terça-feira, 8 de junho de 2004
Eleições: o dia do desespero
Cansados do monóculo do Prof. Marcelo, confessamos que sentimos um apetite imenso para espadeirar as imprudências que (des)legitimam estas eleições. Aturdidos com tantas análises, e à falta de uma única que já se vê tem a graça do José Manuel Fernandes, cientes da dispersão do público pelos futebóis e esconjurados os exorcismos musicais, declaramos patrocinar este singular exame que invoca o país profundo a não folgar. Mesmo que o pronto a pensar não tenha a intensidade dramática do Delgado, a vibração conceptual do arq. Saraiva ou a frieza congelada do Bettencourt, eis-nos inspirados pela arte do melodrama. E não atendeis ao dizer que "a mais alta, como a mais baixa forma de crítica é uma autobiografia" [O. Wilde]. Não vos perdoaríamos.
Organizar o país, diz o valido da coligação. E zás, Barroso numa rendida mesura informativa diz-nos que o primeiro-ministro é o camarada Carvalhas. Com punhos de rendas, pretende amestrar as revindicações em tempo do Euro, ao mesmo tempo que vai retalhando privatizações, autopsiando a PJ, peregrinando guerras, escaqueirando a paciência do confrade luso. A ternura acariciante do Primeiro-Ministro pelos executores é uma carpintaria de repetição ad nauseam que provoca no indígena o recuerdo de Jorge de Sena: «os nobres palavrões [são] essenciais à vida». Daí a elevação com que o gentio trata a governação. Em especial o tacteante Portas e o impagável humorista Pires de Lima.
Das eleições europeias exala-se um hálito bafiento entre a galeria dos notáveis. Na coligação, sobressai o polido Deus Pinheiro, agora que deixou a vergonha em casa (ao mesmo tempo que a manta e o saco de golfe) e o extenuado Graça Moura, que em linguagem maneirinha pontifica. O Torga é que o topava bem. Adiante! Resta saber como justificará este PP, repleto de cocheiros e desordeiros, o incomodo de nada dizer sobre a sua posição face à política europeia, resignado que está a ladrilhar em silêncio a rota eleitoral. O vaudeville será luxuriante, cremos. Ou então a cambalhota europeia precisa de ser rebuscada, pelo que se aguarda os pinotes vocabulares do comissário Vasco Rato ou os versículos brejeiros do jovem Paulo Pinto Mascarenhas (aproveita-se para registar a eficaz campanha desse duo de profissionais, em apoio ao Bloco de Esquerda. Estamos, definitivamente, convencidos). A chinfrineira será comovente.
A sorrateira campanha de Sousa Franco, entretido em ócios de felicidade, reapareceu esta semana com um facto político noviciado: a putativa candidatura do professor às Presidenciais. Supõe-se que o país embezerrou. Pode ser que tenha mesmo dispersado, em solenes defumações de alecrim, fatigado por ver o tiro nos pés do caloroso pretendente. A nosso ver, a gente civilizada não abre clareiras assim. Avança, com prudência, sobre o tempo, chega primeiro, escreve depois. No resto, uma pergunta e várias respostas: que diferencia Sousa Franco de Deus Pinheiro? Sabem? Ou "la vraie vie est ailleurs"? E se é certo, como diria Sartre, que "é a intenção, como diz a moral kantiana, que deve ser radical", então onde está o desafio? O alarido da candidata Ilda não nos comove. A desafinada e guaguejante fanfarra sobre a Europa é tal que se sai quase sempre do assunto em andamento. Os indígenas não são mudos. Muito menos tolhidos intelectualmente. Resta o BE, esses versistas da radicalidade lusa, agora (?) convertidos à moderna Europa dos trabalhadores. No bucolismo de Miguel Portas não se vislumbra pregação sobre o projecto de construção europeia ou certezas sobre as competências das diversas instituições. Apenas dúvidas. O que é sugestivo. Ou não fosse Portugal um país de poetas.
"A Minha Oposição"
Reconsiderando: nunca tive muito por onde escolher. A deserção, apenas, onde se propusesse. Quero dizer, intelectualmente desertor, o que estritamente para mim significa: recuo instintivo ante a forma, quem quer que a imponha, a sugira. A talvez nobre arte da retirada.
... Ao princípio era a Família. Pais, mães, irmãos, muitíssimos tios, o mato grosso. Após o que fui, fomos convalescer para a escola. A escola primária da creche, permanganato e puerilidade; a escola primária dos professores, este, aquele, o gordo, os cruéis, uma tropa; o liceu fatinho novo, uma es-tu-pi-dez permanente de sete anos; a universidade de Direito, ainda mais cruel, requintadamente, mais ociosamente estéril, mais entupida que as anteriores, e como se não bastasse, porque ainda não bastava, toca para a de Filosofia, compra-lhes livros, entretém-lhes a vaidade, faz-te dos deles, por pequenos sinais de entendimento, atitudes, pequenas objecções com o ar de pertinazes. Este e o outro, e qualquer outro Carnaval em que me tivesse visto encarcerado, encontraram-me sempre, como dizer, murcho. Apagado, triste, céptico, ante as formas. E o que se lhes parecesse, o que fosse «da família».
Como viver, então? Criativamente. Em plena raiva amorosa fraternal experimentalista observadora radical atenta até que um dos dois se apague, o homem fundamental ou o mundo habitável."
[Álvaro Lapa, Lagos, 15/4/73, in &tc, nº 10]
Reconsiderando: nunca tive muito por onde escolher. A deserção, apenas, onde se propusesse. Quero dizer, intelectualmente desertor, o que estritamente para mim significa: recuo instintivo ante a forma, quem quer que a imponha, a sugira. A talvez nobre arte da retirada.
... Ao princípio era a Família. Pais, mães, irmãos, muitíssimos tios, o mato grosso. Após o que fui, fomos convalescer para a escola. A escola primária da creche, permanganato e puerilidade; a escola primária dos professores, este, aquele, o gordo, os cruéis, uma tropa; o liceu fatinho novo, uma es-tu-pi-dez permanente de sete anos; a universidade de Direito, ainda mais cruel, requintadamente, mais ociosamente estéril, mais entupida que as anteriores, e como se não bastasse, porque ainda não bastava, toca para a de Filosofia, compra-lhes livros, entretém-lhes a vaidade, faz-te dos deles, por pequenos sinais de entendimento, atitudes, pequenas objecções com o ar de pertinazes. Este e o outro, e qualquer outro Carnaval em que me tivesse visto encarcerado, encontraram-me sempre, como dizer, murcho. Apagado, triste, céptico, ante as formas. E o que se lhes parecesse, o que fosse «da família».
Como viver, então? Criativamente. Em plena raiva amorosa fraternal experimentalista observadora radical atenta até que um dos dois se apague, o homem fundamental ou o mundo habitável."
[Álvaro Lapa, Lagos, 15/4/73, in &tc, nº 10]
Náuseas
"Aqui me terás movendo-te os cordelinhos que quiser, até te levar ao sítio onde me aprouver que tu estejas" [António Pedro]
Corre o tempo de deliciosos desvarios nestas fastidiosas eleições lusitanas. A nacional-pirosice ou eco político de espíritos encruados, o engenho afamado que flameja em cada romeiro infatigável da Europa, o arrazoado escolástico dos putativos candidatos e o modelo de virtudes cívicas de entronizados cidadãos, são admiráveis. Ao melhor argumento desses filiados da geração de Calino, eis a ventura estampada no rosto dos correligionários. Aos dribles eleitoralistas desapiedados, os aplausos redobram, o quebranto fortalece entre os eleitos. Nos jantares de circunstâncias dessa morgue de eruditos indígenas, saltam entre os escombros da discursata o relâmpago dum texto embevecido, o brilho fadista do comentário, o ditado da vaidade decorativa. O caso é sério, a liberdade uma solene mentira.
Que dizer do desassombro desse silêncio em torno do debate das questões europeias? Birra dos jornalistas ou ignorância dos candidatos? Desvios do teclado dos escribas ou miséria e cegueira da classe política? Aqui está: o furor das propostas enunciadas não excitam quem quer, apenas embaraçam quem ouve. E a seriedade dessa gente? Que dizer das apreciações levianas, o delírio & capricho do comentário insulso, o discurso rabugento e enturvado com que ilustram a campanha? Como entender essa Ana Manso, caluniadora convicta da nobilíssima direita ou a educação gafa do imaculado cristão-novo João Almeida? Acaso a vida de alguns tolera uma bibliografia pública?
domingo, 6 de junho de 2004
Catálogo 5 da Livraria D. Pedro V (Rua D. Pedro V, 16, Lisboa)
O Catálogo da Livraria D. Pedro V do mês de Maio, embora atrasado, acaba de sair. Refira-se que apresenta um conjunto importante de livros da Editora Frenesi, de Paulo da Costa Domingos (que comemora 25 anos de actividade), alguns de circulação restrita.
Algumas referências: Revista ABC, Ano I, nº1 a Ano VI, nº 319, em 12 vols, 1920-26 / Conversas com Marcello Caetano, de António Alçada Baptista, 1973 / Lisboa Antiga. Bairros Orientais (2ª ed.), de Júlio Castilho, 1939, 12 vols / Les Ruines ou Meéditations sur les Révolutions des Empires suivies de la loi naturelle ..., por Constantin François Chassebouef, 1876 / Os Grandes Portugueses, de Hernani Cidade, Arcádia, II vols / Lunario e Prognostico Perpetuo para todos os reinos e provincias, por Jerónimo Cortez, 1895 / Respigos Toponímicos e Gentílicos. O nome «Portalegre», por Alexandre de Carvalho Costa, 1950 / Os Telles de Albergaria, de Carlos Malheiro Dias, 1910 / Le Petit Monde de Piccasso, por David Douglas Duncan, 1959 / Folhas Volantes, de João Falco (aliás Irene Lisboa), 1940 / Figuras Literárias Nacionais e Estrangeiras, de Cândido Figueiredo, 1906 / Formes Traditionnelles et Cycles Cosmiques, de René Guénnon, Gallimard, 1970 / Ilustração Moderna. Publicação Mensal (nº 1, Maio 1926 a nº 58, 1932), dir. Marques de Abreu / O Retábulo de S. Vicente da Sé de Lisboa e os Documentos, por Dagoberto Markl, Caminho, 1988 / Gente da Terceira Classe, de José Rodrigues Miguéis, Estúdios Cor, 1962 / Portugal. Diccionário Histórico, Chorographico, Heráldico, Biographico, Bibliographico, Numismático e Artístico ..., Lisboa, Romano Torres, 1904, VII vols / Ó Portugal Profundo, de António Quadros, Edições Espiral, 1980 (poema) / Obras de Eça de Queiroz, Edic. do Centenário, 1946, 16 vols / Obras de Alves Redol (Avieiros, Fanga) / Nuno Gonçalves. Pintor Português do Século XV e o seu Retábulo para o Mosteiro de S. Vicente de Fora, por Reynaldo dos Santos (Ed. luxuosa), London, 1955 / The Art of Portugal, por Robert Smith, New York, 1968
Arrumos, Livros & Papéis [faxina do mês]
- "... a palavra Páscoa já tem um sentido diferente do inicial ... De facto a palavra começa por ter no hebraico - p'hesachh - o significado de passagem, trânsito (cf. Morais). E a festa da p'hesachh comemorava jubilosamente a travessia do Mar Vermelho pelos Hebreus. A coisa porém não principia aqui. Vem já de trás, dos pagãos que celebravam nos ágapes em que imolavam o carneiro, não a passagem do Mar Vermelho, mas a passagem do Inverno para a Primavera que se realiza no signo de Áries: trata-se pois inicialmente duma festa astrológica e é neste signo do Áries=Carneiro, que deve principiar a nossa história ..." [Américo Cortez Pinto, in Meditações Filológicas em Volta do Termo «Páscoa», sep., 1965]
- Curioso Discurso de Anselmo Vieira a propósito da discussão do Orçamento na sessão de 4 de Maio de 1901, e intitulado «A Situação Económica de Portugal», Impr. Nacional, 1901, c/ ded. manuscrita ao Senhor Marquez de Fontes Pereira de Mello / opúsculo raro de A. Correia Afonso, «Gago Coutinho», publicado em S. Tomé, 1922, numa conf. Humorística realizada no cinema Novo Mundo de S. Tomé, na récita em honra dos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral / «Investigação sobre Combatentes d'Ourique em Documentos Medievais», um trabalho genealógico de A. Botelho da Costa Veiga, 1928, sep. da Nação Portuguesa (ver Egas Moniz, O Lidador, ...) / Poesias de Francisco Miguel, imprimidas em Setembro de 1960, 28 p., com uma pequena biografia de Francisco Miguel, referindo a sua prisão em Elvas, depois da fuga de Peniche. Diz na contracapa o seguinte: "Dai por este folheto o que quizerdes para as vitimas da repressão fascista". Poesias simples, algumas curiosas ["O xadrez não me desgosta/jogado no intervalo,/ a minha grande ambição/ é jogar como Carlos Costa/ e conseguir derrotá-lo" //"E se tu, Carlos me foges,/ receando uma tareia,/ eu jogarei com o Borges,/ porque ele nada receia"]
- "... a palavra Páscoa já tem um sentido diferente do inicial ... De facto a palavra começa por ter no hebraico - p'hesachh - o significado de passagem, trânsito (cf. Morais). E a festa da p'hesachh comemorava jubilosamente a travessia do Mar Vermelho pelos Hebreus. A coisa porém não principia aqui. Vem já de trás, dos pagãos que celebravam nos ágapes em que imolavam o carneiro, não a passagem do Mar Vermelho, mas a passagem do Inverno para a Primavera que se realiza no signo de Áries: trata-se pois inicialmente duma festa astrológica e é neste signo do Áries=Carneiro, que deve principiar a nossa história ..." [Américo Cortez Pinto, in Meditações Filológicas em Volta do Termo «Páscoa», sep., 1965]
- Curioso Discurso de Anselmo Vieira a propósito da discussão do Orçamento na sessão de 4 de Maio de 1901, e intitulado «A Situação Económica de Portugal», Impr. Nacional, 1901, c/ ded. manuscrita ao Senhor Marquez de Fontes Pereira de Mello / opúsculo raro de A. Correia Afonso, «Gago Coutinho», publicado em S. Tomé, 1922, numa conf. Humorística realizada no cinema Novo Mundo de S. Tomé, na récita em honra dos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral / «Investigação sobre Combatentes d'Ourique em Documentos Medievais», um trabalho genealógico de A. Botelho da Costa Veiga, 1928, sep. da Nação Portuguesa (ver Egas Moniz, O Lidador, ...) / Poesias de Francisco Miguel, imprimidas em Setembro de 1960, 28 p., com uma pequena biografia de Francisco Miguel, referindo a sua prisão em Elvas, depois da fuga de Peniche. Diz na contracapa o seguinte: "Dai por este folheto o que quizerdes para as vitimas da repressão fascista". Poesias simples, algumas curiosas ["O xadrez não me desgosta/jogado no intervalo,/ a minha grande ambição/ é jogar como Carlos Costa/ e conseguir derrotá-lo" //"E se tu, Carlos me foges,/ receando uma tareia,/ eu jogarei com o Borges,/ porque ele nada receia"]
sábado, 5 de junho de 2004
Federico García Lorca [1898-1936]
n. em Fuente Vaqueros (Granada) a 5 de Junho de 1898
"Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña,
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas ..." [FGL, Romance Sonámbulo]
Adam Smith [1723-1790]
n. em Kirkaldy a 5 de Junho de 1723
"... A Riqueza das Nações apareceu ... nos fins de 1775 e princípios de 1776 (...) A 2ª ed. de 1778 não oferece senão ligeiras diferenças quanto à 1ª; a 3ª de 1784 tem importantes adições e consta de 3 volumes 8º. A 4º e a 5º são reproduções da 3ª e saíram respectivamente em 1786 e 1789 (...)
Na língua portuguesa foi apenas publicado, com a nota de ter saído em 1811 da impressão régia do Rio-de-Janeiro, o «Compêndio da obra da Riqueza das Nações de Adam Smith traduzida do original inglês por Bento da Silva Lisboa, oficial da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra» (...)
Quanto à influência de A Riqueza das Nações nos economistas portugueses, exerceu-se, sem dúvida; mas, considerados os estudos destes logo a seguir à leitura daquela, fica-se com a impressão de que semelhante influência foi indirecta, através de economistas de outros países, sobretudo franceses.
Nenhuma tradução de A Riqueza das Nações existe em língua portuguesa. O livro saído em 1811 a que já nos referimos. da iniciativa de Bento da Silva Lisboa, é apenas um resumo dessa obra ... Por outro lado, havendo na obra de Smith apreciações sobre Portugal ... seria inexplicável o silêncio dos nossos economistas se nelas tivessem feito reparo. Esse silêncio não pode ter sido nem por menos patriotismo nem por menos ciência. É olhar ... ao grupo que escreveu as Memórias Económicas da Academias Real das Ciências de Lisboa, publicadas de 1789 a 1816, e o grupo de portugueses residentes em Paris (com Solano Constâncio à frente) que sustentaram naquela cidade a revista Anais das Ciências, das Artes, e das Letras, de 1818 a 1822.(...)
Outra circunstância a notar. Nunca no ensino público em Portugal foi a obra de Smith adoptada para texto ou base de lições, ao contrário do que sucedeu ... plano de estudos nas Universidades de Espanha em 1807. O primeiro compêndio entre nós organizado foi o do Dr. Manuel de Almeida em 1822, que é uma amálgama tirada de vários economistas estrangeiros como Sismonti e Herrenschwand; a seguir vieram as Instituições de Economia Política do Dr. Ferreira Borges, que são uma adaptação do Curso de Economia Política de Henrique Storch. Tudo indica, pois, que a influência de A Riqueza das Nações nos nossos economistas foi indirecta. (...) Nas duas edições de catálogos da livraria de Adam Smith não se descobrem senão referências a estudos de dois [trabalhos de escritores] portugueses. Um é o livro Ensaio da Circulação e do Crédito, publicado em francês em 1771 por Isaac Pinto, filho de judeus portugueses expulsos de Portugal. (...) a 2ª edição do catálogo da livraria de Adam Smith ... vem compreendida a obra de D. Jerónimo Osório, bispo de Silves - History of the Portuguese during the Reign of Emmanuel, containing all their discoveries from the Coast of Africa ..., London, 1752. É das informações dessa obra que deriva a afirmação de Smith de que o comércio externo de Portugal é o mais antigo que o de qualquer dos outros países da Europa, excepto a Itália ..." [António Lino Neto, in Adam Smith Fundador da Economia Política, Lisboa, 1936]
quinta-feira, 3 de junho de 2004
Vigília e Maquilhagem de José Manuel Fernandes
"O facto é o mais doce sonho que o labor conhece"
Via Grande Loja, tomámos conhecimento da reacção do CR d'O Público face aos acontecimentos em torno da demissão de Ana Sá Lopes, editora da Secção Nacional do jornal. A ser verdade o que é aludido, dois aspectos ressaltam logo: a nobreza de carácter da jornalista, o seu profissionalismo em defesa de uma ética da informação, do jornalismo e da verdade; por outro lado, constatasse que o incidente entre o director do jornal, José Manuel Fernandes, e o conselho de redacção se situa, necessariamente, no campo do estatuto editorial do mesmo jornal, no que se refere à "relação rigorosa e transparente, autónoma do poder político e independente de poderes particulares", que consta do seu Livro de Estilo. Ora, é conveniente clarificar o que se passou para que a seriedade e a credibilidade do jornal não seja posta em causa.
Assim deve ser. O curioso da notícia, é que nos é dito que o inefável JMF teria "perdido a confiança" na editora da Secção Nacional e, há muito (pasme-se!) em João Ramos de Almeida, persona non grata pela Ministra das Finanças. Percebe-se o porquê deste manifesto sofrimento que engasga a senhora do deficit, mas não se entende o emparelhamento de JMF na soberba e arrogância da Ministra. A não ser que o exercício cortês de vigilância do director se esteja a tornar cada vez mais numa obscura falta de equilíbrio deontológico, ou num alucinado desatino, resultante das trovas ressaibiadas e humorísticas que o obstinado JMF nos atira cada semana sobre as nossas cabeças. Mais maquilhagem precisa-se!
"O facto é o mais doce sonho que o labor conhece"
Via Grande Loja, tomámos conhecimento da reacção do CR d'O Público face aos acontecimentos em torno da demissão de Ana Sá Lopes, editora da Secção Nacional do jornal. A ser verdade o que é aludido, dois aspectos ressaltam logo: a nobreza de carácter da jornalista, o seu profissionalismo em defesa de uma ética da informação, do jornalismo e da verdade; por outro lado, constatasse que o incidente entre o director do jornal, José Manuel Fernandes, e o conselho de redacção se situa, necessariamente, no campo do estatuto editorial do mesmo jornal, no que se refere à "relação rigorosa e transparente, autónoma do poder político e independente de poderes particulares", que consta do seu Livro de Estilo. Ora, é conveniente clarificar o que se passou para que a seriedade e a credibilidade do jornal não seja posta em causa.
Assim deve ser. O curioso da notícia, é que nos é dito que o inefável JMF teria "perdido a confiança" na editora da Secção Nacional e, há muito (pasme-se!) em João Ramos de Almeida, persona non grata pela Ministra das Finanças. Percebe-se o porquê deste manifesto sofrimento que engasga a senhora do deficit, mas não se entende o emparelhamento de JMF na soberba e arrogância da Ministra. A não ser que o exercício cortês de vigilância do director se esteja a tornar cada vez mais numa obscura falta de equilíbrio deontológico, ou num alucinado desatino, resultante das trovas ressaibiadas e humorísticas que o obstinado JMF nos atira cada semana sobre as nossas cabeças. Mais maquilhagem precisa-se!
quarta-feira, 2 de junho de 2004
[Notas sobre a edição portuguesa d'A Filosofia Na Alcova, do Marquês de Sade]
"Não me atrevo decerto a contestar que Sade seja um grande escritor. E, mais ainda que um grande escritor, uma personalidade-padrão, uma figura emblemática, uma espécie de farol. Acho mesmo que devia ser declarado - como os faróis - objecto de utilidade pública. Ele tem, com efeito, o alto mérito de assinalar, à navegação nocturna dos nossos instintos, a existência dos piores baixios ou de correntes perigosíssimas. E, todavia, o seu espectáculo desagrada-me (...) O estilo do «Divino Marquês» apresenta-se, em geral, de uma chateza confrangedora, estereotipada e uniforme, tecido de constantes «clichés», sem o risco pessoal daqueles pormenores concretos e daquelas transposições metafóricas que dão relevo e surpresa à linguagem. Por outro lado, o seu «mundo» romanesco revela-se bastante circunscrito, aflitivamente esquemático, regido por leis quase mecânicas..." [David Mourão Ferreira, pref. á 1ª ed. d'A Filosofia na Alcova, Afrodite, 1966 - livro proibido/apreendido em 1966]
"... Quer o Meritíssimo Dr. Manso queira ou não queira, quer o Cardoso Pires lhe prefira o Laclos, o Casanova, quer as autoridades francesas queimem as edições do Pauvert - o Sade está aí, digo tudo: o Sade está entre nós. Digo mais grave: o Sade está em todos dentro de nós. Foi essa afinal a sua grande revelação: um novo segredo humano descoberto, o homem contemplando-se numa dimensão mais real no fundo dos fundos que é o abismo da nossa alma (...) O homem lobo do homem é verdade muito antiga. O Sade tirou-a cá para fora (como Freud fez depois com a libido) e exaustivamente encheu páginas (teve tempo, coitado! Em trinta anos de cárcere; e nem sei como certos nossos escribas conseguem escrever tanto, andando sempre cá por fora e ainda bem! E com várias outros empregos à mistura e ainda melhor!) a demonstrar-nos os infortúnios da virtude, essa perigosa chatice (...) Voltando a Sade: leiam-no. Não se masturbem mais do que o suficiente para poderem ainda ficar depois o suficientemente lúcidos para o apreciarem e meditarem para fora e muito acima da pornografia. O Sade também ensina a pensar, a conversar, a desfibrar em nós e perante os outros molas ocultas que somos ainda nós, quer o saibamos quer não, quer o queiramos quer o detestemos (...)" [Luiz Pacheco, ibidem]
Notas presentes na 2ª edição portuguesa d'A Filosofia na Alcova: em 1966, processo 125 foram arguidos em processo de instrução preparatória sobre liberdade de imprensa, Fernando Ribeiro de Melo (editor da Afrodite), António Manuel Trindade, Herberto Helder, Luiz Pacheco e João Rodrigues / da directoria da PJ de 5 de Abril de 1966, por despacho, foram proibidos de circular no País os seguintes livros: Manual do Erotismo Hindu (Afrodite, 1965); A Filosofia na Alcova do Marquês de Sade (trad. de Helder Henriques - aliás Herberto Helder -, pref. de David Mourão Ferreira e Luís Pacheco, edição de Fernando Ribeiro de Mello) e a Antologia da Poesia Erótica e Satírica, selecção de Natália Correia / refira-se que consta dos autos que a tradução foi encomendada por Herberto Helder a António Manuel Calado Trindade, que aliás confirma que foi ele que fez a tradução da obra de Sade do original em francês / ouvido em auto de declarações, Luiz Pacheco, reconhece que é da sua autoria um prefácio do livro / refira-se que foram pronunciados todos os citados, menos David Mourão Ferreira, e que à data da sentença João Rodrigues tinha falecido, pelo que os restantes réus foram condenados a penas de prisão e multa, tendo sido os seus defensores, Manuel João da Palma Carlos, Luís Francisco Rebelo, Fernando Rocha Calisto, João Lopes Alves e Jorge Sampaio / por último, a contestação dos réus sobre a acusação de carácter pornográfico e obsceno da obra é curiosa, nomeadamente o notável testemunho de João Rodrigues (que fez as ilustrações) e que apresentou entre as suas testemunhas abonatórias, Gérard Castello-Lopes, Alçada Baptista, Dácio de Sousa, António Veloso, Sá Nogueira, João Câmara Leme e, ainda, a contestação de Ribeiro de Mello que recorre em defesa da obra a considerandos de Bataille, Jean Cocteau, Claude Mariac, Joyce, Miller, Lawrence, etc. / as testemunhas de Herberto Helder foram Vespeira, Alexandre Babo, Sttau Monteiro, o pintor Sá Nogueira (de novo) e as testemunhas de Luiz Pacheco, Virgílio Martinho, Jaime Salazar Sampaio, Vitorino Nemésio, Jorge Listopad, Virgílio Ferreira, Ruy de Mello / pelo lado de Ribeiro de Mello, as testemunhas apresentadas foram David Mourão Ferreira, José Augusto França, João Palma Ferreira, José Blanc Portugal, Tomaz Ribas, Vítor Silva Tavares, Virgílio Martinho, Liberto Cruz e Alexandre O'Neill
Marquês de Sade [1740-1814]
n. em paris a 2 de Junho de 1740
"... As aventuras sádicas não são fabulosas: passam-se num mundo real, contemporâneo da juventude de Sade, ou seja na sociedade de Luís XV. A armadura social deste mundo é brutalmente sublinhado por Sade; os libertinos pertencem à aristocracia ou mais exactamente (a maior parte das vezes) à classe dos financeiros, tratantes e prevaricadores, numa palavra, os exploradores, enriquecidos a maior parte deles nas guerras de Luís XV e nas práticas de corrupção do despotismo.
Produz-se todavia um paradoxo: as relações de classe são, em Sade, ao mesmo tempo brutais e indirectas enunciadas conforme a radical oposição explorador-explorado, essas relações não passam para o romance como se se tratasse de as descrever a título referencial (foi isso o que fez um grande romancista «social» como Balzac); Sade pega nelas de modo diverso: não como um reflexo a pintar, mas sim como um modelo a reproduzir. Onde? Na micro-socieade dos libertinos; esta sociedade é construída como uma miniatura, uma maqueta; para ali transporta Sade a divisão de classe; de um lado, os exploradores, os possuidores, os governantes, os tiranos; do outro lado, o povinho..." [in pref. A Filosofia na Alcova, Edições Afrodite, 2ª ed.]
Locais: The Marquis de Sade A Life / Marquis de Sade / Marquis de Sade (1740 - 1814) / Sade / Selected Bibliography / Sade Bibliografia / El Divino Marqués / Oeuvres du Marquis de Sade / Marquis de Sade eLibrary / Sademania / El marqués de Sade o la estética de la perversión / Les perversions du Marquis de Sade / Sade (por Bataille) / The Marquis de Sade, Last Will and Testament
terça-feira, 1 de junho de 2004
À Volta da Blogosfera
Em hors-série, num retorno de agradecimento algo tardio, daqui arremessamos ao Absurdo, Abrupto, Cruzes Canhoto, Estrada do Coco, Impensável, Letteri Café e Respublica um muito obrigado pela lembrança do nosso aniversariado. Saudações enternecidas.
A arte de Pedro Mexia, atrevidamente curiosa, deixava-se apalpar no salão do Dicionário do Diabo. Acontece que a alvorada Mexiana mudou para livro impresso, in-fólio qualquer coisa, numa pragmática do luxo que desvaneceu o espaço blogosférico. O Dicionário será encerrado (dizem!) mas Pedro Mexia resplandecerá, pastoreando (des)contentamentos vigorosos e esgrimindo graciosas aguarelas urbanas, no Fora do Mundo. Lá estaremos em visitação extraordinária.
[a propósito de crónicas, escritos, trabalhos jornalísticos & bloguísticos, em louvor e capricho de Pedro Mexia]:
"Do jornalismo, não conheço melhor definição que a de Rubem Braga, admirável cronista de um país que tem na crónica a expressão mais literária e pessoal da Imprensa:«O jornalismo é a arte superior de se morrer todos os dias»
Eis aqui resumida a condição precária dos escritos jornalísticos, que são de algum modo o que é a mesma vida, tanto como ela se confundem. Não morremos também nós todos os dias, e sem que façamos da nossa morte uma arte superior? O jornalismo vive intensamente a hora que passa e, na pressa do dia-a-dia, o hoje é amanhã um ontem já caduco, como as folhas impressas que são já folhas mortas, varridas por um melancólico vento de Outono (...) Estes escritos não são como o vinho de boa casta, tanto melhor quanto mais velho. (...)
A crónica, que no século passado se chamou folhetim e depois recebeu o nome de prosa de arte, a crónica é que concede uma como que perenidade à Imprensa, libertando-a do que ela tem de imediato, de precário, de sensacionalista ou de superficial. Essa crónica ou prosa de arte é como o vento do espírito soprando onde quer - mesmo onde o espírito parece ausente. (...)
Escritores individualistas, voltam-se para si mais do que para outros. São eles próprios a matéria dos seus escritos e, se tivessem maior sentido de equilíbrio, seriam discípulos de Montaigne, oscilando entre contrários, contradizendo-se porque a contradição está inscrita na natureza humana, coerentes enquanto crêem profundamente na impressão ou na emoção do momento em que escrevem. O eu, o moi, não lhes é odioso, embora odiosa, ou pelo menos insuportável, lhes seja por vezes a vida. (...) Esses escritos, que dir-se-ia condenados à sorte precária dos mesmo jornais que os hospedaram, resistiram ao tempo quando publicados em livro, não pela maior longevidade do livro, mas porque traziam em si as condições de sobrevivência: a cultura, a perspicácia da observação, o sal da ironia critica, a graça do estilo (...)"
[João Bigotte Chorão, Camilo e o jornalismo literário do século XIX, in Prelo, 18]
segunda-feira, 31 de maio de 2004
Walt Whitman [1819-1892]
n. em Long Island a 31 de Maio de 1819
"Nasceu em Long Island ... quem seria o maior poeta da América, e um dos mais originais e corajosos poetas líricos da poesia universal. Os seus costumes, a sua franqueza, o seu erotismo, o seu radicalismo político, a sua expressão anaforicamente tumultuária e repetitiva, o seu gosto das apóstrofes e das enumerações, o seu verso esplendidamente livre, é muito escândalo junto para ele ser o poeta nacional que ninguém foi como ele, ainda que muito mais crença na democracia que por nacionalismo. (...) Vivendo de empregos ocasionais, jornalista frustado (mas as suas reportagens da Guerra Civil da Secessão são obras primas), Whitman foi um Verlaine sem senso de pecado, e com um sentido de grandeza e da magestade do mundo e da vida, que Verlaine não teve.(...) [Jorge de Sena, in Poesia de 26 Séculos]
"... De aqui de Portugal, todas as épocas no meu cérebro,
Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,
Eu, de monóculo e casaco exageradamente cintado,
Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt,
Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser..." [Álvaro de Campos]
"Ainda mais coragem, meu irmão ou irmã
Não vaciles - a Liberdade tem de ser servida, haja o que houver;
Que importa que ela falhe uma vez, ou duas vezes, ou muitas vezes
Ou seja ferida pela indiferença ou ingratidão do povo ou pela infidelidade
Ou pelo aparato das mordaças do poder, soldados, canhões, códigos penais.
Aquilo em que nós cremos aguarda latente em todos os continentes,
A ninguém convida, não promete nada, repousa em calma e claridade.
[é teimoso e tranquilo, não conhece o desanimo,
Esperando com paciência, esperando a sua hora ..."
[WW, A Um Revolucionário Europeu Vencido, trad. Jorge de Sena]
Jogo-Libertinagem
"... Jogo-libertinagem. Na biografia do autêntico libertino Laclos par Lui-Même, Vaillant [Roger Vaillant] anota:
«A libertinagem é um jogo dramático com figuras bem determinadas (...) Jogo de sociedade, jogo rigoroso como o xadrez, jogo dramático como a tourada»
Exemplos práticos encontram-se nas páginas de Stendhal, de Laclos, Casanova, nas cenas de sedução da marquesa de B... em Vida e Aventura do Cavaleiro de Faublas. E em Vaillant:
- na Cabra-Cega. O encontro amoroso Annie-Marat principia e acaba num esquema clássico de «geometria sentimental» à Laclos. «Jogo de mão, jogo de vilão» diz Marat ao iniciar a corte à devota amiga (...)
Vaillant afirma em Les Mauvais Coups que «os amantes autênticos nunca são desvairados de paixão». E em Laclos: «O libertino não cede à carne, satisfá-la deliberadamente» (...) Um libertino é por definição homem da liberdade; para ele «o comportamento à roleta é o mesmo que na vida» (Milan, em Les Mauvais Coups) ..."
[José Cardoso Pires, in prefácio ao livro de Roger Vaillant, Cabra-Cega, Ulisseia, 1959]
Tédio por Lisboa
"A pedra abre a cauda de ouro incessante, / só a água fala nos buracos" [HH]
Nada de calúnias sobre Lisboa. A reprimenda que se pode fazer ao longo da peregrinação pela cidade, deixemo-la aos seus cidadãos. Dizem alguns que as cidades que mais amamos "são aquelas que nunca vimos". Pode ser, não sabemos. Mas, entre aquelas que estimamos chega um dia em que o encanto se quebra. Lisboa espraia-se no irrisório da paisagem, por entre ruas e casas a cair de tédio, vielas sujas mutiladas por pessoas tristonhas e impotentes, pacientemente cotejando modernidades mil, que tardam a acudir. Mas basta soletrar o seu nome, para fazer evocar a sua soberba embebida em história lavrada que nenhum olhar consegue esquecer. Mas, regressamos ... sempre. Como se silenciosamente bordássemos um corpo lânguido de mulher.
Fora isso ... a romagem ao Chiado e Bairro Alto foi admirável. Não tínhamos entrado no mundo. Evidentemente, "le centre du monde est partout e chez nous" [Eluard]
domingo, 30 de maio de 2004
[A propósito do Rock in Rio- Lisboa]
"O cheiro de rosas velhas e tabaco
Faz-me recordar.
Há quase vinte anos
Que não te vejo
E prossegue o nosso meio amor.
Deixaste-me isto:
Esta mão, entreaberta, imóvel
Sobre uma colcha verde.
Coisa bastante para erguer
Alguns poemas de melancolia.
Tivesse eu então tocado em ti
Talvez um de nós sobrevivesse."
[Ian Hamilton, Epitáfio]
Leilão de Livros e Desenhos Gravuras e Manuscritos
da Biblioteca Salema Garção [conclusão]
Algumas referências: Beja, sec. XVI (mans sobre pergaminho com inf. sobre bens do concelho de Beja, refª a moradores e proprietários em Moura, Alvito e Cuba) / Campo Maior, sec. XVI (mans sobre pergaminho da demarcação da vila de Campo Maior feita por Mendo Afonso) / O Beijo do Diabo, de João de Andrade Corvo (Mans autógrafo datado de 7 de Julho de 1861) / Elementos de Direito Publico de Portugal, por Ricardo Nogueira, sec. XVIII (trata-se prov. das Prelecções de Direito Pátrio que fez no ano lectivo de 1795 e 1796 Ricardo Raimundo Nogueira, natural do Porto, lente da Faculdade de Leis e Reitor do Colégio dos Nobres de Coimbra, que vieram a ser publicadas no Instituto, vol. III) / Correspondência dirigida ao 5º Conde das Galveias, sec. XVIII e XIX (100 docum.) / Apontamentos sobre Valentim Fernandes e outros Impressores, sec. XIX (texto manuscrito, prov. copiado de documentos da Torre do Tombo, com reª a Valentim Fernandes, Jacob Cromberger, João Pedro de Cremona, Germão Galhardo, João Blávio, Frutuoso Pires, João Barreira, Francisco Correia e António de Mariz / Manuscrito Monástico, redigido em português e latim, sec. XVII, de Frei José de Mendonça, onde se refere os formulários de juramentos e outros actos cerimoniais da Ordem de Cister / Mercúrio de Lisboa, 1745-1746, 54 nums (trata-se de um periódico redigido e copiado à mão, em pequeno numero e exempls, com distribuição localizada de autor desconhecido) / Livro de Orações em louvor do Profeta Maomé, 1765 (mans do Médio Oriente redigido em Árabe, com anotações marginais, datado de 1143, ...) / Pinhel, sec. XV (mans sobre pergam de uma escritura de venda de uma courela de terra no Prado de Mó, Pinhel, entre particulares cristãos (João Afonso e Isabel Esteves) e judeus (Samuel Venazo e Çimaha [ilegível]), datado de 1469 / Tavares, Mangualde (mans sobre pergam da confirmação da compra por D. Fernando Coutinho, marechal do Conselho de D. Afonso V, da terra de Tavares) / Cartas de Reis e Infantes de Portugal e outros documentos importantes, cartas manuscritas, alvarás, requerimentos, mans vários (D. Manuel II, D. Luís I, D. Carlos, D, Maria II, D. Miguel, D. João VI, D. Maria I, D. José I, Marquês de Pombal, D. Pedro II, Filipe II, Filipe IV, D. Sebastião) / Alvará do Infante D. Henrique ..., aos juízes e homens-bons de Álvaro e Pampilhosa, de doação do tabeliado desses lugares e termos a João de Aguea, morador da Certa, ... (raríssimo doc inédito do Infante D. Henrique) / Autógrafo e provas tipográficas das Cartas de Fradique Mendes (correspondência de Fradique Mendes: memórias e notas), de Eça de Queirós
da Biblioteca Salema Garção [conclusão]
Algumas referências: Beja, sec. XVI (mans sobre pergaminho com inf. sobre bens do concelho de Beja, refª a moradores e proprietários em Moura, Alvito e Cuba) / Campo Maior, sec. XVI (mans sobre pergaminho da demarcação da vila de Campo Maior feita por Mendo Afonso) / O Beijo do Diabo, de João de Andrade Corvo (Mans autógrafo datado de 7 de Julho de 1861) / Elementos de Direito Publico de Portugal, por Ricardo Nogueira, sec. XVIII (trata-se prov. das Prelecções de Direito Pátrio que fez no ano lectivo de 1795 e 1796 Ricardo Raimundo Nogueira, natural do Porto, lente da Faculdade de Leis e Reitor do Colégio dos Nobres de Coimbra, que vieram a ser publicadas no Instituto, vol. III) / Correspondência dirigida ao 5º Conde das Galveias, sec. XVIII e XIX (100 docum.) / Apontamentos sobre Valentim Fernandes e outros Impressores, sec. XIX (texto manuscrito, prov. copiado de documentos da Torre do Tombo, com reª a Valentim Fernandes, Jacob Cromberger, João Pedro de Cremona, Germão Galhardo, João Blávio, Frutuoso Pires, João Barreira, Francisco Correia e António de Mariz / Manuscrito Monástico, redigido em português e latim, sec. XVII, de Frei José de Mendonça, onde se refere os formulários de juramentos e outros actos cerimoniais da Ordem de Cister / Mercúrio de Lisboa, 1745-1746, 54 nums (trata-se de um periódico redigido e copiado à mão, em pequeno numero e exempls, com distribuição localizada de autor desconhecido) / Livro de Orações em louvor do Profeta Maomé, 1765 (mans do Médio Oriente redigido em Árabe, com anotações marginais, datado de 1143, ...) / Pinhel, sec. XV (mans sobre pergam de uma escritura de venda de uma courela de terra no Prado de Mó, Pinhel, entre particulares cristãos (João Afonso e Isabel Esteves) e judeus (Samuel Venazo e Çimaha [ilegível]), datado de 1469 / Tavares, Mangualde (mans sobre pergam da confirmação da compra por D. Fernando Coutinho, marechal do Conselho de D. Afonso V, da terra de Tavares) / Cartas de Reis e Infantes de Portugal e outros documentos importantes, cartas manuscritas, alvarás, requerimentos, mans vários (D. Manuel II, D. Luís I, D. Carlos, D, Maria II, D. Miguel, D. João VI, D. Maria I, D. José I, Marquês de Pombal, D. Pedro II, Filipe II, Filipe IV, D. Sebastião) / Alvará do Infante D. Henrique ..., aos juízes e homens-bons de Álvaro e Pampilhosa, de doação do tabeliado desses lugares e termos a João de Aguea, morador da Certa, ... (raríssimo doc inédito do Infante D. Henrique) / Autógrafo e provas tipográficas das Cartas de Fradique Mendes (correspondência de Fradique Mendes: memórias e notas), de Eça de Queirós
sexta-feira, 28 de maio de 2004
Leilão de Livros e Desenhos Gravuras e Manuscritos da
Biblioteca Salema Garção - Dias 31 Maio, 1 e 2 de Junho (21 h]
Local: Amazónia Lisboa Hotel - Pedro de Azevedo Leiloeiro/Livreiro
Os desenhos, gravuras e manuscritos pertencentes à Biblioteca Salema Garção que vão à praça nos dias 31 de Maio e, depois, no dia 1 e 2 de Junho são notáveis. O conjunto de manuscritos, a licitar no último dia, e uma vasta documentação de documentos régios "testemunhos de sete séculos de história ... são quase todos inéditos" (Susana Tavares Pedro, in Catálogo), podendo ser "o conjunto mais importante de que há notícia nas últimas décadas" (idem), o que só por si torna surpreendente pela raridade este leilão. O último lote a ir à praça, um conjunto valioso de autógrafos, manuscritos e provas tipográficas das Cartas de Fradique Mendes, de Eça de Queirós, é apresentado no Catálogo por Anabela Rita, da Universidade de Lisboa, num admirável texto interpretativo [As Metamorfoses de Fradique] do poder e da escrita queirosiana, que a documentação do lote possibilita, como se de um "laboratório" se tratasse. Um leilão excepcional, um catálogo importante e estimado. A não perder.
Algumas referências: O Cocheiro Instruído, ou breve instrucçaõ aos cocheiros, bolieiros, e mais criados, sobre o modo de se comportar, tanto no que respeita ao ensino dos animais, como da attencaõ devida aos seus amos, por Custódio José de Albuquerque, Lisboa, 1792 / Os Gatos, de Fialho de Almeida, 57 nums em VI vols / Da Ásia de João de Barros e Diogo Couto, n. ed., Lisboa, 1778-88, 23 vols / Histoire du Brésil, depuis sa découverte en 15000 ..., por Alphonse Beauchamp, 1815, III vols / Os Estrangeiros do Lima ..., de Manuel Gomes de Lima Bezerra, Coimbra, 1785-91, II vols / Boletim da Sociedade de Bibliófilos Barbosa Machado, 1912-1917, IV vols (anos) / A set of prints engraved after the most capital painting in the collection of Her Imperial Majesty The Empress of Rússia ... , de John & Josiah Boydell, 1788, II vols / Crystalisações da Morte, por Eugénio de Castro, 1884 (1ª obra do autor) / Descripcaõ topografica e historica da cidade do Porto ..., por Agostinho Rebelo da Costa, 1789 / Lotes de Desenhos e Gravuras [Helena Roque Gameiro, Almada Negreiros, Bordalo Pinheiro, Luís Salvador, Stuart Carvalhais, etc] / Brasões da Sala de Cintra, de Anselmo Braamcamp Freire, 1899-05, III vols / 10 Xilogravuras de Manuel dos Santos Cabanas (mosteiro Alcobaça, Painéis S. Vicente, etc.) / 5 litografias de Caricatura Política ("provavelmente publicadas em A Matraca: periódico moral e político", Lisboa, 1847) / Gravura de um leilão de escravos em Goa (Ion Linschoten), 1596 / 12 gravuras de William Hoggart / Litografia de Lisboa (A Feira Franca na Avenida da Liberdade, subs. De Roque Gameiro, 1898) / 30 Gravuras dos Lusíadas, ed. do Morgado Mateus, 1817 / Ressorreiçam de Portugal e Morte Fatal de Castella ..., por Manuel Homem (1642?, trata-se de uma espécie bibliográfica rara da Restauração) / A general view of the state of Portugal ..., por James Murphy, London, 1798 (celebre livro estrangeiro sobre Portugal, com 15 gravuras) / Manejo real, escola moderna da cavallaria da brida, em que se propoem os documentos mais sólidos, para os cavalleiros ..., por José de Barros Paiva e Morais, Lisboa, 1762 (famoso tratado de cavalaria, ilustrado com gravuras)
[Continua]
In Memoriam José Augusto Seabra [1937-2004]
"Cai-me
a tristeza aos pés
E não me baixo" [JAS, in Os Sinais e a Origem]
José Augusto Seabra nasce em Vilarouco (S. João da Pesqueira)em 1937. Forma-se em Direito na Universidade de Lisboa. Convicto opositor ao Estado Novo (fez parte do MUD Juvenil, conhece Humberto Delgado em Argel), preso e condenado por motivos políticos, tira o doutoramento em Letras na École des Hautes Études de Paris(1971) com uma tese sobre Fernando Pessoa (Analyse structurale des hétéronymes de Fernando Pesssoa: du poémodrame au poétodrame) e sob orientação de Roland Barthes do qual traduziu vários livros), tornando-se professor em Vincennes. Regressa a Portugal a seguir ao 25 de Abril de 1974, para leccionar na Faculdade de Letras do Porto. Poeta, escritor, ensaísta, diplomata (embaixador junto da Unesco, em Bucareste e Buenos Aires), colaborador em jornais e revistas (jornal República, jornal Povo Livre, revista Nova Renascença, Persona, Bandarra, Coordenada, Cadernos de Literatura, Colóquio-Letras, Gazeta Literária, Notícias do Bloqueio, Raiz e Utopia, Sílex, Vértice) foi fundador do Centro de Estudos Pessoanos (juntamente com António José Saraiva e Maria Glória Padrão) e do Centro de Estudos Semióticos e Literários, deputado à Assembleia Constituinte, Assembleia da República e Ministro da Educação do IX Governo Constitucional (1983-1984: tendo sido substituído por Deus Pinheiro), integra o Centro de Estudos Republicanos «Sampaio Bruno» e é um dos fundadores da Associação de Lusofalantes na Europa (ALFE). Morre a 27 de Maio de 2004.
"Pela noite o desejo luminoso respira
o hálito dos frutos, o rumor
dos dedos. Pela noite emudece
o silêncio das pálpebras. Os ombros
de maduros se inclinam. Pela noite
a morte desce membro a membro a alma" [JAS, Nocturno]
"O civismo implica ... uma cultura, que poderemos designar como cívica, sem que esta se sobreponha às outras formas de cultura, antes delas seja condição e suporte. A aprendizagem da democracia exige com efeito que a formação e a realização de cada homem se abra aos mais diversificados domínios do conhecimento e da criatividade: desde a economia às questões do conhecimento, desde a filosofia e a ciência às várias manifestações estéticas, passando por uma ética de convivência assente no respeito dos direitos do humanos, tudo isso deve enfermar a personalidade de uma cidadão que se deseje culto e, portanto, politicamente esclarecido" [JAS, in Cultura Política ou a Cidade e os Labirintos]
Alguma Bibliografia:
[Poesia] - A Vida Toda, Porto, 1961 / Os Sinais e a Origem, Portugália, 1967 / Tempo Táctil, Portugália, 1972 / Desmemória, Porto, Brasília, 1977 / O Anjo, Porto, 1980 / Gramática Grega, Porto, 1985 / Fragmentos do Delírio, Ponta Delgada, 1990 / Poemas do nome de Deus, Macau, 1990 / Epígrafes, Málaga, 1991 / Enlace (em colaboração com Norma Tasca), 1993 / Sombras de Nada, 1996 / Amar a Sul, 1997 / Conspiração da Neve, Bucareste, 1999 / Oximoros, Porto, Granito, 2001 / Antologia Pessoal, Brasília, Thesaurus Editora, 2001 / Tangos Mentais, 2002
[Ensaio & Outros] - Fernando Pessoa: le retour des dieux, Paris, 1973 / Fernando Pessoa ou o Poetodrama, São-Paulo, 1974 / Portugal face à Europa: um horizonte cultural, Porto, 1977 / Alexandre Herculano ou a Cicatriz do Exílio, Porto, 1977 / Poiética de Barthes, Porto, 1980 / Um romântico no Porto, Porto, 1982 / Mors- Amor (Paixão de Barthes), Porto, 1982 / O Heterotexto Pessoano, Dinalivro, 1985 / A Pátria de Pessoa ou a Língua Mátria, Porto, 1985 / Cultura e Política ou a Cidade e os Labirintos, Vega, 1986 / Discurso cultural de D. António : um diálogo entre a fé e a cultura, Porto, 1990 / Manifesto dos emigrados da Revolução Republicana Portuguesa de 31 de Janeiro de 1891, Porto, 1991 / Poligrafias Poéticas, Porto, 1994 / O Coração do Texto novos ensaios pessoanos, Lisboa, 1996 / Edição crítica de Mensagem e Poemas Esotéricos de Fernando Pessoa (1993) / Tradução de Poemas de Mallarmé Lidos por Fernando Pessoa (1998) / Caminho Intimo para a Índia, 1999 / De Exílio em Exílio I - Resistências e Errâncias (1953-1963), Folio Edições, 2004
"Tudo se cumpre exacto como o voo
das gaivotas rasando rente ao rio:
súbitas asas ousam, quase pousam
na água da memória. Assim o exílio" [JAS, Asas, in Tempo Táctil]
quinta-feira, 27 de maio de 2004
F. C. do Porto: uma Lição Magistral
A credibilidade do FCP deixou há muito de ser um ponto de interrogação. A respeitável tradição de exaltação dos dois clubes da capital é hoje uma deliciosa manifestação de eloquente provincianismo, que só os fundamentalistas ainda instigam. O FCP, artesão, profissional, responsável, crente, impiedoso e praticando um futebol colectivo, conquistou, definitivamente, o coração dos desportistas. Estes dois anos, com generosidade, foram dos maiores êxitos para a glória futura do clube. Hoje, então, foi magistral. A coisa resume-se a isto: o FCP soube ser moderno, apostando em novas soluções, outros riscos. A simplicidade daí decorrente, conduziu a um desempenho imaculado. Quando outros - caso do meu Benfica - foram progenitores de asneiras sem fim - vide a novela de Toni/Vilarinho, a vergonha do soez ataque a um Presidente cessante ou, no lado de Alvalade, a lógica injuriada de Sá Pinto quando da possível contratação de Mourinho e/ou as aleivosias dos seus adeptos sobre o mesmo cenário -, o clube das Antas, com a maior da naturalidade, atreveu-se a ser inteligente. Contratou um técnico profissionalmente exemplar, um naipe de jogadores dispostos a trabalhar para vencer. A perfeição foi conseguida. Hoje demonstrou-o mais uma vez. Parabéns!
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