segunda-feira, 5 de dezembro de 2005
Ernesto Sampaio [1935 - m. 5 Dezembro 2001]
"Dá-me um certo prazer ser esquecido, assistir às coisas como se não existisse, como se não tivesse uma presença real, estar e não estar" [E. S.]
"Ernesto Sampaio nasceu em Lisboa em 1935. Considera a sua terra natal horrível, infestada de provincianos, de bimbos criminosos, mas mesmo assim, pelo menos a Ocidente, nunca viu outra melhor.
Infância e adolescência um tanto pasmadas: foi quase sempre último da classe até que de repente passou a ser o primeiro. Nesse mesmo ano abandonou os estudos e partiu à aventura. Voltou arrependido.
Depois como toda a gente, aceitou a canga do trabalho e deixou-se esticar pela roda infatigável do hábito e da rotina: foi actor, bibliotecário, jornalista [&ETC, DN, DL, Público], professor do ensino secundário, entre outras desvairadas profissões [foi tradutor de Artaud, Breton, Péret, Arrabal, Ionesco, Thomas Bernhard, Arthur Adamov, Walter Benjamin, Oscar Wilde, Eliot, etc] mas agora deixou-se disso. Ninguém sabe de que vive, nem sequer ele próprio, embora viva bem ..." [in Feriados Nacionais, Fenda, 1999]
"A tua ausência é como essas árvores perdidas num jardim ao abandono, que parecem transplantadas de uma floresta antiga, quando um perfume de infância habita a sua madeira
De mim não resta grande coisa. Não me chores. Aqui já não há fogo para apagar. Não me olhes (sei que não podes olhar-me). Estou quase a cair. Já não sinto o meu eu, o meu peso. Perco o equilíbrio, flutuo. Eras tua a gravitação da terra e do céu, e anulaste-as ..." [E. S., in Fernanda, Fenda, 2000]
"O amor é o único mito de pura exaltação que a humanidade conheceu. O único que parte do coração do desejo e visa a sua satisfação total. O único grito de angustia capaz de se metamorfosear em canto de alegria (...)
O amor não admite a menor restrição: tudo ou nada, sendo o tudo a vida e o nada a morte" [idem, ibidem]
Locais: In Memoriam Ernesto Sampaio / Na morte de Ernesto Sampaio / O poeta que morreu de amor