terça-feira, 8 de fevereiro de 2005


Hoje estamos assim ...

"Vinum purum gazupat; Bachus vinum est; vinum est vita hominis; aqua non est salutaris; tabacum est vicium; estragans mulier"

... O vinho, meus senhores, até ensina o que muitos não sabem. Nescios docet, que é o mesmo que dizer não é bom sendo doce, e segundo discorre o Licenciado Mata-Sãos, vinho doce é vinho de mulheres, estraga e não nutre. Palavras do autor: et vinum dulce mulieribus adquatur, quia per gargantas filagranatas intratur enchendo que barrigas conservatur. Cuidam alguns homens que beber vinho é desonra, mas enganam-se porque a maior falta que um homem pode ter é não beber, nem ter com que o comprar. E, senão, reparai. O vinho faz os homens palradores e discretos, conceito do sapietentissimo Seca-Tabernas: Beberricatio hominis scienciam auget. O vinho faz os homens valentes, assim afirma o doutíssimo Carapeta Chumbado no seu Tratado das Avenidas de Beltrão: Chupantes Bachum maximi valentorum. O vinho aclara a vista, isto afirma Frei Estoque de Broquel, à noite, na sua cela. Fogo visto Linguiça, oculi mei videre. O vinho desterra as ventosidades de qualquer região que seja, assim refere Frei Nabuco de Barbuda: ventus desterratus est vel fuit de chupationeque churrilhatio orta est. Finalmente, o vinho é o que alegra o coração como certifica Frei Escopeta de Cartuxa: cor saltant proecordia mella chupantia, est iscas comedentia ..."

[J. D. Rodrigues da Costa, in Noite de Inverno Divertida, 1828 (aliás in Almocreve de Petas, 1974)]