quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005


Debate Livre

Muito sentencioso foi o debate eleitoral. A felicidade na dedicação ao debate, as palavras pronunciadas em laudatórias enternecidas, foi aliciante de seguir. Muito melhor este formato que a sensaboria de Sócrates versus Lopes na SIC.

Fidex ex auditu, poder-se-ia dizer. De facto, os comentadores estavam cheios de fé no encontro. Ao contemplarmos os cinco magníficos no retalhar grave dos problemas da Nação, ao atendermos à catadupa de críticas com que, uns aos outros, se brindavam à mistura com gestos virtuosos, decerto fomos arrastados para o espectáculo e pouco para a substância em disputa. Novamente algumas questões não foram totalmente esclarecidas, sendo que o que fica é que os próximos anos serão de fartar vilanagem. Todos assumem que o que ai vem são vacas gordas e gastar é o que está a dar. Bem curioso, pois.

O debate ficou marcado de duas maneiras: pela questão levantada por Francisco Louçã sobre a questão dos benefícios à banca, o que para alguns liberais, com muita piada, lhes fez ver ali uma paródia populista. Ora quando não se estuda e não se gosta do homem, tudo ganha a forma de populismo. O fundamentalismo e o ar serôdio destas criaturas atraiçoam-lhes a lucidez. Se a tiverem. Um outro registo foi a afonia de Jerónimo de Sousa, no que resultou no seu abandono.

No essencial houve alguma emoção e pouco esclarecimento. A existir um vencedor, pela lucidez e clareza das suas intervenções, ele foi Francisco Louçâ, passe o facto de Paulo Portas ter sido mais eficaz a passar a sua mensagem. Sócrates esteve na pele de primeiro-ministro, foi sincero no que disse, embora pouco convincente nalgumas questões, mas muito melhor que anteriormente. A desilusão, pela banalidade da sua prestação, a coberto de uma oratória dejá-vue, foi Santana Lopes. A improvisação foi uma constante, no meio de gráficos que ninguém viu e números que só ele conhece. O permitir, não se entendendo porquê, as maquinações de Portas, torna-o vítima das circunstâncias. Pagará caro a situação tola onde se meteu.