreira, sobre "O Neutralismo". Como "determinantes políticas do neutralismo" é referido: "sendo o anticolonialismo o principal elemento da ideologia neutralista, o nacionalismo é a sua preocupação dominante."
quinta-feira, 15 de julho de 2004
Rosalía de Castro (1837-1885)
m. a 15 de Julho de 1885
"Escritora galega. Descendente, por parte de sua mãe, de uma família da velha nobreza, o facto de ser filha ilegítima de um sacerdote marca-a profundamente desde muito jovem. Escreve em galego e em castelhano e acaba por se tornar um elemento preponderante do «Resurdimento Galego». Aos vinte anos publica La flor, seu primeiro livro de versos. Nos seus Cantares gallegos (1863), breves glosas de canções populares, manifesta a sua intensa nostalgia da terra galega. Em Follas novas (1880), obra de uma maior intensidade lírica, exprime a sua intimidade com mestria e simplicidade, abordando a natureza como puro símbolo da sua nostalgia desenganada. En las orillas del Sar (1885) acentua-se o seu pessimismo. Os temas predominantes nesta colectânea são a inelutável realidade da dor, a inexorável passagem do tempo e um obsessivo sentimento da morte. No conjunto, a sua obra gira em torno de três temas básicos: uma visão costumeira da Galiza rural, um conteúdo metafísico que a parece aproximar da filosofia existencial e a denúncia das assimetrias sociais da Galiza. Por outro lado, Rosalía é uma importante inovadora estilística, pois utiliza novos ritmos, mais flexíveis e harmoniosos do que os usuais na sua época." [ver aqui]
Locais: Rosalía de Castro (1837-1885) / Biografia / Rosalia (biografia & obra) / Poemas / Rosalía de Castro (Títulos digitalizados) / Rosalia Castro (Cantares Gallegos) / Rosalía de Castro - o el color de la amargura
[Horas Tras Hora ...]
Hora tras hora, día tras día,
entre el cielo y la tierra que quedan
eternos vigías,
como torrente que se despeña,
pasa la vida.
Devolvedle a la flor su perfume
después de marchita;
de las ondas que besan la playa
y que una tras otra besándola expiran.
Recoged los rumores, las quejas,
y en planchas de bronce grabad su armonía.
Tiempos que fueron, llantos y risas,
negros tormentos, dulces mentiras,
¡ay!, ¿en dónde su rastro dejaron,
en dónde, alma mía?
Partido Socialista: um imenso vazio (II)
A contenda em torno da "luta pela conquista do centro", suposto o eleitorado flutuando como qualquer corsário em busca de abrigo, é recorrente no discurso oficioso. Desastradamente, tal linha conceptual original e comovente, mesmo que nos assegurem a sua referência nos manuais de literatura política, manifesta dificuldades na sua aplicabilidade. A pluralidade de estratégias de sobrevivência dos vários clientes que configuram essas posições "ao centro", só têm sentido em situações bem particulares. E mesmo aí, não é conveniente construção mecanicista na análise e muito menos o assumir, como hipótese, que esse "centro" é inamovível ideologicamente. E muito de "ideológico" mudou nestes tempos últimos, sendo que os eleitores, fortemente informados (globalização oblige), não são já o lugar da "irracionalidade". Quer isto dizer, que existe uma "lógica de cuidado" de características noviciadas, perante o impasse económico, social e cultural a que a todos assistimos. Falar da conquista do "centro" significa, portanto, neste contexto, exactamente o quê? E se considerarmos que há muito está esgotada a bipolarização, sendo necessárias alianças à direita e à esquerda, então para que serve a luta pelo "centro"?
Noutro registo: sabia-se da impossibilidade de António Vitorino, por motivos familiares e por características pessoais, assumir a liderança do seu partido (alguém, curiosamente, explicava as indefinições de Vitorino recorrendo à metáfora "sebenteira": isto é, alguém que ao longo de vinte páginas de didáctica jurídica não permite expor o que quer que seja de substantivo, quando é confrontado com resoluções definitivas revela as costumeiras contrariedades). Ninguém duvida que foi uma perda inultrapassável.
Por outro lado, José Lamego intervém meramente como urgência de ganhar posição num futuro Ministério dos Negócios Estrangeiros. Por seu turno, João Soares, por definição, não tem nada a perder e portanto está à vontade, mas o ter perdido com Santana afasta-o de qualquer cenário credível.
Resta José Sócrates, estabelecido na ala mais "direitista" do seu partido, personagem estimada pela classe governamental e mediática. A putativa inflexão à direita do espaço socialista pode-se não verificar totalmente, porque é sabido que o trabalho e o esforço partidário não são o mais forte em Sócrates, pelo que ficará sempre refém do aparelho, que não controla. E, de facto, Sócrates não representa a linha de esquerda do seu partido. Esta, embora pouco expressiva capitalizou o despautério de Sampaio, passe não anunciar ninguém que a habilite à liderança. Helena Roseta seria uma possibilidade, mas Jorge Coelho nunca o permitiria. Fica, pois, o maior partido da oposição num imenso vazio. Num tumultuoso reboliço. Alguém irá ganhar com isso. Estaremos cá para ver.
A contenda em torno da "luta pela conquista do centro", suposto o eleitorado flutuando como qualquer corsário em busca de abrigo, é recorrente no discurso oficioso. Desastradamente, tal linha conceptual original e comovente, mesmo que nos assegurem a sua referência nos manuais de literatura política, manifesta dificuldades na sua aplicabilidade. A pluralidade de estratégias de sobrevivência dos vários clientes que configuram essas posições "ao centro", só têm sentido em situações bem particulares. E mesmo aí, não é conveniente construção mecanicista na análise e muito menos o assumir, como hipótese, que esse "centro" é inamovível ideologicamente. E muito de "ideológico" mudou nestes tempos últimos, sendo que os eleitores, fortemente informados (globalização oblige), não são já o lugar da "irracionalidade". Quer isto dizer, que existe uma "lógica de cuidado" de características noviciadas, perante o impasse económico, social e cultural a que a todos assistimos. Falar da conquista do "centro" significa, portanto, neste contexto, exactamente o quê? E se considerarmos que há muito está esgotada a bipolarização, sendo necessárias alianças à direita e à esquerda, então para que serve a luta pelo "centro"?
Noutro registo: sabia-se da impossibilidade de António Vitorino, por motivos familiares e por características pessoais, assumir a liderança do seu partido (alguém, curiosamente, explicava as indefinições de Vitorino recorrendo à metáfora "sebenteira": isto é, alguém que ao longo de vinte páginas de didáctica jurídica não permite expor o que quer que seja de substantivo, quando é confrontado com resoluções definitivas revela as costumeiras contrariedades). Ninguém duvida que foi uma perda inultrapassável.
Por outro lado, José Lamego intervém meramente como urgência de ganhar posição num futuro Ministério dos Negócios Estrangeiros. Por seu turno, João Soares, por definição, não tem nada a perder e portanto está à vontade, mas o ter perdido com Santana afasta-o de qualquer cenário credível.
Resta José Sócrates, estabelecido na ala mais "direitista" do seu partido, personagem estimada pela classe governamental e mediática. A putativa inflexão à direita do espaço socialista pode-se não verificar totalmente, porque é sabido que o trabalho e o esforço partidário não são o mais forte em Sócrates, pelo que ficará sempre refém do aparelho, que não controla. E, de facto, Sócrates não representa a linha de esquerda do seu partido. Esta, embora pouco expressiva capitalizou o despautério de Sampaio, passe não anunciar ninguém que a habilite à liderança. Helena Roseta seria uma possibilidade, mas Jorge Coelho nunca o permitiria. Fica, pois, o maior partido da oposição num imenso vazio. Num tumultuoso reboliço. Alguém irá ganhar com isso. Estaremos cá para ver.
quarta-feira, 14 de julho de 2004
Partido Socialista: um imenso vazio (I)
"A piedade é cruel. A piedade destrói. Não há amor seguro quando a piedade espreita" [Graham Greene]
Estes últimos anos, com a incapacidade desconcertante de regenerar a classe política que as corporações de interesses que habitam em cada partido não permitem, têm sido uma lista de mazelas amargurada, uma fatigada e corrosiva tortura, uma desastrada cacofonia de disparates que dramatizam a vida social e política portuguesa. E na verdade pouco há, ainda, a esperar quando somos suspeitosos de quedarmos "ser sem desejo, sem despeito, sem revolta" [G. Pérec].
Varridos pelo presumido imprevisto que a indecorosa decisão de Jorge Sampaio fez tombar no espectro político-partidário, aturdidos pela obscenidade de ter um primeiro-ministro estouvado politicamente e obsequiante partidariamente, indiferentes ao "assassinato" político de Ferro Rodrigues (que muito a jeito se colocou, diga-se) por acofiados analistas e pela "tralha" socialista, descobrimos, de repente, que estamos manietados em "jogos de poder" que lamentamos, mas que somos impotentes para ultrapassar. Porém, a emotividade da putativa indignação que nos assalta faz-nos desprezar as origens desta agonia que a crise política comporta. Fala-se, evidentemente, do clientelismo e do monopólio dos interesses que nas estruturas partidárias substituem o carácter, a coragem e a verdade de servir os cidadãos e o país. Essa estranha maldição, resultante da conflitualidade entre "tradição" e "modernidade", não pode interferir no nosso labirinto dos afectos sob pena de cairmos no dizer de Cesariny de Vasconcelos: "aquele que se mete a autorizar a autoridade de quem desautoriza não sabe no que se mete".
[a continuar]
[Não me venham dizer]
"Não me venham dizer
que os choupos despidos lembram mágoas
se o sol os veste, solitários e altivos,
erguidos sobre as águas
Longe vem vindo os barqueiros,
metidos no rio até às virilhas.
Nas ínsuas correm em liberdade os potros,
embora mais tarde vão pelas estradas,
seus flancos cingidos pelas cilhas"
[João José Cochofel, in Canção monótona para adormecer o poeta]
"Não me venham dizer
que os choupos despidos lembram mágoas
se o sol os veste, solitários e altivos,
erguidos sobre as águas
Longe vem vindo os barqueiros,
metidos no rio até às virilhas.
Nas ínsuas correm em liberdade os potros,
embora mais tarde vão pelas estradas,
seus flancos cingidos pelas cilhas"
[João José Cochofel, in Canção monótona para adormecer o poeta]
terça-feira, 13 de julho de 2004
[Sótãos]
"... quando era muito pequenina, também eu tive o meu sótão forrado de jornais velhos, assim com uma janela luminosa
(Os jornais rasgavam-se a toda a hora pois até no chão havia. Inspecção maternal impôs paredes brancas. Revolta filial impôs paredes pintadas com palavras de revolta. Tabefe maternal repôs a ordem)...
nos vários sótãos que fui tendo havia clubes de malfeitores, redacções de jornais que não passavam do primeiro número e cuja equipa era composta apenas por Miss Josephine Marsh, gargalhadas, brigas de vida ou morte, confidências, o funeral de um pássaro morto, reis, rainhas, pobres esfarrapados, aventureiros, o Tom Sawyer, o Huck e gatos com pulgas, um "single" dos Beatles que tocava Love Me Do e outras que não me lembro, livros aos montes, caixas de bolachas, festivais da canção e concursos de dança. E, na maior parte das vezes, só lá estava eu e uma seita de criaturas inventadas ...
Hoje (...) falta-me o sótão e a solidão". [de R. Maltez, enquanto vela o mar, as gaivotas e o pinhal del Rey. Afinal "canto nosso até ser fado"]
Papus (1865-1916)
n. na Coruña a 13 de Julho de 1865
Locais: Papus (1865-1916) / Papus / Biografia (pt) / Papus (idem) / Docteur Gérard (Anaclet Vincent) Encausse / Dr Gérard Encausse, dit "Papus" (1865-1916) / Papus and L'Ordre Martiniste / Notas sobre el ocultismo en la poesia hispanoamericana moderna / O Mago, Metáfora do Poeta / Parte Iniciática: o Ocultismo (Papus)
Livros & Arrumações
- importante publicação do manuscrito «Despertador da Agricultura de Portugal» de autoria do intendente D. Luís Ferrari Mordau, valioso para a história da economia portuguesa do século XVIII, sob direcção de Moses Bensabat Amzalak, Lisboa 1951. Inocêncio Francisco da Silva e, posteriormente, Brito Aranha (Bibliografia da Exposição Agrícola de 1884) referem-se a Luiz Ferrari Mordau e ao seu livro manuscrito, ao que parece adquirido "por Brito Aranha à família do falecido juiz Almeida do Amaral que o comprou entre os anos de 1830 e 1840 a uma ferro velho". Diz-se mais: "Por estas indicações sabe-se que pelo menos existem dois exemplares deste manuscrito um na Biblioteca Pública Eborense, e outro que pertenceu a Brito Aranha e cujo paradeiro actual ignoro". Amzalak na sua introdução refere que o «Despertador da Agricultura de Portugal», "reflecte as ideias da época sobre a agricultura [e] revela a influência do fisiocratismo".
- um artigo de A. De Magalhães Basto, publicado no Terceiro Congresso (p. 461 a 491) intitulado "Notícia dos manuscritos pertencentes à história do reinado de D. Sebastião que existem na Biblioteca Pública Municipal do Porto". Curioso.
- invulgar "mensário de critica livre" denominado "Pró Musica", propriedade e edição de Ruy Coelho. No nº 1 (1 de Novembro de 1916) existe uma polémica interessante com Freitas Branco, Humperdinck, Moreira de Sá e o próprio Ruy Coelho.
- importante publicação do manuscrito «Despertador da Agricultura de Portugal» de autoria do intendente D. Luís Ferrari Mordau, valioso para a história da economia portuguesa do século XVIII, sob direcção de Moses Bensabat Amzalak, Lisboa 1951. Inocêncio Francisco da Silva e, posteriormente, Brito Aranha (Bibliografia da Exposição Agrícola de 1884) referem-se a Luiz Ferrari Mordau e ao seu livro manuscrito, ao que parece adquirido "por Brito Aranha à família do falecido juiz Almeida do Amaral que o comprou entre os anos de 1830 e 1840 a uma ferro velho". Diz-se mais: "Por estas indicações sabe-se que pelo menos existem dois exemplares deste manuscrito um na Biblioteca Pública Eborense, e outro que pertenceu a Brito Aranha e cujo paradeiro actual ignoro". Amzalak na sua introdução refere que o «Despertador da Agricultura de Portugal», "reflecte as ideias da época sobre a agricultura [e] revela a influência do fisiocratismo".
- um artigo de A. De Magalhães Basto, publicado no Terceiro Congresso (p. 461 a 491) intitulado "Notícia dos manuscritos pertencentes à história do reinado de D. Sebastião que existem na Biblioteca Pública Municipal do Porto". Curioso.
- invulgar "mensário de critica livre" denominado "Pró Musica", propriedade e edição de Ruy Coelho. No nº 1 (1 de Novembro de 1916) existe uma polémica interessante com Freitas Branco, Humperdinck, Moreira de Sá e o próprio Ruy Coelho.
segunda-feira, 12 de julho de 2004
Santana: o primeiro coelho da cartola
"Quem espera por sapatos de defunto morre descalço" [J. César Monteiro]
Há no discurso de Santana Lopes, ao fim de contas, um aliciamento que faz vibrar a alma de uma qualquer mulher-a-dias ou de cavalheiros aborrecidos pelo tédio dos botequins. O rebanho chocalhante, assim respigado do anonimato, crepita de paixão ao ritmo de cada frase do Lopes, silva em alarido durante qualquer exposição do sagaz Santana, harpeja conspicuamente em defesa do admirável Pedro. O que se ouviu, neste dia, pelas rádios e TV's é esclarecedor. Eis, de facto, PSL no seu melhor.
A choramingada lamúria que hoje ressurgiu, com o enlevo emotivo do grandioso lançamento do cenário PSL na SIC e contra a "inaudita" trovoada de argumentos do enxame oposicionista, como se esperava conseguiu os seus intentos. Os indígenas, nos quais devotamente nos filiamos, num tropel de desatino delicioso, prestaram-se a analisar, debater e improvisar o primeiro coelho que o Pedro Santana Lopes tirou da cartola, a saber: a deslocalização ministerial.
Foi isto, de facto, que o fulgurante Lopes, depois de muito matutar, deixou cair para entreter os analistas e embalar a opinião pública. No tempo que dura o queimar de um fósforo, o novo primeiro-ministro conseguiu por toda a gente a discutir a "obrinha" populista saída da sua imaginativa actividade intelectual, deixando cair o pouco sério (já se vê) esclarecimento sobre o programa económico e social da nova governação.
Muitos mais coelhos serão rigorosa e oportunamente lançados à multidão. O espectáculo aí está. Pobres daqueles que pensavam em grandes magias e erudições políticas. Basta um coelho de cada vez, para não desenganar a grandeza do génio. Podem crer.
Pablo Neruda (1904-1973)
n. no Parral (Chile) a 12 de Julho de 1904
"... As pessoas atravessam o mundo na actualidade
quase sem recordando que possuem um corpo e dentro dele a vida,
e há medo, há medo no mundo das palavras que designam o corpo,..."
[P.N., in Ritual da Minhas Pernas]
"... licenciado, ingressa na carreira consular e a folha oficial nomeia-o par a Birmânia. Aí escreverá grande parte da famosa Residência en la tierra, experiência maior que se oferece à discussão - ainda hoje - dos pesquisadores de ressonâncias surrealistas (...) Será em Buenos Aires que ele conhece pessoalmente Lorca.
Esta vivência espanhola, coincidente grosso modo com a guerra civil, aprofunda a viragem de Pablo Neruda em direcção à temática social, viragem para a qual já arrancara, mas que é sedimentada agora pela proximidade da luta. Leia-se como exemplo a Tercera residencia (1942), e principalmente os poemas de España en el corazón, ali incluídos depois duma publicação autónoma em 1937. Dessa época há a recordar ainda a co-organização, com Aragon e outros, do Congresso dos Escritores (Madrid, 1937), e a direcção duma revista, Caballo verde para la poesia, onde colaboram os principais nomes engagés da época ..." [Fernando Assis Pacheco, in Prefácio à Antologia Breve de Pablo Neruda, Cadernos de Poesia, D. Quixote, 1969]
"Eu rio-me,
sorrio
dos velhos poetas,
eu adoro toda
a poesia escrita,
todo o orvalho,
lua, diamante, gota
de prata submergida
que foi o meu irmão de outros tempos
acrescentando à rosa,
mas
sorrio,
dizem sempre «eu»,
a cada passo
sucede-lhes qualquer coisa
e é sempre «eu»,
pela rua
só eles andam
ou a doce amada,
mais ninguém,..." [P.N., in O Homem Invisível]
[Portugalidade]
"Menina e moça me levaram de casa de meu pai para longes terras. Qual fosse então a causa daquela minha levada - era pequena - não na soube" [Bernardim Ribeiro]
"... não temos que criar um mito, senão que renová-lo. Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o incarnar. Feito isso, cada um de nós independentemente e a sós consigo, o sonho se derramará sem esforço em tudo que dissermos ou escrevermos e a atmosfera estará criada, em que todos os outros, como nós o respirem. Então se dará na alma da nação o fenómeno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Criação do Mundo Novo, o Quinto Império"
[Fernando Pessoa]
"A verdade não pode ser transmitida à humanidade porque a humanidade não a compreenderia. Só por símbolo, portanto, pode a verdade ser-lhe dada; de sorte que vendo o símbolo sinta a verdade sem a compreender" [Fernando Pessoa]
[Bibliomanias & Almocreve]
domingo, 11 de julho de 2004
[Ainda Sophia]
"Neste país, paraíso triste, de séculos em séculos acontecem milagres.
A Sophia foi um dos milagres acontecidos à nossa alma. Visionária do visível, reinventou uma sonoridade límpida para os nomes que damos às coisas, o mar, a luz, o fogo, a cal dos quartos onde se cresceu só, a justiça, a liberdade. Durante anos levantou a cabeça das nossas crianças para o assombro.
Fê-lo por uma conjunção muito difícil de encontrar no ser português: a paixão da claridade e a capacidade de confronto com o caos. Acho que foi essa a essência da sua vida e da sua obra: usar o gume da palavra clara e justa contra o horror e a espessura opaca do mundo que não cessaram nunca de a acossar. Perdemos também isso e a sua incitação a uma alegria por vezes feroz; indomável como a das grandes crianças. Perdemos a menina do mar alto ..."
[Maria Velho da Costa, Visionária do Visível, texto lido na missa para Sophia de Mello Breyner Andresen, na Igreja da Graça, em Lisboa, a 4 de Julho de 2004]
"Neste país, paraíso triste, de séculos em séculos acontecem milagres.
A Sophia foi um dos milagres acontecidos à nossa alma. Visionária do visível, reinventou uma sonoridade límpida para os nomes que damos às coisas, o mar, a luz, o fogo, a cal dos quartos onde se cresceu só, a justiça, a liberdade. Durante anos levantou a cabeça das nossas crianças para o assombro.
Fê-lo por uma conjunção muito difícil de encontrar no ser português: a paixão da claridade e a capacidade de confronto com o caos. Acho que foi essa a essência da sua vida e da sua obra: usar o gume da palavra clara e justa contra o horror e a espessura opaca do mundo que não cessaram nunca de a acossar. Perdemos também isso e a sua incitação a uma alegria por vezes feroz; indomável como a das grandes crianças. Perdemos a menina do mar alto ..."
[Maria Velho da Costa, Visionária do Visível, texto lido na missa para Sophia de Mello Breyner Andresen, na Igreja da Graça, em Lisboa, a 4 de Julho de 2004]
Maria Lurdes Pintassilgo - uma Missão Cumprida
O que nos resta, ainda, do mundo? A paixão que deixamos, sem vestígios, sobre as coisas, a mansidão da grande saudade, a memória que não amordaça a boca. O vazio que nos deixa a partida de Maria Lurdes Pintassilgo representa isso tudo. E ainda mais, porque demasiado nos deu. A generosidade da sua missão entre nós fazem-nos permanecer de olhos enxutos pela força de a guardar na memória.
Que descanse em paz.
sábado, 10 de julho de 2004
Irresponsabilidade
"... encontrou o ponto arquimediano, mas utilizou-o contra si mesmo; ao que parece, esta era a condição para o encontrar" [Franz Kafka]
Não temos nenhuma promessa com o senhor Presidente da República. Não lhe devemos por isso nada, senão a consideração que um cidadão deve ter, diante do Presidente do seu país. No invés, na mais amáveis das suposições, seria de presumir que o Presidente eleito pelos portugueses, em circunstâncias singulares, não faria a desafronta de nos presentear com uma inaudita decisão, constitucionalmente restritiva, politicamente imprudente e pessoalmente irresponsável.
A decisão de não convocar eleições é um monumental erro de apreciação política e, contrariamente ao desejado, não permite afirmar que se defendeu a "estabilidade política", o "regular funcionamento das instituições", nem se prova que se garanta "as condições de regularidade, legitimidade e autenticidade democráticas". A "visão mandatária" da democracia do senhor Presidente, além de nos desfeitear politicamente, comporta conflitos insanáveis e perplexidades várias, sendo que parte da sua argumentação, direccionada a quem o elegeu, era completamente dispensável.
Assim: a actual coligação (que não foi a voto popular) não sufragou nas urnas eleitorais o actual programa do governo, conforme é sabido (tenha-se em conta o programa publicitado pelo PSD e o PP, e o que foi reescrito depois); os eleitores "no termo da legislatura" (quatro anos) não podem julgar a actividade do governo, porque ele deixou de existir, não havendo garantias (ninguém o pode assegurar) que o próximo seja do mesmo teor do anterior; ao afirmar que "não compete ao presidente governar" e ao mesmo tempo estabelecer condições para o seu funcionamento (terá feito o mesmo com o governo de Durão Barroso?) e controlo, não só está a co-responsabilizar-se politicamente (o que é curioso) como introduz um indisfarçado presidencialismo déjà-vue; portanto não se compreende as declarações que proferiu em defesa da sua posição.
E - noutro registo - se o senhor Presidente, num momento de desmando insensato, considera provável que a dupla Lopes & Portas lhe conceda a amabilidade de lhe dar argumentos para uma subsequente dissolução da AR, então estará a descuidar que uma chamada a eleições nesse cenário (e a vitimização que o caso estabelece) torna mais acessível qualquer vitória eleitoral para a coligação. O que não deixa de ser espantoso.
sexta-feira, 9 de julho de 2004
[Como devo lutar?]
"Tu vem procurar Me-ti e diz: quero tomar parte da luta de classes; ensina-me. Me-ti diz: senta-te. Tu senta-se e pergunta: como devo lutar? Me-ti ri-se e diz: estas bem sentado? Não sei, diz Tu admirado, de que outra maneira me sentar? Me-ti explicou-lho. Mas, diz Tu com impaciência, não vim para aprender a sentar-me. Eu sei, queres aprender a lutar, diz pacientemente Me-ti, mas para isso é preciso estares bem sentado, porque de momento estamos sentados e é sentados que queremos aprender. Tu diz: se se procura sempre tomar a posição mais cómoda e tirar o melhor partido do que existe, ou seja se se procura o seu prazer, como lutar? Me-ti respondeu: se se não procura o seu prazer, se se não quer tirar o melhor partido do que existe e se não se quer tomar a melhor posição, para quê lutar?" [Bertolt Brecht]
Vinicius de Moraes (1913-1980)
m. no Rio de Janeiro a 9 de Julho de 1980
"... Vinicius é um poeta muito complexo (...) e arriscaríamos, até, a afirmação de que na moderna poesia brasileira não conhecemos outro poeta em que a tessitura seja tão variada.
Muitas dessas linhas são facilmente discerníveis: há uma linha William Blake, uma linha Rimbaud-Apollinaire, uma linha Camões, uma linha romanceiros, etc., linhas essas que o Poeta toma, abandona, retoma, e que, mais do que influências, são linhas de parentesco. (...) Escolher Vinicius foi, finalmente, questão de prazer. Razoável conhecedor da sua obra, só agora tive a oportunidade de me dar conta de quanto ela é importante para a formação duma coisa que se chama gosto, esse gosto que pomos em comer, em amar, em conviver..." [Alexandre O'Neill, in Vinicius de Moraes, O Poeta Apresenta o Poeta, Cadernos de Poesia, D. Quixote, 1969]
"... Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos
Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também ..."
[VM, in O Desespero da Piedade]
"... Preliminarmente telegrafar-te-ei uma dúzia de rosas
Depois te levarei a comer um shop-suey
Se a tarde também for loura abriremos a capota
Teus cabelos ao vento marcarão oitenta milhas.
..........
Mascaremos cada um uma caixa de goma
E iremos no Chinese cheirando a hortelã-pimenta
A cabeça no meu ombro sonharás duas horas
Enquanto eu me divirto no teu seio de arame ..."
[V.M., in História Passional, Hollywood, Califórnia]
Locais: Vinicius de Moraes (Biografia) / Biografia / Biografia & Discografia / Vinicius de Moraes Auto-retrato / Vinicius de Moraes (1913-1980) / Poesia / Letras de canções [Valsinha / Garota de Ipanema / ...] / Canções / Sonetos [Soneto da Separação, ...] / Discografia
Arrumos & Papéis
- curioso periódico (quinzenal) com redacção em Viana do Castelo, de nome "Lusa" (1918, Ano II), cujo editor e director era Cláudio Basto. No seu segundo ano diz-nos: "... revista de intuitos honestos, somente norteada pelo propósito de ser útil, alheia às nacionais charlatanices de chafaricas e mediocridades improdutivas ...". Com várias alusões à etnografia local (ex. O Chafaris de Viana ...) , arqueologia, bibliografia,...
- interessante trabalho dactilografado que servia de apoio às aulas na Escola de Hotelaria de Lisboa, ano 1960/61. Exemplo disso é a disciplina "Mesa" dada pelo mestre José Augusto Ferreira que é uma delícia de se ler, nomeadamente na parte da decoração e arranjo das mesas, regras a cumprir em serviço, ...
- curioso periódico (quinzenal) com redacção em Viana do Castelo, de nome "Lusa" (1918, Ano II), cujo editor e director era Cláudio Basto. No seu segundo ano diz-nos: "... revista de intuitos honestos, somente norteada pelo propósito de ser útil, alheia às nacionais charlatanices de chafaricas e mediocridades improdutivas ...". Com várias alusões à etnografia local (ex. O Chafaris de Viana ...) , arqueologia, bibliografia,...
- interessante trabalho dactilografado que servia de apoio às aulas na Escola de Hotelaria de Lisboa, ano 1960/61. Exemplo disso é a disciplina "Mesa" dada pelo mestre José Augusto Ferreira que é uma delícia de se ler, nomeadamente na parte da decoração e arranjo das mesas, regras a cumprir em serviço, ...
quinta-feira, 8 de julho de 2004
[Cielo y Tierra]
"En dos alas solamente
Consiste toda la Obra, (...)
Toma un cuerpo permanente,
Y aun que te custe disuelo,
Abate el Aguila as suelo,
Y no la dexes bolar,
Porque el intenso es hallar,
Modo de unir Cielo y Tierra"
[Anselmo C. M. Castelo Branco, in Ennoea ou a Aplicação do Entendimento sobre a Pedra Filosofal, reed. 1987]
"En dos alas solamente
Consiste toda la Obra, (...)
Toma un cuerpo permanente,
Y aun que te custe disuelo,
Abate el Aguila as suelo,
Y no la dexes bolar,
Porque el intenso es hallar,
Modo de unir Cielo y Tierra"
[Anselmo C. M. Castelo Branco, in Ennoea ou a Aplicação do Entendimento sobre a Pedra Filosofal, reed. 1987]
Livros & Papeladas
- separata da Revista A Medicina Contemporânea, nº 5, 1950, com um belo texto de Egas Moniz, "Coimbra, Nobre Cidade", onde é referido: "... é facto averiguado que os estudantes do principio do século XVI eram denominados capigorros. A gente mal-humorada da cidade e arredores chamava-lhes capigorrões, talvez por menos simpatia devida à sua conduta nem sempre exemplar. A moda irrompeu no século XVII vestindo-os à fidalga: chapéu de feltro com plumas, gibão de veludo, colarinho gomado a Velásquez e a capa traçada, deixando aflorar, à esquerda, os copos da espada. Mas o estilo não se generalizou. Era caro para a bolsa de escolares ..."
- no Almanaque do Algarve de 1943, existe um prosa de Mestre Aquilino Ribeiro, "Olhão, Vila Cubista", referências a escritores algarvios (Julião Quintinha, Assis Esperança, Visconde da Lagoa, Roberto Nobre) e imagens dos célebres bancos artísticos de Olhão (Jardim João Serra) de autoria do pintor Jorge Colaço
- da Dhâranâ de Março/Abril de 1954, que foi Órgão Oficial da Sociedade Teosófica Brasileira, dirigida pelo Prof. Henrique José de Souza (H.J.S.), num texto sobre os "Valiosos documentos que atestam a Missão da Sociedade Teosófica Brasileira", escrito por Clóvis Bradaschia, é referido a "sibilina profecia da Serra de Cintra (Portugal)", cuja tradução é a seguinte:
«Patente me farei aos do Ocidente
Quando a porta se abrir lá no Oriente.
Será cousa pasmosa quando o Indo,
Quando o Ganges trocar, segundo vejo
Seus espirituais efeitos com o Tejo»
Como comentário, depois de declarar que H.J.S. ao realizar a sua "Misteriosa Viagem ao Norte da Índia", passou por Lisboa, depois foi a Goa, seguindo para a Índia, apresenta o seguinte comentário do próprio H.J.S.: «o Oriente faz entrega ao Ocidente - por ter concluído seu ciclo espiritual a favor da Evolução Humana, e a este (Ocidente) competir, agora, semelhante Incumbência, perante a Lei, perante a Divindade». E muito mais nos diz ... referindo-se, até, ao poeta e jornalista Augusto Ferreira Gomes, transcrevendo uns versos do seu livro "O Quinto Império".
- separata da Revista A Medicina Contemporânea, nº 5, 1950, com um belo texto de Egas Moniz, "Coimbra, Nobre Cidade", onde é referido: "... é facto averiguado que os estudantes do principio do século XVI eram denominados capigorros. A gente mal-humorada da cidade e arredores chamava-lhes capigorrões, talvez por menos simpatia devida à sua conduta nem sempre exemplar. A moda irrompeu no século XVII vestindo-os à fidalga: chapéu de feltro com plumas, gibão de veludo, colarinho gomado a Velásquez e a capa traçada, deixando aflorar, à esquerda, os copos da espada. Mas o estilo não se generalizou. Era caro para a bolsa de escolares ..."
- no Almanaque do Algarve de 1943, existe um prosa de Mestre Aquilino Ribeiro, "Olhão, Vila Cubista", referências a escritores algarvios (Julião Quintinha, Assis Esperança, Visconde da Lagoa, Roberto Nobre) e imagens dos célebres bancos artísticos de Olhão (Jardim João Serra) de autoria do pintor Jorge Colaço
- da Dhâranâ de Março/Abril de 1954, que foi Órgão Oficial da Sociedade Teosófica Brasileira, dirigida pelo Prof. Henrique José de Souza (H.J.S.), num texto sobre os "Valiosos documentos que atestam a Missão da Sociedade Teosófica Brasileira", escrito por Clóvis Bradaschia, é referido a "sibilina profecia da Serra de Cintra (Portugal)", cuja tradução é a seguinte:
«Patente me farei aos do Ocidente
Quando a porta se abrir lá no Oriente.
Será cousa pasmosa quando o Indo,
Quando o Ganges trocar, segundo vejo
Seus espirituais efeitos com o Tejo»
Como comentário, depois de declarar que H.J.S. ao realizar a sua "Misteriosa Viagem ao Norte da Índia", passou por Lisboa, depois foi a Goa, seguindo para a Índia, apresenta o seguinte comentário do próprio H.J.S.: «o Oriente faz entrega ao Ocidente - por ter concluído seu ciclo espiritual a favor da Evolução Humana, e a este (Ocidente) competir, agora, semelhante Incumbência, perante a Lei, perante a Divindade». E muito mais nos diz ... referindo-se, até, ao poeta e jornalista Augusto Ferreira Gomes, transcrevendo uns versos do seu livro "O Quinto Império".
quarta-feira, 7 de julho de 2004
Eleições, pontos nos iiii
"Com as baionetas, Senhor, pode fazer-se tudo, excepto uma coisa: sentarmo-nos em cima delas. Ora mandar não é o gesto de arrebatar o poder, mas sim o seu tranquilo exercício. Em suma, Senhor, mandar é sentarmo-nos. E Estado, em definitivo, é estado da opinião pública" [Talleyrand]
Vivemos num tempo de agitação. Na sua expressão mais simples, a realidade destas semanas tem sido uma extenuante reinvenção de práticas conflituais entre os vários clientes do poder do Estado, num melting-pot argumentativo assombroso, quase sempre impulsionado pela fantasia. Os vários intervenientes, escarranchados nas páginas dos jornais e alapados nas cadeiras das TV's, agitam a "constituição ideal" que deixa por golpe de mágica de ser uma matriz puramente ideológica, para tornar-se o receituário onde o direito conduz à decisão, com a luta política ausente. Eis, pois, a constituição para todo-o-serviço que o ditoso cidadão deve perfilhar.
Quer isto dizer, que o construído das alegações político-jurídicas nada teve de encantamento e de sedutor. Pelo contrário. Ocultando-se que é a luta política que determina o direito e não o inverso; exaltando-se a "legitimidade eleitoral" sem referências aos limites sociológicos do direito e como tal, caindo-se na armadilha da submissão ao poder político (supostamente) dominante; confundindo-se, deliberadamente, legalidade e legitimidade, excepção e norma, democracia representativa e democracia directa; escondendo-se que é "ao soberano quem decide do estado de excepção" (C. Schmitt) e não eles que configuram o "soberano" - o alarido de tais especiosas luminárias reveste-se, afinal, de simplórias obsequiosidades a amigos e companheiros, aliás como manda a tradição. Na verdade "é uma grande loucura querer ser sábio sozinho" [La Rochefoucauld].
No entanto existe o óbvio, o incontornável: de que forma os cidadãos podem avaliar o desempenho destes dois anos de governação, da equipa que irá cessar funções, a não ser por eleições? Há outra maneira? Não! E o Senhor Presidente da República irá demonstrá-lo. E os cidadãos, evidentemente.
"Protesto"
"Quereis simular civilização? Destrói a noite! - escrevi eu, já não sei quando, no álbum duma caçadora de autógrafos. Ou talvez não escrevesse e apenas inventasse agora a forma de iniciar este meu protesto brando ...
Sim. A melhor maneira de aparentar civilização é este aniquilamento brutal da noite, a «noite dos magros crapulosos» de Antero, a «noite antiquíssima e idêntica» de Fernando Pessoa, à força de arcos voltaicos, lâmpadas de mercúrio, riscos de néons, casinos, anúncios luminosos, candeeiros, centenas de candeeiros de todos os feitios e pesadelos, uns cabeçudos, estes esgalgados de dedos a apontar, aqueles, autênticos forcas de onde pendem cabeças cortadas, outros de chapéus de palha, milhares de candeeiros - ora bolas para esta civilização de automóveis!
(...) Aqui proclamo, pois, solenemente o meu horror à iluminação exagerada das ruas. Para depois ousar pedir (...) - ousar pedir, repito, a quem de direito e em nome dos poetas sonâmbulos, que não cedam à tendência espectacular de fingir civilização, com mais luzes por fora, na nossa linda cidade com tão forte vocação para aldeia inicial ..." [José Gomes Ferreira, in Seara Nova, nº 1423, Maio de 1964]
Livros & Arrumações
- No Arquivo de Viana-do-Castelo Repositório de Estudos & Curiosidades Regionais, Vol. I, nº 7, 1934, há um texto do Coronel Pereira Viana sobre "A Estação do Caminho de Ferro de Viana-do-Castelo" onde nos diz que, "quem projectou o edifício da estação" foi o engenheiro que "dirigiu a sua construção", de nome Alfredo Soares, confirmado pelo dizer de várias personalidades, entre elas António Arroio. E em nota de roda-pé informa que além desse edifício, também se ocupou da Estação de Campanhã.
- Curioso livro de Muhammad Rashid, que tinha antes publicado o "Portugal é a Kundâlini" (1974) e "Aos Pés do Mestre" (1974), intitulado "Única Grande Ode" (1978), com dedicatória impressa "ao meu Irmão Jorge Godinho o Actor dos Pés em Sangue a declamar a Única Grande Ode aos Pés do Mestre" .
"... As três coisas que eu amo mais na vida são as mulheres, o haxixe e as orações. A mulher em primeiro lugar e as orações em último porque o homem deve conhecer a sua própria alma antes de se voltar para Deus" / "tenho horror às palavras em préstito, escorrendo um líquido mole e pegajoso. O que eu procuro nos livros é outra coisa viva que se pega ao papel e à tinta"
- Separata da Revista Gil Vicente, vol XXV, 1949 (Guimarães) de Luís de Almeida Braga, "Loa do Vinho Verde".
"... Guerra Junqueiro, senhor de largos vinhedos entre fragas assustadas, assegurava a Eça de Queirós que para acompanhar o melhor manjar do mundo não hesitaria em escolher o vinho verde de Monsão. Gil Vicente já tivera por certo que à beira dele tudo era água-pé desenxabida. Na esbraseada gândara alentejana o chilreador Fialho amansava o génio recordando a satisfação que tivera em achar no vinho verde a meiguice dos beijos e o travo inocente das amoras ..."
- No Arquivo de Viana-do-Castelo Repositório de Estudos & Curiosidades Regionais, Vol. I, nº 7, 1934, há um texto do Coronel Pereira Viana sobre "A Estação do Caminho de Ferro de Viana-do-Castelo" onde nos diz que, "quem projectou o edifício da estação" foi o engenheiro que "dirigiu a sua construção", de nome Alfredo Soares, confirmado pelo dizer de várias personalidades, entre elas António Arroio. E em nota de roda-pé informa que além desse edifício, também se ocupou da Estação de Campanhã.
- Curioso livro de Muhammad Rashid, que tinha antes publicado o "Portugal é a Kundâlini" (1974) e "Aos Pés do Mestre" (1974), intitulado "Única Grande Ode" (1978), com dedicatória impressa "ao meu Irmão Jorge Godinho o Actor dos Pés em Sangue a declamar a Única Grande Ode aos Pés do Mestre" .
"... As três coisas que eu amo mais na vida são as mulheres, o haxixe e as orações. A mulher em primeiro lugar e as orações em último porque o homem deve conhecer a sua própria alma antes de se voltar para Deus" / "tenho horror às palavras em préstito, escorrendo um líquido mole e pegajoso. O que eu procuro nos livros é outra coisa viva que se pega ao papel e à tinta"
- Separata da Revista Gil Vicente, vol XXV, 1949 (Guimarães) de Luís de Almeida Braga, "Loa do Vinho Verde".
"... Guerra Junqueiro, senhor de largos vinhedos entre fragas assustadas, assegurava a Eça de Queirós que para acompanhar o melhor manjar do mundo não hesitaria em escolher o vinho verde de Monsão. Gil Vicente já tivera por certo que à beira dele tudo era água-pé desenxabida. Na esbraseada gândara alentejana o chilreador Fialho amansava o génio recordando a satisfação que tivera em achar no vinho verde a meiguice dos beijos e o travo inocente das amoras ..."
terça-feira, 6 de julho de 2004
Parabéns
Mais aniversários. Desta vez a sempre prendada Formiga de Langton e o cativante Paulo Gorjão. Cumprimentos mil.
Mais aniversários. Desta vez a sempre prendada Formiga de Langton e o cativante Paulo Gorjão. Cumprimentos mil.
José Loureiro Botas (1902-1963)
n. em Vieira de Leiria a 6 de Julho de 1902
"A pintar homens do mar ninguém há aí que se lhe compare" [Aquilino Ribeiro sobre Loureiro Botas]
"... Eu de meu só tenho o meu barco. Guardei-o sempre como um bom amigo. Sei que me não atraiçoa. Por amor de uma mulher o deixei, por amor dessa mulher volto para ele. Que os barcos também têm alma, também se afeiçoam à gente. E são leais nas horas boas e nas horas más da vida, quando balaouçam no mar sobre o abismo das ondas ..." [JLB, in Rumo ao Mar]
"O barco balouça na crista da onda; empina-se prestes a desequilibrar. Os pescadores seguram-se aos remos; o impulso brutal do mar parece ir arrancá-los dos lugares. O arrais vai atento, não se atravesse o barco. Era a morte. E comanda os que, na terra, seguram o cabo da ré e o vareiro que, à proa, finca a vara na areia; entusiasma os homens, chama-os pelos seus nomes, dirigindo aquele xadrez de forças. O barco avança; logo nova onda o briga a recuar. E lutam, lutam, lutam, arredando a morte a golpes de coragem ..." [JLB, in Frente ao Mar]
"...José Loureiro Botas era filho daquele célebre banheiro que pelos seus salvamentos heróicos foi condecorado pela rainha D. Amélia, a fundadora do Real Instituto de Socorros a Náufragos: Joaquim Loureiro Botas, casado com a ti Emília Malaquias (...) após ter feito exame do 2º grau, aos nove anos, foi morar com um abastado comerciante da Guia (Monte Redondo), que prometera fazer dele engenheiro-agrónomo. Mas o seu protector veio a morrer, em circunstâncias dramáticas, deixando goradas as esperanças de vir a estudar para engenheiro. Trabalha na Marinha Grande, numa loja pertencente a J. M. Chaves Costa, e aos 12 anos segue para Lisboa empregando-se nuam retrosaria da Rua da Misericórdia, acabando depois por trabalhar doze anos ao balcão da casa «David & David», no Chiado, enquanto estuda de noite, no Ateneu Comercial. Consegue finalmente um estabelecimento seu ?uma retrosaria na Rua da Conceição, e mais tarde, então, torna-se co-proprietário da leitaria «Irlandesa», na esquina da Rua Alexandre Herculano com a Avenida da Liberdade.
O seu primeiro êxito literário foi Litoral a Oeste, publicado em 1940, onde incluíu alguns contos que em anos anteriores tinham ganho os Jogos Florais do Ateneu Comercial de Lisboa (...) Segue-se, em 1944, outra obra de invulgar beleza: Frente ao Mar. Publica ainda, em 1952, um volume de contos intitulado Maré Alta, em edição do autor, e em 1959 Nasci à Beira do Mar - um livro de poemas. Em 1963, finalmente ... sai o Barco sem Âncora (...) João Gaspar Simões o comparou a um aedo popular, que talhava as suas personagens «com a rudeza de um canteiro medievo, quanto a mim do melhor que tem saído do granito da nossa prosa regional» ..." [Francisco Oneto Nunes, in Vieira de Leiria A História, o Trabalho, a Cltura, 1993]
Local: José Loureiro Botas (Biografia & Bibliografia)
Rare Morrissey Songs [mp3]
Work Is A Four-Letter Word / I Keep Mine Hidden / What's The World (James Cover)- para ouvir e download, AQUI
segunda-feira, 5 de julho de 2004
Jean Cocteau (1889-1963)
n. em Maisons-Laffitte (França) a 5 de Julho de 1889
"Le verbe aimer est l'un des plus difficile à conjuguer: son passé n'est pas simple, son présent n'est qu'indicatif et son futur est toujours conditionnel." [J.C.]
"Esta cabeleira, este sistema nervoso, mal implantados, esta França, esta terra, não me pertencem. Dão-me agonias. Sempre os dispo à noite, em sonhos. Pois aqui largo o pacote. Que me fechem num hospício, que me linchem. Quem puder que entenda. Eu sou a mentira que diz sempre a verdade" [J.C., in O Pacote Vermelho, trad. Jorge de Sena]
"Ah Cocteau (1889-1963), quel personnage! Dansant, sautant de-ci de-là, mieux et plus que personne. Sa vie durant, Cocteau a donné au milieu artistique une présence dynamique et attachante. Il fut peut-être le seul artiste célèbre qui pouvait en quelques mots déclencher l'intérêt et le succès du côté d'un inconnu. Nombreux sont les artistes qui habitèrent le même temps que Cocteau qui lui doivent une bonne part de leur notoriété. Il était, sinon le plus grand des poètes de son temps, (pourquoi installer une hiérarchie dans l'univers poetique), mais à coup sûr, comme on dit, "poète de la tête aux pieds". Avec Cocteau, la poésie descendit dans la rue sur la rampe de l'escalier et marcha sur les mains.Comme l'a écrit Georges-Emmanuel Clancier, l'auteur de "Plain-Chant", d'"Orphée" et des "Enfants terribles" a inscrit toute son oeuvre sous le signe de la poésie: poésie de roman, poésie de théâtre, poésie critique, graphique, cinématographique, enfin si je puis dire poésie de poésie". Le rire de Cocteau ne quittera jamais mes oreilles. Tout ce qui se rapportait à la vie artistique lui était familier. Et comme le déclara Raymond Queneau: si Cocteau n'avait pas existé, il aurait fallu l'inventer et le peindre en bleu de chauffe !Qui, ayant lu Cocteau, risque de l'oublier? Certainement personne, si ce n'est celui à qui vous pensez!" [Jean-Pierre Rosnay]
Locais: Jean Cocteau / Jeancocteau.net / Biografia / Cocteau The Blood of a Poet / Jean Cocteau (1889-1963) / Cocteau (1889-1963) / Bibliography / Cocteau Art / Jean Cocteau Sound Poetry / Chez Jean Cocteau / Livros / Textes / Cocteau poète de tous les arts
Do elogio ao gosto, da leitura à luz
Como dizer que o post de JPP é um dos mais belos que lemos e não nos atraiçoarmos? Como reclamar o elogio sem, subtilmente, nos tornarmos cúmplices nessa perturbação das palavras lidas? Como não entender o espaço conversável assim nomeado senão a partir de uma ecologia dos afectos que o tempo e a vida (também) do próprio autor do texto não quer ver abandonado? Sejamos virtuosos: qualquer ritual de agradecimento é um projecto falhado. Pela nossa parte, um muito obrigado.
Depois, algumas notas & outros instantes. A foto que arrumamos no alto do Almocreve faz parte do universo do admirável filme de Marguerite Duras, "Son nom de Venise dans Calcutta désert"(1976), versão a seguir a "Indian Song" (1974), descobrindo uma sala das ruínas do Palácio Rothschild onde as filmagens foram consumadas. Não sabemos quem a tirou, temos apenas uma mera indicação de ser Volcsanszky, mas fazia parte da edição videográfica da obra de Duras e em livro. Ao que é sabido, o palácio manteve-se em ruínas desde a fuga dos nazis que o ocuparam. Deste modo, é curioso como o fascínio da imagem, onde o espelho "adquire uma densidade inquietante" ou luz que "brilha demais" nos arranca uma imediata embriaguez de "restos de vidas outras", que tão assombrosamente JPP interpretou.E que, a nós, nos deslumbrou.
Como dizer que o post de JPP é um dos mais belos que lemos e não nos atraiçoarmos? Como reclamar o elogio sem, subtilmente, nos tornarmos cúmplices nessa perturbação das palavras lidas? Como não entender o espaço conversável assim nomeado senão a partir de uma ecologia dos afectos que o tempo e a vida (também) do próprio autor do texto não quer ver abandonado? Sejamos virtuosos: qualquer ritual de agradecimento é um projecto falhado. Pela nossa parte, um muito obrigado.
Depois, algumas notas & outros instantes. A foto que arrumamos no alto do Almocreve faz parte do universo do admirável filme de Marguerite Duras, "Son nom de Venise dans Calcutta désert"(1976), versão a seguir a "Indian Song" (1974), descobrindo uma sala das ruínas do Palácio Rothschild onde as filmagens foram consumadas. Não sabemos quem a tirou, temos apenas uma mera indicação de ser Volcsanszky, mas fazia parte da edição videográfica da obra de Duras e em livro. Ao que é sabido, o palácio manteve-se em ruínas desde a fuga dos nazis que o ocuparam. Deste modo, é curioso como o fascínio da imagem, onde o espelho "adquire uma densidade inquietante" ou luz que "brilha demais" nos arranca uma imediata embriaguez de "restos de vidas outras", que tão assombrosamente JPP interpretou.E que, a nós, nos deslumbrou.
Orgulhosos
Nós herdámos este fado de prestar culto ao talento e ao génio. Que o êxito ou fracasso são a nossa memória puríssima. Hoje, a nossa desdita chamou-se selecção grega. Quem haveria de dizer que também se morre duas vezes. Os deuses sumiram-se a caminho da imortalidade grega e os romeiros foram também. Por cá a tristeza apareceu, mas o orgulho luso de se cair em último triunfou. E com todo o merecimento. Estamos, definitivamente, convertidos. Obrigado Scolari. Obrigado Figo & Todos Manos. Parabéns Grécia.
domingo, 4 de julho de 2004
Oratorium
Por ser a hora esperada e após longas veladuras, a alma portuguesa sob a graça da Rainha Santa nossa Padroeira e Ultríssima protectora, volta prudente e sensata (quem diria!) por cavaleiros devotos do futebol. Que (n)a Luz, dissipando este malfadado nevoeiro nos faça reaver a nossa ventura. Fazendo figas para espantar os maus-olhados e conforme as nossas postumeiras vontades, Figo & seus Manos reúnem os saberes. Admirável dia.
Valete, Frates!
sábado, 3 de julho de 2004
PPD/PSD desmascarado
Eis o mais cínico desplante que não ocorria desde os tempos do PREC: a manipulação e intoxicação da opinião pública. Tal e qual se diz no Expresso e que noutros locais menos manhosos é dito num crescendo, a casta de funcionários do PPD, disfarçando as imposturas costumeiras que a ignorância fez ressuscitar, lançam falsas informações, criam factos políticos constantes, sem qualquer respeitabilidade pelos cidadãos.
Ora ai está. Primeiro Ferreira Leite a desmentir as pasmosas afirmações proferidas por alguns medias, e agora Cavaco Silva, o ex-oráculo laranja, a irritar-se com o esmero dos detractores. Este fumo e vento anedótico, se não fosse perigoso, revela tudo aquilo que foi dito alto e em bom som, sem medos: que qualquer governação, qualquer exercício do poder com gente como esta que habita no PPD/PP é o regresso da crispação política e da vigarice mais selvática e trauliteira. Não é por acaso que os Menezes, Isaltinos e Amorins ... apoiam esta cáfila de infinitamente pequenos.
Ora, o ainda Primeiro-Ministro, se não está por detrás desta tragicomédia, deve dar uma explicação imediata sobre tudo isto, sob pena de ser conivente com o lodo que tal representa. E o senhor Presidente da República deve tirar as ilações devidas deste jiga-joga politico, mais próprio de uma historieta de terceira série que de um país que se quer europeu. E convocar, imediatamente, eleições. É que com fulanos como estes não se pode pactuar. E o tempo perdido é já bastante.
Eis o mais cínico desplante que não ocorria desde os tempos do PREC: a manipulação e intoxicação da opinião pública. Tal e qual se diz no Expresso e que noutros locais menos manhosos é dito num crescendo, a casta de funcionários do PPD, disfarçando as imposturas costumeiras que a ignorância fez ressuscitar, lançam falsas informações, criam factos políticos constantes, sem qualquer respeitabilidade pelos cidadãos.
Ora ai está. Primeiro Ferreira Leite a desmentir as pasmosas afirmações proferidas por alguns medias, e agora Cavaco Silva, o ex-oráculo laranja, a irritar-se com o esmero dos detractores. Este fumo e vento anedótico, se não fosse perigoso, revela tudo aquilo que foi dito alto e em bom som, sem medos: que qualquer governação, qualquer exercício do poder com gente como esta que habita no PPD/PP é o regresso da crispação política e da vigarice mais selvática e trauliteira. Não é por acaso que os Menezes, Isaltinos e Amorins ... apoiam esta cáfila de infinitamente pequenos.
Ora, o ainda Primeiro-Ministro, se não está por detrás desta tragicomédia, deve dar uma explicação imediata sobre tudo isto, sob pena de ser conivente com o lodo que tal representa. E o senhor Presidente da República deve tirar as ilações devidas deste jiga-joga politico, mais próprio de uma historieta de terceira série que de um país que se quer europeu. E convocar, imediatamente, eleições. É que com fulanos como estes não se pode pactuar. E o tempo perdido é já bastante.
Sophia de Mello Breyner (1919-2004)
"Quando eu morrer voltarei para buscar / Os instantes que não vivi junto do mar" [SMB, Inscrição, 1962]
Sophia de Mello Breyner nasce no Porto a 6 de Novembro de 1919. Estuda Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. "Nada e criada na velha aristocracia portuguesa, veio a tornar-se uma das figuras mais representativas de uma atitude política liberal" [Jorge de Sena]
"Há nomes predestinados ... Sophia - sabedoria mais funda do que o simples «saber», conhecimento íntimo, ao mesmo tempo atónico e luminoso do essencial, comunhão silenciosa (...) Sophia ainda quase adolescente pôde parecer irreal, etéria, aristocrática, vaga tardia de um simbolismo tão fundo que nem de símbolos precisava, espécie de voo sem matéria através de experiências, evocações, presságios, de tão musical ressonância que bem audacioso seria quem descobrisse nela, para lá de rilkeanos acertos ao imponderável sentimento de si perante o universo e o seu perfil indeciso, a amorosa das coisas e dos gestos que o nome justo e a visão clara subtraem à perpétua evanescência para que fiquem na nossa memória como anjos em perpétua e fulgurante vigília" [Eduardo Lourenço, in Antologia SMB, 1978]
"A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é a arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência, nem uma estética, nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca durma, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta..." [SMB, Arte Poética II]
Alguma Bibliografia:
[Poesia] - Poesia (ed. autora), 1944 / Dia do Mar, Ática, 1947 / Coral, Livr. Simões, 1950 / No Tempo Dividido, Guimarães, 1954 / Mar Novo, Guimarães, 1958 / O Cristo Cigano, Minotauro, 1961 / Livro Sexto, Moraes, 1962 / Geografia, Ática, 1967 / Antologia, Moraes, 1944-67 / Grades (Antologia de Poemas de Resistência), D. Quixote, 1970 / 11 Poemas, Movimento, 1971 / Dual, Moraes, 1972 / O Nome das Coisas, Moraes, 1977 / Navegações, Caminho, 1983 / Histórias da Terra e do Mar, 1984 / Árvore, 1985 / Ilhas, Texto Editora, 1989 / Musa, Caminho, 1994 / Signo, 1994 / O Búzio de Cós e Outros Poemas, Caminho, 1997 / O Bojador, 2000
[Contos para Crianças / Prosa / Ensaio] - A Menina do Mar, Ática, 1958 / A Fada Oriana, Ática, 1958 / Cecília Meireles (Ensaio), 1958 / Noite de Natal, Ática, 1959 / Poesia e Realidade (Ensaio), in Colóquio 8, 1960 / Contos Exemplares (Prosa), Moraes, 1962 / O Cavaleiro da Dinamarca, Livr. Figueirinhas, 1964 / A Floresta, Livr. Figueirinhas, 1968 / O Tesouro, Livr. Figueirinahs, 1970 / O Nu na Antiguidade, Estúdios Cor, 1975.
[Bibliomanias & Almocreve das Petas]
"Quando eu morrer voltarei para buscar / Os instantes que não vivi junto do mar" [SMB, Inscrição, 1962]
Sophia de Mello Breyner nasce no Porto a 6 de Novembro de 1919. Estuda Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. "Nada e criada na velha aristocracia portuguesa, veio a tornar-se uma das figuras mais representativas de uma atitude política liberal" [Jorge de Sena]
"Há nomes predestinados ... Sophia - sabedoria mais funda do que o simples «saber», conhecimento íntimo, ao mesmo tempo atónico e luminoso do essencial, comunhão silenciosa (...) Sophia ainda quase adolescente pôde parecer irreal, etéria, aristocrática, vaga tardia de um simbolismo tão fundo que nem de símbolos precisava, espécie de voo sem matéria através de experiências, evocações, presságios, de tão musical ressonância que bem audacioso seria quem descobrisse nela, para lá de rilkeanos acertos ao imponderável sentimento de si perante o universo e o seu perfil indeciso, a amorosa das coisas e dos gestos que o nome justo e a visão clara subtraem à perpétua evanescência para que fiquem na nossa memória como anjos em perpétua e fulgurante vigília" [Eduardo Lourenço, in Antologia SMB, 1978]
"A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é a arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede uma ciência, nem uma estética, nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e dilui uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me que viva sempre, que nunca durma, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas, densa e compacta..." [SMB, Arte Poética II]
Alguma Bibliografia:
[Poesia] - Poesia (ed. autora), 1944 / Dia do Mar, Ática, 1947 / Coral, Livr. Simões, 1950 / No Tempo Dividido, Guimarães, 1954 / Mar Novo, Guimarães, 1958 / O Cristo Cigano, Minotauro, 1961 / Livro Sexto, Moraes, 1962 / Geografia, Ática, 1967 / Antologia, Moraes, 1944-67 / Grades (Antologia de Poemas de Resistência), D. Quixote, 1970 / 11 Poemas, Movimento, 1971 / Dual, Moraes, 1972 / O Nome das Coisas, Moraes, 1977 / Navegações, Caminho, 1983 / Histórias da Terra e do Mar, 1984 / Árvore, 1985 / Ilhas, Texto Editora, 1989 / Musa, Caminho, 1994 / Signo, 1994 / O Búzio de Cós e Outros Poemas, Caminho, 1997 / O Bojador, 2000
[Contos para Crianças / Prosa / Ensaio] - A Menina do Mar, Ática, 1958 / A Fada Oriana, Ática, 1958 / Cecília Meireles (Ensaio), 1958 / Noite de Natal, Ática, 1959 / Poesia e Realidade (Ensaio), in Colóquio 8, 1960 / Contos Exemplares (Prosa), Moraes, 1962 / O Cavaleiro da Dinamarca, Livr. Figueirinhas, 1964 / A Floresta, Livr. Figueirinhas, 1968 / O Tesouro, Livr. Figueirinahs, 1970 / O Nu na Antiguidade, Estúdios Cor, 1975.
[Bibliomanias & Almocreve das Petas]
sexta-feira, 2 de julho de 2004
Aniversários Sempre!
Nós por cá não gostamos de perder um aniversário. Temos paixão por coisas simples. Nós por cá é mais bolos. E champanhe. Desde que o sorriso travesso, a respiração e a vertigem das palavras seja essa demanda de todos os dias. Daí acreditarmos no verbo dos aniversariantes Adufe, Retórica e Persuasão (24 de Junho !? pode lá ser?) e Opiniondesmaker (21 de Junho já passou?). Mesmo que o acto de revelação dos últimos já tenha ocorrido no tempo, temos esta mania de enviar ... Parabéns. Para que conste!
Nós por cá não gostamos de perder um aniversário. Temos paixão por coisas simples. Nós por cá é mais bolos. E champanhe. Desde que o sorriso travesso, a respiração e a vertigem das palavras seja essa demanda de todos os dias. Daí acreditarmos no verbo dos aniversariantes Adufe, Retórica e Persuasão (24 de Junho !? pode lá ser?) e Opiniondesmaker (21 de Junho já passou?). Mesmo que o acto de revelação dos últimos já tenha ocorrido no tempo, temos esta mania de enviar ... Parabéns. Para que conste!
Fernando Valle - Um Aristocrata da Esquerda
Dia 6 de Julho em Lisboa e dia 9 de Julho em Coimbra, lançamento do livro "Fernando Valle - Um Aristocrata da Esquerda", da autoria de Fernando Madail (jornalista do DN) e prefácio de Mário Soares.
- Lisboa (18.30 horas) no Auditório da Fundação Mário Soares, com a presença de Mário Soares, Almeida Santos, Manuel Alegre e Fernando Valle
- Coimbra (18.30 horas) no Anfiteatro 2 da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Estarão presentes, António Arnaut, Fausto Correia e o biografado Fernando Valle.
Fernando Valle nasceu na Cerdeira, Arganil, em 30 de Julho de 1900. Estudou inicialmente em Coja, tendo ido para Coimbra continuar os estudos liceais, completando posteriormente o curso de medicina. Foi exercer a profissão em Arganil, onde fez um trabalho meritório em prol do Hospital e das sociedades culturais e recreativas locais. Manifestando um interesse particular por questões sociais e políticas, este médico e maçon (o mais velho do mundo, possivelmente) é demitido de cargos públicos por apoiar a candidatura de Norton de Matos, apadrinha a candidatura de Humberto Delgado, é preso em 1962 (partilhou a cela com José Mário Branco), preside à reunião inicial da fundação do Partido Socialista, na Alemanha, tendo pertencido à Comissão Administrativa de Arganil a seguir ao 25 de Abril e, pelo I Governo Constitucional, exerceu o cargo de Governador Civil de Coimbra. Uma vida inteira dedicada a lutar "pela libertação do homem ... um regime de direito em que seja possível, de facto, a paz, a liberdade e a justiça social". Uma vida exemplar, diremos nós.
Livros & Arrumações
- Curioso opúsculo "A Questão Litteraria a propósito do jazigo de José Estêvão. Cartas dos Senhores A. F. de Castilho e J. A. De Freitas Oliveira", 1866.
"... a litteratura aqui em Lisboa, creia-o v. exª, não existe. As boas lettras, as lettras gordas, a sciencia, a plástica e a esthetica aninharam-se nas margens do Mondego, e nas do Douro; e as academias d'onde há de sair a verdadeira luz chamam-se o Lopes, o Carollo, e a taverna allemã da Joanna Pedra. O Grande Oriente esse é no Moré e na Águia d'Oiro.
A moral e a philosophia também passaram por grandes transformações. Hoje ser philosopho é não lavar a cara, nem as mãos, senão no dia do aniversario de Schiller. Quanto mais horror à agua, mais philosophia ..."
- Do Boletim da Academia Portuguesa de Ex-Libris, Janeiro nº10, 1959, registe-se para além do ex-libris de Adelino da Palma Carlos ("homem nu em atitude de esculpir a palavra Quero ... um ramo de carvalho com bolotas - símbolo da Força - saindo das volutas dum listel"), do Dr. Alfredo Manuel Pimenta (dizeres "Fortiter in re, suaviter in modo"), Dr. João de Meira, Don César Martinell Brunet, António Sardinha (conclusão de "Dois Ex-Libris de António Sardinha. Os Sardinhas de Elvas"), há um texto de Álvaro Ribeiro (Ignorância Positiva e Viação Simbólica), um trabalho sobre o poeta Francisco Bugalho por Luiz Moitinho de Almeida e, principalmente, um texto sobre Fernando Pessoa (Fernando Pessoa Tradutor e Astrólogo)
- Curioso opúsculo "A Questão Litteraria a propósito do jazigo de José Estêvão. Cartas dos Senhores A. F. de Castilho e J. A. De Freitas Oliveira", 1866.
"... a litteratura aqui em Lisboa, creia-o v. exª, não existe. As boas lettras, as lettras gordas, a sciencia, a plástica e a esthetica aninharam-se nas margens do Mondego, e nas do Douro; e as academias d'onde há de sair a verdadeira luz chamam-se o Lopes, o Carollo, e a taverna allemã da Joanna Pedra. O Grande Oriente esse é no Moré e na Águia d'Oiro.
A moral e a philosophia também passaram por grandes transformações. Hoje ser philosopho é não lavar a cara, nem as mãos, senão no dia do aniversario de Schiller. Quanto mais horror à agua, mais philosophia ..."
- Do Boletim da Academia Portuguesa de Ex-Libris, Janeiro nº10, 1959, registe-se para além do ex-libris de Adelino da Palma Carlos ("homem nu em atitude de esculpir a palavra Quero ... um ramo de carvalho com bolotas - símbolo da Força - saindo das volutas dum listel"), do Dr. Alfredo Manuel Pimenta (dizeres "Fortiter in re, suaviter in modo"), Dr. João de Meira, Don César Martinell Brunet, António Sardinha (conclusão de "Dois Ex-Libris de António Sardinha. Os Sardinhas de Elvas"), há um texto de Álvaro Ribeiro (Ignorância Positiva e Viação Simbólica), um trabalho sobre o poeta Francisco Bugalho por Luiz Moitinho de Almeida e, principalmente, um texto sobre Fernando Pessoa (Fernando Pessoa Tradutor e Astrólogo)
quarta-feira, 30 de junho de 2004
Aqui mar da alma ...
O futebol é todos os dias. Hoje é quarta-feira. É assim há muito, dizem-nos, mas p.f. passa por mim em Alvalade, que gostamos de estar com os amigos. Para que se saiba. Bendito é o jogo que nos esgota de felicidade. Hoje e depois. Sempre. Os afectos não se querem esquecidos. Boa sorte!
"O Porco-Espinho e a Raposa"
"Um verso, colhido entre os fragmentos do poeta grego Arquíloco, assim se expressa: «A raposa conhece muitas coisas, mas o porco-espinho conhece só uma e muito importante». Os estudiosos divergem sobre a interpretação correcta dessas palavras obscuras, que talvez signifiquem apenas isto: a raposa, em que pese a sua astúcia, é derrotada pela única defesa do porco-espinho. No entanto, tomadas figuradamente, tais palavras talvez encerrem um sentido em que caracterizem uma das mais profundas diferenças que dividem escritores e pensadores e, talvez, os seres humanos em geral. Existe, um fosso profundo entre os que, de um lado, relacionam tudo a uma grande visão central, a um sistema mais ou menos coerente e articulado, pelo qual compreendem, pensam e sentem - um princípio organizador único e universal, exclusivamente em função do qual tudo o que são e dizem possui significado - e, de outro lado, aqueles que perseguem vários fins, muitas vezes sem relação mútua e até mesmo contraditórios, ligados - se é que são - apenas de facto, por algum motivo psicológico ou fisiológico, cujo relacionamento não obedece a nenhum princípio moral ou estético (...) O primeiro tipo de personalidade intelectual e artística pertence aos porco-espinhos, o segundo, às raposas ..." [Isaiah Berlin, in Pensadores Russos]
BOCAS DA SAISON
- Notícias postas a circular por varinas sensatas e utilíssimo para todos os remédios, contra o sono do esquecimento [ou à saudosa memória do Pão com Manteiga]
Alberto João Jardim declara que os Santanistas andam mais de bicicleta que os Mendistas ou Barrosistas porque desde criancinhas foram ensinados a pedalar / Telmo Correia afiança que Jorge Sampaio é o melhor dos presidentes em exercício / Luís Delgado intervém na SIC assegurando ter sido "assassinado no dia anterior" por um comando Ferreira Leite / Marques Mendes vai a S. Bento, mas não entra porque a lotação está esgotada / Dias Loureiro põe a circular o rumor de que Durão Barroso continua primeiro-ministro / António Borges "come o porta-moedas" que Manuela Ferreira Leite lhe ofereceu, junto ao Banco de Portugal / Vasco Rato não garante que a seguir a Barroso, o Breve, suceda Santana, o Demorado / O Comissário Europeu Martins da Cruz "vai colocar uma ratoeira debaixo de uma das teclas" do PC de José Manuel / Michael Moore convida Luís Delgado para herói da sua próxima película / Um grupo de militantes do PPD/PSD envia "um frasco de sapos vivos" a Marcelo Rebelo de Sousa / Durão Barroso declara que vai demitir-se perante o pavor de Santana Lopes que ensaia a fuga para S. Bento / João Almeida mascara-se de Morais Sarmento, pelo que está a deixar crescer a barba / Fonte anónima assegura que a sorte grande saída a Paulo Portas se trata de inside trading / Paulo Pinto Mascarenhas não tem dúvidas: "Um regime autoritário acerta sempre no 13" / Adelino Salvado confessa que "as escutas telefónicas são feitas por fiscais de linha"
terça-feira, 29 de junho de 2004
Antoine de Saint Exupéry (1900-1944)
n. em Lyon a 29 de Junho de 1900
"... Só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar - disse o rei -. A autoridade baseia-se, antes do mais, no bom senso. Se um rei ordenar ao seu povo que se deite ao mar, ele revolta-se. Eu, tenho o direito de exigir obediência porque as minhas ordens são sensatas.
- E então o meu pôr do Sol? - lembrou o principezinho que, uma vez que a tivesse feito, nunca desistia de uma pergunta.
- Calma, que o hás-de ter. Eu assim o exijo. Mas a minha ciência de governação recomenda-me que espere pelas condições mais favoráveis.
- E quando é isso? - tentou o principezinho informar-se.
- Ora bem ... Ora bem ... - respondeu o rei, pondo-se a consultar um grande calendário - Ora bem ... deve ser lá para ...lá para ... lá para as sete e quarenta! E vais ver que sou cegamente obedecido ..."
[A. de Saint-Exupéry, in O Principezinho]
Santana Lopes, Figueira da Foz et pour cause ...
António não pretende instruir algum leitor ou fazer prova afadigada da borrasca Santanista na Figueira da Foz. Não é daqueles que saem disparando setas, pedantemente, espingardando lérias para zumbir sobre quem quer que seja. António não é daqueles que ruminam qualquer rancor obscuro ou pensamento pecaminoso. Tão só manifesta a autoridade de quem acompanhou, de perto, a oratória e o desempenho cívico de Santana Lopes na cidade da Figueira. Nada de espantos, portanto.
" ... Segui de perto a gestão autárquica de Santana Lopes na Figueira da Foz, conheço a lógica dos seus devaneios pueris, o seu carácter inconstante, a necessidade telúrica e febril de ser amado e ovacionado, o sentido messiânico de que se julga imbuído.
Santana tem uma relação doentia - psicótica - com a política, quase diria esquizofrénica.
Esta abordagem ologopática do poder coloca de lado a racionalidade e faz emergir o seu lado emotivo. Em Santana, toda a abordagem do poder é apaixonada, efémera e superficial. Esvai-se numa chama de muito calor e escassa duração. Santana usa o poder como D. Juan usava a alcova: numa busca insciente de si próprio, como alguém que deseja ver-se num espelho de múltiplos reflexos e nunca se vê. Esta paixão - narcísica e egocêntrica - exclui o outro, quando o outro se afirma enquanto tal. Por isto, Santana não suporta a discórdia, o são exercício da liberdade de pensar e contraditar, o que o faz rodear-se de yes men, auxiliares serviciais do seu insaciável ego. Estes, embora possam ter mérito ou competência para o exercício de funções políticas, cedo se tornam clones patéticos da sua vaidade.
Esta forma de exercitar a capacidade de mando é perigosa, porque não conhece limites de ordem alguma - veja-se a forma como se endividou a autarquia figueirense, os projectos megalómanos, as ânsias apopléticas de engrandecimento, debitadas todas na propaganda e na manipulação dos diferentes agentes sociais. É perigosa ainda, porque a insaciabilidade do monstro assim criado - leia-se do poder - torna-se invasiva e avassaladora nas suas pretensões. Esmaga quem tiver que esmagar." [António, in Serra-a-Velha]
Blogs da Figueira da Foz
"... Ter nascido à beira-mar é como ter nascido debruçado sobre a vida. Tudo é irrevogável nos decretos do tempo. Aquelas águas sobre cuja placidez o homem é tão impotente como sobre a placidez das estrelas, revestem-se de uma majestade divina. Não há searas no mar ..." [Gaspar Simões]
A Figueira da Foz, esbatida junto ao mar, feita para deleite das almas em veraneio, prenhe de sabedoria, não fica enxorada nas areias Santanistas de antanho. Ou no five o'clock tea do trottoir do Kasino. Muito menos sucumbe aos encantamentos do reaparecido Oásis. Não! A Figueira é implacável nas reprimendas, insubmissa mesmo quando frequenta o CAE, admirável de gargalhadas quando é mordaz. Única, quando a manipulam.
A atmosfera marinhada dos blogs figueirenses é uma formidável lança que varre a mediocridade indígena. Um colorido imperioso que deslumbra. Amicus Ficaria, Passeio Público, Quac Quac, Quinto Poder e Serra-a-Velha ... ao vosso dispor.
À Volta dos Blogs
- CPeC: Crise Política em Curso. Eis mais uma iniciativa de Paulo Querido, que não para de nos surpreender. Lê-se: "O CPeC pretende agregar numa lista o maior número de entradas e textos cuja temática se prenda com a crise política levantada em Portugal na semana de 21 a 27 de Junho, quando o Primeiro-Ministro colocou a hipótese de abandonar o Governo para se tornar presidente da Comissão Europeia. A natureza dispersa da blogosfera torna difícil seguir o curso das opiniões publicadas e esta lista é um instrumento para minorar essa dificuldade». A não perder.
- Parabéns: Memória Virtual. Muitos e bons.
- CPeC: Crise Política em Curso. Eis mais uma iniciativa de Paulo Querido, que não para de nos surpreender. Lê-se: "O CPeC pretende agregar numa lista o maior número de entradas e textos cuja temática se prenda com a crise política levantada em Portugal na semana de 21 a 27 de Junho, quando o Primeiro-Ministro colocou a hipótese de abandonar o Governo para se tornar presidente da Comissão Europeia. A natureza dispersa da blogosfera torna difícil seguir o curso das opiniões publicadas e esta lista é um instrumento para minorar essa dificuldade». A não perder.
- Parabéns: Memória Virtual. Muitos e bons.
segunda-feira, 28 de junho de 2004
Silêncio Ensurdecedor
Ao contrário do que se passa nos jornais, TV e nos Blogs, o silêncio sobre a tragédia do frete de Barroso à UE é ensurdecedor entre a classe política indígena e seus serviçais. A intensidade da criação e reflexão da direita/extrema-direita, a delicadeza do seu mutismo, a ideia evidente que não enxergam um palmo à frente do nariz, diz muito sobre a classe intelectual desses candongueiros da democracia.
Um anúncio assim, de tão extraordinário como inaudito, amortalha a rapaziada da classe política e os jovens turcos - todos ainda a esfregar a cara e a dar contas à vidinha -, e faz tremer qualquer um. O dernier cri é estar sossegado, pouco suspeitoso e observar a circulação. Acredita-se que em fase meditabunda não se esqueçam que "quando a imprudência vem de cima, a revolução vem sempre de baixo", como diria Gomes Leal.
Entretanto, para se confirmar como a malfadada inteligência da rapaziada apaixonada do Portas & Lopes lhes atordoa o juízo - julga-se que na falta do pai putativo Rato-, tenha-se em conta o que é eruditamente estampado no Acidental. Diz muito do que será os próximos dois anos de governação do Lopes. Não há engano possível: aquele rapaz, PPM, irá a ministro. Só pode.
À Volta dos Blogs
- [Via Incoming Signals] "Wonderful news: Ubuweb has created a permanent archive of the 365 Days Project, Otis Fodder's fantastic collection of outsider-music mp3s, which had gone offline in January ..."
Não resistimos:
1. LaurieAnderson TWO SONGS FOR TAPE BOW VIOLIN:(4:06)ETHICS IS THE ESTHETICS OF THE FEW-TURE (Lenin) SONG FOR JUANITA, 1977
2. Guy Debord Excerpt from soundtrack to Critique de la separation (Dansk-Fransk Experimentalfilmskompagni,1961
3. Allen Ginsberg | I'm a Victim of Telephones (1:30, Recorded GPS, December 1968)
4. Allen Ginsberg: C.I.A. Dope Calypso 4:00
5. William S. Burroughs|What Washington,What Orders(recorded GPS, April 1, 1974)
6. John Cage |excerpt from Silence(1:55, recorded Carbondale, Indiana, March 1969)
- [Via Incoming Signals] "Wonderful news: Ubuweb has created a permanent archive of the 365 Days Project, Otis Fodder's fantastic collection of outsider-music mp3s, which had gone offline in January ..."
Não resistimos:
1. LaurieAnderson TWO SONGS FOR TAPE BOW VIOLIN:(4:06)ETHICS IS THE ESTHETICS OF THE FEW-TURE (Lenin) SONG FOR JUANITA, 1977
2. Guy Debord Excerpt from soundtrack to Critique de la separation (Dansk-Fransk Experimentalfilmskompagni,1961
3. Allen Ginsberg | I'm a Victim of Telephones (1:30, Recorded GPS, December 1968)
4. Allen Ginsberg: C.I.A. Dope Calypso 4:00
5. William S. Burroughs|What Washington,What Orders(recorded GPS, April 1, 1974)
6. John Cage |excerpt from Silence(1:55, recorded Carbondale, Indiana, March 1969)
domingo, 27 de junho de 2004
Santana Lopes ou Nós
"Nothing is but what is not ..." [W. S. in Macbeth]
Não é difícil de pressagiar o que sobrevirá à aventura Santana Lopes. Não há nisto nada de novo. Os acontecimentos, por muito emocionais que sejam, só podem conduzir ao caos social e político, tal a hostilidade que o cenário Lopes & Portas indicia. Não podem causar espanto, portanto, a dramatização e a denúncia vindos de diferentes sectores da sociedade portuguesa. Nada de novo, portanto. O que parece ser novo é a imprudência de algumas afirmações, aqui e ali proferidas, o protesto populista (mesmo que sincero) posto a circular e, principalmente, o descuido da exigência do rigor na análise, que estas situações comportam.
Expliquemos: Do ponto de vista constitucional não existe qualquer impedição para que a Assembleia da República não continue em funções. O senhor Presidente da República terá a última palavra, certamente, mas se a obsessão de Jorge Sampaio por essa figura irrealista da estabilidade politica persistir (como infelizmente parece acontecer), então não haverá lugar a eleições. Ora, se a legitimidade formal do novo governo não é questionável, a avaliação do desempenho do governo de Durão Barroso já o é. Os cidadãos eleitores ficam, objectivamente, impedidos de exercer esse imprescindível exercício democrático, porque na verdade ao fim da legislatura não estão a classificar as mesmas políticas e os mesmos intérpretes. A fraude é evidente. E se no invés de Santana estiver a Ferreira Leite, passe a maior legitimidade processual, a posição mantém-se.
Em termos da caracterização do populismo Santanista, parece-se ignorar os seus potenciais perigos. Não se trata, meramente, de assistir a substituição do Diário das Sessões pela Gente ou pela Lux, de ver a aprovação de medidas para relvar todo o país, ou mesmo pela vaidade de construir uma sala oval em S. Bento. É divertido e imaginativo, mas há muito mais a ter em conta para além da fatuidade e do seu espectáculo. É que, por detrás do risonho Lopes e a pretexto do bem público, reside toda uma máquina de evangelização e doutrinação, aonde a lei está sistematicamente ausente, a autoridade é um meio de promoção unipessoal e a favor do grupos de amigos e onde a resistência democrática é simplesmente banida. Quem por isso passou sabe do que aqui se fala. Santana Lopes é o Berlusconi indígena. Quem disso se esquecer não viverá para contar. E não é aceitável pensar que a esquerda aproveite com a chegada de Lopes ao Governo, como alguns registam. Desde logo porque o populismo não lhes dará essa amabilidade, nem o cenário económico que se aproxima o possibilita. É bom não esquecer.
[Não fujas]
"... Não fujas. Tem ânimo e contempla-te. «Que direito teme este tipo de dizer-me o que quer que seja?» Leio esta pergunta nos teus olhos amedrontados. Ouço-a na sua impertinência, Zé Ninguém. Tens medo de olhar para ti próprio, tens medo da crítica, tal como tens medo do poder que te prometem e que não saberias usar. Nem te atreves a pensar que poderias ser diferente: livre em vez de deprimido, directo em vez de cauteloso, amando às claras e não mais como um ladrão na noite. Tu mesmo te desprezas, Zé Ninguém. Dizes: «Quem sou eu para ter opinião própria, para decidir da minha própria vida e ter o mundo por meu?» E tens razão: Quem és tu para reclamar direitos sobre a tua vida? ..."
[Wilhelm Reich, in Escuta, Zé Ninguém!]
"... Não fujas. Tem ânimo e contempla-te. «Que direito teme este tipo de dizer-me o que quer que seja?» Leio esta pergunta nos teus olhos amedrontados. Ouço-a na sua impertinência, Zé Ninguém. Tens medo de olhar para ti próprio, tens medo da crítica, tal como tens medo do poder que te prometem e que não saberias usar. Nem te atreves a pensar que poderias ser diferente: livre em vez de deprimido, directo em vez de cauteloso, amando às claras e não mais como um ladrão na noite. Tu mesmo te desprezas, Zé Ninguém. Dizes: «Quem sou eu para ter opinião própria, para decidir da minha própria vida e ter o mundo por meu?» E tens razão: Quem és tu para reclamar direitos sobre a tua vida? ..."
[Wilhelm Reich, in Escuta, Zé Ninguém!]
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