sexta-feira, 28 de maio de 2004


In Memoriam José Augusto Seabra [1937-2004]


"Cai-me
a tristeza aos pés

E não me baixo
" [JAS, in Os Sinais e a Origem]

José Augusto Seabra nasce em Vilarouco (S. João da Pesqueira)em 1937. Forma-se em Direito na Universidade de Lisboa. Convicto opositor ao Estado Novo (fez parte do MUD Juvenil, conhece Humberto Delgado em Argel), preso e condenado por motivos políticos, tira o doutoramento em Letras na École des Hautes Études de Paris(1971) com uma tese sobre Fernando Pessoa (Analyse structurale des hétéronymes de Fernando Pesssoa: du poémodrame au poétodrame) e sob orientação de Roland Barthes do qual traduziu vários livros), tornando-se professor em Vincennes. Regressa a Portugal a seguir ao 25 de Abril de 1974, para leccionar na Faculdade de Letras do Porto. Poeta, escritor, ensaísta, diplomata (embaixador junto da Unesco, em Bucareste e Buenos Aires), colaborador em jornais e revistas (jornal República, jornal Povo Livre, revista Nova Renascença, Persona, Bandarra, Coordenada, Cadernos de Literatura, Colóquio-Letras, Gazeta Literária, Notícias do Bloqueio, Raiz e Utopia, Sílex, Vértice) foi fundador do Centro de Estudos Pessoanos (juntamente com António José Saraiva e Maria Glória Padrão) e do Centro de Estudos Semióticos e Literários, deputado à Assembleia Constituinte, Assembleia da República e Ministro da Educação do IX Governo Constitucional (1983-1984: tendo sido substituído por Deus Pinheiro), integra o Centro de Estudos Republicanos «Sampaio Bruno» e é um dos fundadores da Associação de Lusofalantes na Europa (ALFE). Morre a 27 de Maio de 2004.

"Pela noite o desejo luminoso respira
o hálito dos frutos, o rumor
dos dedos. Pela noite emudece
o silêncio das pálpebras. Os ombros
de maduros se inclinam. Pela noite
a morte desce membro a membro a alma
" [JAS, Nocturno]

"O civismo implica ... uma cultura, que poderemos designar como cívica, sem que esta se sobreponha às outras formas de cultura, antes delas seja condição e suporte. A aprendizagem da democracia exige com efeito que a formação e a realização de cada homem se abra aos mais diversificados domínios do conhecimento e da criatividade: desde a economia às questões do conhecimento, desde a filosofia e a ciência às várias manifestações estéticas, passando por uma ética de convivência assente no respeito dos direitos do humanos, tudo isso deve enfermar a personalidade de uma cidadão que se deseje culto e, portanto, politicamente esclarecido" [JAS, in Cultura Política ou a Cidade e os Labirintos]

Alguma Bibliografia:

[Poesia] - A Vida Toda, Porto, 1961 / Os Sinais e a Origem, Portugália, 1967 / Tempo Táctil, Portugália, 1972 / Desmemória, Porto, Brasília, 1977 / O Anjo, Porto, 1980 / Gramática Grega, Porto, 1985 / Fragmentos do Delírio, Ponta Delgada, 1990 / Poemas do nome de Deus, Macau, 1990 / Epígrafes, Málaga, 1991 / Enlace (em colaboração com Norma Tasca), 1993 / Sombras de Nada, 1996 / Amar a Sul, 1997 / Conspiração da Neve, Bucareste, 1999 / Oximoros, Porto, Granito, 2001 / Antologia Pessoal, Brasília, Thesaurus Editora, 2001 / Tangos Mentais, 2002

[Ensaio & Outros] - Fernando Pessoa: le retour des dieux, Paris, 1973 / Fernando Pessoa ou o Poetodrama, São-Paulo, 1974 / Portugal face à Europa: um horizonte cultural, Porto, 1977 / Alexandre Herculano ou a Cicatriz do Exílio, Porto, 1977 / Poiética de Barthes, Porto, 1980 / Um romântico no Porto, Porto, 1982 / Mors- Amor (Paixão de Barthes), Porto, 1982 / O Heterotexto Pessoano, Dinalivro, 1985 / A Pátria de Pessoa ou a Língua Mátria, Porto, 1985 / Cultura e Política ou a Cidade e os Labirintos, Vega, 1986 / Discurso cultural de D. António : um diálogo entre a fé e a cultura, Porto, 1990 / Manifesto dos emigrados da Revolução Republicana Portuguesa de 31 de Janeiro de 1891, Porto, 1991 / Poligrafias Poéticas, Porto, 1994 / O Coração do Texto novos ensaios pessoanos, Lisboa, 1996 / Edição crítica de Mensagem e Poemas Esotéricos de Fernando Pessoa (1993) / Tradução de Poemas de Mallarmé Lidos por Fernando Pessoa (1998) / Caminho Intimo para a Índia, 1999 / De Exílio em Exílio I - Resistências e Errâncias (1953-1963), Folio Edições, 2004

"Tudo se cumpre exacto como o voo
das gaivotas rasando rente ao rio:

súbitas asas ousam, quase pousam
na água da memória. Assim o exílio
" [JAS, Asas, in Tempo Táctil]