quarta-feira, 14 de dezembro de 2005


Presidenciais: canções d'embalar

"Gosto de quem responde/antes de perguntar" [Alexandre O'Neill]

Alegre & Louçã - o candidato Alegre vem bem agasalhado na bandeira pátria, o nó da gravata em Cruz de Cristo (nada com os de Bélem) vai correndo televisivamente, desenvolve as ideias & a camisa com padrões camonianos afectuosos, fornece uma dicção poética entremeada de ardor partidário ("aquele poder tão duro" de Camões) & líricas anti-partidárias, vivamente numa assonância inaudita diz que ninguém é dono da poesis perdão da consciência (uauu!), cultiva o tom epistolar fora da caridade do economicus ("este pode colher as maçãs de ouro" lá dizia o vate Camões), proporciona o extraordinária silêncio por 20 segundos no programa (momentus alegrus) na devoção meditabundo para a demissão de Souto Moura (cesse do E.P.C. o canto ilustre ... disse), afasta-se convulsivamente de candidaturas de pro-tes-to, propõe impedir que o infausto Jardim atine em qualquer eleição (eia! patriota). Esteve eloquente, deu cavaco e foi poético. As palavras & os dotes artísticos utilizados são, já se vê, de José Jorge Letria. E o fato de ninguém-é-dono-da-consciência foi comercializado & inovado, entre sorrisos e lágrimas, por Inês Pedrosa. O sorriso era de Helena Roseta. Enfim, temos o "país do cibinho mastigado / devagarinho" (O'Neill).

Cavaco & Jerónimo - o candidato Cavaco puxou da cassete económica, alta e sagrada, que trazia no bolso de dentro da jaqueta, perdeu-se entre os tumultos dos longos e saudosos anos da sua acção governativa (oh! desditoso), não descobriu o ponto fixo da mira televisiva que fosse além da devoção Socrática (estamos servidos), não sustentou o desvario e as golpadas do arranjo do deficit da Mercearia Ferreira Leite (salvé Dona Manuela!), cegou na luz da abertura das fronteiras aos imigrantes, ameaçou com a tropa em caso de falta de autoridade do Estado (Ui! Ui! senhor dr.), gemeu de emoção e resignação ao descrever cenas conjugais, bateu por três vezes na boca quando pronunciou ... pros-ti-tu-i-ção. Esteve alegre, distinto e imortal. A cassete utilizada foi-lhe fornecida pelo seu compadre Ramalho Eanes. A gravação, evidentemente, foi de João Carlos Espada e Dias Loureiro. O dolby esteve a cargo de Katia Guerreiro & Pedro Lomba. Enfim, "todos os lugares deviam ser santos no Natal" (O'Neill).

Absolutamente grátis: pode ser o "leve dois e pague um", pois estamos em assunto natalício, que vós depois, lúcidos e prudentes, respigareis ao tempo o exemplar para a vossa desgraça. Mas não se trata disso. Cada coisa no seu lugar. Porque estamos com saudades da partida, que o tempo é invernoso por aqui. Porque meu caro cidadão, "você anda tão triste" nestas eleições, neste mundo, aqui deixámos em vosso louvor, para almas respeitáveis e eleitores impiedosos

Tom Zé - Senhor CidadãoPowered by Castpost

Boa noute.