segunda-feira, 24 de outubro de 2005
Os Equívocos de Cavaco Silva
"Que gente reiterativa. È tão bom!" [A. O'Neill]
Cavaco Silva regressou. Parece repousado, pasmado de 10 anos de espera, pouco abundante em palavras, desatento aos anos da sua longa (des)governação e muito festivo, demasiado talvez. Afastado, prudentemente, da crise penosa em todos estes anos, ambiciona sair das trevas da política indígena repelindo os seus dilectos "filhos" e "enteados". Cavaco jura que não é mais um "Aníbal político". E, de fronte erguida, ar emproado e um tanto pedante, apresenta-se escondido da turba laranja, essa "canalha" que tão bem iluminou no caminho ao assalto da administração pública e aos subsídios da União Europeia.
"Pai" e "mãe" do "monstro" que é o Estado e que inventivamente construiu para os incautos, Cavaco Silva "destruiu-se" no "território da corrupção" com que risonhamente embalou a sua governação. Hoje tresanda de hipocrisia. E mesmo que o seu dissídio seja honesto, não se vê como se deva perdoar o seu diminuto carácter no exercício da coisa pública.
Cuida o dr. Cavaco que o (quase) silêncio com que friamente e pacientemente se remeteu faz desaparecer o fastio destes 20 anos de miserabilismo pátrio e os seus 10 de governação. Aonde depois, Guterres, sem paciência nem capacidade, compreende, e tarde demais, que os "boys" da rosa estimavam esses bons e animados tempos do dr. Cavaco. E, é claro, daí só pode dar em fuga ... envergonhada. Onde assoma Barroso, crescido nesse melífluo redil de antanho e que habilidosamente dá um salto ainda maior, sem qualquer rebuço ou pudor. Depois, por complacência de Sampaio, cai-nos sobre as nossas cabeças a histriónica dupla Lopes & Portas, que de tão incompetentes foram no deslumbramento da governação que deixaram tudo à mostra e o país à beira de um ataque de nervos. E onde, de momento, Sócrates baralha e torna a dar, para ficar tudo como estava. Vinte anos calcetados na mais desvairadas das políticas e com a mais grosseira classe dirigente conhecida. Que tornou Portugal no país mais atrasado da Europa.
Eis o quadro negro de 20 anos de pronunciamento Cavaquista. Onde o trecho inaugural da "obra" portuguesa ou "oásis" trôpego se começa a desenhar, em chacota carnavalesca. Onde a "competência", a "capacidade de decisão", a "honestidade" e a "responsabilidade" (para seguir o madrigal político do sr. Ramalho Eanes, agora muleta pegadiça de Cavaco) nunca existiu. E que só o disparate da fraseologia eleitoral, a demagogia e o populismo tornam banais. Lucidez precisa-se! Que a memória não nos torne irracionais.
[O fim do super-homem]
"O governo [do prof. Cavaco Silva] falhou algumas metas económicas e o homem que nunca se engana, que conhece os «dossiers» e que domina os números, afinal, enganou-se.
(...) falta saber se Cavaco Silva é apenas e fundamentalmente um político de rara habilidade que sabe exactamente o momento de «saltar» para o poder (e, também, o de retirar-se em beleza) e aproveitar com perícia as conjunturas favoráveis; ou se Cavaco Silva é um governante rigoroso e competente que sabe conduzir as situações e transformá-las (...)
Cavaco vai regressar também a tempo de usufruir sozinho os resultados conjugados de um conjunto de factores praticamente «únicos» para a economia portuguesa. Herda uma situação financeira reequilibrada pelo Governo do Bloco central, em 1983 e 1984, graças a uma dolorosa política de austeridade; aproveita de uma conjuntura externa altamente favorável; recebe como brinde os efeitos da integração de Portugal na CEE e o impacto das transferências de verbas que saldam em milhões e milhões de contos. A sua determinação em romper o Bloco Central partia, naturalmente, do conhecimento das magníficas perspectivas enumeradas.
É nessa conjuntura que mais uma vez Cavaco Silva pode governar com o objectivo essencial de ganhar as eleições seguintes e transformar o seu governo minoritário de 1985 num governo dotado de uma maioria inigualável, em 1987.
(...) Face à primeira dificuldade na evolução económica (...) Cavaco começará, porventura, a enfrentar o seu grande teste: vencer também nos momentos difíceis.
Durante um ano, ele soube transformar, mais uma vez com grande habilidade política, os efeitos de uma conjuntura externa, favorável como nenhuma outra, no resultado da sua capacidade de gestão interna. As «performances» económicas monopolizaram o discurso governamental. Uma meta desinflacionista verdadeiramente recorde atribui um número - 5,5 - à imagem de marca do governo. Cadilhe chamou a este objectivo uma verdadeira «correcção estrutural». Quebrado agora o fetiche, confrontado agora o Governo com um erro de previsão de quase cinquenta por cento, as tentativas de emendar a mão tornam-se quase patéticas.
É ainda o derradeiro esforço para preservar o mito dos super-homens. O Governo omite a parte da realidade que não lhe convém, dizendo que a derrapagem inflacionista de deve a causas externas e esquecendo-se de ter dito que a sua redução no ano passado [1987] também assentou nas mesmas causas externas; muda rapidamente de campo, erigindo o emprego em grande objectivo sem explicar porquê; procura dar de si próprio uma nova imagem de marca, mais virada para os desafios sociais e culturais do que para a mera quantificação dos êxitos financeiros (...)
[Teresa de Sousa, in "O fim do super-homem", Revista Expresso, 1 de Outubro de 1988]
"O governo [do prof. Cavaco Silva] falhou algumas metas económicas e o homem que nunca se engana, que conhece os «dossiers» e que domina os números, afinal, enganou-se.
(...) falta saber se Cavaco Silva é apenas e fundamentalmente um político de rara habilidade que sabe exactamente o momento de «saltar» para o poder (e, também, o de retirar-se em beleza) e aproveitar com perícia as conjunturas favoráveis; ou se Cavaco Silva é um governante rigoroso e competente que sabe conduzir as situações e transformá-las (...)
Cavaco vai regressar também a tempo de usufruir sozinho os resultados conjugados de um conjunto de factores praticamente «únicos» para a economia portuguesa. Herda uma situação financeira reequilibrada pelo Governo do Bloco central, em 1983 e 1984, graças a uma dolorosa política de austeridade; aproveita de uma conjuntura externa altamente favorável; recebe como brinde os efeitos da integração de Portugal na CEE e o impacto das transferências de verbas que saldam em milhões e milhões de contos. A sua determinação em romper o Bloco Central partia, naturalmente, do conhecimento das magníficas perspectivas enumeradas.
É nessa conjuntura que mais uma vez Cavaco Silva pode governar com o objectivo essencial de ganhar as eleições seguintes e transformar o seu governo minoritário de 1985 num governo dotado de uma maioria inigualável, em 1987.
(...) Face à primeira dificuldade na evolução económica (...) Cavaco começará, porventura, a enfrentar o seu grande teste: vencer também nos momentos difíceis.
Durante um ano, ele soube transformar, mais uma vez com grande habilidade política, os efeitos de uma conjuntura externa, favorável como nenhuma outra, no resultado da sua capacidade de gestão interna. As «performances» económicas monopolizaram o discurso governamental. Uma meta desinflacionista verdadeiramente recorde atribui um número - 5,5 - à imagem de marca do governo. Cadilhe chamou a este objectivo uma verdadeira «correcção estrutural». Quebrado agora o fetiche, confrontado agora o Governo com um erro de previsão de quase cinquenta por cento, as tentativas de emendar a mão tornam-se quase patéticas.
É ainda o derradeiro esforço para preservar o mito dos super-homens. O Governo omite a parte da realidade que não lhe convém, dizendo que a derrapagem inflacionista de deve a causas externas e esquecendo-se de ter dito que a sua redução no ano passado [1987] também assentou nas mesmas causas externas; muda rapidamente de campo, erigindo o emprego em grande objectivo sem explicar porquê; procura dar de si próprio uma nova imagem de marca, mais virada para os desafios sociais e culturais do que para a mera quantificação dos êxitos financeiros (...)
[Teresa de Sousa, in "O fim do super-homem", Revista Expresso, 1 de Outubro de 1988]
domingo, 23 de outubro de 2005
Philip Lamantia [n. 23 Outubro 1927-m. 7 Março 2005]
"The mermaids have come to the desert
they are setting up a boudoir next to the camel
who lies at their feet of roses
A wall of alabaster is drawn over our heads
by four rainbow men
whose naked figures give off a light
that slowly wriggles upon the sands
I am touched by the marvellous ..."
[Philip Lamantia, in Touch of the Marvelous, 1944]
"Recusamos contentarmo-nos em ser meramente os mais odiados homens e mulheres do nosso tempo. Ainda não está esquecida a linguagem das aves. Quem nos acusar de mudar de assunto merece um soco no nariz.
Podíamos dizer, dentro do espírito de Pitágoras, que nunca é demasiado cedo para aprender a sonhar com o nunca sonhado.
A imaginação ou é revolucionária ou não é nada.
A revolução será surrealista ou nada será."
[A traição é mais doce que o mel, texto colectivo publicado em "City Lights Anthology", 1974 (aliás in Textos de Afirmação e de Combate do Movimento Surrealista Mundial, P&R, 1977) com participação de Philip Lamantia et al]
Locais: Philip Lamantia / Philip Lamantia (1927-2005) / Philip Lamantia Remembered / Philip Lamantia: Shaman of the Surreal / Philip Lamantia - S.F. Surrealist poet Visionary verse of literary prodigy influenced Beats / Riding the Marvelous / Geração Beat / Ecouter Philip Lamantia (Rest in peace, Al Capone)
quarta-feira, 19 de outubro de 2005
Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas
Ler o corpo como se ele não tivesse sido lido. Não acreditar que a "beleza" possa, desamparada, ser relatada "sob a forma de uma citação" (Barthes). Revisitar prantos generosos, confrontações viciosas, prisões ausentes, paixões inverosímeis. (Des)construir um rosto ou chamar o desejo quando o tempo arde, eis uma possível "insurreição erótica". Nada de mais precioso.
Para aqueles que caem no "logro no tempo de amor", para todos os outros que desaprendem nomes, imploram virtudes & aos que se quedam à margem. Para todos os que rompem a espera & prudentemente rasgam pedaços de si, eis, ali do lado esquerdo da pedra, Regra Três, por Toquinho & Vinicius de Moraes. Que cada um seja para o outro "aquilo que não é em si". Feliz ceia.
"Tantas você fez
Que ela cansou
Porque você, rapaz
Abusou da regra três
Onde menos vale mais
Da primeira vez
Ela chorou
Mas resolveu ficar
É que os momentos felizes
Tinham deixado raízes
No seu penar
Depois perdeu a esperança
Porque o perdão também cansa
De perdoar
Tem sempre o dia em que a casa cai
Pois vai curtir seu deserto, vai
Mas deixa a lâmpada acesa
Se algum dia a tristeza
Quiser entrar
E uma bebida por perto
Porque você pode estar certo
Que vai chorar"
[Toquinho & Vinicius de Moraes, Regra Três]
Vinicius de Moraes [n. 19 Outubro 1913-1980]
"Detesto tudo que oprime o homem, inclusive a gravata" [V. Moraes]
"... Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito mais que na modista! - para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor..."
[Vinicius de Moraes, Para Viver um Grande Amor]
Rafael Bordalo Pinheiro
"... A CARICATURA é uma das mais terríveis armas de guerra aplicadas ao ridículo humano. Pior do que o canhão! Porque o canhão mata - a caricatura mutila ..." [Joaquim Leitão]
"... Nunca a caricatura em Portugal ocupou lugar tão importante na história da moda e dos costumes, como o que atingira ultimamente mercê do talento e dos esforços de Rafael Bordalo. A caricatura política ainda teve outrora certa significação, enquanto viveu o Suplemento burlesco: mas as caricaturas morais, as fantasias, as cenas íntimas, e os gracejos aos abusos exigem que o espírito do público colabore por assim dizer com o artista a poder de o apreciar, e não queira cortar-lhe as unhas como ao gato que arranha, ou açaimá-lo por qualquer coisa como ao cão que morde. Há nações onde se poderia escrever a história exacta da liberdade com o escrever a história das caricaturas; nós não temos censura, mas ela existe, senão na forma, no fundo, e é às vezes para tudo em Portugal a pior das tiranias; chama-se-lhe as conveniências; podia chamar-se-lhe a hipocrisia!" [Júlio César Machado]
terça-feira, 18 de outubro de 2005
Joaquim Martins de Carvalho [1822- m. 18 Outubro 1898]
"Joaquim Martins de Carvalho nasceu em Coimbra, frequentou aulas de latim nos jesuítas, fez parte do movimento da "Maria da Fonte" (1846), tendo por isso sido preso e levado de Coimbra para a Figueira da Foz e daí, num barco, para o Limoeiro em Lisboa. Foi um notável jornalista, talvez o mais admirável do seu tempo, colaborou no Liberal do Mondego, Observador (de que, posteriormente, foi proprietário) e principalmente nesse incontornável jornal, O Conimbricense [nº 1, 24 de Janeiro de 1854, ao nº 6230, de 31 de Agosto de 1907]. "Não tendo ele sido verdadeiramente um escritor, na acepção estilística do termo, foi um jornalista ardoroso e intemerato, arrostando tão corajosamente os perigos como afrontava sobranceiramente chufas e arruaças, em luta permanente contra tudo e contra todos pelo Progresso, pela Ordem e pela Verdade." [José Pinto Loureiro, in Índice Ideográfico de O Conimbricense, Coimbra, 1953] [continuar a ler aqui]
Papéis & Arrumações
[Quando os lentes contavam historias fora da matéria da lição...]
"Falámos dos escolares da Universidade [Coimbra]. Hoje vamos nos referir aos professores. Ligeiramente, porque nem temos espaço nem cabedal para focar e desenvolver os mil conflitos que entre lentes se suscitaram e puzeram a Universidade em alvoroço, mormente na luta travada para provimento das cadeiras, em que a votação levava dias e os subornos eram coisa certa (...)
Vamos, acidentalmente, por curiosidade, trazer para aqui um episodio das desavenças que certamente vinham de Lisboa, pois a Universidade estava de novo e definitivamente instalada em Coimbra havia pouco tempo.
Basta, para tanto, ler o alvará régio a seguir transcrito, para se ficar a conhecer o processo usado pelos lentes para ferirem publicamente o adversário:
Eu El Rei faço saber a vós reverendo bispo Reitor dos estudos e universidade da cidade de Coimbra e aos reitores que ao diante pelos tempos forem, que porquanto às vezes acontece os lentes nas suas lições que lêem e nos autos públicos que se fazem, dizerem palavras de que os outros lentes ou letrados que nos ditos autos estão presentes, recebem escândalo, e assim os ditos lentes nas lições que lêem se põem a contar historias for a da matéria da lição em que gastam o tempo sem proveito, hei por bem que o lente que cada uma das coisas fizer, por cada vez perca o ordenado da lição daquele dia. E se for em outro auto também perca o ordenado da lição de um dia.
Notifico-vo-lo e mando que mandeis ao bedel que lhe aponte as ditas perdas dos ditos ordenados, as quais lhe serão descontadas de seus ordenados.
E este alvará mando que se cumpra e valha como carta, e será notificado no Conselho e da notificação se fará assento nas costas deste. Jorge Roiz o fez em Lisboa, a 23 de Setembro de 1538. E as ditas perdas lhe serão descontadas de seus ordenados sem remissão. Rei
Foi este o alará apresentado no Conselho em 9 de Outubro seguinte e dele tomaram conhecimento os lentes. Mas os seus termos terminantes, com a apostila de serem descontados as perdas «sem remissão», não causaram grande perturbação no cenáculo.
Continuaram a «contar-se histórias fora da matéria» e a proferirem se remoques aos colegas..."
[B. de C., jornal ? (Despertar ?), s.d. ?]
[Quando os lentes contavam historias fora da matéria da lição...]
"Falámos dos escolares da Universidade [Coimbra]. Hoje vamos nos referir aos professores. Ligeiramente, porque nem temos espaço nem cabedal para focar e desenvolver os mil conflitos que entre lentes se suscitaram e puzeram a Universidade em alvoroço, mormente na luta travada para provimento das cadeiras, em que a votação levava dias e os subornos eram coisa certa (...)
Vamos, acidentalmente, por curiosidade, trazer para aqui um episodio das desavenças que certamente vinham de Lisboa, pois a Universidade estava de novo e definitivamente instalada em Coimbra havia pouco tempo.
Basta, para tanto, ler o alvará régio a seguir transcrito, para se ficar a conhecer o processo usado pelos lentes para ferirem publicamente o adversário:
Eu El Rei faço saber a vós reverendo bispo Reitor dos estudos e universidade da cidade de Coimbra e aos reitores que ao diante pelos tempos forem, que porquanto às vezes acontece os lentes nas suas lições que lêem e nos autos públicos que se fazem, dizerem palavras de que os outros lentes ou letrados que nos ditos autos estão presentes, recebem escândalo, e assim os ditos lentes nas lições que lêem se põem a contar historias for a da matéria da lição em que gastam o tempo sem proveito, hei por bem que o lente que cada uma das coisas fizer, por cada vez perca o ordenado da lição daquele dia. E se for em outro auto também perca o ordenado da lição de um dia.
Notifico-vo-lo e mando que mandeis ao bedel que lhe aponte as ditas perdas dos ditos ordenados, as quais lhe serão descontadas de seus ordenados.
E este alvará mando que se cumpra e valha como carta, e será notificado no Conselho e da notificação se fará assento nas costas deste. Jorge Roiz o fez em Lisboa, a 23 de Setembro de 1538. E as ditas perdas lhe serão descontadas de seus ordenados sem remissão. Rei
Foi este o alará apresentado no Conselho em 9 de Outubro seguinte e dele tomaram conhecimento os lentes. Mas os seus termos terminantes, com a apostila de serem descontados as perdas «sem remissão», não causaram grande perturbação no cenáculo.
Continuaram a «contar-se histórias fora da matéria» e a proferirem se remoques aos colegas..."
[B. de C., jornal ? (Despertar ?), s.d. ?]
segunda-feira, 17 de outubro de 2005
O Hooligan Instruído do FCP
È singular o padecimento da alma futebolística no hoolingan ... perfeitamente instruído do FCP. Fala-se, como é evidente, do restaurador de jogos que, na sua crença profunda, revela os mais inebriantes prognósticos no pós-jogo ou estabelece máximas graves & extraviadas face à derrota sofrida. A paixão vilã do hoolingan é deliciosa. Como a paixão. Ou o mau perder. O jogo último do FCP contra o Benfica capricha de hipocrisia discursiva, bem à moda do mausoléu das Antas.
Incitado a comentar o desaire do FCP, o hoolingan instruído do futebol, torna-se refém dos mais variados artifícios explicativos. Ele é insultos académicos ao treinador (uma besta tacticamente), declarações requintadas à família dos jogadores, quando não se vira sentimentalmente contra o árbitro. No seu dramatismo mimoso o hoolingan é uma puta fina. Na análise protestatória, o despachado hoolingan é um cobarde intelectual. Nunca o adversário é melhor. Nem a direcção da sua agremiação alguma vez existiu. A cacofonia é sempre em relação aos jogadores e treinadores. Manias intelectuais, evidentemente.
Armado em campeão da província, o adepto do FCP recorre a tudo que seja ardiloso desde que o deixem continuar a prestar vassalagem ao compadre que habita, genialmente todos os dias santos, na Torre das Antas: Jorge N. Pinto da Costa. As inocentes ovelhas do Papa azul têm essa ternura saloia. Que se conservem assim devotos.
Deixando de fora a gentalha arruaceira azul e branca, meia dúzia de intelectuais amuados & uns tantos mais à beira de um ataque de nervos, atente-se nessa luminária do jornalismo desportivo, de nome Bruno Prata & funcionário do senhor Zé Manel Fernandes. É já um study case nacional. Para o colunista, em menos de 2 horas de futebol, a extraordinária equipa de futebol do FCP passou de bestial a simples besta, treinador incluído. A equipa com o "melhor meio-campo da Europa", desapareceu em viscosas partidas. Duas tristes horas de futebol, apenas, revelaram a máscula análise e a verborreia desse hoolingan do FCP. A escolta guerreira construída pelo vate Pinto da Costa para o futebol (em dois anos mais de 50 jogadores), mais os vários treinadores empolgantemente contratados, todos muito me(r)drosos, todos demasiado inúteis, nada dizem ao vendedor de equipas, Bruno Prata. Na sua lide doméstica jornaleira, Prata é somente um disparatado hoolingan. Para a análise do futebol do FCP, um só Manuel Serrão basta. Dois são demais.
Nelson Rodrigues, nos tempos idos de 1958, sobre a selecção brasileira caída em desgraça, dizia: "O problema do escrete não é mais futebol, nem de técnica, nem de táctica. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo". E teve razão (por uma vez). Ora tal é o problema do FCP: fé. Só que doutro modo. A fé, ali para os lados das Antas só nascerá quando a fé da invocação Pinto-Costista acabar. Porque, para messias & outros sujeitos sebásticos já tempos que sobra: o prof. Aníbal de Boliqueime. A nação não suporta um, quanto mais os dois.
sábado, 15 de outubro de 2005
[No Reino do Pacheco]
"... neste Reino de Pacheco
ó meus senhores que nos resta
senão ir aos maus costumes,
às redundâncias, bem-pensâncias,
com alfinetes e lumes,
fazer rebentar a besta,
pô-la de pernas prò ar?
Por isso, aqui, acolá
tudo pode acontecer,
que as ideias saem fora
da testa de cada qual
para que a vida não seja
só mentira, só mental..."
[Alexandre O'Neill, in Poesias Completas]
"... neste Reino de Pacheco
ó meus senhores que nos resta
senão ir aos maus costumes,
às redundâncias, bem-pensâncias,
com alfinetes e lumes,
fazer rebentar a besta,
pô-la de pernas prò ar?
Por isso, aqui, acolá
tudo pode acontecer,
que as ideias saem fora
da testa de cada qual
para que a vida não seja
só mentira, só mental..."
[Alexandre O'Neill, in Poesias Completas]
A Cavalaria Cavaquista
É com o coração sensível à modéstia da putativa campanha do sr. Aníbal de Boliqueime que a os venturosos cavaleiros do imaculado Cavaquistão, de tão boa memória pátria, se organizam nessa extraordinária recolha de money para promissora colheita presidencial do próximo ano. Com coração, alma e dinheiro, os humildes seguidores do prof. Cavaco tratam já dos fundos financeiros, que tão agrado foi noutros tempos entre a entourage do PSD, com a chancela desse inefável e curioso personagem, já lendário, Eduardo Catroga. Desconhecemos o que pensará o fabuloso Dias Loureiro desse mister. Estamos, de facto, chocados!
Ao que nos é referido, arrebatado de entusiasmo anda já o antigo secretário de Estado Adjunto do Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações do governo do dr. Aníbal, o proficiente José António Ponte Zeferino. Na qualidade de Presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia de Santa Isabel, o mandatário financeiro do prof. Cavaco conserva aquela sagaz arte de transformar as rosas em dinheiro. Há regaços assim, valha-nos Santa Isabel. Nem o Dias Loureiro nos seus melhores tempos faria melhor.
Impressionados ficámos, porém, com o dizer do espargido economista Catroga: "Há quem se ofereça para colar cartazes, e mesmo quem se tenha disponibilizado para ser chauffeur". Compreendemos a alegria da agremiação laranja. Regressam em força, na hora de ofício divino. Mas parece-nos mal!
Na verdade, que a dedicação de Manuela Ferreira Leite à colagem de cartazes & outros artefactos de propaganda respeitável não estejam em causa, compreende-se. Que do alto da escadaria Cavaquista, espreite a figura magnificente de Marques Mendes, de trincha e cola aos ombros, não horroriza o espectáculo. Que Miguel Beleza faça serenatas às donzelas, em vez de ardentes e zelosas pichagens em muros liberais é-nos completamente indiferente. Que Ferreira do Amaral e o iluminado Couto dos Santos transportem, devotamente, a figura em papel do dr. Cavaco pelas ruas, não é estranho. Já os vimos noutros prodígios. E, mesmo que a garotada do CDS/PP, de orelha esquerda cortada, ande a coberto da noite transportando braço-a-braço cola e baldes, em virtude cristã, tal é absolutamente normal. Mas uma questão nos atormenta, pela sua imortalidade futura: quem vai de chauffeur? Tal sacrifício, que não se deseja a nenhum herege, tem a virtude de um mistério & a delicadeza de serviço público. Candidatos!?
quarta-feira, 12 de outubro de 2005
Eugenio Montale [n. 12 Outubro 1896-1981]
"Não nos peças a fórmula que te possa abrir mundos,
e sim alguma sílaba torcida e seca como um ramo.
Hoje apenas podemos dizer-te
o que não somos, o que não queremos" [Eugenio Montale]
"Vou direto ao que interessa: numa época de palavras genéricas e abstratas, palavras boas para todos os usos, palavras que servem para não pensar e não dizer, uma peste da linguagem que transborda do público para o privado, Montale foi o poeta da exatidão, da escolha lexical motivada, da segurança terminológica visando capturar a unicidade da experiência. [...] Mas essa precisão para nos dizer o quê? Montale nos fala de um mundo turbilhonante, movido por um vento de destruição, sem um terreno sólido onde apoiar os pés, com o único recurso de uma moral individual à beira do abismo. É o mundo da Primeira e da Segunda Guerra Mundial; talvez também da Terceira" [ler aqui]
"Talvez certa manhã andando por um ar de vidro,
árido, voltando-me, veja acontecer assombrado:
o nada por cima dos meus ombros, e atrás de mim
o vazio, com um terror de embriagado.
Depois, como sobre um écran postar-se-ão lado a lado
árvores casas colinas para o costumado credo.
Mas será tarde demais; e eu escapar-me-ei calado
por entre os homens que não olham para trás, com o meu segredo"
[Eugenio Montale, in Poesia, 2004]
Locais: Eugenio Montale / Eugenio Montale (1896-1981) / Eugenio Montale - Biography / Eugenio Montale (The New York Review of Books) / Eugenio Montale (O Poema) / Eugenio Montale's speech at the Nobel Banquet, December 10, 1975 / Eugenio Montale / Eugenio Montale: La ruptura del mundo como representación / Eugenio Montale e a sua experiência humana / 5 poemas
Legião Portuguesa
"«Espírito de patriotismo e de sacrifício; fortalecimento do corpo e do espírito pelos exercícios militares; obediência aos chefes» - são no pensamento de Salazar, como vimos, as sínteses dos nossos deveres.
Anotemos hoje a última - «obediência aos chefes».
É a Legião um organismo pré-militar, constituindo uma hierarquia a milícia. Toda a organização, toda a hierarquia supõe uma ordem e consequentemente dirigentes e dirigidos. Há, portanto, chefes, chefes escolhidos por quem de direito, chefes que conquistaram os seus postos com espírito próprio. Todos eles ? dirigentes e dirigidos ? se irmanam no mesmo pensamento de servir uma causa e de a servir bem. Mas esta irmandade impõe à consciência mais fortemente um dever de obediência, porque só serve bem quem serve com disciplina ocupando o lugar que lhe foi marcado e cumprindo com zelo a ordem recebida (...)
Obedecer livremente, quere dizer, aceitar com liberdade o comando, não é diminuir a personalidade, é, ao contrário, eleva-la pondo-a ao serviço dos altos valores espirituais que dominam a nossa consciência. O Homem só é livre na medida em que escolhe. Depois tudo o prende, tudo o liga.
Prende-o a consciência impondo deveres; liga-o a Pátria pedindo-lhe a vida; prende-o a Família na obrigação duma assistência permanente e constante.
A liberdade absoluta é um mito (...)
O berço liga-o à família, o local onde nasceu e os pais que lhe devem o ser à Nação e assim o Homem fica logo com a tal liberdade limitada, quer dizer - sem liberdade absoluta.
A liberdade vem depois e consiste, como se disse, no direito de escolha.
O Homem pode escolher - servir interesses, paixões, ideias.
A sua personalidade diminui-se ou fortalece, consoante for feita a escolha. Nós escolhemos já - servir o bem comum da Nação expressa no nosso compromisso.
E, por isso, fortalecendo a nossa personalidade, obedecemos aos chefes que são os melhores, que são os guias (...)
Saber obedecer é virtude, porque exige qualidades de abnegação e de dedicação (...) Saibamos, pois servir, obedecendo aos chefes, porque assim - serviremos Portugal!"
[Clarim, in Boletim da legião Portuguesa, Março de 1945]
Curioso vai ser acompanhar o que se seguirá na sequência da noticia d'O Público [12/10/05] do "acesso público ao documento" denominado, já, "Lista da Legião Portuguesa", que como se sabe foi entregue à direcção da Torre do Tombo pela direcção do Grande Oriente Lusitano. A listagem dos agentes ou difusores das acções levados a cabo pela Legião Portuguesa - importante organismo de sustentação ideológica e para-militar do regime fascista em Portugal - colocada assim à disposição dos voyeuristas da política e pronto-a-servir à sociedade de espectáculo mediático, pode empregar muitos indigentes da política indígena, mais do ajudar investigadores ou historiadores. A ver vamos.
segunda-feira, 10 de outubro de 2005
A Movida Autárquica
"Que é o meu nada, comparado ao horror que vos espera" [Rimbaud]
Afinal a movida das autárquicas, pronto a pensar (local) dos indígenas e colunistas encartados, continua viva e pelo que se presume, recomenda-se. A animação foi séria, pelo que daqui a 4 anos haverá glória em seu nome. A decadência será brilhante.
Depois de arruadas animadas que transformam putativos eleitos em imprudentes foliões de rua, o entretimento do vasto rebanho de eleitores, correndo contra o tempo, a corrupção ou as chagas das desgraças do dia-a-dia, foi um repasto noticioso nestas semanas infindáveis. Felizmente a choldrice acabou. Para recomeçar doutro modo, dentro de dias. Adivinha-se, por aí, a excitante seara informativa presidencial.
A gestão da miséria eleitoral ou o discurso prosaico da vitória foi esta noite desanimadora. O mavioso pastor Jorge Coelho presume que o manto das medidas anti-sociais do seu governo não amargou aos eleitores. Entretanto o inefável José Lello disse qualquer coisa, mas ninguém entendeu. Por seu lado, o enérgico Marques Mendes, doutoralmente, enxuga muitas lágrimas pela estrondosa vitória laranja em terras da democracia - a Madeira. E, enquanto isso, o fenómeno Isaltino considera que ganha com o apoio, em Oeiras, de licenciados e outras intelligentzias. A coisa promete.
Por outro lado, o engenheiro Sócrates, inestimável em comemorações, assegura-nos que legislativas não são autárquicas e que o governo segue dentro de momentos. Desculpai, pois, a interrupção. Para os lados de Felgueiras, a patrona do gentio local, embala numa cansativa discursata anti-sistema. Quase chorámos. Nessa altura, Filipe Menezes deleita-se à beira de Gaia. Discretamente. Comovidamente. Noutro registo, à cautela e contra ventos e marés, Miguel Sousa Tavares, na TVI, benze o Papa Pinto da Costa. Pelo câmbio futebolístico, contra os mouros. E na província, o Major Valentão (para os seus amigos de Gondomar) fogosamente surpreende um microfone, ao que se supõe ainda da era PSD. Como os tempos eram outros, suspirou decerto Cavaco Silva. Entretanto, Edite Estrela assoma em Sintra, fugazmente, e sem dicionário a tiracolo. Palmas! Pelo que se sabe, o jovem Pires de Lima inquieta-se com a garotada do PP. Definitivamente, a praxe já não é o que era. Doutro modo, Jerónimo de Sousa ergue o punho. A produção foi boa. A sopa caseira estava excelente. Enquanto isso, Francisco Louça considera-se derrotado. Coisa rara e inquietante.
A movida autárquica ainda balbucia. Nós ... nem por isso.
LI Catálogo da Livraria Moreira da Costa
A Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30 - Porto) lançou o seu LI Catálogo de Livros Seleccionados, Raros, Esgotados e Curiosos e que pode ser consultado on line.
Algumas referências: A Inglaterra Portugal e suas Colónias, de José d?Arriaga, 1882 / Palestras Maçónicas Realizadas no Palácio do Grande Oriente Luzitano Unido pelo Dr. Domingos Pires Barreira, 1913 / Colecção de Tratados e Concertos de Pazes que o Estado da Índia Portugueza fez com ?, por Júlio Firmino Júdice Biker, 1881 / Instituições de Economia Política, de José Ferreira Borges, 1834 / Bibliographie Instructive ou Traité de la Connoissance des Livres Rares et Singuliers, por Guillaume-François de Bure, 1764 / Colecção das Leys promulgadas e Sentenças Proferidas nos Casos da Infame Pastoral do Bispo de Coimbra D. Miguel da Annunciação das Seitas dos Jacobeos, e Sigilistas ..., Lisboa, 1769 / Feira da Ladra, Revista Mensal Ilustrada dir. por Cardoso da Martha, 1929-30, IV tomos / Conta-Corrente, de Vergílio Ferreira, V vols / A Rua das Canastras, por Luís Pastor de Macedo, 1939 / Industria, de Bernardino Machado, 1893 / João Franco e o seu Tempo, por Rocha Martins, s.d. / Rapeira ["O livro ... consta duma série de artigos de protesto contra a velha e abominável usança da rapeira ... Raparem os rochedos da beira-mar, varrendo as plantas, animaes e tudo o que os incrusta ..."], de Joaquim ferreira Moutinho, 1899 / Resumo Histórico Acerca da Antiga Índia Portugueza, de Sebastião José Pedroso, 1884 / Memoria Histórica da Villa de Barcellos, Barcelinhos e Villa Nova de Famalicão por Domingos Joaquim Pereira, 1867 / D. Miguel I, de António Ribeiro Saraiva, 1828 / Memoria e Estudo Chimico sobre as Aguas Mineraes e Potáveis de Unhaes da Serra pelo Dr. António Joaquim Ferreira da Silva, 1898
sexta-feira, 7 de outubro de 2005
Jornal O Público
"O princípio do contraditório é uma regra de ouro no Público (...)" [ponto 91), in Princípios e Normas de Conduta Profissional, Livro de Estilo do Público, Março 2005]
"No que diz respeito às cartas recebidas no jornal e que se refiram a textos nele editados elas deverão ser publicadas quando aduzirem argumentos relevantes. Nesses casos devem ser sempre publicados na íntegra (...)" [ponto 94) ibidem]
"Sempre que as cartas se refiram ao trabalho de um jornalista ou colaborador deve dar-se-lhe conhecimento prévio do seu conteúdo, e a publicação de Notas de Redacção só deverá ocorrer quando estiver em causa a verdade dos factos ou acusações à boa fé do jornalista ou colaborador (...)" [ponto 95, ibidem]
A fragilidade de um qualquer código deontológico, presente no exercício da informação, está à vista. O ensurdecedor silêncio da redacção d'O Público pela piedosa resposta-texto de Fátima Felgueiras, em sua defesa, face ás graves acusações do jornal de conluio governamental nesta sórdida história do caso da Câmara de Felgueiras, é notável. Sabia-se que a tarefa de construção de um código de conduta possível entre a classe jornalística era paixão delicada, dever estimulante, função preciosa. Os princípios jornalísticos - informar com verdade, objectividade, neutralidade, direito ao bom-nome, responsabilidade e independência - quando aplicados em conformidade são condições da (nossa/vossa) liberdade de imprensa. Se se trata de um jornal dito de referência tais disposições deontológicas são virtudes inestimáveis. E vice-versa. Porém, os mitos também caem no seu próprio luxo. É disso que se trata quando afirmações graves e dolosas, arrastando consigo pessoas e instituições, cedem a imprevistos escolhos de um qualquer direito de resposta, e para a qual o dever de informar se torna censura interna. A condição de informar, o respeito aos destinatários da informação (os leitores) e a responsabilidade do jornal O Público (que se supõe imune a pressões de todo o tipo) é, hoje, puro logro. E nem uma rectificação possível modificará tal embaraço.
Mesmo assim, tem todo o sentido o que aqui é sugerido. Por isso a inquietação desta Micro-Causa, passe outros desvelos presentes, continua a ser a nossa condição de estarmos vivos. Sempre.
quinta-feira, 6 de outubro de 2005
Coimbra no dia 6 de Outubro de 1910
"Os emissários enviados no dia 5 a Lisboa, pelos republicanos de Coimbra, regressaram pelas 3 horas e meia da noite, com a carta de nomeação do dr. Francisco José Fernandes Costa para o cargo de governador civil. Conhecido o facto logo estralejam foguetes, acorrem milhares de pessoas e a Filarmónica «Boa União» sai para a rua tocando a Portuguesa e a Marselhesa, logo seguida pela Filarmónica «Conimbricense». Por volta das 8 horas foi içada a bandeira verde-rubra nos Paços do Concelho e, seguidamente, o dr. Fernandes Costa apresentou-se no Governo Civil, onde o dr. José Jardim, último governador monárquico, lhe deu posse e retirou, acompanhados do ex-administrador José Gaspar de Matos, tendo sido acompanhados, urbanamente, até à porta do edifício por Fernandes Costa e cumprimentados respeitosa e deferentemente pelos republicanos e pelo povo, ao que os depostos responderam correctamente.
A força que estava em Santa Clara recolhe ao quartel, ao tempo na Sofia, sendo aplaudido pelo povo.
Um cortejo, precedido pelas referidas bandas, sobe pela Calçada, Arco de Almedina, Rua Fernandes Tomás, Rua Joaquim António de Aguiar, Sé Velha, Rua Borges Carneiro, Largo da feira, Largo do Castelo e Rua Larga, para saudar o governador, e com ele, a República.
Nesta altura um exaltado propôs que se incendiasse a Biblioteca da Universidade. E, como encontrasse eco noutros exaltados, o barbeiro Joaquim Lobo contrariou a ideia, com o argumento de que, agora, a Biblioteca passava a ser do Povo e este não devia destruir o que lhe pertencia.
No edifico do Governo Civil, o dr. Fernandes Costa fez um discurso de agradecimento e recomendou brandura e generosidade. O cortejo retira e, pelas 13 horas, realiza-se uma sessão solene na Câmara Municipal, presidindo o dr. Fernandes Costa, secretariado pelo dr. António Leitão, novo administrador do concelho e pelo dr. Sílvio Pélico, presidente da Câmara,.
O dr. Fernandes Costa proferiu palavras de exultação pela proclamação da Republica, fez o elogio do Governo Provisório e propõe que a actual vereação continue até às novas eleições, visto ter sido eleita por sufrágio popular e ter feito boa vereação.
O dr. Sílvio Pélico responde fazendo o elogio do povo e, agradecendo a proposta, pede, renúncia de mandato.
O dr. Sidónio Pais, lente de Matemática, reforça o pedido do dr. Fernandes Costa, e o dr. Sílvio acaba por ceder (...)
As fábricas, oficinas, repartições e lojas fecharam e o povo trocava abraços, cheios de entusiasmo e, à noite houve iluminação e uma marcha aux flambeaux.
O testamenteiro do dr. Inácio Rodrigues andou pela freguesia de Santa Cruz a distribuir 100 mil reis por cada pobre pois que o testamento dispunha que tal se fizesse no dia da proclamação da Republica (...)
[in Efemérides de Coimbra, O Despertar, 12 de Janeiro de 1966]
domingo, 2 de outubro de 2005
Incêndios na Figueira da Foz
De novo as chamas invadem a Figueira da Foz. A partir das zonas fronteiriças às povoações da Serra da Boa Viagem, passando pela Senhora da Encarnação, mesmo a poucos metros do Leclerc, já em Tavarede, descendo depois até à nova circunvalação perto de Buarcos, toda a tarde (e começo da noite) a cidade da Figueira da Foz esteve (e está) debaixo de um manto de fumo espesso e negro, com vários focos de incêndios, misteriosamente (mesmo que o vento seja forte e a cidadania dos homens frouxa) originados do nada. Em Outubro, os incêndios (e os homens) ainda não estão moribundos. Quantos anos de tormentos nos restam!?
"Para que uma floresta seja esplêndida
Necessita de anos de infinito.
Não me deixeis tão depressa, amigos
Da merenda sob granizo.
Abetos que dormis nas nossas camas,
Perpetuai na erva os nossos passos"
[René Char, in Para que uma floresta]
Importante Leilão de Livros e Manuscritos - 6 e 7 Outubro
Organizado pelo Palácio do Correio Velho realiza-se no próximo dia 6 e 7 de Outubro na Calçada do Combro, 38 A, Lisboa, um leilão de livros e manuscritos, que pode ser consultado on line.
"Tem-se dito que o melhor espelho do carácter de um homem de letras é, em regra, a sua correspondência particular. Uma inocência despida de cautelas e uma sinceridade nua de artifícios transparecem nas cartas íntimas que, neste caso, o homem e não o escritor, dirige, em momentos de tormento, a familiares, amigos muito próximos ou a pessoas humildes com quem não fazia a menor cerimónia e de quem nada havia a temer (...)
Gostaria de destacar, dentre os autógrafos, um núcleo de 46 poemas de Sebastião da Gama, cerca de 12 cartas e bilhetes-postais de Mário de Sá-Carneiro, 25 escritas por Vitorino Nemésio e 8 cartas de António Gedeão, ao seu colega e amigo Pissarro, repassadas da maior melancolia e solidão. Os poemas de Sebastião da Gama, guardados até hoje, como um tesouro, pelas mãos piedosas de um íntimo amigo, são o canto desse grande plantador de sonhos, professor e poeta, desaparecido aos 28 anos, e que doente durante todo o seu curso e todo o magistério, viveu, por prescrição médica, no Portinho da Arrábida, região que cantou comovido, nos seus poemas. Ele foi poeta pela graça de Deus, ser permanente em fraternal convívio com as almas e com as coisas, fazendo da vida uma alegre dádiva, pressentindo já a sua existência demasiado breve para o canto que devia cumprir. As cartas de Vitorino Nemésio, são na sua maioria escritas ao irmão Teotónio, de Coimbra, onde foi aluno de Direito e de Letras, militante republicano académico e membro do grupo literário Tríptico, precursor da «Presença». (...) Mário de Sá-Carneiro, nas cerca de 12 cartas e bilhetes-postais, dirigidos a Armando Cortes-Rodrigues, Fernando Pessoa e José Pacheco, transparece como o génio que conseguiu dotar a literatura portuguesa, na prosa e sobretudo no verso, de algumas das suas formas mais originais, densas e expressivas. (...) Rómulo de Carvalho, professor metodólogo, cientista e poeta estreado aos 50 anos, com o pseudónimo de António Gedeão, revelou-se surgindo como um grande poeta, de um modernismo assente em alicerces clássicos. O conjunto da sua obra poética foi publicado nas «Poesias Completas», de 1964. (...)
[Isabel Maiorca, in Catálogo]
Livros & Arrumações
Curiosa separata da Revista Brasileira de Geografia, nº 4, Ano VII, com um trabalho de Moacir M. F. Silva, intitulado "Como se distribuiu a iluminação pública do Rio de Janeiro", datada de 1946. Refere os "ciclos" por que passou a iluminação da cidade "como serviço público organizado" [iluminação a azeite, a gás e iluminação eléctrica]. Situa a "iluminação pública a azeite de peixe" no final do sec. XVIII [no tempo de José Luís de Castro].
"Era especialmente carne de baleia que fazia objecto de ativo comércio no Rio-de-Janeiro. Entravam as baleias em Maio à procura das águas mais tranquilas da baía (Guanabara) para a época da cria e até fins de Agosto permaneciam numerosas (...) Eram os principais produtos, além da carne, o chamado azeite de peixe, as barbatanas e os resíduos chamados borra (galagala) que, ligados à cal do Reino davam às edificações uma consistência notável (...) Os depósitos de azeite eram na Lapa dos Mercadores e no Bairro de São-José (...) Cada baleia, calculava-se então, dava 16 pipas de azeite e 15 arrobas de barbatanas" [citado, pelo autor, da Historia da Cidade do Rio-de-Janeiro, de Delgado de Carvalho, 1926]
Diz-nos Moacir Silva que, antes da iluminação a azeite de peixe, a cidade por mais de duzentos anos ["desde a sua fundação em 1565 até finais do sec. XVIII"] "dormiu inteiramente à escuras".
"Naqueles tempos o povo recolhia-se cedo; ao anoitecer fechavam-se quase todas as casas, havia limitado numero de lojas de comércio, e sendo as ruas tortuosas, estreitas, sem calçamento, nem iluminação, tornava-se perigoso o transito nocturno, especial emente nas ruas em que não havia os lampeões dos nichos ..." [citação do autor da obra O Rio-de-Janeiro, sua história, monumentos, etc., do Dr. Moreira de Azevedo, 1877, II vol.]
Apresenta Moacir Silva o edital de 3 de Janeiro de 1825, onde se estabelece o "horário de recolher": "No verão, depois das 10 horas da noite, e no Inverno, depois das 9, até a alvorada, ninguém se poderá isentar de ser revistado. E para que todos saibam dessas horas, o sino da Igreja de São Francisco de Paula e do convento de São-Bento dobrarão pelo espaço de meia hora, sem interrupção. Todas as portas das casas de residência deverão ser fechadas logo que anoiteça. Depois dos toques de sinos, ninguém poderá ficar parado nas ruas, bem como nas portas das tabernas". E porque foi tal edital saído da pena do desembargador Francisco Alberto Teixeira de Aragão, "o povo passou a chamar o sino da Igreja de São Francisco de Paula, o «Aragão»".
A iluminação a gás ocorre nos meados do sec. XIX (25 de Março de 1854). Refere-se que a "Praça D. Pedro II, as ruas do Ouvidor, Rosário, General Câmara, São-Pedro e Primeiro de Março", foram as primeiras "que tiveram lampeões de gás". A partir daí o calçamento a paralelepípedos das ruas teve lugar. Até 1828 a iluminação "estava a cargo da Intendência Geral da Polícia" e manteve-se até fins de 1933 quando desaparece para dar lugar à iluminação eléctrica ["a partir de 1 de Janeiro de 1934 toda a iluminação pública está sendo feita por electricidade"].
Curiosa separata da Revista Brasileira de Geografia, nº 4, Ano VII, com um trabalho de Moacir M. F. Silva, intitulado "Como se distribuiu a iluminação pública do Rio de Janeiro", datada de 1946. Refere os "ciclos" por que passou a iluminação da cidade "como serviço público organizado" [iluminação a azeite, a gás e iluminação eléctrica]. Situa a "iluminação pública a azeite de peixe" no final do sec. XVIII [no tempo de José Luís de Castro].
"Era especialmente carne de baleia que fazia objecto de ativo comércio no Rio-de-Janeiro. Entravam as baleias em Maio à procura das águas mais tranquilas da baía (Guanabara) para a época da cria e até fins de Agosto permaneciam numerosas (...) Eram os principais produtos, além da carne, o chamado azeite de peixe, as barbatanas e os resíduos chamados borra (galagala) que, ligados à cal do Reino davam às edificações uma consistência notável (...) Os depósitos de azeite eram na Lapa dos Mercadores e no Bairro de São-José (...) Cada baleia, calculava-se então, dava 16 pipas de azeite e 15 arrobas de barbatanas" [citado, pelo autor, da Historia da Cidade do Rio-de-Janeiro, de Delgado de Carvalho, 1926]
Diz-nos Moacir Silva que, antes da iluminação a azeite de peixe, a cidade por mais de duzentos anos ["desde a sua fundação em 1565 até finais do sec. XVIII"] "dormiu inteiramente à escuras".
"Naqueles tempos o povo recolhia-se cedo; ao anoitecer fechavam-se quase todas as casas, havia limitado numero de lojas de comércio, e sendo as ruas tortuosas, estreitas, sem calçamento, nem iluminação, tornava-se perigoso o transito nocturno, especial emente nas ruas em que não havia os lampeões dos nichos ..." [citação do autor da obra O Rio-de-Janeiro, sua história, monumentos, etc., do Dr. Moreira de Azevedo, 1877, II vol.]
Apresenta Moacir Silva o edital de 3 de Janeiro de 1825, onde se estabelece o "horário de recolher": "No verão, depois das 10 horas da noite, e no Inverno, depois das 9, até a alvorada, ninguém se poderá isentar de ser revistado. E para que todos saibam dessas horas, o sino da Igreja de São Francisco de Paula e do convento de São-Bento dobrarão pelo espaço de meia hora, sem interrupção. Todas as portas das casas de residência deverão ser fechadas logo que anoiteça. Depois dos toques de sinos, ninguém poderá ficar parado nas ruas, bem como nas portas das tabernas". E porque foi tal edital saído da pena do desembargador Francisco Alberto Teixeira de Aragão, "o povo passou a chamar o sino da Igreja de São Francisco de Paula, o «Aragão»".
A iluminação a gás ocorre nos meados do sec. XIX (25 de Março de 1854). Refere-se que a "Praça D. Pedro II, as ruas do Ouvidor, Rosário, General Câmara, São-Pedro e Primeiro de Março", foram as primeiras "que tiveram lampeões de gás". A partir daí o calçamento a paralelepípedos das ruas teve lugar. Até 1828 a iluminação "estava a cargo da Intendência Geral da Polícia" e manteve-se até fins de 1933 quando desaparece para dar lugar à iluminação eléctrica ["a partir de 1 de Janeiro de 1934 toda a iluminação pública está sendo feita por electricidade"].
quarta-feira, 28 de setembro de 2005
Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas
A voz que se solta, ali da pedra esquerda ao lado, sobre a campa de todos nós é tormento arrebatado. Um agasalho d'alma em desencontros incertos. E que se acolhe nos braços quando a cabeça e o tronco são míseros descaminhos. Para que a narração dê mostras de gratidão, para todos aqueles que o tempo afoitou nas virtudes domésticas, eis Belle & Sebastian, em Stay Loose. Que cada um tropece em si próprio, são os nossos votos. Boa noute.
"I was feeling like a loser
You said «Hey, you've still got me»
I was feeling pretty lonely
You said «You wanted to be free»
I was looking for a good time
You said «Let the good times start»
With a quiver of your eyelid
You took on someone else's part..."
[Belle & Sebastian, Stay Loose - letra aqui]
O Alegrismo
"Sobre o mais belo trono do Mundo nunca se sentou senão um rabo" [Montaigne]
O ruído das presidenciais é enorme. Singular pelo entusiasmo manifesto entre os indígenas, memorável de arrebatamento in blogosfera lusa & admirável de literatura política pelo oratório delicioso da imprensa, as presidenciais revelam-se uma ementa difícil de tragar.
A galeria pública dos putativos candidatos - por ora sufocados em ambiciosas estratégias de vaidade - que se consideram legítimos descendentes do actual "notário da lei" - Jorge Sampaio - para se sentarem no cadeiral da casa de Belém, é assombrosa. Tanto ou quanto extraordinário é o silêncio, cheio de graça, dos partidários conservadores, liberais & coisa e tais, momentaneamente órfãos do mistério presidencial. Manifestamente ainda não se está em época de bolo-rei, mas a privação do "pater-família" de Boliqueime começa a impacientar tais gentios, mesmo que a aritmética das sondagens seja um belo manto para o próximo Inverno. O embuçado presidencialista, agasalhado pelo luxo da ex-maioria governamental, ao que nos diz, muito consumido de humildade e divino em paternalismo, anda convictamente estupefacto. Suspeitamos que a corja dos modestos saudosistas de antanho, também. Talvez todos eles se recordem das sábias palavras de Mário Saa: "A história principal da vida dum homem é a sua aflição". Pode ser que sim. E, talvez por isso, o espectro tarda em felicitar a nação. Mas a nação, como se sabe, estima andar prenhe de felicidade, esplendor e glória. Não está para aflições, mesmo que o "génio" assegure entusiasmo.
Entretanto, o deputado-poeta (ou poeta-deputado) Manuel Alegre enfaixou-se na lide presidencial. O sentimento de júbilo dos órfãos & desvalidos da política, em sede presidencial, com o fim da meditação "alegrista" e ufanos pela chamada "republicana" aos indígenas, foi total. A fé no "imperativo cívico" foi comovente. Ei-los que partem afagados pelo entusiasmo de cidadania e com fé heróica de "somar votos à esquerda". Mesmo que lhes digam que "o poeta é um fingidor" a romagem está conseguida e reclama-se laureada vitória. Pouco lhes importa que o "alegrismo" se passeie recatadamente braço dado com a "fraude" da governação "socrática" ou se o sublime descanso (ou discurso) "poético" sobre a crise económica e social nunca tenha sido quebrado. A marcha não admite razão. O "alegrismo" é uma derradeira paródia lusa. Quando despertar do torpor da presumida "rebeldia" revelará o seu delicado caminho. E o drama final disso tudo surgirá. Porquanto "o homem paciente vale mais do que o valoroso".
II - Livros sobre o Rio de Janeiro antigo (continuação da encomenda)
"... Rio em ol em amba em umba sobretudo em inho
de amorzinho
benzinho
dá-se um jeitinho
do saxofone de Pinxinguinha chamando pela Velha Guarda
como quem do alto do Morro cara de Cão
chama pelos tamoios errantes em suas pirogas ..." [C. Drummond de Andrade]
A. do Vale Cabral [Guia do Viajante no Rio de Janeiro, R. Janeiro, 1882] / Carlos Xavier Paes Barreto [A Cidade do Rio de Janeiro e suas dúvidas, 1959] / Ernesto Sena [O Velho Comércio do Rio de Janeiro, s.d.] / Gondin da Fonseca [Biografia do Jornalismo Carioca, 1941 (com lista de jornais sec. XIX)] / Manuel Bandeira & Carlos Drummond de Andrade [Rio de Janeiro em Prosa & Verso, José Olympio, 1966] / Paulo Berger [A Tipografia no Rio de Janeiro: impressores bibliográficos 1808-1909, 1984] / idem [Bibliografia do Rio de Janeiro viajantes e autores estrangeiros, 1980] / Roberto Macedo [Apontamentos para uma Bibliografia Carioca, Centro Carioca, 1943] / idem [Efemérides Cariocas, 1943] / Ruben Borba de Moraes [Bibliographia Brasiliana, Colibris, 1958 (em inglês mas ok)] / Vivaldo Coaracy [Memórias da Cidade do Rio de Janeiro, José Olympio, 1955 (ou 1965, ou 1988)] / idem [O Rio de Janeiro no Século 17, 1965]
terça-feira, 27 de setembro de 2005
Benfica Football Club - Encantamento para ganhar
Colhei um coach holandês, na véspera de eleições presidenciais, antes do nascer do sol e quanto o tempo for tormentoso, e seguidamente, se o vício for piedoso e o mau olhado escolástico, colocai-o no antigo terceiro anel, como se faz a um homem cruel pois "Deus não pode estar em tudo e muito menos sempre a trabalhar", advertindo-o de 2 em 2 minutos que as substituições podem não existir pero que las hay, las hay; ordene-se que olhe, sem demora ou horror, para o cliché do horto d'Alvalade, e obrigando-o a dar dois passos atrás e três à frente, tome-se um ramo de azevinho, mais três gotas de Vilarinho misturadas com elixir Veiga, um pó de boa Vieira, lançando-se água de borragens, para resolver a miopia; aplique-se em seguida por todo o corpus do esconjurado. Fazer uma novena, em jejum, com devoção.
T. S. Eliot [n. 26 Setembro 1888-1965]
"... E se eu disser que dou passeios por becos quando anoitece,
E vou fitando o fumo que sobe do cachimbo
De homens em mangas de camisa, à janela, solitários?...
Eu devia ter sido um ferro de duas garras
A rasgar o fundo desses mares de silêncio ..."
[T. S. Eliot, A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock, Assírio & Alvim, 1985]
Locais: The T. S. Eliot Page / T.S. Eliot: Biographical Timeline / T. S. Eliot: poeta de entreguerras
segunda-feira, 26 de setembro de 2005
Boletim Bibliográfico 27 de Luís P. Burnay
Saiu o Boletim Bibliográfico número 27 do Livreiro-Antiquário Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa), referente ao mês de Setembro. De salientar algumas peças monográficas importantes, bem como obras de teor genealógico, literário, histórico e arqueológico. A preços razoáveis.
Algumas referências: Adágios, Rifãos e Anexins da Língua Portuguesa, tiradas dos melhores Authores Nacionaes, e recopilados por ordem Alfabética por F.R.I.L.E.L [iniciais de Francisco Rolland Impressor Livreiro em Lisboa], 1780 / O Morgadio de Fontelas: Vasconcelos de Amarante, de Artur da Mota Alves, Lisboa, 1937 / Judeus em Montemor-o-Novo, por António Alberto Banha de Andrade, 1977 / Bibliografia das Bibliografias Portuguesas, de António Anselmo, 1923 / Burro de Ouro de Appuleio, traduz. em Port. [atribuída a trad. ao 1º Barão de Vila Nova de Foscôa], Lisboa, 1847 (raro) / Boletim do Núcleo Cultural da Horta, vol. I, nº1, Horta, 1956 [imp. dado conter o artigo Os Judeus na Ilha do Faial, de Marcelino Lima] / Os Brados e clamores dos Povos, lavradores, opúsculos demonstrativos da falta de cultura nas Províncias d'Alemtejo Estremadura publicados a beneficio do Estado pelo curioso e pratico, já velho agricultor Aonio ou Cidadão Campónio [pseud. de António José Alves - citado], 1823 / Catálogo da Livraria Duarte de Sousa, Lisboa, 1972-1974, II vols / Catalogue de la Biblioteque de M. Fernando Palha, Lisbonne, 1896, IV vols [ref. importante Camoniana vendida em conjunto à Univ. de Harvard] / [Correios] Alvará - Artigos que se mandão addicionar ao Regulamento do Correio geral de 1 de Abril de 1799 [artigos da responsabilidade de José Diogo Mascarenhas Neto] / Terras do Alto Paiva (concelho de Vila Nova de Paiva), de C. Manuel Fonseca da (Minimus) Gama, Lamego, 1940 / A Ibéria: memoria em que se provam as vantagens politicas, económicas e sociaes da União das duas Monarchias Peninsulares ..., Typ. Universal, 1853 [termina o exemplar com uma «Nota sobre a conveniência de ser Santarém a capital da Nação Ibérica»] /Inventário Artístico de Portugal [Distrito de Coimbra, por Vergílio Correia; Distrito de Évora, pró Túlio Espanca] / Lusitana: revista de estudos portugueses, directora Carolina Michaelis de Vasconcellos, redac. Afonso Lopes Vieira e Reynaldo dos Santos, 1924-1927, X vols / Esboço Histórico do Neo-Realismo, por Fernando Namora, 1961 / Pedras de Armas e Armas Tumulares do Distrito de Braga, por Vaz Osório da Nóbrega, Vol I, Tomo I e II, 1970 / Geographia e Estatística Geral de Portugal e Colónias, de Gerardo A. Pery, 1875 / Retratos e Elogios de Varões e Donas, que ilustram a Nação Portuguesa em virtudes, letras, armas e artes ..., 1806-1822 / Sumário dos Luziadas, ... proferido no dia 10 de Junho de 1937, no jardim da gruta de Camões em Macau, por António Maria da Silva, 1937 (raro) / Tesouro Heráldico de Portugal ou Tratado de Armaria Portuguesa ..., de António José Vaz velho, 1958-1963, IV vols / Sermões do Padre António Vieira, orto, Livraria Chardron, 1907-1909, XV vols (ed. popular) / Elucidário das Palavras, Termos e Frases que em Portugal antigamente se usaram ..., por Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Porto, 1965-66, II vols
terça-feira, 20 de setembro de 2005
Jorge de Sena
"O problema não é salvar Portugal, mas salvar-nos de Portugal" [Jorge de Sena]
Sábado passado, enquanto os devotos da política acompanhavam a malga económica do Expresso da meia-noite, na RTP2 havia serviço bem público. Por uma vez, fomos agraciados por um programa sobre Jorge de Sena. O eterno esquecido. Graças, pois.
"Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Coleccionei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquercer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha."
[Jorge de Sena, in O Tempo e o Modo, nº59, Abril de 1968]
" ... Tudo isto o não digo para defender-me, ou para acusar, ou pelo gosto desagradável de lembrar águas passadas e sujas. Apenas o digo porque os meus leitores de hoje não serão os de ontem e não sabem, pois, a história externa da poesia que se lhes depara agora. Um dever de lealdade me obriga a informá-los dessa história externa. Eu sei que me acusarão, como sempre, de excessivo pessoalismo, de verrina, de ser inferior a mim próprio ao deter-me em ninharias que o tempo inteiramente dissolve. Mas é, quanto a mim, uma absoluta hipocrisia ou um desamor pela humanidade alguém fingir ou sentir uma superior distância entre a sua pessoa e tais insignificâncias. De insignificâncias é feita a nossa vida, por excepcional ou extravagante que seja, e de tudo isso se adquire aquela sageza dolorosa e fruste que é, afinal, alguma grandeza que a poesia tenha"
[Jorge de Sena, in prefácio Poesia I (aliás, Jorge de Sena e a Cultura Verdadeira, por João Rui de Sousa, in O Tempo e o Modo, ibidem]
Curiosa Democracia
A Alemanha foi a votos. Por um fenómeno delicado de explicar, os indígenas alemães debateram economia, mais ou menos Estado, segurança social, mais ou menos Europa, reflectiram em torno dos impostos domésticos, da globalização, esgrimiram argumentos simpáticos, ouviram propostas arrojadas, inspiraram-se no passado-presente, entusiasmaram-se, indignaram-se até. O resultado foi o que se sabe.
Porém, no seu exercício de civilidade, desencantaram alguns dos melhores espíritos jornaleiros, aqueles que frequentam, com espírito liberal, as "boticas" da democracia, os "iluminados" da narrativa democrática. Aqueles que têm sempre razão e nunca se enganam cansaram-se de vez. O brado desses paternais ayatholas da democracia e do bem-estar económico e social soou alto entre a "nebulosa" eleitoral. É uma dor de alma ver o fastio de tais criaturas. Os gorjeios que a natureza deu a tais exemplares cidadãos, que dançam nos jornais e TV's ao som grave do imperium neocon, não fizeram sorrir os indígenas locais. Cabisbaixos, reivindicam de momento fecundas alianças eleitorais, enquanto suspiram por uma qualquer forma de afastar o povo ingrato, a plebe, a escória social, do impiedoso voto popular. Fossem eles os únicos a estenderem a caneta atrás do biombo democrático que a perfeição era absoluta. Há que, educadamente, correr com a escumalha eleitoral. A bem da Nação. E do Império.
Entre os indefectíveis neoconservadores da nossa paróquia, marca presença constante e inspirada, o inefável José Manuel Fernandes mais a sua equipa amestrada (um beijo ... Teresa de Sousa). A consternação à situação alemã (ou será ideologia alemã?) produziu uma análise prodigiosa em editorial tormentoso de JMF. Que nos diz? Pois, que a actual situação é culpa das massas. Não querem o neoliberalismo, confessa JMF, antevendo-se uma lágrima a desfalecer sobre as teclas do PC. Mais: que o Partido Liberal existe, mas que os malandros do Partido de Esquerda roubam, não já criancinha como no tempo da doença infantil do sr. Director, mas sim votos. Eis, portanto, o impulso reformador do sábio JMF, agora ofertando o seu génio aos rudes alemães, miseravelmente abafado pelo gentio votante. E a tudo isso lhe dá o nome de análise política. Curioso.
Arrogâncias
Arrogância, s.f. (do lat. arrogante-). Em que há arrogância, altivo, soberbo, insolente || Que é valente, corajoso, intrépido, brioso || Soberba, altivez || Dito, acção soberba, insolência. [in GDLP, de José Pedro Machado]
Tudo é possível na/pela "arrogância", mas siga-se os seus passos e veremos que os protestos e o desassombro de muitos perante os sinais de tão infeliz "malvadez" são uma simplória satisfação de ressentimentos tardios. A "loucura moral" dos psicopatas da política, no sacudir das palavras grosseiras do putativo "arrogante" ou candidato, resulta quase sempre numa "ladainha" melíflua, mas descaradamente ardilosa na sua retórica, cega na sua pungente "dor" partidária e pouco misericordiosa em epítetos sobre essa "vil" prática. Daí que, e afinal, os insultados e caluniados somos sempre nós - os que não se iludem com facilidade. De certo modo, e a coberto da "etiqueta" ou do manual do politicamente correcto, os "castos" comentadores tentam resistir à sua "alienação" político-partidário. A patologia em todos estes casos de indignidade face ao bruto "meliante", ao exultado "arrogante", tão histrionicamente revelada ao "cidadão taberneiro" pelos "opinion-makers", é uma simples "psicose de defesa". Na melhor das hipóteses, uma simpática neurastenia.
Assim, não por acaso, o animoso debate Carmona versus Carrilho registou lastimosas análises sobre a alma do "bom" debate, que, evidentemente, alimentou toda a turba dos ressabiados da política. Depois de tosquiado o putativo "arrogante" ou "o grande ordinário", segundo a lisonja do eng. Carmona, não lhe foi sequer concedida qualquer desafronta, no desfecho do grande espectáculo. Ao que se presume, num pais civilizado, depois da copiosa chuva de "carinhos" e "meiguices" Carmonianos, a solenidade exigia que se trocasse cumprimentos afectuosos, no final. Mas nada disso aconteceu, como nos elucida a récita do politólogo-guru Ricardo Costa, como sempre inimitável no chocalho off-record & "sublime" na meditação das estratégias partidárias.
A partir daí, as queixas maviosas alastraram aos indígenas, que como se sabe têm por hábito levar e calar, desde os tempos de Cavaco & Guterres, até ao fadário de Barroso & Sócrates. E é bom de ver que a "bondade" destas observações levadas a cabo pela "milícia" dos comentadores do reyno, deixa de ser uma "luta" de (isentas) opiniões, para professarem complacentes alinhamentos político-partidários. Não há melhor perversidade. A "neurose de carácter" dos comentadores "dribla" qualquer um de nós e infesta tudo. Não há maneira de se lhe escapar. Resta levantar ... e fugir.
terça-feira, 13 de setembro de 2005
Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas
Para a ilustríssima assembleia que consulta sublimes instruções & abraça preceitos poéticos em gemidos libertadores; para os devotos do império de Sócrates and Cia Inc. ou para os sacrificados da graça & remédio do déficit, ambos sorrindo em paixão melosa; eis, ali ao lado na pedra, o precioso testemunho do mistério dos homens, argumento onde se vê que "o dia e a noite se encontrá". Talvez. Bom luar.
"eu vi o cego lendo a corda da viola
cego com cego no duelo do sertão
eu vi o cego dando nó cego na cobra
vi cego preso na gaiola da visão
pássaro preto voando pra muito longe
e a cabra-cega enxergando a escuridão
eu vi a lua na cacunda do cometa
vi a zabumba e o fole a zabumbà
eu vi o raio quando o céu todo curisca
e o triângulo engolindo faísca
vi a galàctea branca na galàctea preta
eu vi o dia e a noite se encontrá ..."
[Tom Zé, Xique Xique - letra aqui]
O mistério da Educação
O Ministério da Educação anda numa agitação deslumbrante, só comparável à embriaguez mediática da implosão das torres de Tróia. Por toda a parte, sacudindo o pó do cadáver adiado que é o ensino em Portugal, o sentimento do festivo Sócrates anima os foliões do processo educativo.
Visto que os putativos lamentos do inflamado José Manuel Fernandes ou a escrita sensível do Valente da Gradiva ainda não desabaram nas páginas d'O Público, tudo leva a presumir que estamos perante uma virtude educativa socrática. Também é verdade que, o inefável David Justino, ungido noutros tempos pelo senhor director para tarefas educativas, e que não soube (dizem) ou não teve tempo (sussurram outros) de honrar o plano espargido pelo duo redentor citado, rende homenagem aos despachos administrativos da senhora Ministra, decerto em feliz recordação ministerial. Demais, os encarregados de educação, em deleitosa excitação, estremecem de gratidão por tanto inglês assim espalhado à plebe, aplaudem a prescrição de mais cuidados professorais pelo dia fora e respiram, cientificamente falando, pela ilustrada formação em matemática dos docentes saídos das ESE, que ao que parece não dominavam a matéria. Tudo corre no melhor dos mundos.
A reforma educativa socialista foi árdua mas não difícil. A gravidade da missão era apenas dar com o chicote governativo ao corpo docente e não-docente, conduzir os prevaricadores pela arreata, irresponsabilizar pais e encarregados de educação. Afinal - como o trio iluminado manifesta um silêncio de zelo perante tais medidas -, era esse o prodígio no ensino e da sua reforma que tricotavam pelos jornais e com que instruíam os indígenas. Simples, portanto!
Daqui procede que questões como os planos curriculares, laboriosamente selados por David Justino, e absolutamente inacreditáveis num país sério (vidé os do ensino secundário), a carga horária lectiva e não-lectiva, o trabalho/discurso cientifico e pedagógico dos professores, a avaliação de alunos e docentes, o alargamento da escolaridade obrigatória, a reformulação ou encerramento das ESE, são de tal modo obscuros de paradigmas, irrelevantes no discurso da escola, desfasados do campo educativo e da intervenção escolar, que não merecem qualquer resposta ou análise. Intervir administrativa e autoritariamente no corpo docente lançando a confusão, equívocos vários, desabridas intolerâncias inconstitucionais, fragmentando e desvelando as fissuras escolares, eis a panaceia para uma instrução melhor e de qualidade, que nos vai levar (dizem!) ao topo da UE. Compreende-se, deste modo, como os adeptos do "eduquês" que configuraram todos estes anos a praxis educativa lusa, proliferam no pesado aparelho do Ministério da Educação. É só contar os comissários políticos oriundos das ESE e dos Politécnicos para entender a extraordinária reforma do ensino em Portugal. Com o aplauso de muitos. E o silêncio de uns quantos.
"Cavaco: retrato de um português muito conhecido"
"... o dr. Cavaco entrou em cena, afirmando classicamente a imoralidade da política (...) Em 1978, expusera com inteira franqueza, as suas opiniões sobre o assunto na revista Economia: nomeadamente a de que «o político como criatura dedicada à prossecução dos interesses da sociedade como um todo» era um mito. Os políticos, segundo o dr. Cavaco, só se movem por duas ordens de 'objectivos': «o seu próprio bem-estar» e a sua «permanência do poder». Donde resulta, como ele a seguir minuciosamente argumenta, que a política constitui o principal impedimento a que uma sociedade seja bem governada. Num mundo ideal, não existiria política, isto é, não existiria partidos: existiria apenas a vontade de competência (...)
Esse 'homem de Boliqueime', que chegava do 'nada', magro e esfomeado, cumpridor e virtuoso, endurecido pelas humilhações e pelos começos difíceis, reflectia a multidão que rilhava o seu ódio aos políticos nas universidades e nos ministérios, nos jornais e nas empresas públicas. Cavaco era a própria essência do arrivismo. Sendo um autêntico reacionário, detestava a burguesia tradicional e proclamava a sua dedicação ao povo: queria o prestígio da autoridade, o amor do trabalho e o fortalecimento da família; vivia obcecado com a sua própria competência, a sua importância e os sinais exteriores da sua dignidade. E não conseguia impedir que transparecesse, sob este já desagradável exterior, uma vaidade ingénua e vertiginosa, que apregoava as suas proezas atléticas, a sua perene juventude, os seus graus académicos, o seu saber, a sua clarividência e até, constantemente, os elogios que recebia do estrangeiro, como se a sua fama, partindo de Boliqueime e parando em Lisboa, fosse o caminho do mundo (...)
Ele sente-se como o proverbial menino holandês com o dedo no dique. Se alguém o mover um só milímetro segue-se o desastre. Ceder uma vez significa animar as fúrias e frustrações portuguesas, que já de si andam agitadas. Ele não cede. Dá audiência real à oposição e chama à conversa 'diálogo'. Não se corrige, mesmo quando erra, e, se se corrige, nega que se corrigiu (...)
Cavaco supõe que a sua impassividade inspira confiança. Inspira, pelo menos, uma certa apatia e tende a desencorajar as partes queixosas, que se cansam de bater com a cabeça num muro. Ele acha isso óptimo, sem perceber que perde no processo. O principio fundamental do cavaquismo não lhe permite perceber (...)
[Vasco Pulido Valente, "Cavaco: retrato de um português muito conhecido", in O Independente, 15 de Maio de 1998]
Livros sobre o Rio de Janeiro antigo (encomenda cerimoniosa ao ...)
"... eu sou Sá, sou o Rio de Janeiro com os seus tamoios, seus negros, seus cafuzos, seus 'galegos' também ..." [Lima Barreto]
Mano, eis a listagem primeira a anotar pelos seus encantos e eloquência. O Rio de Janeiro antigo é impressão inquietante. Há que colher bem os frutos e iluminar o desejo. Carece de corrida imediata, até porque a bolsa não tem discurso. Boa sorte!
Aluísio de Azevedo [Casa de Pensão, 1884] / idem [Cortiço, 1890 - mto imp.] / idem [A Girândola de Amores (aliás "0 Mistério de Tijuca"), 1910] / Coelho Neto [Capital Federal, 1883] / idem [A Conquista, 1899 (a de 1913 'tá cá] / Gilberto Ferrez [O Velho Rio de Janeiro através das gravuras de Thomas Ender, 1957] / J. P. da Graça Aranha [Viagem Maravilhosa, 1930 - refª ao Carnaval] / Joaquim Manuel de Macedo [Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro, 1862 (ou 1942, ou 1966)] / idem [Memórias da Rua do Ouvidor, Typ. Perseverança, 1878 (ou 1966)] / idem [A Moreninha, 1884 (ou 1910-2)] / José da Rocha Leão [Os Libertinos e Tartufos do Rio de Janeiro, 1860] / José de Alencar [Sonhos d'Ouro, 1872] / Júlia Lopes de Almeida {Ânsia Eterna, 1903] / Lima Barreto [Recordações do Escrivão Isaías Caminha, publ. em Portugal, 1909] / idem [Triste fim de Policarpo Quaresma, 1915] / idem [Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, 1919 ? mto imp.] / Manuel António de Almeida [Memórias de um Sargento de Milícias, 1884-85, II vols (impossível claro; a de 1861 era boa peça; a de 1900 já cá canta, mas pode ser outros tantos mais]
[a continuar]
sábado, 10 de setembro de 2005
Reflexión sobre el 'Katrina' [Mário Soares]
" (...) Sin embargo, una vez pasado el primer efecto del horror, de compasión por las personas desamparadas y de solidaridad, se impone una reflexión serena y objetiva sobre las causas de la catástrofe natural, sobre la evaluación de los estragos causados, que nos lleve a preguntarnos si podían haberse evitado o, cuando menos, reducido.
Lo cierto es que la catástrofe natural estaba anunciada y estaba prevista, acaso a tiempo de evitar muchas de sus peores consecuencias. Pero las medidas necesarias -sobre todo la evacuación de la población más necesitada- no se tomaron a tiempo e, incomprensiblemente, los auxilios más elementales no llegaron hasta seis días después. El propio presidente Bush reconoció este inaceptable fallo con impotencia y consternación. A la desgracia siguieron el pillaje, el aislamiento y el caos.
Los ecologistas ya se han pronunciado. Y el balance es arrasador para la Administración Bush. Con la naturaleza no se juega. Cuando en 1992 se definió en la conferencia de Río el concepto de desarrollo sostenido, se entendió que para sostener el crecimiento económico no se pueden obviar las cuestiones ambientales, ni mucho menos los equilibrios ecológicos fundamentales. El sistema neoliberal no lo entiende así: el valor supremo es el lucro por el lucro - la obtención de dinero fácil, incluso obtenido por medios especulativos -, y la calidad de vida de las personas, sobre todo de las necesitadas, no cuenta en absoluto.
Más de una década después de la conferencia de Río, EE.UU. sigue sin ratificar la convención de Kioto. El agujero de ozono no es una ficción de un científico loco: el calentamiento de la Tierra sigue evolucionando y provocando alteraciones climáticas que están a la vista en todas partes. Ya se sabe: "Quien siembra vientos recoge tempestades"... Por otra parte, la actual política de Estado, propia del neoliberalismo, ya viene de Reagan. Las infraestructuras públicas están dejadas de la mano de Dios, no ha habido dinero para reforzar los diques, aun cuando existía el peligro de que se vinieran abajo, como había sucedido en alguna ocasión. La población más pobre está abandonada a su suerte - como en los países del llamado Tercer Mundo - porque los ricos siempre disponen de medios para huir de las amenazas.
Las imágenes transmitidas a todo el mundo son de una crueldad atroz. Duele verlas. Es imposible no pensar en la dimensión social y racial de la tragedia, como es imposible no pensar en la dimensión política. EE.UU. es un país profundamente dividido, con guetos de miseria y de pobreza comparables con los peores del Tercer Mundo. ¿Siempre ha sido así? Tal vez. Pero los dos mandatos del presidente Bush, tan infelices tanto en el orden interno como en el externo, han contribuido mucho a agravar su situación, y de manera peligrosa. Los amigos sinceros de EE.UU. como yo tienen el deber de decirlo bien alto para que la opinión ilustrada norteamericana les oiga y tenga el valor de cambiar el rumbo que se ha seguido hasta ahora. (...) [continua, ler mais aqui]
[Mário Soares, 08/09/2005, in La Vanguardia]
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