quarta-feira, 21 de dezembro de 2005



10 Livros Portugueses de 2005

1. Sol a Sol (Armando Silva Carvalho, Assírio & Alvim)
2. Finita (Maria Gabriela Llansol, Assírio & Alvim, 2ª ed.)
3. Diário Remendado (1971-1975) (Luiz Pacheco, Dom Quixote)
4. Mútuo Consentimento (Helder Moura Pereira, Assírio & Alvim)
5. A Morte de Colombo. Metamorfose e Fim do Ocidente como Mito (Eduardo Lourenço, Gradiva
6. As Intermitências da Morte (José Saramago, Caminho)
7. Livro das Quedas (Casimiro de Brito, Roma Editora)
8. Álvaro Cunhal. Uma Biografia Politica. O Prisioneiro (1949-1960), III vol (José Pacheco Pereira, Temas e Debates)
9. O Pequeno Livro do Grande Terramoto (Rui Tavares, Tinta da China)
10. O Marquês de Pombal e a Cultura Portuguesa (Miguel Real, Quidnovi)

[Corrigenda: um erro injustificável fez-nos colocar o belíssimo livro de Gastão Cruz, Repercussão - que aqui anotámos, ano transacto - na listagem deste ano. Fomos chamados à pedra e bem. O livro pertence à felicidade de 2004. Uma boa colheita, diga-se. Reescrevemos a lista que nos alumiou este ano de graça de 2005. As nossas devidas desculpas]


10 Livros de Autores Estrangeiros de 2005

1. Ilíada (Homero, trad. Frederico Lourenço, Cotovia)
2. Sete Livros Iluminados (William Blake, trad. Manuel Portela, Antígona)
3. Os Pré-Rafaelitas (pref. e trad. Helena Barbas, Assírio & Alvim)
4. Os Cantos (Ezra Pound, Assírio & Alvim)
5. Poemas (Óscar Wilde, Relógio d'Água)
6. Seria uma rima, não seria uma solução: a poesia modernista (org. Abel Barros Baptista & Osvaldo Silvestre, Cotovia)
7. Dom Quixote de La Mancha (Miguel Cervantes, trad. José Bento, Relógio d'Água)
8. Paris Nunca se Acaba (Enrique Vila-Matas, Teorema)
9. Memórias das Minhas Putas Tristes (Gabriel García Márquez, D. Quixote)
10. A Conspiração contra a América (Philip Roth, D. Quixote)


10 Álbums de 2005

1. Illinoise - Sufjan Stevens
2. I Am A Bird Now - Antony And The Johnsons
3. Z - My Morning Jacket
4. Let It Die - Feist
5. Live at Carnegie Hall - Thelonious Monk Quartet with John Coltrane
6. Aerial - Kate Bush
7. Tanglewood Numbers - Silver Jews
8. Cripple Crow - Devendra Banhart
9. Veneer - Jose Gonzalez
10. Formative - Toothfairy

domingo, 18 de dezembro de 2005


Os Melhores Alfarrabistas Portugueses de 2005

"É aos psicanalistas que se deve perguntar por que se colecciona. Só eles sabem descobrir quais os motivos inconfessáveis e escabrosos que levam um burguês pacato e morigerado a praticar actos perfeitamente simples e morais" [Ruben Borba de Moraes]

1. Livraria Artes & Letras - ancorada no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, a livraria de Luís Gomes, é um espaço magnífico, um lugar esplêndido para as inúmeras canseiras do amante do livro. Um local de culto. E de conversação.

2. Livraria Histórica e Ultramarina, Lisboa
3. Luís P. Burnay, Lisboa
4. J. A. Telles da Sylva, Lisboa
5. Livraria Olisipo, Lisboa
6. Livraria Académica, Porto
7. Livraria Miguel Carvalho, Coimbra
8. Livraria Manuel Ferreira, Porto
9. Livraria Chaminé da Mota, Porto
10. Livraria Bizantina, Lisboa

[locais: consultar aqui]

Catálogo da Livraria Artes & Letras

Hoje, apresentamos o último Catálogo (excelente) da Livraria Artes & Letras (Largo Trindade Coelho, nº 3 e 4, Lisboa), pertença de Luís Gomes, estimado livreiro antiquário. As peças bibliográficas (302), de alguma raridade e de muita estimação, criteriosamente escolhidas, são espécies valiosas, reunindo-se obras modernistas há muito esgotadas, que como é sabido abrem o apetite do bibliófilo que se preze.
Podem ser consultadas (ou pedidas) on line.

Algumas referências (obras portuguesas, em 1ª ed.): Cartas Físico-Mathematicas de Thedozio a Eugénio, ..., de Dorotheo de Almeida [aliás Pe. Teodoro de Almeida], 1784-1799, III vols / Recreação Filosófica ou Dialogo sobre a Filosofia Natural, ..., ididem, 1786- 1800, X vols / Adolescente. Poemas de Eugénio de Andrade, Ed. Autor, 1942 / History of the Azores ..., por Thomas Ashe, Londres, 1813 / Ortografia da Lingva Portvgvesa per Ioam Franco Barretto, Lisboa, 1671 / O Meu Amor Pequenino, de António Botto, 1934 / Portugal e os Estrangeiros, por Manuel Bernardes Branco, 1879-1895, V vols / Diccionario de geographia universal por uma sociedade de homens de sciencia ..., por Tito Augusto de Carvalho, Ed. David Corazzi, 1878-1887, IV vols / Seroens de S. Miguel de Seide, por Camilo Castelo Branco, 1886, X tomos / Tributo Portuguez à memoria do libertador, por António Feliciano de Castilho, 1836 / A Peregrina do Mundo Novo, de Ferreira de Castro, 1926 / Cuidados Literários do Prelado de Beja, por D. Frei Manuel do Cenáculo, 1791 / Um Auto para Jerusalém, de M. Cesariny Vasconcelos, 1964 / Jornal do Gato, ibidem, 1974 / Milagre: Costumes de agora; Almas do Purgatório; Santidade; Politicas; Fraternidade; Espectáculo; Igualdade (Fola fotocopiada com poemas), por Rui Cinatti, Ed. do autor, 1976 / Poesia de arte e realismo poético, de Natália Correia, 1958 / Antologia da Poesia Erótica e Satírica, dir Natália Correia e il de Cruzeiro Seixas, 1966 / O Vinho e a Lira, ibidem, 1966 / A Madona, ibidem, 1968 / As maçãs de Orestes, ibidem, 1970 / Exílio. Revista Mensal de Arte, lettras e sciências, (nº único) Abril de 1916 / O Mundo dos Outros, Historias e vagabundagens, de José Gomes Ferreira, 1950 / Onde tudo foi morrendo, por Vergílio Ferrreira, 1944 / Aparição, ibidem, 1959 / Cartas espirituais. A mulher e a Igreja, por Tomás da Fonseca, 1922 / Fátima(cartas ao Cardeal Cerejeira), ibidem, 1955 / Na Cova dos leões, ibidem, 1958 / Parnaso lusitano ou poesias selectas ..., por Almeida Garrett, 1826-1834, VI vols / Poemas de Camões, ibidem, Paris, 1825 / Da Educação, ibidem, Londres, 1829 / Viagens da Minha Terra, ibidem, 1846, II vols / Movimento Perpetuo, por António Gedeão, 1956 / Refúgio Perdido, de Soeiro Pereira Gomes, 1950 / Engrenagem, ibidem, 1951 / Xente d'a aldeã, por Alfredo Guisado, 1921 / Nova. Magazine de poesia e desenho, Ed. Herberto Hélder, 1975-76, II vols / Mangas verdes com sal, por Rui Knopfli, 1069 / A Ilha de Próspero, ibidem, 1972 / O Mnedigo e as sua História, por Albino Lapa, 1953 / O Espectro de Juvenal, de Gomes Leal, nº1 a nº5, 1872-73, V nums / A Canalha, ibidem (+ 4 opúsculos), ibidem / Fim do Mundo, ibidem, 1900 / O Anti-Cristo, ibidem, 1907 / Um Homem de Barbas, de Manuel de Lima, 1944 / Malaquias ou a História ..., ibidem, 1953 / A Pata do Pássaro ..., ibidem, 1972 / A Verticalidade e a Chave, de António Maria Lisboa, 1956 / Exercício sobre o sonho e a vigília de Alfred Jerry; seguido de senhor cágado e o menino, ibidem, 1958 / Apontamentos, de Irene Lisboa, 1943 / O Oriente, de José Agostinho de Macedo, 1814, II vols / Biblioteca Lusitana, por Diogo Barbosa Machado, 1965, IV vols / Poemas do tempo Incerto, por Adolfo Casais Monteiro, 1934 / Litoral, de João Cabral do Nascimento, 1934 / Cancioneiro, ibidem, 1943 / Confidências, ibidem, 1945 / Mito alegoria-símbolo. Monólogo autodidacta na oficina de pintura, por José de Almada Negreiros, 1948 / A Chave diz. Faltam duas tábuas e meia de pintura no todo da obra de Nuno Gonçalves ..., ibidem, 1950 / O Paço de Milhafre, de Vitorino Nemésio, 1924 / La Voyelle Promise, ibidem, 1935 / A Casa fechada. Novelas, ibidem, 1936 / O Bicho Harmonioso, ibidem, 1938 / Nem toda a noite a vida, ibidem, 1952 / O segredo do Ouro Preto e outros caminhos, ibidem, 1954 / Corsário das Ilhas. Jornal de Vitorino Nemésio, ibidem, 1956 / O retrato do semeador, ibidem, 1958 / Limite de Idade, ibidem, 1971 / Jornal do Observador ibidem, 1974 / Uma Abelha na Chuva, de Carlos de Oliveira, 1953 / Textos Locais, por Luiz Pacheco, 1967 / Diário, por António Pedro, Cabo Verde, 1929 / Canções e outros poemas, ibidem, 1936 / Clepsydra, de Camilo Pessanha, 1920 / O Anjo Ancorado, de José Cardoso Pires, 1958 / Jogos de Azar, ibidem, 1963 / Dinossauro excelentíssimo, ibidem, 1972 / Pomar XVI Desenhos, 1948 / Os Maias, de Eça de Queiroz, 1888, II vols / Diccionario de milagres, ibidem, 1900 / Contos, ibidem, 1902 / Prosas Barbaras, ibidem, 1904 / A dignidade das letras e as literaturas officiaes, de Anthero de Quental, 1865 / Constantino guardador de vacas e de sonhos, por Alves Redol, 1962 / Literatura livresca e literatura viva. Manifesto literário, de José Régio, 1940 (?) / Cadernos do meio-dia, dir António Ramos Rosa, Faro, 1958-1960, V fasc / Luz central, de Ernesto Sampaio, 1958 / Para uma Cultura Fascinante, ibidem, 1959 / Asas (Poesia), de José Carlos Ary dos Santos, 1952 / Tempo da lenda das amendoeiras, ibidem, 1964 / Insofrimento in sofrimento, ibidem, 1969 / Andanças do demónio, por Jorge de Sena, 1960 / A Justificação jurídica da restauração e a teoria da origem popular do poder politico, de Mário Soares, 1954 / Mornas cantigas crioulas, por Eugénio Tavares, 1932
Catálogos

"E mandarei fazer um almanaque/Na pele encadernada do teu seio" [G.S.L]

O bibliófilo, ou amante de livros, é um comprometido ledor e observador de catálogos impressos, que criteriosamente folheia com gosto amantíssimo, arrastando os olhos judiciosamente pelo trabalho bibliográfico acabado, como se de uma pintura delicada se tratasse. O dom requintado que possui pela obra literária, a memória apurada que dispõe, a curiosidade bibliográfica, o gosto pela erudição, marcam meticulosamente o amante do livro. Existem (poucas) obras que fixam e descrevem tais manifestações [pode ter uma ideia disso mesmo, "vasculhando" aqui]. A leitura de catálogos é um excelente e precioso auxiliar para todos - simples curiosos do livro, estudiosos e investigadores, bibliófilos ou alfarrabistas. Por isso há catálogos - e alguns têm sido referenciados, aqui mesmo e ali - que honram quem os faz. Que revelam uma virtude encantatória. Uma paixão que transmite conhecimento e bom gosto. Estima e apreço.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

[Momento num café]

"...
A conversa da vida reside nisto:
um leve toque no ombro do próximo ...
uma cortina de chuva vedando a verdade
olhos indiferentes, indiscretos ...
e um ar de encanto, um fácil soluço
ouvido longe, como que em segredo
"

[Ruy Cinatti, Momento num café, 1976]

Presidenciais: canções d'embalar

"Gosto de quem responde/antes de perguntar" [Alexandre O'Neill]

Alegre & Louçã - o candidato Alegre vem bem agasalhado na bandeira pátria, o nó da gravata em Cruz de Cristo (nada com os de Bélem) vai correndo televisivamente, desenvolve as ideias & a camisa com padrões camonianos afectuosos, fornece uma dicção poética entremeada de ardor partidário ("aquele poder tão duro" de Camões) & líricas anti-partidárias, vivamente numa assonância inaudita diz que ninguém é dono da poesis perdão da consciência (uauu!), cultiva o tom epistolar fora da caridade do economicus ("este pode colher as maçãs de ouro" lá dizia o vate Camões), proporciona o extraordinária silêncio por 20 segundos no programa (momentus alegrus) na devoção meditabundo para a demissão de Souto Moura (cesse do E.P.C. o canto ilustre ... disse), afasta-se convulsivamente de candidaturas de pro-tes-to, propõe impedir que o infausto Jardim atine em qualquer eleição (eia! patriota). Esteve eloquente, deu cavaco e foi poético. As palavras & os dotes artísticos utilizados são, já se vê, de José Jorge Letria. E o fato de ninguém-é-dono-da-consciência foi comercializado & inovado, entre sorrisos e lágrimas, por Inês Pedrosa. O sorriso era de Helena Roseta. Enfim, temos o "país do cibinho mastigado / devagarinho" (O'Neill).

Cavaco & Jerónimo - o candidato Cavaco puxou da cassete económica, alta e sagrada, que trazia no bolso de dentro da jaqueta, perdeu-se entre os tumultos dos longos e saudosos anos da sua acção governativa (oh! desditoso), não descobriu o ponto fixo da mira televisiva que fosse além da devoção Socrática (estamos servidos), não sustentou o desvario e as golpadas do arranjo do deficit da Mercearia Ferreira Leite (salvé Dona Manuela!), cegou na luz da abertura das fronteiras aos imigrantes, ameaçou com a tropa em caso de falta de autoridade do Estado (Ui! Ui! senhor dr.), gemeu de emoção e resignação ao descrever cenas conjugais, bateu por três vezes na boca quando pronunciou ... pros-ti-tu-i-ção. Esteve alegre, distinto e imortal. A cassete utilizada foi-lhe fornecida pelo seu compadre Ramalho Eanes. A gravação, evidentemente, foi de João Carlos Espada e Dias Loureiro. O dolby esteve a cargo de Katia Guerreiro & Pedro Lomba. Enfim, "todos os lugares deviam ser santos no Natal" (O'Neill).

Absolutamente grátis: pode ser o "leve dois e pague um", pois estamos em assunto natalício, que vós depois, lúcidos e prudentes, respigareis ao tempo o exemplar para a vossa desgraça. Mas não se trata disso. Cada coisa no seu lugar. Porque estamos com saudades da partida, que o tempo é invernoso por aqui. Porque meu caro cidadão, "você anda tão triste" nestas eleições, neste mundo, aqui deixámos em vosso louvor, para almas respeitáveis e eleitores impiedosos

Tom Zé - Senhor CidadãoPowered by Castpost

Boa noute.

Catálogo 52 da Livraria Moreira da Costa

Acaba de sair o Catálogo do mês de Dezembro da Livraria Moreira da Costa (Rua de Avis, 30, Porto). Pode ser consultado on line.

Algumas referências: Portugal no Mundo, de Luís de Albuquerque, Alfa, 1993, III vols / Theoria da Administração da Fazenda, por Antonio Joze Pedrozo de Almeida, 1834 / O poeta António Fogaça (Estudo Biográfico-Crítico), Braga. 1949 / António Rodrigues Sampaio. Homenagem prestada à sua memória pela Imprensa do Porto, 1882 / À Beira do Centenário de Camilo, de Carlos Babo, s.d. / Elucidário do Viajante do Porto, de Francisco Ferreira Barbosa, Coimbra, 1864 / Discursos e Conferências de Ruy Barbosa, Porto, 1933 / Estudos Dispersos, por Moniz Barreto, Lisboa, 1963 / Um Jornal na Revolução (O Mundo de 5 de Outubro de 1910), de Jacinto Batista, 1966 / Traités de Législation Civile et Pénale, de Jérémie Bentham, 1802, III vols / Por Estradas e Atalhos, de Bettencourt-Rodrigues, 1931 / A Arcádia Lusitana, de Teófilo Braga, 1899 / Poetas e Prosadores (À margem dos Livros), por Júlio Brandão, s.d / Memórias de Eduardo Brazão, 1925 / História de um Fogo-Morto, de José Caldas, 1903 / Camillo Homenageado. O Escritor da Graça e da Belleza, Famalicão, 1920 / A Liberdade de Imprensa, por Bento Carqueja, Porto, 1893 / Lições de Philosophia Chimica, pelo Doutor Joaquim Augusto Simões de Carvalho, Coimbra, 1850 / Conversar, de Augusto de Castro, 1919 / Quatro Andamentos, de João José Cochofel, Coimbra, 1966 / Galeria de Varões Illustres de Portugal, por J. M. Latino Coelho, Lisboa, 1882, II vols / Constituição Politica da Monarchia Portugueza, Lisboa, 1822 / Documentos para a Historia da Universidade de Coimbra (1750-1772), 1969-61, II vols / Herculano na Allemanha. Elogio Histórico de Alexandre Herculano por Johann-Joséf-Ignaz Von Doellinger, 28 de Março de 1878 / [Revista] Estudos Políticos e Sociais, I.S.C.S., 1963-1966, XIV vols / Imprensa Nacional de Lisboa, por Ramiro Farinha, 1969 / Leis e Rituaes do Grande Oriente Unido e Supremo Conselho do Brazil (2ª ed.), 1877 / Theologia Moral em Quadros ..., pelo Abbade Martin, 1877-78, II vols / Origem Infecta da Relaxação da Moral dos denominados Jesuitas: Manifesto dolo, com que a deduziram da Ethica, e da Metafysica de Aristóteles, Lisboa, 1771 / Revista da Marinha. dir. Maurício de Oliveira, Ed. ParceRia A.M.P., Ano I, Nº1 (1937) a Ano X, nº285 (1946), XVIII vols / Revista Universal Lisbonense. Jornal dos Interesses Physicos, Moares, e Litterarios por uma Sociedade Estudiosa, Lisboa, Imprensa Nacional, tomo I (1841-1842) e tomo II (1842-1843), II vols. / O Regímen da Divida Portugueza, discurso por Hintze Ribeiro, 1898

domingo, 11 de dezembro de 2005


Maurice Leblanc [n. 11 Dezembro 1864-1941]

"Pourquoi, dit-il encore, aurais-je une apparence définie? Pourquoi ne pas éviter ce danger d'une personnalité toujours identique. Mes actes me désignent suffisamment."

Et il précise, avec une pointe d'orgueil: "Tant mieux si l'on ne peut jamais dire en toute certitude: Voici Arsène Lupin. L'essentiel est qu'on dise sans crainte d'erreur: Arsène Lupin a fait cela."

[from Arsène Lupin, 1907]

Locais: Maurice Leblanc (1864-1941) / Maison de Maurice Leblanc / Le personnage d'Arsène Lupin dans Les aventures d'Arsène Lupin de Maurice Leblanc / Maurice Leblanc FR3 / Arsène Lupin gentleman cambrioleur / La vérité sur Arsène Lupin / Arsène Lupin, as origens

Debate Presidencial: o princípio da "coisa"

"O monstro aculturado já se deixa montar, / mas ainda não moro naquele seu olhar" [Alexandre O'Neill]

Depois da "alegre cavaqueira" generosamente derramada diante dos nossos olhos, pelo sopro cheio de graça, dos dois candidatos presidenciais que estrearam o debate da "coisa", eis um bom momento civilizador vivido, ontem, entre Cavaco & Louçã. Diga-se que na antevéspera - confronto Soares & Jerónimo -, já fomos agraciados com o prazer de respirar opiniões discordantes. A União Nacional não estava a passar por ali. A missão do orador presidenciável é uma travessia que depende de cada qual. E as margens da sua condição não são, unicamente, motivo de caridade dos entrevistadores, mesmo se a viseira erguida por alguns funcionários do dr. Balsemão seja viciosa no seu tratamento jornalístico. Ele há "coisas" onde a voz do "dono" impõe renúncias intermitentes. Embargos deliciosamente indesculpáveis. Adiante.

Entre a obediência intelectual consumada pelo amante da "pátria" - o poeta Alegre - com aquele que "falava com voz do nó da gravata" - de nome Cavaco Silva - e o estimulante (porque sério) e atrevido (porque não servil) embate Cavaco & Louçã, há toda uma diferença. Naquele, o tom macilento de quem não tem nada a dizer e a interpelar. Neste, a seriedade e a correcção da análise política, económica e social, num exercício honesto de quem algo a pronunciar e a debater. Todos - candidatos e jornalistas - estão de parabéns. Daqui para a frente, nada será como dantes, embora muitos suspirem uma outra "coisa". Basta ler os testemunhos dos colunistas da União Nacional e de como ficaram extraordinariamente a descobertos. Há dores tão agradecidas que assombram. A urbanidade intelectual é sempre muito traiçoeira.

É público que o mito da argúcia económica de Cavaco, se existia ainda, acabou ontem mesmo. Louçã fez desmoronar esse pequeno mundo que é, absolutamente, esotérico para os indígenas e até alguns adoráveis Cavaquistas. As palavras singelas do cândido ex-primeiro ministro explicam tudo sobre esse período: "Em relação ao passado fui julgado pelo povo português" - diz-nos. Nada mais acertado.

Ainda assim, o candidato persiste em querer vislumbrar "sucesso" na sua governação ou, até, assumindo essa ideia admirável do Cavaquismo ter pretendido ser, afinal, o projecto de uma nova "Califórnia da Europa". Tal insidia, pouco oficiosa, é apenas um delírio intratável. Presume-se que o descabelado Medina Carreira se engasgou com a papelada e os números. E que as orelhas liberais e neo-liberais, dos festivos apoiantes do candidato, arderam de vergonha, quando se ouviu o fantástico dr. Cavaco defender "os direitos adquiridos" dos trabalhadores da Administração Pública. Espera-se, ainda, que a vaidade e o estilo de Nogueira Leite não sucumba perante o novo oráculo da economia lusa. Seria um horror para muitos e um divertimento para todos.

Sobre o debate da "coisa": Louçã embaraçou, por várias vezes, o benemérito e estupefacto candidato da União Nacional. Fez aparecer o "momento mais divertido" da noite, quando se argumentou sobre a Lei da Nacionalidade e a invasão "bárbara" irrompeu, tout court, da boca do professor. Arrancou, a ferros, algumas desgarradas opiniões ao dr. Cavaco. Este, criteriosamente colado às políticas do governo, titubeou aqui e ali. Esteve, no entanto, bem melhor quando falou na Reforma da Segurança Social e nas medidas tomadas. Coisa que, aliás, muitos não entenderam. Em resumo: Louçã domou "o monstro". E, nestas condições, a existir alguém vitorioso, esse alguém terá de ser o dr. Francisco Louçã. Muito embora se saiba quais as suas hipóteses presidenciais. Mas isso é uma outra história. Um outro debate. Disse.

Fomos de romaria à Catedral & aviámos uns "bifes" ingleses

"Que aquelas altas vozes que lá soam ..." [Camões]

Afogueados pelo cansaço de todos os caminhos não serem rectos, estamos de regresso. Da antiquíssima Catedral da Luz & ainda em tempo festivo. Justo foi desembainhar a espada do engenho e comemorar essa notável noite em que o Glorioso educou os indígenas do Manchester. E celebrar em depravação total.

Antes, uma romaria, lucidamente vermelha, invadiu Lisboa, quarta-feira passada. Todos os caminhos davam à Catedral, para ver os "bifes" do senhor Blair. A A1 entupiu de magnificência. Vimos passar famílias completas. Ataviadas de filhos, comida & bebida. Um verdadeiro hino colectivo. A pátria ressuscitava, finalmente. A nação, também.

Aos 5 minutos, por deslize óptico, os rapazes alourados marcaram. Sem saberem como, deve ter confessado Sir Alex Ferguson ao Queirós. Depois, os nossos artistas abriram o jogo e a sangria feita aos Neville, O'Shea, Giggs and Rooney foi memorável. E a reviravolta apareceu. Sir Ferguson ficou lívido e silencioso. Logo ele que tanto prega. Conseguiu-se, entretanto, a façanha de arrastar o ilustre Ronaldo para fora das quatro linhas, para ter tempo de visitar o horto d'Alvalade. Pelo gestual simbólico utilizado pelo rapaz do Manchester, durante a sua saída, deve ter gostado da ideia. Há coisas que nunca esquecem. A nós também não.

terça-feira, 6 de dezembro de 2005


Arrumações - Vynil, CD's e Cassetes Piratas

Cingida de luz, bordada de poesis musical, a beleza e o esplendor de Aerial. A divina Kate Bush - 12 anos depois de "The Red Shoes" - está de volta. O seu último álbum (duplo), em especial o II CD, é sublime. Os meus pássaros sussurram que sim. Compreendo-os. Não há qualquer mistério para eles. Canções do vento, o sol & o mar, têm sempre efeito de prevenção. Com doçura, fazemos as pazes com o mundo. Com a inocência em afecto maternal. Mystico. A alma vai prenhe de civilidade. Não é qualquer Cavaco que nos fulmina estes dias, assim-tão-perfeitos em repouso descuidoso. Kate Bush é o nosso abrigo espiritual. A nossa audição divina. O nosso endereço de cada noute. A nossa fantasia espiritual. Há senhoras ... assim! Intemporais. Ouvi!

Assim, para ouvidores sem custódia presidencial & para as governanças em fim-de-ano, que as vésperas são todos os momentos de alma, a coberto do luar ou do fascínio da noite, a inexcedível & admirável Kate Bush, ali [music in box - A Nau dos Loucos] do lado esquerdo da pedra & sem o patrocínio das forças de desbloqueio

Kate Bush - Sunset [in CD2]

"Who knows who wrote that song of Summer
That blackbirds sing at dusk
This is a song of colour
Where sands sing in crimson, red and rust
Then climb into bed and turn to dust
...
Oh sing of summer and a sunset
And sing for us, so that we may remember
The day writes the words right across the sky
They all go all the way up to the top of the night
" [letra, aqui]

... e que a noite germine em cada um de vós. Bons sonhos!

Alegre & Cavaco: 2 lindos meninos

"Pé quebrado na política, / mais tempo leva a soldar" [Alexandre O'Neill]

Desconhece-se se a conversão política ao elogio mútuo, ensaiada pelos pretendentes do elenco presidencial, ontem na S.I.C., foi escolha acertada. Presume-se que a oratória é para continuar. Diga-se, porém, que a pasmaceira e o embaraço de ideias, reveladas aos indígenas por aqueles graciosos & espantosos "meninos", foram comoventes. O encontro Alegre & Cavaco foi um suplício televisivo, uma sabatina de estoicismo a quem o acompanhou. Antes um filme de Manuel de Oliveira. Sempre era mais sério. E afirmava audácia e muita réplica.

Os homens de ontem, no meio de gralhas e asneiras, não souberam discordar. Ao deficit Guterrista, lançado por Cavaco como fonte do mal pátrio, o poeta da caravela lusa, assobiou para as câmaras. Descaradamente. Sobre a OTA e os formidáveis números (volta, Guterres, estás perdoado!) do seu custeio, revelados pelo severo professor de economia, Alegre redigiu uma ode de vigilância monetária e um madrigal maior à periferia lusitana. O milagre económico estava a passar por ali. A reprimenda do dr. Cavaco foi autenticada, entre as barbas do poeta. As entrevistas corriam pelo melhor. O debate, nem por isso. Ou por causa disso.

É verdade que os candidatos se debicaram no recitativo sobre o Iraque. Mas foi tão inútil como activar o sangue democrata que, se calcula, corre em Bush. É certo que, por motivos insondáveis aos profanos, ambos os mestres pretendem "cooperação" ou "pensamento" estratégico no assento de Bélem. Cavaco, ele próprio, fez pairar no estúdio esse tremendo arrojo de querer ser uma "força de desbloqueio". Assim foi dito. Sem anestesia prévia. Sem consultar os ofícios do sr. Paulo Rangel ou pedir amparo ao fecundo J. C. Espada. Foi divertido à hora das telenovelas. Mas é pouco.

Sobre a magna questão da Justiça, os oradores fizeram ruído. De tal modo que o dr. Jorge Sampaio acordou, enquanto escrevia o último texto presidencial. Em casa, o interminável Souto Moura sorria, à altura do seu mandato. Mas, é bom de ver, o ardente estendal de ideias dos proponentes não encontra qualquer acolhimento nos eleitores, em especial quando o vício é de se falar cautelosamente e a medo da justiça e sobre ela. A seriedade nesta matéria foi um simples capricho discursivo. De facto, este assunto nunca existiu.

Duas questões ficam por esclarecer: como perdurará a instituição Presidência da Republica, se Cavaco persistir nessa sua nova monomania (a lembrar a outra, a do oásis) de querer ser, como Presidente, a "salvaguarda do futuro dos portugueses", que é coisa perfeitamente estéril de bondade? E que irá fazer Alegre com os votos confiados pelos eleitores, no caso de perder e Cavaco ganhar à primeira volta? A gente pasma só de antever o que poderia (pode) acontecer, em ambos os casos. Tomem fôlego, meus amigos. Não há recompensa possível. Olhem que "todos podemos morrer de sede em pleno mar". Tomem fôlego.

Catálogo Llibres del Mirall [81 Libros raros]

Algumas referências: Viages de extranjeros por Espana y Portugal. Desde los tiempos más remotos, hasta fines del siglo XVI, 1952 / Poesia, de Rafael Alberti, Madrid, 1934 / Cal y Canto, idem, 1929 / La Destruccion o el Amor, por Vicente Aleixandre, Signo, 1935 / Mulata de Tal, de Miguel Angel Asturias, Buenos Aires, Losada, 1963 / La Luna, de Jorge Luís Borges, Buenos Aires, Emecé Editores, 1980 / Obra Poética de Jorge Luis Borges, Buenos Aires, Emecé, 1964 / Les Vases Communicants, por André Breton, Paris, 1932 / Três Tristes Tigres, de Guillerme Crabrera Infante, Barcelona, 1967 / El Acoso, por Alejo Carpentier, Buenos Aires, 1956 / El Bonito Crimen del Carabineiro, de Camilo José Cela, Barcelona, 1947 / La Colmena, idem, Buenos Aires, 1951 / Tres Narraciones, de Luis Cernuda, Buenos Aires, 1948 / Ocnos, de Luis Cernuda, Xalapa, 1963 / Variaciones sobre tema Mexicano, por Luis Cernuda, México, 1952 / La Realidad y el Deseo. Poesias Completas de Luis Cernuda, México, Ed. Séneca, 1940 / Las Nubes, de Luis Cernuda, Buenos Aires, 1943 / Elegias y Canciones, por Álvaro Cunqueiro, Barcelona, 1940 / El Sino Sangriento y Outros Poemas, por Miguel Hernandez, La Habana, 1939 / Enemigo Rumor, de José Lezama Lima, La Habana, 1941 / Poesias Completas de Pablo Neruda, Buenos Aires, 1951 / Libertad Bajo Palabra, de Octávio Paz, México, 1949 / A La Orilla del Mundo, de Octávio Paz, México, 1942 / Salamandra, de Octávio Paz, México, 1962 / Histoires, de Jacques Prevert & André Verdet, Paris, 1948

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005


Ernesto Sampaio [1935 - m. 5 Dezembro 2001]

"Dá-me um certo prazer ser esquecido, assistir às coisas como se não existisse, como se não tivesse uma presença real, estar e não estar" [E. S.]

"Ernesto Sampaio nasceu em Lisboa em 1935. Considera a sua terra natal horrível, infestada de provincianos, de bimbos criminosos, mas mesmo assim, pelo menos a Ocidente, nunca viu outra melhor.
Infância e adolescência um tanto pasmadas: foi quase sempre último da classe até que de repente passou a ser o primeiro. Nesse mesmo ano abandonou os estudos e partiu à aventura. Voltou arrependido.
Depois como toda a gente, aceitou a canga do trabalho e deixou-se esticar pela roda infatigável do hábito e da rotina: foi actor, bibliotecário, jornalista [&ETC, DN, DL, Público], professor do ensino secundário, entre outras desvairadas profissões [foi tradutor de Artaud, Breton, Péret, Arrabal, Ionesco, Thomas Bernhard, Arthur Adamov, Walter Benjamin, Oscar Wilde, Eliot, etc] mas agora deixou-se disso. Ninguém sabe de que vive, nem sequer ele próprio, embora viva bem ..." [in Feriados Nacionais, Fenda, 1999]

"A tua ausência é como essas árvores perdidas num jardim ao abandono, que parecem transplantadas de uma floresta antiga, quando um perfume de infância habita a sua madeira
De mim não resta grande coisa. Não me chores. Aqui já não há fogo para apagar. Não me olhes (sei que não podes olhar-me). Estou quase a cair. Já não sinto o meu eu, o meu peso. Perco o equilíbrio, flutuo. Eras tua a gravitação da terra e do céu, e anulaste-as ..." [E. S., in Fernanda, Fenda, 2000]

"O amor é o único mito de pura exaltação que a humanidade conheceu. O único que parte do coração do desejo e visa a sua satisfação total. O único grito de angustia capaz de se metamorfosear em canto de alegria (...)

O amor não admite a menor restrição: tudo ou nada, sendo o tudo a vida e o nada a morte" [idem, ibidem]

Locais: In Memoriam Ernesto Sampaio / Na morte de Ernesto Sampaio / O poeta que morreu de amor

SIC: Anúncio absolutamente grátis

"cavaquês: variante de telejornalês. É a linguagem que se percebe melhor na RTP [hoje ... via SIC]. Ainda vai na 'modernidade'. A 'pós-modernidade', essa, deve aparecer depois da próxima eleição. Mas, como toda a gente sabe, o cavaquês não é apenas uma gíria. É também um critério de escolha das notícias, que remonta ao lumiarês (ou salazarês)[ou Siclarês ... diremos nós]" [João Carreira Bom, Expresso, 27/07/1990]

Os Cavaquinhos: seriedade & informação

"... A especialidade do dr. Cavaco consiste em combater os 'intereses' malévolos e os lobbies nojentos que resistem às suas admiráveis reformas, sem lhes dar ouvidos nem satisfações, porque se eles não fossem malévolos e nojentos não resistiam às suas admiráveis reformas, e a prova de que as suas reformas são admiráveis está precisamente na resistência deles" [V.P.V.]

"... Os políticos ainda aspiram a ser Cavaquinhos, já que não conseguem ser Cavacões, e os intelectuais, recebidas as espórtulas da ordem, aplicam-se a persuadir os gentios que o grande defeito da Esquerda consiste em não imitar a Direita" [V.P.V., in Às Avessas]

"Anteontem, na RTP, Cavaco fez de repente um comentário que revela o homem (...) Cavaco disse: 'Duas pessoas sérias com a mesma informação (no caso ele próprio e Sócrates) têm (inevitavelmente) de concordar'. Cavaco disse isto com toda a naturalidade e convicção, como quem declara uma evidência, sem uma reserva ou a mais leve sombra de ironia. Acha mesmo que sim: que duas pessoas só podem discordar por ignorância ou falta de carácter. Para ele, a verdade é unívoca e, pior ainda, não custa nada estabelecer. O fanatismo nunca falou por outras palavras e quem conserva um reflexo de independência e liberdade com certeza que as reconheceu pelo que elas são: a raiz da mais cega e absoluta intolerância ..." [V.P.V., jornal Público, 4/12/2005. Nota: sublinhados nossos]
Presidências 2006

"... Francisco Louçã. Tem a vantagem de ser totalmente sincero. O primeiro nessa virtude. O que melhor vê a gravidade da crise actual. O mais certeiro na análise. O mais radical no diagnostico ...

Mário Soares. Rosto afável. Familiar. A doce recordação de um mundo glorioso. Pergaminhos únicos na política nacional. A sua suave certeza de que se desculpa tudo, de que tudo se lhe permite ...

Manuel Alegre (...) Não consegui perceber por que se candidata. Nem para fazer o quê. Apesar das invocações patrióticas, parece nada ter a dar aos seus concidadãos a não ser a vitória da esquerda, com que sonha.

Cavaco Silva. (...) É o desajeitado que enternece. Mas está a repetir-se. E a utilizar desculpas para não se expor. Continua defensivo. Não desenvolve (...) Tem a enorme inocência de pensar que 'várias pessoas com a mesma informação chegam a um acordo', com o que ganhará um prémio se um dia explicar isso! (...) É, entre todos, aquele em que é maior a distância entre o que realmente pretende e o que revela. Sabe-se que quer, mas não e sabe o quê."

[António Barreto, Retratos da Semana, in Publico, 04/12/2005]
Ma-Schamba - II Aniversário

"Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
europeias
e europeu me chamam
" [Rui Knopfli]

O machado de JPT é o sol e a terra, do lado de lá. Todos os dias (ou noutes quando oscilam as pernas) temos o prazer de o ter entre nós. A grande rua da blogosfera é aquecida "aos poucos, um pedaço cada dia?", diria Mia Couto. E garantimos, nós. Fez o Ma-Schamba 2-aniversários-2. "Lá com certeza o dia amanheceu" [Craveirinha]. Daqui, "que a solidão é já uma pessoa", e porque o JPT não nos liberta a música, lhe mandamos, em jeito de sorriso & muitas felicitações, o seu

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Saúde e fraternidade

domingo, 4 de dezembro de 2005


Snu Abecassis

Do Reino da Dinamarca, do outro lado da terra, um sangue feminino que encanta. Que salva, por sinceridade. Que conserva a revolta da juventude. Que é livre. E, decerto, para quem o horror mesquinho, provinciano e reacionário de Portugal era embaraçante, obsceno. Quem, assim, encara com gosto o mundo, não lhe basta o beiral de janela. Não fica na boçalidade do lar. No silêncio da casa. A aventura de caminhar por inteiro, largando o corpo à paixão da vida e à mansidão do tempo, não tem desalento. Tem afectos mil. Saudade doce, mesmo que o fim da viagem fosse tremenda. O programa na TV sobre Snu Abecassis, uma senhora admirável, foi notabilíssimo. Uma carícia à vida.

"Um astro fugitivo te enleou
No que é dado à paixão cumprir-se em morte;
E algo espantosamente te levou
Cioso do que é frágil no mais forte.

Ó fúria de seres morto prematuro,
Sobre o abismo, extremamente vivo,
Jogando às cartas com o anjo escuro
A luz do teu relâmpago persuasivo.

Tinhas fome de quê? de quem? de Deus?
De amor seria, pois furacão de flores,
Passaste, atirando aos fariseus,
O escândalo gentil dos teus amores ...
"

[Natália Correia, in Recordando o Amante Francisco Sá-Carneiro Em Memoria da Minha Amiga Snu, Junho de 1984]

Francisco Sá-Carneiro [1934 - m. 4 Dezembro 1980]

"É a [essa] liberdade que os textos de Francisco Sá Carneiro fazem apelo, agora que as censuras, à nossa volta, vão deixando cair as máscaras" [José Augusto Seabra, in pref. Por uma Social-Democracia Portuguesa, de Francisco Sá Carneiro, D. Quixote, 1975]

"O Estado está ao serviço da pessoa, ou seja das liberdades; em relação não ao indivíduo descarnado e arvorado em valor absoluto, mas do ser que o homem a si próprio se vai dando no viver em relação com os outros (...) O poder político tem necessariamente de caminhar para uma intervenção (...) a fim de fazer com que as pessoas participem todas elas nos bens da comunidade (...). O acesso a todos esses bens é indispensável para que a liberdade não fique limitada a um mero conceito" [F.S.C., ibidem]

"Não vejo como uma via neo-capitalista ou neo-liberal possa dar solução às graves contradições e desigualdades com que se abate a sociedade portuguesa" [F.S.C., ibidem]

"O PPD não é um partido liberal, mas reconhece as conquistas políticas da revolução liberal e, nomeadamente, das revoluções portuguesas de 1820 e 1910. É um defensor intransigente das liberdades individuais, mas quer aprofundá-las e garantir que tenham igual conteúdo para todos através de um esforço constante de construção de um socialismo humanista e democrático" [F.S.C., ibidem]

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005


Sobre Portugal: o espírito e o lugar - Mafra

"Deo Optimo Máximo
Divoque Antonio Lusitano
Templum hoc dicatum
Joannes Lusitanorum Rex
Voti compôs ob susceptos liberos,
Primumque fundavit lapidem ...
"

[inscrição na pedra inicial da capela-mor da Basílica de Mafra, citado por Manuel Gandra, in Da Face Oculta do Rosto da Europa, 1997]

"... mas nenhum Mosteiro de Religiosos se acha na Cristandade que esteja edificado sete léguas fora ou por cima da cidade marítima, chamada Oriental e Ocidental, fundada sobre tantas águas subterrâneas e tão adornado como a Esposa para o Esposo, senão esta nova e única Maravilha do Mundo [...] estabelecida em Portugal, edificada em Cristo, sobreedificada em Mafra e sobre o fundamento que lhe pôs S. Paulo, pelo real e invicto braço do Sábio e Augusto Apolo Lusitano e pela mãos dos portugueses para a Corte do Quinto Império de Cristo ..." [Anselmo Caetano M de A. G. e Castelo Branco, idem, ibidem]

"... o Monumento de Mafra é uma réplica de Heliopolis, a Cidade do Sol. Com efeito, a planta do Monumento de Mafra configura, com base no respectivo módulo regulador ou cânone, o quadrado mágico do Sol. O referido quadrado comporta os primeiros 36 números dispostos segundo uma grelha de 6x6, de molde que o valor linear, na horizontal, na vertical ou na diagonal, seja 111 e o valor global 666, também correspondente ao número total de compartimentos ou divisões do Real Edifício ..."

[Manuel Gandra, in A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, 2003 (apresenta uma Miscelânea curiosa, a saber: Catálogos da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra / Subsídios para o catalogo da Tratadística alquímica antiga (até 1800), presente no acervo da BPNMafra)

"É no Palácio Espiritual
rodeado pela águas
que têm inicio as provas
" [Natália Correia]

Sobre Portugal

"Cumpriu-se o mar e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!" [F.P.]

"Portugal é nome inteiro,
Nome de macho se queres,
os outros Reinos mulheres,
Como ferro sem azeiro ...
" [Bandarra]

"... A Pátria somos todos, os que vivemos e, sobretudo, a cadeia invisível dos antepassados, essa enorme força da espécie que o Anjo marcou na sua génese com uma língua e um determinado sestro histórico, se não transcendente" [António Telmo, in História Secreta de Portugal, 1977]

"A Hora, a derradeira hora do tempo, aquela onde não há literalmente nem rei nem lei, nem paz nem guerra, nem se sabe o que é mal nem o que é bem, não está, como finisterra, longe. A manhã levou já o seu zénite, e a tarde há-de trazer o seu nadir. Tudo o que nos resta é esperar pelo nevoeiro, esse tempo emblemático e alheio onde se acaba o tempo e se diluem as coisas, como síntese adequada que é de tudo o que existe. Ocultámo-nos no sol e reveler-nos-emos na sombra." [António Cândido Franco, in Panfleto contra Portugal, 1989]

"Portugal a cabeça, cuja fronte patenteia três sentidos, o que respira, o que concede a palavra e o da visão, é o Consciente de Europa (...)

Representando o principio masculino, a força centrifuga, o movimento de translação é o génio do Amor, da Aventura e da Saudade, o protector dos Argonautas, o Siva da Fé, aquele que debruçado na sua Ponte-Cais olhando fixo o cristalino do Mar avista ali, diante de si, num só ponto, os quatro pontos cardeais, a par da vitória daqueles Argonautas contra todos os Titãs e contra o próprio mestre da Morte e dos Infernos, e por fim, como prémio, o mundo-terra a seus pés" [Vasco da Gama Rodrigues, in Os Atlantes, 1961]

"E nunca em Portugal o rasto da flor da graça
se perderá e o seu perfume se esquecerá
" [Dalila Pereira da Costa]

Portugal

"Eis aqui quase cume da cabeça
Da Europa toda o reino lusitano
Onde a terra se acaba e o mar começa
" [Camões]

"A Europa jaz posta nos cotovelos;
De Oriente a Ocidente jaz fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O Cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal" [F.Pessoa]

quarta-feira, 30 de novembro de 2005

[Fernando Pessoa]

"Ah, estou liberto!
Ah, quebrei todas
as algemas do pensamento.
Eu, o claustro e a cave voluntários de mim mesmo,
Eu, o próprio abismo que sonhei,
Eu que vi em tudo caminhos e atalhos de sombra
E a sombra e os caminhos e os atalhos estavam em mim!
Ah, estou liberto ...
Mestre Caeiro, voltei à tua casa do monte
E vi a verdade que vias, mas com meus olhos,
Verdadeiramente com meus olhos
"

[F.P. ou Álvaro de Campos, citado por Yvette Centeno, in Hermetismo e Utopia]

Fernando António Nogueira Pessoa

"No último e excelso sentido, a Loja é o arcano ou arca da Verdade" [F.P.]

"Temos espadas porque somos cavaleiros, veste de rito porque somos sacerdotes, capuzes de velar porque somos ocultos" [F.P.]

"Mas o significado real da iniciação é que este mundo visível em que vivemos é um símbolo e uma sombra, que esta vida que conhecemos através dos sentidos é uma morte e um sono, ou, por outras palavras, que o que vemos é uma ilusão. A iniciação é o dissipar - um dissipar gradual e parcial - dessa ilusão" [F.P., in FP e a Filosofia Hermética, org. de Yvette Centeno]

"... Mas por ora estou dormindo,
Porque é sono o não saber.
Olho o Castelo de longe,
Mas não olho o meu querer.
Da sombra do Monte Abiegno
Quem me virá desprender?
" [F.P., in Na Sombra do Monte Abiegno]

"... Sou os arredores de uma villa que não há, o comentário prolixo a um livro que não se escreveu. Não sou ninguém, ninguém. Não sei sentir, não sei pensar, não sei querer. Sou uma figura de romance por escrever, passando aérea, e desfeita sem ter sido, entre os sonhos de quem me não soube completar" [F.P.]

Fernando Pessoa [1888 - m. 30 Novembro, 20.30 h, 1935]

"I know not what tomorrow will bring" [F. P.]

"Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Essa queda até Corpo, essa descida
Até à Noite que nos a Alma o obstrui ..."

[F.P. - No Túmulo de Christian Rosencreutz]

"A verdade que será o futuro, desprezando os nossos raciocínios, virá tal qual tiver que vir, guiado por leis naturaes immutaveis, e contra as quaes nada pode a pseudo-libertação do nosso servo arbítrio, esse e o seu segredo, guarda-os ainda o espírito da Nação na sua alma recôndita, e, se a interrogamos, responde-nos, como o santo, quando o interrogaram: Secretum meum mihi - o meu segredo é commigo" [F. P.]

"... O teu destino é demasiado alto para que eu o diga. Tens de o descobrir tu. Mas tens de te esforçar ... através da passagem de muitas vidas até que reine na tua alma a Divina Presença. Mas o homem é débil e são também débeis os Deuses. Sobre eles, o Fado - o Deus sem nome - vela do seu trono (inalcançável?). O meu nome está errado e o teu também. Nada é o que parece ser. More. Henry More. Frat RC [Fraternitatis Rosae Crucis]. O que tem de ser tem de ser"

[F.P. - carta "recebida" de Henry More, por meio de escrita automática. Trad. por Angel Crespo]

"Para todos, quantos queiram mais da vida que o que ella é em si mesma, a regra é aquella que, em um dos seus modos, os trez graus maçónicos symbolizam. Entramos apprendizes pelo soffrimento, passamos companheiros pelo propósito, somos levantados Mestres pelo sacrifício. De outro modo se não chega, na arte como na vida, à cadeira, que é o Throno, de Salomão" [F.F.]