domingo, 13 de fevereiro de 2005
De Lit(r)os de Opinião
Quem ler os jornais diários necessita de uma grandeza mental sólida, uma felicidade humilde, uma virtude diligente, para ler os testemunhos dos pregadores do costume. O sentimento manifesto quando se lê os ungidos da politica profissional no seu delírio de colunistas, opinando do grémio jornaleiro, é uma visão de espíritos sem memória, com meditações prodigiosas e vaticínios admiráveis à mistura.
Não se pretende referir as piedosas lágrimas da bruxa da Areosa a favor do seu novo pai-santo, o enternecido Lopes; não se deseja a abertura das almas ou a genuflexão pecadora dos indígenas, perante as singulares palavras de Nuno Fernandes Thomaz, digamos, ao longo da sua vida de mareante exangue; muito menos queremos abalizar os comoventes e abnegados discursos espirituosos do mancebo Paulo Portas, citar as meditações órfãs de Pires de Lima-Filho, ou a eloquente animação de um Miguel Almeida, do viçoso Luís Delgado, de um atordoado Filipe Menezes. Nada disso. Hoje a ventura coube, por merecimento, ao desgostoso Santos Silva. Augusto, de seu nome. Tutor por coração e súplica.
O noviciado técnico de refrigeração, colunista e político em part-time, estratega de maiorias & soluções governativas, dispara furiosamente contra a mão esquerda do diabo. Tanta prosápia nas suas afirmações, tanta doutrina abrasiva contra os hereges da putativa maioria, tanta raiva revelada, que decerto Santos Silva será em breve canonizado, com honra devida. Estamos a vê-lo à direita de Guterres e imediatamente ao lado de José Lello, Narciso Miranda, Jorge Coelho, Pina Moura e, porque não, Paulo Portas. Eis os sujeitos da sua doutrina enunciadora. E de tanto mérito é vicioso que, por memória de dor, nada nos esclarece sobre as porfiadas políticas de antanho ou o fruto governativo rosa. Pelo contrário: deixando de fora o precioso queijo limiano, muitas historietas em torno dos boys & construtores civis, um despesismo Pina-Mourado bem curioso & afins, o tomado de horror Santos Silva desaba a cobiçar, inquieto, votos e disposições de gente que lhe merece respeito e um maior desvelo democrático. Numa coisa Santos Silva está certo: "porque é que não devemos sujeitar as atitudes e os argumentos", e acrescentamos nós, as práticas da tralha socialista de má memória à escolha eleitoral que se segue? Haverá muitos mais discernimentos? A memória resistirá ao esforço?