terça-feira, 1 de junho de 2004
À Volta da Blogosfera
Em hors-série, num retorno de agradecimento algo tardio, daqui arremessamos ao Absurdo, Abrupto, Cruzes Canhoto, Estrada do Coco, Impensável, Letteri Café e Respublica um muito obrigado pela lembrança do nosso aniversariado. Saudações enternecidas.
A arte de Pedro Mexia, atrevidamente curiosa, deixava-se apalpar no salão do Dicionário do Diabo. Acontece que a alvorada Mexiana mudou para livro impresso, in-fólio qualquer coisa, numa pragmática do luxo que desvaneceu o espaço blogosférico. O Dicionário será encerrado (dizem!) mas Pedro Mexia resplandecerá, pastoreando (des)contentamentos vigorosos e esgrimindo graciosas aguarelas urbanas, no Fora do Mundo. Lá estaremos em visitação extraordinária.
[a propósito de crónicas, escritos, trabalhos jornalísticos & bloguísticos, em louvor e capricho de Pedro Mexia]:
"Do jornalismo, não conheço melhor definição que a de Rubem Braga, admirável cronista de um país que tem na crónica a expressão mais literária e pessoal da Imprensa:«O jornalismo é a arte superior de se morrer todos os dias»
Eis aqui resumida a condição precária dos escritos jornalísticos, que são de algum modo o que é a mesma vida, tanto como ela se confundem. Não morremos também nós todos os dias, e sem que façamos da nossa morte uma arte superior? O jornalismo vive intensamente a hora que passa e, na pressa do dia-a-dia, o hoje é amanhã um ontem já caduco, como as folhas impressas que são já folhas mortas, varridas por um melancólico vento de Outono (...) Estes escritos não são como o vinho de boa casta, tanto melhor quanto mais velho. (...)
A crónica, que no século passado se chamou folhetim e depois recebeu o nome de prosa de arte, a crónica é que concede uma como que perenidade à Imprensa, libertando-a do que ela tem de imediato, de precário, de sensacionalista ou de superficial. Essa crónica ou prosa de arte é como o vento do espírito soprando onde quer - mesmo onde o espírito parece ausente. (...)
Escritores individualistas, voltam-se para si mais do que para outros. São eles próprios a matéria dos seus escritos e, se tivessem maior sentido de equilíbrio, seriam discípulos de Montaigne, oscilando entre contrários, contradizendo-se porque a contradição está inscrita na natureza humana, coerentes enquanto crêem profundamente na impressão ou na emoção do momento em que escrevem. O eu, o moi, não lhes é odioso, embora odiosa, ou pelo menos insuportável, lhes seja por vezes a vida. (...) Esses escritos, que dir-se-ia condenados à sorte precária dos mesmo jornais que os hospedaram, resistiram ao tempo quando publicados em livro, não pela maior longevidade do livro, mas porque traziam em si as condições de sobrevivência: a cultura, a perspicácia da observação, o sal da ironia critica, a graça do estilo (...)"
[João Bigotte Chorão, Camilo e o jornalismo literário do século XIX, in Prelo, 18]