Saiu á luz, a mais nova e importante obra do jornalista José Manuel Fernandes e, ainda, director do Jornal O Público.
Volumoso in-folio, com encadernação do editor e levemente aparado à cabeça, será o melhor método para calar anti-americanos confessos, crianças desvalidas da social-democracia e monteiristas luminosos. Será um must nos blogs da direita à esquerda. Não sabemos o título, mas o informador Pedro Mexia fará uma comunicação a propósito, no próximo DN, a que se seguirá uma vernissage dirigida por um arauto da Santa Liberdade e poemas de El Rei D. Miguel.
Vende-se, por cima do Arco Liberal.
segunda-feira, 2 de junho de 2003
EREIRA DE AFONSO DUARTE
Gosto de passar em Ereira e lá ficar, imaginando as velhas 'casas foreiras', as águas do Mondego cercando-a, milharais sem fim, a casa do Torreão, o deambular de mestre João de Ruão nas suas ruelas, a luz das fogueiras para a navegação lá ao fundo, o sabor a sal, a poesia em todo o lado.
Pátria de Afonso Duarte, poeta que como diz Jorge de Sena «atravessou saudosistas, esótericos, modernistas, presencistas e Novo Cancionairo, depois de já ter atravessado António Nobre e Guerra Junqueiro». Mas, principalmente, o «poeta do amor e da liberdade», como só a Ereira nos podia oferecer.
Soneto da Ereira
Exaltam-me a cegonha e pato bravo.
Só não posso com estas codonizes
Com ironias, tontas de repizes,
- Paspalhão, paspalhão! - enquanto cavo.
Meu mundo é outro, queres dizê-lo? Dizes?
Eu bem sei, paspalhão! - Ao fim e ao cabo,
- Príncipe que fugiu a ser escravo -
Não me dão outro, bons pardais felizes.
[Afonso Duarte]
Pátria de Afonso Duarte, poeta que como diz Jorge de Sena «atravessou saudosistas, esótericos, modernistas, presencistas e Novo Cancionairo, depois de já ter atravessado António Nobre e Guerra Junqueiro». Mas, principalmente, o «poeta do amor e da liberdade», como só a Ereira nos podia oferecer.
Soneto da Ereira
Exaltam-me a cegonha e pato bravo.
Só não posso com estas codonizes
Com ironias, tontas de repizes,
- Paspalhão, paspalhão! - enquanto cavo.
Meu mundo é outro, queres dizê-lo? Dizes?
Eu bem sei, paspalhão! - Ao fim e ao cabo,
- Príncipe que fugiu a ser escravo -
Não me dão outro, bons pardais felizes.
[Afonso Duarte]
sábado, 31 de maio de 2003
COIMBRA
À VOLTA DOS BLOGS
Confesso que há blogs para todos os gostos e feitios. Truculentos uns, gratulatórios outros, dissidentes todos. Alguns poéticos, outros instruídos pregadores da mocidade, outros ainda pasmados de tanta informação. Dá gosto lê-los, que nem todos podemos ser intelectuais. Hoje, fui ler os ditos.
- Contra a Corrente - óptimo discurso recitado pela paróquia de Isaiah Berlin. O Carlos estudou Berlin mas não pratica. Opina como qualquer anti-liberal sobre valores do Estado, hierarquizando-os como um maltrapilha social anti-individual, toma partido. Berlin não foi, aqui, totalmente, digerido. Á parte isso, tem um bom gosto na música que ouve. Ao menos nisso, é coerente. Afinal misturar perigosos Miles Davis, Stan Getz e João Gilberto, num perigoso pluralismo musical, é corajoso, é tolerante num adepto de Isaiah. Bom blog
- Fumaças - A direita liberal que descobriu os 'puros'. Ali estão eles, fálicos, ao gosto de João Carvalho Fernandes. Quando jogar bridge e praticar desporto líquido (como diria mestre Baptista Bastos) estará instruído. Não exigimos Batuta, pode descansar. Pode começar por prazeres mais terrestres e menos burgueses. Bom blog
- Janela Indiscreta - De muita estimação. 6-bloguista-6 prudentissimos. Com informação e fruição q.b. Um achado, o que juntamento com o anterior referência que tinha do umblogsobrekleist, já dá 2 blogs a não perder.
(continua)
IRAQUE E JOSÉ MANUEL FERNANDES
Dizia sabiamente Oscar Wilde, que «quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo». Nada de mais lúcido, pensou logo o direcktor José Manuel Fernandes (JMF), d' O Público.
Os críticos do magistral embuste do uso e porte de armas químicas pelo Iraque, desde o The Guardian ao Le Monde, ou o New York Times e mesmo (pasme-se) o cavernoso National Review, andam espantados com as afirmações dessa luminária Rumsfeld, Donald para os amigos neo liberais, e principalmente sobre as últimas afirmações do guru Paul Wolfowitz, que afirma: «Por razões burocráticas centrámo-nos numa questão, as armas de destruição maciça, porque era o único motivo sobre o qual todo o mundo se podia entender».
A rapaziada pelo mundo é bestialmente azémola. Somos mesmo, como diria Camilo, «burros não tristes por fora, mas felizes por dentro». Mas, helás, o nosso JMF não quer ser de companhia. O nosso direcktor, em Editorial, explica-nos tudo. Afinal o Oscar tinha razão. O malandro do Saddam podia não ter as tenebrosas armas, nunca encontradas pelos cowboys ianques, mas o caso é que o homem «possuía forma de os obter, e esse é que era o perigo».
Portanto, meus amigos, mesmo que o «mistério persista, os motivos para a guerra não desaparecem», diz-nos JMF. Nós, os mais brilhantes asnos, suspiramos de alivio e demos graças Fernandes. Depois, à moda de António Pedro fomos pastar na esperança que ... é verde. Felizes! Tão intelijumento era o Fernandes.
Os críticos do magistral embuste do uso e porte de armas químicas pelo Iraque, desde o The Guardian ao Le Monde, ou o New York Times e mesmo (pasme-se) o cavernoso National Review, andam espantados com as afirmações dessa luminária Rumsfeld, Donald para os amigos neo liberais, e principalmente sobre as últimas afirmações do guru Paul Wolfowitz, que afirma: «Por razões burocráticas centrámo-nos numa questão, as armas de destruição maciça, porque era o único motivo sobre o qual todo o mundo se podia entender».
A rapaziada pelo mundo é bestialmente azémola. Somos mesmo, como diria Camilo, «burros não tristes por fora, mas felizes por dentro». Mas, helás, o nosso JMF não quer ser de companhia. O nosso direcktor, em Editorial, explica-nos tudo. Afinal o Oscar tinha razão. O malandro do Saddam podia não ter as tenebrosas armas, nunca encontradas pelos cowboys ianques, mas o caso é que o homem «possuía forma de os obter, e esse é que era o perigo».
Portanto, meus amigos, mesmo que o «mistério persista, os motivos para a guerra não desaparecem», diz-nos JMF. Nós, os mais brilhantes asnos, suspiramos de alivio e demos graças Fernandes. Depois, à moda de António Pedro fomos pastar na esperança que ... é verde. Felizes! Tão intelijumento era o Fernandes.
sexta-feira, 30 de maio de 2003
A DIREITA ... FÉLIX
Esta nova direita, que não se cansa de vociferar contra a administração do Estado, porque é gastador compulsivo, porque o Estado não sabe administrar a coisa ou porque menos Estado é sempre melhor Estado, ao fim de um ano de nos tentar fazer a cosatumeira lavagem ao cérebro (Ah! que o 28 de Maio foi há dias) com piedosas intenções políticas, quando vai de governar consegue ser mais papista que o Engenheiro Guterres em dia de missa. Ou consegue ser mais hilariante que os posts desse impagável Lombas (o infame da nova direita liberal, o mais soft via frequência da FNAC, o que lê em inglês no original e tem sempre dúvidas sobre o mulherio e muito mais. Enfim ...).
Então, anda o ministro Bagão Félix, acoplado com a prof.ª Manuela Ferreira Leite (a putativa candidata ao próximo nobel das finanças), a clamar contra o fartar vilanagem dos dinheiros públicos, contra o excessivo peso do pessoal na máquina do Estado, e zás, quando uma sua secretária de Estado - Margarida Aguiar de seu nome - pretende limpar essa mesma administração, sorvedoura de dinheiros públicos, colocando alguns directores (que nem se sabem o que fazem, nem nunca são avaliados) na 'prateleira da função pública, é obrigada a dita senhora a lidar com o Bagão, de momento protector desses privilégios? Excelente! Compreende-se, assim, que as "divergências funcionais" do ministro com a sua secretária de Estado da Segurança Social sejam verdadeiras cenas do pitoresco da direita: voz tonitruante na ameaça, melosa na sua praxis.
A direita feliz ... já corre!
Então, anda o ministro Bagão Félix, acoplado com a prof.ª Manuela Ferreira Leite (a putativa candidata ao próximo nobel das finanças), a clamar contra o fartar vilanagem dos dinheiros públicos, contra o excessivo peso do pessoal na máquina do Estado, e zás, quando uma sua secretária de Estado - Margarida Aguiar de seu nome - pretende limpar essa mesma administração, sorvedoura de dinheiros públicos, colocando alguns directores (que nem se sabem o que fazem, nem nunca são avaliados) na 'prateleira da função pública, é obrigada a dita senhora a lidar com o Bagão, de momento protector desses privilégios? Excelente! Compreende-se, assim, que as "divergências funcionais" do ministro com a sua secretária de Estado da Segurança Social sejam verdadeiras cenas do pitoresco da direita: voz tonitruante na ameaça, melosa na sua praxis.
A direita feliz ... já corre!
quinta-feira, 29 de maio de 2003
TODOS A MONSANTO! VIVA A PEDAGOGIA!
Paulo Portas considera que a sua chamada á pedra, ao exame do colectivo de juizes do caso Moderna é, passo a citar, «pedagógico». Mais, assume que «um político ir pelo seu pé» depor em Monsanto, é formidável e, decerto, não só pedagógico como de forte cariz ambientalista. Fica assim expresso a vertente pedagógica e ecológica que habita em qualquer ministro. E jura que não vai de Jaguar. A ecologia dos afectos, já não reina aqui. Aplausos!
quarta-feira, 28 de maio de 2003
JOÃO JOSÉ COCHOFEL
A casa do poeta que pertenceu à geração neo-realista - João José Cachofel (1920-1982) escreveu nas revistas 'Altitude', 'Novo Cancioneiro', 'Vértice', 'Seara Nova' e na 'Presença' -, nas cercanias da Sé Velha, em Coimbra, foi sempre uma porta aberta a todos os que da literatura e da arte faziam tertúlias pela noite dentro. Sabe-se agora que a sua casa de Coimbra será adquirida pela autarquia. Muitos debates, textos e ensaios oposicionistas de lá partiram. João José Cochofel merece.
Álcool [in, Obra Poética, Editorial Caminho, 1988]
Partir
sim, mas partir realmente,
definitivamente,
cobra que deixa a pela já crestada dos sóis
e se empoleira nas árvores como um passáro
......................
Partir
que os hotéis de luxo têm seus quartos guardados para mim,
e os salões embandeirados de luz
esperam-me
Partir para Jungfraus e Niagaras,
e à noite embriagar-me entre cristais e mulheres!
Depois,
raspar com as unhas no chão e enterrar-me,
deixando os olhos de fora
para que neles poise
o último orvalho da manhã.
Álcool [in, Obra Poética, Editorial Caminho, 1988]
Partir
sim, mas partir realmente,
definitivamente,
cobra que deixa a pela já crestada dos sóis
e se empoleira nas árvores como um passáro
......................
Partir
que os hotéis de luxo têm seus quartos guardados para mim,
e os salões embandeirados de luz
esperam-me
Partir para Jungfraus e Niagaras,
e à noite embriagar-me entre cristais e mulheres!
Depois,
raspar com as unhas no chão e enterrar-me,
deixando os olhos de fora
para que neles poise
o último orvalho da manhã.
MACÁRIO CORREIA: RECICLADO
Fomos maus com o engenheiro Macário no tempo do Cavaquistão. Fomos detestáveis na boçalidade dos nossos desejos. O engenheiro, demasiado ecológico, era para abater. A ele e aos fundamentalistas anti-tabaco. Atacámos muitas vezes de Cohiba em punho, Château de Beaulon na mão. Fomos cruéis. As mulheres eram sempre 'pedaços de mau caminho' pela noite dentro. Fomos marialvas. Desaparecido o engenheiro lá nas bandas de Tavira, a workar no poder local, eis que regressa à cena política, vesgastando os cinzentões da coisa pública. Ficámos em estado de choque. E gritou-se bem alto, que se ouviu em Cacela-a-Velha: Volta Macário, estás perdoado! Não é para mais. O artigo saído n'O Público fez-nos ter vergonha. Sai um Davidoff ... já!
«A vergonha do caso Moderna faz com que o CDS-PP vá adiando sucessivamente o seu congresso, enquanto a imagem global do governo é afectada, mas ninguém ousa, de dentro, pôr o dedo na ferida e a mão na consciência. Quem adoptou princípios moralistas para terceiros não os aplica a si próprios. A nomeação de Nobre Guedes e a semelhança, em certos casos, de Marco de Canavezes com Felgueiras demonstram o resto
(...) É preciso agir. Mais do que nunca.»
«A vergonha do caso Moderna faz com que o CDS-PP vá adiando sucessivamente o seu congresso, enquanto a imagem global do governo é afectada, mas ninguém ousa, de dentro, pôr o dedo na ferida e a mão na consciência. Quem adoptou princípios moralistas para terceiros não os aplica a si próprios. A nomeação de Nobre Guedes e a semelhança, em certos casos, de Marco de Canavezes com Felgueiras demonstram o resto
(...) É preciso agir. Mais do que nunca.»
terça-feira, 27 de maio de 2003
COMUNIDADE VIRTUAL DA LITERATURA
Eis um forum de debate sobre dito interdisciplinar de 'discussão sobre literatura, teoria literária'. Em português.
500 Cantigas d’Amigo. Edição da Editora Campo das Letras e o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. Hoje, pelas 18 horas, na Livraria da Biblioteca Nacional.
«O corpus das 500 cantigas d' amigo, compostas entre 1220 e 1350, por um total de 88 poetas, é o maior corpus de poesia amorosa de voz feminina que sobreviveu da Europa medieval e antiga. Oferece um campo ainda pouco explorado para o estudo da voz feminina, ou seja, do discurso, do direito, da sexualidade, da mentalidade (por muito que essa voz possa ser manipulada, os aspectos arcaicos destes poemas, a nível social, linguístico e musical, sugerem que essa voz é genuína nas suas origens). Além disso, muitos estudiosos defenderam que entre as cantigas d' amigo há sequências organizadas para execução. Se elas existem – e acredito que possa ser demonstrado que sim – estas seriam as primeiras sequências de cantigas amorosas em qualquer língua vernácula na história da literatura europeia, providenciando uma oportunidade única para estudar a evolução de uma forma de arte lírico-dramática a partir das suas partes constituintes, algo com que Aristóteles aparentemente apenas podia sonhar.
Assim, lemos cantigas d' amigo não apenas porque as achamos belas, musicais, engenhosas, eróticas, bem delineadas, mas porque são a fonte principal para um capítulo ainda por escrever na história da cultura europeia. Mas isso será assunto para uma outra ocasião. Aqui direi, tão brevemente quanto possível, quais as suas fontes, quando e como foram editadas até hoje e como as tratei nesta edição. [Rip Cohen]»
500 Cantigas d’Amigo. Edição da Editora Campo das Letras e o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas. Hoje, pelas 18 horas, na Livraria da Biblioteca Nacional.
«O corpus das 500 cantigas d' amigo, compostas entre 1220 e 1350, por um total de 88 poetas, é o maior corpus de poesia amorosa de voz feminina que sobreviveu da Europa medieval e antiga. Oferece um campo ainda pouco explorado para o estudo da voz feminina, ou seja, do discurso, do direito, da sexualidade, da mentalidade (por muito que essa voz possa ser manipulada, os aspectos arcaicos destes poemas, a nível social, linguístico e musical, sugerem que essa voz é genuína nas suas origens). Além disso, muitos estudiosos defenderam que entre as cantigas d' amigo há sequências organizadas para execução. Se elas existem – e acredito que possa ser demonstrado que sim – estas seriam as primeiras sequências de cantigas amorosas em qualquer língua vernácula na história da literatura europeia, providenciando uma oportunidade única para estudar a evolução de uma forma de arte lírico-dramática a partir das suas partes constituintes, algo com que Aristóteles aparentemente apenas podia sonhar.
Assim, lemos cantigas d' amigo não apenas porque as achamos belas, musicais, engenhosas, eróticas, bem delineadas, mas porque são a fonte principal para um capítulo ainda por escrever na história da cultura europeia. Mas isso será assunto para uma outra ocasião. Aqui direi, tão brevemente quanto possível, quais as suas fontes, quando e como foram editadas até hoje e como as tratei nesta edição. [Rip Cohen]»
LEILÃO DE LIVROS
Não esquecer o leilão de livros no Hotel Roma deste dia 28 e 29 de Maio. Modernistas raros a cobiçar...
ZONA NON ... E CUBA
A revista online Zona Non aí está. Saliento alguns textos sobre Cuba entre eles o de Rui Bebiano, 'Uma Imensa Tristeza', afinal uma pré-publicação de artigo na Periférica. A ler.
«“Morre-se de nostalgia em Cuba”, afirmou Karla Suárez há pouco mais de um ano, em entrevista publicada pelo Diário de Notícias. É provável que sim. Não a nostalgia do passado pré-revolucionário, sobrevivente na memória da geração que o conheceu ou nos manuais de história concebidos como hagiografias. Mas, é legítimo suspeitá-lo, a dessa alegria perdida que apenas a liberdade sem adjectivos, incandescente, pode redimir.»
«“Morre-se de nostalgia em Cuba”, afirmou Karla Suárez há pouco mais de um ano, em entrevista publicada pelo Diário de Notícias. É provável que sim. Não a nostalgia do passado pré-revolucionário, sobrevivente na memória da geração que o conheceu ou nos manuais de história concebidos como hagiografias. Mas, é legítimo suspeitá-lo, a dessa alegria perdida que apenas a liberdade sem adjectivos, incandescente, pode redimir.»
ARRUMAÇÕES ... E LÁ CAI O JPP
Hoje na labuta de organizar a livralhada que se acumula numa sala mais afastada das outras, por maldição política diga-se, levei com o Bordiga (Bordiga et la passion du communisme, das Edições Spartacus, 1974; Bordiga ou la crise du prolétariat, Payot; e alguns mais), o Camatte (de novo sobre Bordiga) e o Jean Barrot (O Movimento Comunista) à mistura. Foi demais, confesso.
Enquanto meditava nas excelentes edições da &ETC, desse editor da vadiagem que é Vitor Silva Tavares, ainda e sempre incomodativo, ou no que é feito do Júlio Henriques e dessa prendada Pravda, Revista de Malasartes, eis que mais ao lado deparo com a colecção dos Textos de Apoio da Portucalense Editora, todos eles fortemente proibitivos nos tempos do Marcelismo, e com outra colecção sobre 'O Movimento Operário Português' das Edições Afrontamento. Tudo direitinho, prenhe de anotações que o tempo registou. O número dois dos Textos de Apoio, é um magistral trabalho sobre 'As lutas operárias contra a carestia de vida em Portugal. A greve geral de 1918', do nosso amigo que assina no Abrupto. As notas que constam de cada capítulo são preciosas. Sempre tive pelas anotações ou nopas de pé de página uma relação de paixão. Bem como pela bibliografia da cada obra. Manias. O livro de JPP foi importante para toda uma geração de esquerda. Outro, estacionado mesmo ao lado, do mesmo JPP com distribuição pela Livraria Júlio Brandão (qual a importância desta distribuidora de Famalicão; quem estava por detrás das suas iniciativas? Já não me lembro bem e talvez JPP saiba), trata-se das 'Questões sobre o movimento operário português e a revolução russa de 1917'. De novo a mesma caminhada do autor, os mesmissimos pressupostos que na altura guiavam o jovem JPP. Dizia, à laia de conclusão no prefácio:
«Quando as condições para a maturidade política, teórica e organizativa, dos comunistas portugueses paraciam estar realizadas, o golpe militar de 1926 veio encerrar a experiência do movimento operário do período parlamentar. À luz desse golpe pode-se hoje compreender melhor os limites do movimento operário e os impasses a que a acção anarco-sindicalista tinha levado. Permite-nos compreender do mesmo modo como a acção decisiva da revoluçõa soviética de Outubro para a prática política operária foi retardada em Portugal pelas barreiras que a ideologia dominante no proletariado português lhe impôs, assim como pela incipiente formação teórica e militância política dos comunistas do P.C.P.»
Enquanto meditava nas excelentes edições da &ETC, desse editor da vadiagem que é Vitor Silva Tavares, ainda e sempre incomodativo, ou no que é feito do Júlio Henriques e dessa prendada Pravda, Revista de Malasartes, eis que mais ao lado deparo com a colecção dos Textos de Apoio da Portucalense Editora, todos eles fortemente proibitivos nos tempos do Marcelismo, e com outra colecção sobre 'O Movimento Operário Português' das Edições Afrontamento. Tudo direitinho, prenhe de anotações que o tempo registou. O número dois dos Textos de Apoio, é um magistral trabalho sobre 'As lutas operárias contra a carestia de vida em Portugal. A greve geral de 1918', do nosso amigo que assina no Abrupto. As notas que constam de cada capítulo são preciosas. Sempre tive pelas anotações ou nopas de pé de página uma relação de paixão. Bem como pela bibliografia da cada obra. Manias. O livro de JPP foi importante para toda uma geração de esquerda. Outro, estacionado mesmo ao lado, do mesmo JPP com distribuição pela Livraria Júlio Brandão (qual a importância desta distribuidora de Famalicão; quem estava por detrás das suas iniciativas? Já não me lembro bem e talvez JPP saiba), trata-se das 'Questões sobre o movimento operário português e a revolução russa de 1917'. De novo a mesma caminhada do autor, os mesmissimos pressupostos que na altura guiavam o jovem JPP. Dizia, à laia de conclusão no prefácio:
«Quando as condições para a maturidade política, teórica e organizativa, dos comunistas portugueses paraciam estar realizadas, o golpe militar de 1926 veio encerrar a experiência do movimento operário do período parlamentar. À luz desse golpe pode-se hoje compreender melhor os limites do movimento operário e os impasses a que a acção anarco-sindicalista tinha levado. Permite-nos compreender do mesmo modo como a acção decisiva da revoluçõa soviética de Outubro para a prática política operária foi retardada em Portugal pelas barreiras que a ideologia dominante no proletariado português lhe impôs, assim como pela incipiente formação teórica e militância política dos comunistas do P.C.P.»
segunda-feira, 26 de maio de 2003
HELENA MATOS: MAIS VASCO MENOS PULIDO
Não temos o prazer de conhecer a senhora jornaleira Helena Matos, mas do que lemos parece-nos sempre que está entre a pretensão de querer ser uma VPV de saias, com menos corpo e menos espírito, menos polida e menos escorreita de linguagem. Durante a intervenção ianque no Iraque a senhora que escreve n'O Público estilhaçou todos os argumentos em defesa da política bushiana várias vezes, tão soez foi na argumentação. Depois fica-se sempre no enfado de ler muitas linhas sem qualquer gozo de escrita. Helena Matos é frígida na linguagem. Gela-nos o estímulo da fruição intelectual. Ficamos castrados de tanta palavra, sem nexo algum.
Há pouco tempo meteu-se, sabe-se lá porquê, com a Maçonaria, todas elas e ao mesmo tempo. Tudo no mesmo saco meteu, com sempre o faz, sem polimento algum mas muito malícia, sempre. Esta semana, desata num berreiro contra a "reacção desadequada de Ferro Rodrigues" face ao caso Pedrosa, para finalizar na inadequada preparação do mesmo para o exercício do poder. Na página seis d'O Publico de sábado diz-nos sagazmente que, «a democracia não está agora em causa e o pior que o PS pode fazer é passar a imagem de que se considera acima da lei». Extraordinária evocação. Muito libertina por sinal.
A escriba, como muitos que escrevem por aí, entende que Ferro Rodrigues deveria, para efeitos performativos do poder, ser feito de uma massa blindada ás emoções da vida privada, numa clonagem do super-homem com os tomates de Margaret Tatcher. Compreende-se o que a senhora exige dos políticos. Mas suspeito que todos são, ainda, humanos. Quando alguns frios e cerebrais jornalistas, como o inefável Ministro da Defesa é exemplo, chegarem ao poder, talvez sim. Por ora fiquemos no campo dos humanos. Se der licença.
Há pouco tempo meteu-se, sabe-se lá porquê, com a Maçonaria, todas elas e ao mesmo tempo. Tudo no mesmo saco meteu, com sempre o faz, sem polimento algum mas muito malícia, sempre. Esta semana, desata num berreiro contra a "reacção desadequada de Ferro Rodrigues" face ao caso Pedrosa, para finalizar na inadequada preparação do mesmo para o exercício do poder. Na página seis d'O Publico de sábado diz-nos sagazmente que, «a democracia não está agora em causa e o pior que o PS pode fazer é passar a imagem de que se considera acima da lei». Extraordinária evocação. Muito libertina por sinal.
A escriba, como muitos que escrevem por aí, entende que Ferro Rodrigues deveria, para efeitos performativos do poder, ser feito de uma massa blindada ás emoções da vida privada, numa clonagem do super-homem com os tomates de Margaret Tatcher. Compreende-se o que a senhora exige dos políticos. Mas suspeito que todos são, ainda, humanos. Quando alguns frios e cerebrais jornalistas, como o inefável Ministro da Defesa é exemplo, chegarem ao poder, talvez sim. Por ora fiquemos no campo dos humanos. Se der licença.
AUGUSTO SANTOS SILVA ... PARA TODOS OS EFEITOS
Num momento em que reina a maior das perplexidades, onde 'o mundo está perigoso', faz bem ler textos como o de Augusto Santos Silva n'O Publico de sábado. Quando a direita mais conservadora espuma com sorriso nos lábios, tecendo os mais torpes comentários, com a evocação de uma alegada santidade do poder judicial, separando as emoções do factum da coisa 'ela mesma', com o noviciado requerimento de um formalismo jurídico-político enternecedor, cabe aqui salientar alguém, que sem qualquer rebuço, diz o que lhe vai na alma. Solidariamente. Sem tibiezas.
A peregrina ideia que não é possível questionar o poder judicial e os seus mecanismos processuais, dado a suposta angelicalização dos seus praticantes é inqualificável. Quando se ouve falar o senhor Procurador Geral tem-se dúvidas da sanidade mental das instituições e das motivações que estão por detrás desta "desbund" mediática a que todos assistimos, onde parece mais que todos estão mais voltados para as luzes das TV's, que para o exercício recatado da justiça e da defesa dos cidadãos. Assim sendo, porque não pode Augusto Santos Silva fazer um registo pessoal, seguindo as suas convicções? Acaso as metodologias usadas quer pelo poder judicial, quer por algumas instituições (atente-se no silêncio ensurdecedor do Ministério da Justiça sobre a devassa do segredo de estado) reforçam a serenidade que todos querem sugerir? Augusto Santos Silva teve coragem de o dizer, mesmo que fizesse parte de um governo que contribuiu para a configuração desta mesma justiça que agora questiona. Para todos os efeitos ...
«Não sei o que se passa. Por isso faço a pergunta básica da democracia: quem controla? Quem investiga a investigação? Quem escrutina o aparelho do Estado?»
A peregrina ideia que não é possível questionar o poder judicial e os seus mecanismos processuais, dado a suposta angelicalização dos seus praticantes é inqualificável. Quando se ouve falar o senhor Procurador Geral tem-se dúvidas da sanidade mental das instituições e das motivações que estão por detrás desta "desbund" mediática a que todos assistimos, onde parece mais que todos estão mais voltados para as luzes das TV's, que para o exercício recatado da justiça e da defesa dos cidadãos. Assim sendo, porque não pode Augusto Santos Silva fazer um registo pessoal, seguindo as suas convicções? Acaso as metodologias usadas quer pelo poder judicial, quer por algumas instituições (atente-se no silêncio ensurdecedor do Ministério da Justiça sobre a devassa do segredo de estado) reforçam a serenidade que todos querem sugerir? Augusto Santos Silva teve coragem de o dizer, mesmo que fizesse parte de um governo que contribuiu para a configuração desta mesma justiça que agora questiona. Para todos os efeitos ...
«Não sei o que se passa. Por isso faço a pergunta básica da democracia: quem controla? Quem investiga a investigação? Quem escrutina o aparelho do Estado?»
domingo, 25 de maio de 2003
MATRIX E HACKING
O texto de Paulo Querido no Expresso é curioso. Sempre achei duvidoso o modo como algum cinema tentava ilustrar cenas de hacking, sempre da maneira mais grosseira. Confesso que não entendo nada do assunto, mas o disparate era bem visível. No texto de P.Q. no Expresso somos confrontados com uma cena do Matrix Reloaded muito rápida mas que alguns iniciados conseguem visualizar imediatamente. Fiquei espantado, mais a mais quando parecia real toda a cena com a intervenção do famoso scanner nmap e com a secure shell, utilizada para acesso a outro computador. E lembrei-me de alguns grupos hackers portugueses que tiveram alguma visibilidade na "nossa" luta a favor do povo de Timor Leste. Foi citado mais que uma vez o grupo Toxyn, autores de um célebre ataque a uma página indonésia;os Pulhas que os secundaram imediatamente e os Kaotik Team. Há ainda todo um movimento 'hacker' importante, com jornais, revistas e grupos de culto. Saliente-se o incontornável 2600 Magazine.
sábado, 24 de maio de 2003
ANOTAÇÕES SOBRE DECADÊNCIA
Em tempos, num alfarrabista, apanhei uma dissertação em filologia românica de A. Machado Pires, com o título sugestivo, «A ideia de decadência na geração de 70». Trabalho de excepcional qualidade, com vastas referências bibliográficas sobre um tema da cultura portuguesa muito importante. Lembrei-me de voltar a ela, dada a correspondência possível com a situação cultural e política que hoje existe no País e em todos nós. Melhor meio não encontro que fazer a recolha, a partir do trabalho atrás citado, deste tema que tantos escritores e homens de letras recorreram e que hoje parece regressar em força.
«Decadência provém do latim medieval decadentia (o termo não existe no latim clássico), com os sentidos de 'deterioração', 'ruína', 'ir-se abaixo', 'colapso' (confronte-se com o ingl. breakdown, existindo também neste idioma decadence, decline e decay com sentidos semelhantes). Em última análise, decadência prende-se ao verbo lantino cadere, 'cair'; o prefixo DE inculca a ideia de 'de cima para baixo' (cfr. c. o ingl. breakdown), isto é, 'cair na vertical', 'cair acelerada e irremediavelmente', deteriorar-se até à ruína ou à extinção. Decadência opõe-se a progresso (não será, de resto, por acaso, que a decadência como categoria de análise histórica se aviva no século XIX, quando a ideia e a crença no progresso se desenvolvem fortemente). Progresso implica caminhar par a frente, criar nocas condições, melhorar (ou pelo menos supor que se melhora). Decadência significa retrogredir, deteriorar-se o que era bom, piorar (...) [pag. 4-5]
sexta-feira, 23 de maio de 2003
M.E.C. ... DE VOLTA!
Sempre prendado, que não se troca contra reclamações o 'nosso' Miguel Esteves Cardoso re-começou a fornecer as pastilhas que todos nós ansiosamente necessitamos. Quando se olha, hoje, para a merda dos jornais que tempos; para a inexistência de revistas dignas desse nome (salve-se as Construções Portuárias, mas isso é outra água); para o cinzentismo que grassa por todo o lado, faz bem ir ler e re-ler o M.E.C. Ainda há dias dei por mim a folhear com um curioso brilho nos olhos, a Popmusic-Rock e a Escrítica Pop. E lá regressei de novo aos Feelies, aos Joy Division, Gang of Four (meus Deus há que tempos...), Annette Peacock e muitos mais numa doce mixagem. Graças M.E.C.
VINCENT GALLO
De novo V. Gallo. Regresso ao cinema com "Brown Bunny", que Vasco Câmara n'O Publico refere. Não conheço bem V.Gallo como actor ou realizador, mas a sua música (quantas semanas passei a ouvir When?) é uma admirável companhia. Irresistível, perturbador. Como afinal tudo o que faz ou nos diz, assim deste modo como nos confessa n'O Publico: «Numa provocação há sempre verdade. De facto nunca li um romance. Li partes de 'O Padrinho', na altura em que o filme saiu, mas deixei-o a meio. Vivi algum tempo com William S. Burroughs, mas nunca li nada dele, a não ser postais que me enviava. Nunca li um argumento, mas consigo estar horas a ouvir um realizador a contar-me a história do seu filme. A palavra escrita não me provoca emoção. Os meus pais não liam. A Bíblia lá de casa nunca foi lida. Só consigo ler livros técnicos, porque servem para concretizar algo ou melhorar a produtividade»
O culto de Vincent Gallo é grande. Como as suas metamorfoses no campo das artes em geral. Impossível resistir, experimentem.
Locais: The official website for Vincent Gallo by Vincent Gallo / Vincent Gallo appreciation page / Vincent Gallo drowning in brown / Vincent Gallo Réalisateur, Acteur / Vincent Gallo - Filmography, Awards / My Vincent Gallo Page
O culto de Vincent Gallo é grande. Como as suas metamorfoses no campo das artes em geral. Impossível resistir, experimentem.
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quinta-feira, 22 de maio de 2003
À VOLTA DOS BLOGS
À Volta dos Blogs
Como hoje o tempo foi de maçada, resolvemos bolinar de encontro aos vários blogs que copiosamente, aqui, encontramos referenciados. Começamos a caminhada, que «pretium laborum non vile», por aqueles que a memória não atraiçoa.
umblogsobrekleist - de vasta erudição, encantador e útil. De leitura diária obrigatória, mais a mais se se pensar o que seria a nossa vida, sem um joguinho de xadrez, antes, depois ou com o cinema. Lembrei-me agora, completamente a despropósito, que a Rosa Luxemburgo era brilhante jogadora de xadrez. Facto que os Manos Silva decerto não devem esquecer, nas sua guerrilhas psicológicas com a malta Infame.
Aproveite-se o pretexto para dizer Pedro Oom, em «Os Legados do Surrealismo», tirado da revista Sema:
"Mário Cesariny herdou as botas rotas
de André Breton
António Josè Forte herdou a gabardine
de Benjamim Péret - que não chegou a
ver a cor porque se perdeu no caminho.
Natália Correia herdou o chinó que
Nora Mitrani usava no púbis
Eu estou à espera que Marcel
Duchamp me deixe o tabuleiro
de xadrez."
Como hoje o tempo foi de maçada, resolvemos bolinar de encontro aos vários blogs que copiosamente, aqui, encontramos referenciados. Começamos a caminhada, que «pretium laborum non vile», por aqueles que a memória não atraiçoa.
umblogsobrekleist - de vasta erudição, encantador e útil. De leitura diária obrigatória, mais a mais se se pensar o que seria a nossa vida, sem um joguinho de xadrez, antes, depois ou com o cinema. Lembrei-me agora, completamente a despropósito, que a Rosa Luxemburgo era brilhante jogadora de xadrez. Facto que os Manos Silva decerto não devem esquecer, nas sua guerrilhas psicológicas com a malta Infame.
Aproveite-se o pretexto para dizer Pedro Oom, em «Os Legados do Surrealismo», tirado da revista Sema:
"Mário Cesariny herdou as botas rotas
de André Breton
António Josè Forte herdou a gabardine
de Benjamim Péret - que não chegou a
ver a cor porque se perdeu no caminho.
Natália Correia herdou o chinó que
Nora Mitrani usava no púbis
Eu estou à espera que Marcel
Duchamp me deixe o tabuleiro
de xadrez."
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