sábado, 19 de fevereiro de 2005
Domingo: um último dos desenganos
Admirável mundo o nosso. Hoje, num país em adiantado estado de decomposição, eternamente suspenso de esperança, vilmente amansado pelos aparelhos políticos, sem espanto ou revolta possível, que nos resta senão a viagem discreta às urnas, no próximo Domingo? Acaso o silêncio sobre a mediocridade gerada por Guterres/Barroso/Lopes & Portas, a mesma sopa caseira ou enfado de todos os dias, exige cidadãos açaimados, filhos da tristeza submissa, rebanhos muito arrumadinhos? A poeira não vos assusta?
Hoje, mesmo que o espectáculo tenha sido execrável, mesmo que não acreditemos que se possa reinventar o tempo ou mesmo que em nós não habite o gozo do pasmo pós-eleitoral, o nosso brado contra esta paisagem a cair de tédio, o nosso modo de continuarmos vivos é votarmos pela partilha da mudança, dar um voto de protesto contra o situação instalada. Para nós o canto de maiorias absolutas, isto é submissas, será sempre um recreio pouco excitante. Um voto de protesto a nossa eterna fruição.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005
João César das Neves: o mal-castrado
O inefável César da Neves fornece-nos, via Independente, um copioso manual de civilidade para seguir o bem e subir ao céu em perfeição, apresentando um rol de moléstias que a náusea erótica da civilização constrói. Eis a alma do conhecido economista liberal explicada aos gentios.
[A masturbação não é uma prática razoável?] Claro que não. Nunca foi. O sexo é uma força extraordinariamente poderosa que define a nossa vida. Por isso mesmo é que todas as sociedades, ao longo de todos os tempos, tentaram arranjar costumes, hábitos e regras para controlar esta coisa, que, quando não controlada, nos domina completamente (...)
[Porque é que a masturbação não é razoável?] Porque é um desvio da acção sexual. A pessoa fica cada vez mais agarrada ao prazer, deixa-se controlar pelo prazer. Isso distorce a personalidade.
[A masturbação vicia? É isso que está a dizer?] Estou a dizer que o sexo tem um poder enorme sobre a nossa vida e que, por isso, devemos ter uma atitude equilibrada. Até hoje só houve uma revolução sexual na História e foi a Igreja que a fez. Antes da Igreja era o deboche absoluto, com regras muito sortidas (...) A nossa obsessão pelo prazer carnal está a destruir a sociedade e a criar a decadência, como criou noutras sociedades (...) A nossa sociedade não é mais feliz, porque se entregou completamente ao prazer carnal.
[Também condena o uso do preservativo?] Esse também é um exemplo engraçado. Tem-se criticado o Papa por gerar sida por causa do preservativo. Mas a questão do preservativo não se coloca numa relação estável entre marido e mulher. O que a Igreja diz é que a relação sexual, para ser completa, deve ser aberta à vida. O preservativo é uma forma mecânica de tratar a questão. Para quem leva uma vida debochada e ignora as regras da Igreja, o preservativo é um detalhe.
[Qual é o problema de procurar o acto sexual só pelo prazer?] O acto sexual não é só uma questão de prazer. Limitá--lo ao prazer é transformar uma coisa humana numa coisa mecânica, animal (...)
[ler a entrevista, aqui]
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005
António Franco Alexandre "Prémio Correntes d'Escritas"
"Não se escreve porque se quer: escreve-se porque é preciso. Porque não se tem outro remédio. Porque não se pode evitar"
"António Franco Alexandre nasceu em 1944, em Viseu. Em 1962, foi estudar Matemática para Toulouse, aí vivendo até 1969. Partiu depois para Harvard, EUA, com uma bolsa para continuar a estudar Matemática. Em 1971, ruma a Paris onde estuda Filosofia, regressando, em 1975, a Portugal, com dois doutoramentos: Filosofia e Matemática. Convidado para leccionar na Faculdade de Letras de Lisboa, é actualmente professsor de Filosofia naquela instituição universitária" [Carlos Câmara Leme - Ler aqui]
"... Já te espantou o lume, quando viste
uma língua no sonho da saliva,
e te riste, de ser tão branco o sangue
que nas beiras da noite adormecia.
Agora é o teu corpo que procura
na orla da floresta, uma fogueira ..." [A.F.A.]
Geronimo, Chiracahua Apache [1829 - m. 17 Fevereiro de 1909]
"... Through the air
I fly upon the air
Towards the sky, far, far, far,
O, ha le
O, ha le!
There to find the holy place,
Ah, now the change comes o're me!
O, ha le
O, ha le!" [Geronimo's Song]
Locais: Geronimo / Geronimo His own story / Geronimo, Chiracahua Apache / Geronimo The Last Apache Warrior
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005
Debate Livre
Muito sentencioso foi o debate eleitoral. A felicidade na dedicação ao debate, as palavras pronunciadas em laudatórias enternecidas, foi aliciante de seguir. Muito melhor este formato que a sensaboria de Sócrates versus Lopes na SIC.
Fidex ex auditu, poder-se-ia dizer. De facto, os comentadores estavam cheios de fé no encontro. Ao contemplarmos os cinco magníficos no retalhar grave dos problemas da Nação, ao atendermos à catadupa de críticas com que, uns aos outros, se brindavam à mistura com gestos virtuosos, decerto fomos arrastados para o espectáculo e pouco para a substância em disputa. Novamente algumas questões não foram totalmente esclarecidas, sendo que o que fica é que os próximos anos serão de fartar vilanagem. Todos assumem que o que ai vem são vacas gordas e gastar é o que está a dar. Bem curioso, pois.
O debate ficou marcado de duas maneiras: pela questão levantada por Francisco Louçã sobre a questão dos benefícios à banca, o que para alguns liberais, com muita piada, lhes fez ver ali uma paródia populista. Ora quando não se estuda e não se gosta do homem, tudo ganha a forma de populismo. O fundamentalismo e o ar serôdio destas criaturas atraiçoam-lhes a lucidez. Se a tiverem. Um outro registo foi a afonia de Jerónimo de Sousa, no que resultou no seu abandono.
No essencial houve alguma emoção e pouco esclarecimento. A existir um vencedor, pela lucidez e clareza das suas intervenções, ele foi Francisco Louçâ, passe o facto de Paulo Portas ter sido mais eficaz a passar a sua mensagem. Sócrates esteve na pele de primeiro-ministro, foi sincero no que disse, embora pouco convincente nalgumas questões, mas muito melhor que anteriormente. A desilusão, pela banalidade da sua prestação, a coberto de uma oratória dejá-vue, foi Santana Lopes. A improvisação foi uma constante, no meio de gráficos que ninguém viu e números que só ele conhece. O permitir, não se entendendo porquê, as maquinações de Portas, torna-o vítima das circunstâncias. Pagará caro a situação tola onde se meteu.
Pessoa, os R. C. & a Golden Dawn [Para a I...]
Existem referências sobre o assunto em algumas em obras, entre as quais: "A Mentira Verídica", de Angel Crespo, Teorema, 1992 / "La vida Plural de Fernando Pessoa", de Angel Crespo, Barcelona, 1988 / "Rósea Cruz", por Fernando Pessoa [compilação de textos do escritor, por Pedro Teixeira da Mota], Ed. Manuel Lencastre, 1989 / "Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética", de Yvette Centeno [com textos de F. P.], Editorial Presença, 1985 / "Estudos sobre Fernando Pessoa", de Georg R. Lind, INCM, 1981 / "A Procura da Verdade Oculta. Textos filosóficos e esotéricos", [org. textos por António Quadros], Eur-America, Livros de Bolso / "Portugal, Razão e Mistério", de António Quadros, Guimarães, 1986
O livro de Angel Crespo é curioso pelo seu texto "Yeats, Pessoa e o Oculto", onde é referido um conjunto de anotações em torno do relacionamento de F. P. com alguns dos mais importantes teósofos, protagonistas da Golden Dawn, etc. Por exemplo, citemos uma mensagem "espectacular e mais misteriosa" de Henry More (cabalista, cuja obra foi estudada por Yeats), recebida por F. P. por "meio de escrita automática":
"As minhas palavras estão pensadas para convencer. São palavras de um amigo, como sempre. És o centro de uma conspiração astral, o lugar do encontro de elementos de tipo maléfico. Ninguém pode imaginar o que é a tua alma. São tantas as presenças desencarnadas em redor dela que, de Aqui, parecem um núcleo do teu destino (...) Meu filho, este mundo em que vivemos - porque todos vivemos no mesmo divino lugar - é um marasmo de inconsequências e voracidades. São mais os homens perdidos que os achados. O teu destino é demasiado alto para que eu o diga. Tens de descobrir tu. (...) O meu nome está errado e o teu também. Nada é o que parece ser. More. Henry More. Frat Rc. O que tem de ser tem de ser" [Angel Crespo, A Mentira Verídica]
Na morte de Lúcia
"Deve ser juradas três coisas - Liberdade, Amor, Conhecimento" [A. M. Lisboa]
Nada é mais ilustrativo que as torpezas plantadas sobre Lúcia, na hora da sua morte. Para uns, a reclusão, o sofrimento e os excessos de virtude que sempre foi exteriorizado são um manifesto logro e manipulação dissimulada levada a cabo pelas entidades Eclesiásticas, com objectivos político-ideológicos evidentes, uma fábula que adquiriu foros de verdade, um construído litúrgico providencial, um mero negócio. Conhece-se a extensa bibliografia sobre o assunto.
Para outros, a veneração e a devoção piedosa a Lúcia, e o que simbolicamente representa, é uma visão profética, uma emoção purificadora, um martírio heróico, uma entrega interior resplandecente, um novo repositório de culto Mariano. Conhece-se a propaganda que as autoridades Eclesiásticas, sábia e prudentemente, foram coligindo e ampliando.
Porém, a criança e a mulher constitui uma espécie de memória quase sempre esquecida, uma cautelosa realidade nunca desvelada, uma fuga tormentosa, uma habilidade de sermos demasiados humanos. A perda da infância, a longa jornada de reclusão, a letargia do corpo, a obediência, a dignidade na fidelidade, que sempre procurou preservar, quase nunca nos impressiona. E quando, por acaso, descobrimos tais sentimentos austeros procuramos tirar vantagens das nossas pueris experiências do vivido. A vida de Lúcia é o nosso tormento, a nossa fraqueza, o nosso eterno calvário. Por isso Lúcia merece respeito. Que descanse em paz.
domingo, 13 de fevereiro de 2005
Georges Simenon [n. 13 Fevereiro de 1903-1989]
"Je me considère comme un anarchiste non violent, car l'anarchie n'est pas nécessairement violente, celui qui s'en réclame étant un homme qui refuse tout ce qu'on veut lui faire entrer de force dans la tête ; il est également contre ceux qui veulent se servir de lui au lieu de lui laisser sa liberté de penser"
[G. Simenon]
De Lit(r)os de Opinião
Quem ler os jornais diários necessita de uma grandeza mental sólida, uma felicidade humilde, uma virtude diligente, para ler os testemunhos dos pregadores do costume. O sentimento manifesto quando se lê os ungidos da politica profissional no seu delírio de colunistas, opinando do grémio jornaleiro, é uma visão de espíritos sem memória, com meditações prodigiosas e vaticínios admiráveis à mistura.
Não se pretende referir as piedosas lágrimas da bruxa da Areosa a favor do seu novo pai-santo, o enternecido Lopes; não se deseja a abertura das almas ou a genuflexão pecadora dos indígenas, perante as singulares palavras de Nuno Fernandes Thomaz, digamos, ao longo da sua vida de mareante exangue; muito menos queremos abalizar os comoventes e abnegados discursos espirituosos do mancebo Paulo Portas, citar as meditações órfãs de Pires de Lima-Filho, ou a eloquente animação de um Miguel Almeida, do viçoso Luís Delgado, de um atordoado Filipe Menezes. Nada disso. Hoje a ventura coube, por merecimento, ao desgostoso Santos Silva. Augusto, de seu nome. Tutor por coração e súplica.
O noviciado técnico de refrigeração, colunista e político em part-time, estratega de maiorias & soluções governativas, dispara furiosamente contra a mão esquerda do diabo. Tanta prosápia nas suas afirmações, tanta doutrina abrasiva contra os hereges da putativa maioria, tanta raiva revelada, que decerto Santos Silva será em breve canonizado, com honra devida. Estamos a vê-lo à direita de Guterres e imediatamente ao lado de José Lello, Narciso Miranda, Jorge Coelho, Pina Moura e, porque não, Paulo Portas. Eis os sujeitos da sua doutrina enunciadora. E de tanto mérito é vicioso que, por memória de dor, nada nos esclarece sobre as porfiadas políticas de antanho ou o fruto governativo rosa. Pelo contrário: deixando de fora o precioso queijo limiano, muitas historietas em torno dos boys & construtores civis, um despesismo Pina-Mourado bem curioso & afins, o tomado de horror Santos Silva desaba a cobiçar, inquieto, votos e disposições de gente que lhe merece respeito e um maior desvelo democrático. Numa coisa Santos Silva está certo: "porque é que não devemos sujeitar as atitudes e os argumentos", e acrescentamos nós, as práticas da tralha socialista de má memória à escolha eleitoral que se segue? Haverá muitos mais discernimentos? A memória resistirá ao esforço?
[Tudo ... absolutamente normal]
"O confiar acautelado, é desconfiança de prudentes" [Fr. João dos Prazeres]
A uma semana das eleições reais, e passe a desgarrada e indecorosa campanha em curso, que se presume seguirá dentro de dias, a questão reside em se confiar em demasia ou permanecer numa desconfiança prudente. Preferimos esta última.
Diante do que se pode suspeitar, assim o negócio eleitoral corra venturoso no seu marketing, o eng. Sócrates não terá a tão apetecida maioria absoluta. Culpa inteiramente sua. Por um lado está acorrentado à tralha Guterrista, de má memória, e que não soube ou não pode, prudentemente, afastar. Por outro, não sabendo como agir à sua esquerda, não frequentando as lições do eficaz D. Mário, instala a perplexidade e a impaciência a um eleitorado previsível. O voto de protesto não tem morada certa, como seria de esperar. Alguns pensam que sim, mas depressa entenderão que a repugnância Sócratica de alianças à sua esquerda, só pode representar o regresso da política do insanável queijo limiano.
No entretanto Santana Lopes tem uma horda de sujeitos à espera para uma limpeza geral. O seu partido parece que ainda existe, dizem. Temos sérias dúvidas dessa singular oferta, mais a mais com o Morais Sarmento, à rédea solta, tirando truques americanos das mangas, com o dr. Cavaco farto de garotices e com os reais sociais-democratas, que podiam fazer a diferença, virados para o prazer da sua vida profissional, nada resta. O dr. Lopes, aturdido pelos acontecimentos, está mais interessado na sua sobrevivência, pelo que não abandonará sem luta o próximo congresso.
Portanto, tudo absolutamente normal. Como era esperado. E o País!? Ah sim! Pois ... o País, com mais lamúrias ou maiores queixumes, lá irá, cantando e rindo. Como será de esperar.
"O confiar acautelado, é desconfiança de prudentes" [Fr. João dos Prazeres]
A uma semana das eleições reais, e passe a desgarrada e indecorosa campanha em curso, que se presume seguirá dentro de dias, a questão reside em se confiar em demasia ou permanecer numa desconfiança prudente. Preferimos esta última.
Diante do que se pode suspeitar, assim o negócio eleitoral corra venturoso no seu marketing, o eng. Sócrates não terá a tão apetecida maioria absoluta. Culpa inteiramente sua. Por um lado está acorrentado à tralha Guterrista, de má memória, e que não soube ou não pode, prudentemente, afastar. Por outro, não sabendo como agir à sua esquerda, não frequentando as lições do eficaz D. Mário, instala a perplexidade e a impaciência a um eleitorado previsível. O voto de protesto não tem morada certa, como seria de esperar. Alguns pensam que sim, mas depressa entenderão que a repugnância Sócratica de alianças à sua esquerda, só pode representar o regresso da política do insanável queijo limiano.
No entretanto Santana Lopes tem uma horda de sujeitos à espera para uma limpeza geral. O seu partido parece que ainda existe, dizem. Temos sérias dúvidas dessa singular oferta, mais a mais com o Morais Sarmento, à rédea solta, tirando truques americanos das mangas, com o dr. Cavaco farto de garotices e com os reais sociais-democratas, que podiam fazer a diferença, virados para o prazer da sua vida profissional, nada resta. O dr. Lopes, aturdido pelos acontecimentos, está mais interessado na sua sobrevivência, pelo que não abandonará sem luta o próximo congresso.
Portanto, tudo absolutamente normal. Como era esperado. E o País!? Ah sim! Pois ... o País, com mais lamúrias ou maiores queixumes, lá irá, cantando e rindo. Como será de esperar.
[Discreto]
"Discreto com singeleza (que vale o mesmo que prudente sem engano) é virtude própria dos Príncipes. A discrição civil é demonstradora da prudência, por ser a língua que declara e explica a ciência política, cujas propriedades são ver a pessoa e conhecer-lhe o ânimo; donde a falta desta Discrição desalenta tanto o discurso do Príncipe, quanto a falta de forças ao corpo humano, o qual perde os acertos das operações, por falta de agilidade.
Esta discrição, é no mundo a Árvore da ciência do bem e do mal, que Deus criou em recompensa daquela, donde Adão colheu o pomo vedado. Os frutos desta Árvore são: memória do passado, inteligência do presente, e atenção ao futuro ..."
[Fr. João dos Prazeres, in Abecedário Real, Ed. Gama, 1943]
"Discreto com singeleza (que vale o mesmo que prudente sem engano) é virtude própria dos Príncipes. A discrição civil é demonstradora da prudência, por ser a língua que declara e explica a ciência política, cujas propriedades são ver a pessoa e conhecer-lhe o ânimo; donde a falta desta Discrição desalenta tanto o discurso do Príncipe, quanto a falta de forças ao corpo humano, o qual perde os acertos das operações, por falta de agilidade.
Esta discrição, é no mundo a Árvore da ciência do bem e do mal, que Deus criou em recompensa daquela, donde Adão colheu o pomo vedado. Os frutos desta Árvore são: memória do passado, inteligência do presente, e atenção ao futuro ..."
[Fr. João dos Prazeres, in Abecedário Real, Ed. Gama, 1943]
La Citoyenne & Hubertine Auclert
"La Citoyenne (The Citizeness) was a feminist newspaper first published in Paris, France on February 13, 1881 by activist Hubertine Auclert (1848-1914). Published bi-monthly, the newspaper was a forceful and unrelenting advocate for women's enfranchisement, demanding changes to the Napoleonic Code that relegated women to a vastly inferior status. The newspaper demanded that women be given the right to run for public office, claiming that the unfair laws would never have been passed had the views of female legislators been heard. Notable feminists such as Marie Bashkirtseff wrote articles for the paper ..." [Ler aqui]
Locais: Hubertine Auclert / Hubertine Auclert (1848-1914) / Egalité sociale et politique de la femme et de l'homme. Discours prononcé au Congrès ouvrier socialiste de Marseille
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005
Sylvia Plath [m. 11 Fevereiro de 1963]
"... Dying
Is an art, like everything else.
I do it exceptionally well.
I do it so it feels like hell.
I do it so it feels real.
I guess you could say I've a call ..." [in Lady Lazarus]
Locais: Sylvia Plath page / Sylvia Plath (1932-1963) / Sylvia Plath (1932-1963)-pseudonym Victoria Lucas / Sylvia Plath: Lady Lazarus / Sylvia Plath: entre a mitificação e a poesia pura
Eleições: uma vinagreira
"O mel é pouco e as lambeduras são muitas" [popular]
Há em toda esta campanha eleitoral uma emoção sinuosa, um nervosismo pegadiço, uma disparatada cacofonia. Ninguém se lembra de tamanha chacota. Esta política de farmácia parece contagiar tudo e todos.
O momento maior desta semana foi abonado fervorosamente pelo jornal O Público, a propósito da opinião do sr. Silva (assim cortesmente evocado na boçalidade de Alberto João) sobre as eleições. A encomenda assassinou, de vez, o professor Cavaco Silva. Ainda o tiroteio ia no adro e já a reprimenda ao sr. Silva ecoava por todo o lugar.
Saber a quem favorece a surtida aventureira d'O Público é um cruel embaraço, uma tarefa estouvada. A ratoeira armada ao professor foi uma maquinação inteligente e nem o momento de retiro professoral lhe pode valer. O sr. Silva está, definitivamente, posto de lado. Resta provar, porém, se as cogitadas intenções presidenciais do professor tinham fundamento. É que na mais lisonjeira hipótese, antes de se embaraçar na tarefa presidencial terá de apresar e limpar o seu partido. Uma empreitada bem mais fácil. Ou não?
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005
n. Carmen Miranda em Marco de Canaveses [9 Fev. 1909-1955]
"Uma cabrocha bonita
Cantando e sambando
Quem não admira
Gingando seu corpo
Que mesmo a gente espiando
Parece mentira
Cabrocha que só fala gíria
Que tem candomblé
No seu sapateado
Cabrocha que veio do morro
Trazer pra cidade o samba rasgado
Para eu cantar um samba
Não precisa orquestração
Gosto mais de uma cuíca
Um cavaquinho
Um pandeiro e um violão ..."
[Samba Rasgado de Portello Juno & Wilson Falcão, cantado por Carmen Miranda]
Fyodor Dostoevsky [m. 9 Fevereiro em St. Petersburg de 1881]
"... No século da ciência, no século da elaboração das grandes reformas sociais, Dostoievski ouvia ainda dentro de si as vozes antiquíssimas do mundo medieval. E a grande dúvida que me assalta sempre após a leitura dos seus romances é esta: que pensava Dostoievski dos homens? Acreditava neles ou não - esses homens que, se ousassem confessar em voz alta os mais secretos pensamentos (tal a opinião do príncipe Valkovski, a figura-chave dos Humilados e Ofendidos), acabariam por afogar a Terra numa tal pestilência que a humanidade morreria sufocada? Não acreditava? Que sentido têm estas perguntas?
Mas, seja como for, suspeitamos que Dostoievski, descrente dos homens, só vê para eles uma única salvação: a tirania cruel que os sujeite ao sofrimento purificador ..." [Augusto Abelaira, in Introdução a Humilhados e Ofendidos, Estúdios Cor, 1962]
"... Dostoiewsky pertencia à categoria daqueles seres de que Michelet disse: «sendo homens vigorosos, têm muito da fragilidade feminina». Desta forma se explica toda uma faceta das suas obras, onde se apercebe a desumanidade do talento e a necessidade de fazer sofrer. Em face deste carácter, o martírio cruel e imerecido que um cego destino lhe prescreveu devia profundamente tê-lo modificado. Nada há que admirar pois, ao vermos que se tornou um génio nervoso e irritável aé ao mais alto grau ..." [M. de Vogue, in pref. De Recordações da Casa dos Mortos, de Dostoiewsky, Porto, 1942]
terça-feira, 8 de fevereiro de 2005
Hoje estamos assim ...
"Vinum purum gazupat; Bachus vinum est; vinum est vita hominis; aqua non est salutaris; tabacum est vicium; estragans mulier"
... O vinho, meus senhores, até ensina o que muitos não sabem. Nescios docet, que é o mesmo que dizer não é bom sendo doce, e segundo discorre o Licenciado Mata-Sãos, vinho doce é vinho de mulheres, estraga e não nutre. Palavras do autor: et vinum dulce mulieribus adquatur, quia per gargantas filagranatas intratur enchendo que barrigas conservatur. Cuidam alguns homens que beber vinho é desonra, mas enganam-se porque a maior falta que um homem pode ter é não beber, nem ter com que o comprar. E, senão, reparai. O vinho faz os homens palradores e discretos, conceito do sapietentissimo Seca-Tabernas: Beberricatio hominis scienciam auget. O vinho faz os homens valentes, assim afirma o doutíssimo Carapeta Chumbado no seu Tratado das Avenidas de Beltrão: Chupantes Bachum maximi valentorum. O vinho aclara a vista, isto afirma Frei Estoque de Broquel, à noite, na sua cela. Fogo visto Linguiça, oculi mei videre. O vinho desterra as ventosidades de qualquer região que seja, assim refere Frei Nabuco de Barbuda: ventus desterratus est vel fuit de chupationeque churrilhatio orta est. Finalmente, o vinho é o que alegra o coração como certifica Frei Escopeta de Cartuxa: cor saltant proecordia mella chupantia, est iscas comedentia ..."
[J. D. Rodrigues da Costa, in Noite de Inverno Divertida, 1828 (aliás in Almocreve de Petas, 1974)]
[Ao volante pela A1]
A Blogosfera está prostrada de gratidão eleitoral. Escrupulosamente saiu do dolce far niente da instrução cívica-democrática-poética aos indigenas, como se substancia ao longo do ano, para se assombrar no ardor da campanha eleitoral. De repente, alguns suplicantes do aparelho partidário tiram o luto e o horror que abraçaram em tempos próximos para, arrasados que estão no terror da batalha, invocar impressões reveladoras e fragosas prédicas emotivas.
Fazendo jus ao novíssimo blasfemo, íamos nós, em sublimidade, ao volante num pequeno-burguês Sport Coupé Classe C pela A1, quando observámos a alegria festiva do povo, apinhado em modernas carroças e corajosamente enlevado na sua passeata ao Portugal profundo. Ao princípio reconhecemos que ia ali gloriosa expedição carnavalesca, mas o parco entusiasmo manifesto e a TSF cedo nos revelou que a circulação era devida aos comícios que ontem espontaneamente brilharam para os lados de Castelo-Branco. Não nos benzemos, como o inefável blasfemo, mas serenamente e longe das emoções do voto virámos em direcção a Vieira de Leiria (ao que parece, em Fátima, a Tia Alice estava fechada) a caminho do Coelho, para uma açorda de marisco. Percebemos, de imediato, a importância do voto. Entretanto a nossa Briosa perdeu com o nosso Glorioso. Ao que nos contaram, entretanto, o petrificado Eurico de Melo, o jovial post-keynesiano Alberto João e o quebrantado Sarmento trocaram abraços e vocábulos alegres entre a turba a caminho do futuro. Bom Carnaval.
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