Joaquim Martins de Carvalho [1822-1898]
Morre em Coimbra -
18 de Outubro de 1898
Joaquim Martins de Carvalho nasceu em Coimbra, frequentou aulas de latim nos jesuítas, fez parte do movimento da "
Maria da Fonte" (1846), tendo por isso sido preso e levado de Coimbra para a Figueira da Foz e daí, num barco, para o Limoeiro em Lisboa. Foi um
notável jornalista, talvez o mais admirável do seu tempo, colaborou no
Liberal do Mondego,
Observador (de que, posteriormente, foi proprietário) e principalmente nesse incontornável jornal,
O Conimbricense [nº 1, 24 de Janeiro de 1854, ao nº 6230, de 31 de Agosto de 1907]. "Não tendo ele sido verdadeiramente um escritor, na acepção estilística do termo, foi um jornalista ardoroso e intemerato, arrostando tão corajosamente os perigos como afrontava sobranceiramente chufas e arruaças, em luta permanente contra tudo e contra todos pelo Progresso, pela Ordem e pela Verdade." [
José Pinto Loureiro,
in Índice Ideográfico de O Conimbricense, Coimbra, 1953]
"... A collecção do
Conimbricense, escripto da primeira columma à última por
Martins de Carvalho, é um repositório interessante da nossa historia pátria, em que o fallecido jornalista era aprofundadíssimo e excavador extremado de factos históricos ..." [
Portugal Moderno, Rio de Janeiro, 1901]
"É preciosa a
collecção do Conimbricense. Mais vasto repositório de história não é possível encontrar-se em nenhum jornal politico dos muitos que se tem publicado no paiz. É um arquivo inestimável de factos e documentos valiosíssimos, uma bússola indispensável a todos os cavouqueiros da história pátria. Quando mais não seja a história contemporânea de Portugal não pode fazer-se com segurança sem a consulta previa da collecção do
Conimbricense ..." [
Marques Gomes,
in O Conimbricense e a História Contemporânea. Publicação comemorativa do 50º aniversario do nosso mesmo jornal, Aveiro, 1897]
De facto, como se pode ler pelo
Índice Ideográfico de O Conimbricense (sob direcção de
Pinto Loureiro), a vastidão e a importância dos assuntos publicados no jornal ao longo dos anos, faz dele uma fonte inultrapassável sobre os acontecimentos económicos, políticos, sociais e literários de finais do século XIX. São curiosas e estimadas as referências sobre
Garrett, Arqueologia,
Lutas Académicas,
Bibliografia e Bibliofilia, Jornalismo,
Cabralismo, Costumes, Duelos, Tauromaquia, Teatro, Tipografia, Viticultura, Eleições, Epistografia, Évora, Manuel Fernandes Tomás, Freire de Andrade,
Guerra Peninsular, Herculano, Iberismo, Índia Portuguesa, Lisboa, Macau,
José Agostinho de Macedo, Mosteiros, Mutualismo, Operariado,
Marquês de Pombal, etc .
Absolutamente notável as inúmeras e preciosas referências que se dispõe sobre
Coimbra,
Inquisição, Ordens Religiosas,
Invasões Francesas, Lutas Liberais,
Miguelismo, Jesuítas,
Maçonaria e Carbonária, Sociedades Secretas (como
S. Miguel da Ala). Diga-se, que o próprio
Martins de Carvalho pertenceu à
Carbonária Lusitana de Coimbra (1848), ao que se julga fundada pelo
Padre António Maria da Costa e dissolvida em 1850, e que foi diferente da denominada
Carbonária Portuguesa (1896/7 ?), de origem académica, do
maçon (
Loja Montanha)
Luz de Almeida,
Machado de Santos, etc., que aparece mais tarde, e que não se pode confundir com a denominada
Carbonária Lusitana, de pendor anarquista - daí ser conhecida pela
Carbonária dos Anarquistas - muito sigilosa, a que pertenceram os anarquistas
José do Vale,
Ribeiro de Azevedo, entre outros [
vidé a
Carbonária em Portugal, por
António Ventura, Museu Republica e Resistência, 1999].
Ao longo da sua vida,
Joaquim Martins de Carvalho, fundou ou pertenceu a inúmeras Sociedades: fez parte da
Loja Maçónica de Coimbra,
Pátria e Caridade (1852-53), fundou a
Sociedade de Instrução dos Operários (1851), o Montepio Conimbricense, Associação Comercial de Coimbra,
Sociedade Protectora dos Animais,
Sociedade de Geografia,
Associação dos Arqueólogos Portugueses, Voz do Operário, etc. Refira-se que a sua livraria era extraordinária, com um conjunto raríssimo de jornais, revistas e publicações várias, sendo que o seu leilão foi um dos acontecimentos mais excepcionais entre os bibliófilos portugueses.
Algumas Obras:
Apontamentos para a Historia Contemporânea, Imp. da Univ., 1868 / Novos apontamentos para a História contemporânea
os assassinos da Beira, Imp. Univ., 1890 / A Nossa Aliada! Artigos publicados pelo redactor do Conimbricense, Porto, 1883 / Homenagem a Joaquim Martins de Carvalho, Typ. Operaria, 1889 / O Retrato de Venus. Edição Comemorativa do nascimentos de Garrett, Coimbra, 1899 /
Os assassinos da Beira, Coimbra, 1922 /
Catálogo da ... livraria que pertenceu ... a Joaquim Martins de Carvalho e ... Francisco Augusto Martins de Carvalho, Imp. da Univ., 1923