segunda-feira, 20 de setembro de 2004


Catálogo da Livraria Moreira da Costa

Acaba de sair o Catálogo nº 46 da Livraria Moreira da Costa, Rua de Avis, 30, Porto, com um conjunto interessante de livros sobre as antigas colónias e literatura em geral. Pode ser consultado on line.

Algumas referências: Solares Portugueses, por Carlos de Azevedo, 1971 / Com Vista às Eleições. Análise e comentário de alguns problemas de interesse nacional. 1965. Diário de Lisboa / Raças do Império, por A. A. Mendes Corrêa, 1943 / O Esoterismo de Fernando Pessoa, por Dalila Pereira da Costa, 1978 / Figuras e Factos Alto-Durienses. Frei João de Mansilha o a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, de Sousa e Costa, Porto, 1953 / Estudos Coloniais, de Teófilo Duarte, Lisboa, 1942 / Fel (poesia), por José Duro, 1916 (2ª ed.) / Estatutos da Universidade de Coimbra. Confirmados poe el Rey nosso Snor Dom Ioão o 4º em o anno de 1653. Impressos por mandado e orde de Manoel de Saldanha... Em Coimbra. Officina de Thome Carvalho Impressor da Universidade. Anno 1654 (raro) / As Dez Freguesias do Concelho de Tarouca (História e Toponímia), Braga, 1995 / Livro de Bom Humor para Alívio de Tristes, de Tomás da Fonseca, 1961 / Perfil de Camillo Castello Branco, pelo P.e Senna Freitas, 1888 / A Real Abadia de Alcobaça. Estudo Histórico-Arqueológico, de Artur Gusmão, 1948 / Elementos para o Estudo de Alguns Problemas de Vila Nova de Famalicão, de A. Pavão da Silva Leal, 1935 / O Livro Azul. Ou Correspondencia Relativa Aos Negocios De Portugal. Traduzido do Inglez. Lisboa. Typographia de Borges, 1847 (Segue-se: Debates no Parlamento Britannico Sobre os Negócios de Portugal. Lisboa. Typographia de Pedro Antonio Borges, 1847) (raro) / África Nossa. O que queremos e o que não queremos nas nossas terras de África, por Norton de Matos, 1953 / Monografia do Concelho de Olhão, de Athaide de Oliveira, 1986 (2ª ed.) / São Jerónimo e a Trovoada, de Teixeira de Pascoaes, Porto, 1936 / Catálogo dos documentos manuscriptos que pertenceram a José da Silva Passos e que foram offerecidos à Real Bibliotheca Publica Municipal do Porto por D. Anna Luiza Rodrigues de Freitas. Porto, 1909. (imp. fonte para o estudo da Patuleia) / Da Famosa Arte da Imprimissão. Da Imprensa em Portugal às Cruzadas D'Além Mar, por Américo Cortez Pinto, Lisboa, 1958 / Maíssa (Mãe Negra, poesia), de Anunciação Prudente, Lourenço Marques, 1965 / Faiança Portuguesa, Sec. XVIII-XIX, por Artur de Sandão, Porto, 1976-1985, II vols / O Móvel Pintado em Portugal, de Artur de Sandão, 1979 / Ensaio de Análise Económica do Café, de Alfredo de Sousa, Lisboa, 1963 / Religiões da Lusitânia, de J. Leite de Vasconcelos, 1981, III vols / A Diana de Jorge de Montemor, em português de Afonso Lopes Vieira, 1924

sábado, 18 de setembro de 2004



Salvé Jimi Hendrix [m. em Londres 18 Setembro 1970]

"If I'm free it's because I am always running." [JH]
[Todo Este Mundo]

"Todo este mundo quotidiano e visível, toda esta gente que bóia à superfície da vida, todas estas coisas que constituem os nomes e os feitos da história não são mais que erro e ilusão. Somos todos, não agentes, senão agidos-titeres de maiores que nós. Todo o nosso orgulho de conscientes e a nossa soberba de racionais são o títere que se orgulha de seus gestos. Na verdade o combate é aqui, mas não é nosso; não é connosco, somos nós. Não somos actores de um drama: somos o próprio drama - a antestreia, os gestos, os cenários. Nada se passa connosco: nós é que somos o que se passa"

[Fernando Pessoa, 53B-92 verso, in "Os Trezentos e Outros Ensaios"]

Código Da Vinci, em pé-de-página

Era de "estórias". Sempre assim foi e será. Tradição, simbologia, verdade, ocultação, revelação, hermetismo, essência divina, unidade e descontinuidade, alma colectiva, espiritualidade, verdadeiro e falso, numerologia e cabala, escrita, escrita sagrada, luz, Templo, Graal, Santo Graal, consciente e inconsciente, Rei do Mundo, Grande Arquitecto, mitos e deuses, divino, teúrgico, Deus, Espírito Santo, Quinto Império, sagrado e profano, adepto, neófito, Adepto, Lux-Citânia ou Lusitânia, Oriente e Ocidente, Adão Kadmon, iniciação, Anunciação, saudade, universalismo, mistérios, o Encoberto, Via Sacra ou Caminho do Fogo, Teosofia, dogma e ritual. Era de histórias, era de patamar. Um desejo de contar, por vezes de tentar provar. Que maravilhoso trabalho humano é uma história, é um livro. A palavra sempre repetida, sempre em decomposição, abandono ou trânsito. Um olhar, uma visão sempre redobrada e ao mesmo tempo sempre única. "A vida que em mim flui, em quem flui?" [F.P.].

As opiniões inquietas de alguns em torno do livro de Dan Brown, "O Código da Vinci", exposto profusamente por todo o lado e vendido como pãezinhos quentes, são desabafos capciosos de quem cuida o arquejo d'outras sonoridades de desmedida literatice. A erudição lamurienta de tais soldados da boa literatura é quase sempre bem postiça. A grandeza do génio em cada um não passa do five o'clock tea sem qualquer originalidade. Tais singularíssimos críticos, recortando acusações dos erros crassos e factos absurdos, em boa hora descobertos, condenam o livro por ser enganador, fantasioso, repleto de perfídia, fraudulento, pouco habilidoso, banal, de uma falsidade monstruosa, um "grau zero da escrita". É, ainda segundo alguns castos leitores, "imbecil, inexacto, mal informado, estereotipado, enlatado exemplo de pulp fiction" e, pasme-se, "deriva de teorias feministas extremistas". O entretimento deixa, por magia, de existir. E as mil histórias dentro da história ficcionada por Dan Brown, também. A teoria conspiratória dos críticos do livro é de sinal igual ao do próprio Brown, mesmo que o recurso crítico à análise da estrutura do romance, da técnica narrativa ou do convencimento histórico, insuportável do autor, tenha fundamentação. Sabendo-se que, muito antes, o "The Holy Blood And The Holy Grail", onde Brown sustentou toda a sua ficção, tinha passado pelo mesmo crivo, suspeitando-se do matraquear publicitário das editoras, não se compreende a polémica e o alarido.

Se por mero acaso, alguém em Portugal resolvesse seguir o exemplo de Umberto Eco, Ursula Le Guin, Tolkien, Burroughs, Terry Broks, Dan Brown, Paolini, e muitos outros, teria material luso para vários calhamaços. Não haja dúvidas. E não se fala, apenas, da presumida guarda do Graal pelos monges de S. Jerónimo em terras portuguesas, do desaparecimento do Tesouro Real de Portugal, algures oculto numa Igreja ou de estranhas reuniões na imaginada cripta da Sé do Porto in illo tempore. Haveria ainda mais, até porque, se "o símbolo é naturalmente a linguagem das verdades superiores à nossa inteligência", citando F. Pessoa, o filão seria perfeitamente inesgotável.

quinta-feira, 16 de setembro de 2004

[Angústia]

"Como a palavra nua
que partiu sem regresso
a angústia voltou"

[Olga Gonçalves]



Maria Callas [m. 16 Setembro 1977]

Da Educação ou os pecadilhos de David Justino

"A seus pés, sentados, os dois rapazes sorriam perplexos, cépticos, contrariados, irritados por tanta ideia, tanto pensamento, tanta informação, tanta coisa que nada lhes dizia" [Jorge de Sena, in Andanças do Demónio]

O texto, sumário e pretensamente recenseador, de David Justino sobre o "inventário" de fim de exercício da governação à frente do Ministério da Educação, para além da multivariedade de leituras que o debate necessariamente sugere, estabelece confusões, ambiguidades e perplexidades várias, que no invés de serem noviciadas enunciam a repetida pragmática situacionista dos que se movem nas malhas do sistema e do seu discurso. Ao conjunto de problemas que envolvem estruturas, pessoas, práticas e relações, que o território escolar configura e que a cultura de massas há muito desestabilizou, David Justino, deixando de lado tais sequelas porque, presume-se, sociologicamente inúteis, inscreve um exercício intelectual onde é visível a aproximação insuspeita entre objectivos educacionais e a política económica. Daí que o desassossego educativo, as práticas instrutivas ministeriais e a catástrofe das várias luminosas reformas educativas, só sejam explicitadas a partir de um velho/novo economicismo na tutela do Estado, um verdadeiro oásis do economicus, evidentemente sob a domesticação dos burocratas da política.

A situação é esta. Ao estabelecer um paralelismo entre os métodos de reorganização do Sistema Educativo e o sistema industrial pós-moderno, os novos desafios de David Justino assumem uma necessária reestruturação do sistema de ensino de modo a acompanhar a relação funcional entre a Escola e o processo produtivo, e portanto com recurso a modernas teorias de gestão empresarial, aplicação da teoria e prática do management, projecção de critérios de máxima racionalidade, planificação da gestão e avaliação do processo educativo. A performatividade escolar assim entendida caminhará, necessariamente no futuro, para uma separação entre direcção e gestão escolar, ultríssima panaceia para a solução dos problemas educativos.

Ao considerar-se tal paradigma, a Escola é tomada como uma qualquer organização formal sem "construído cultural" e na qual os vários clientes escolares cooperam com inteira liberdade, mantendo-se ao mesmo tempo como agentes livres. E à gestão diária das relações escolares na lógica empresarial menospreza-se competências científicas e pedagógicas, sociais, culturais e afectivas. Suprema ilusão.

Por recato, David Justino, não impõe a figura do reitor (como Bénard da Costa sugere), aparentemente supondo que o órgão não faz a função. Mas nunca fiando. É que, de facto, a organização escolar, sendo uma "realidade que organiza", estrutura-se a partir de regras formais, não formais e informais, possuindo uma cultura e identidade própria, o que sugere a inscrição de práticas e jogos comunicacionais entre os seus clientes, em estruturas democráticas. Assim, o curriculum, os conteúdos programáticos, os métodos de ensino, a avaliação de alunos e docentes, a aceitabilidade de regras impostas à comunidade, o controlo disciplinar de alunos e professores, para além do repensar da linha orientadora em cada ciclo de ensino e da consagração da autonomia escolar, são referências fundamentais ou tópicos de reflexão e acção urgentes. Manifestamente David Justino entende que tais conceitos são meros estereótipos comuns, sem qualquer fundamentação ou linha conceptual credível. É é pena que assim seja.

quarta-feira, 15 de setembro de 2004

No dia nascimento de Bocage [n. 15 Setembro 1765]

"... Enquanto houver tesões, e enquanto o cono
Fôr de arreitadas picas lenitivo,
Sempre hei de recordar-me, alto patrono,
De que és de meus gostos o motivo:
Pois me dás glória no elevado trono,
E já, como o veado fugitivo
Que o caçador persegue, eu corro, eu corro
A procurar as bordas porque morro"

[Bocage, in Ribeirada]


Jean Renoir [n. 15 Setembro 1894-1979]


O Discurso da Coisa

- Paulo Pereira Coelho, aparachick laranja, andava aguilhoado de consciência. Depois de escarpar em terras da Figueira da Foz, onde deixou farta sementeira cinzelando confrontos curiosos, resguardou-se para lides mais nobres na CCDRC, estando, de momento, ornamentado com o inteligente título de secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna. Não lhe bastava o chorrilho de trabalho que com gravidade manifesta em acidentais convívios tribais, para num rasgo vibrante em louvor de glória futura anunciar o prometido processo por difamação aos vereadores da oposição no município da Figueira da Foz, a propósito da alienação feita pela edilidade com os terrenos da ponte Galante. A coisa não ficará, pois, por menos.
Doravante, seguindo o receituário do Estado de Direito, que a classe política perfuma quando sufocada, se qualquer IGAT eminentíssimo reconhecer como válida uma chalaça como a venda em causa, será ocasião para os governantes fustigarem nos tribunais os indígenas que enxergam a pouca solidez de tais singulares negócios e perseguirem a emperrada linguagem da plebe com o chicote da lei. Excelente ideia.

- a peixeirada no PS em torno dos trágicos acontecimentos da lota de Matosinhos durante a campanha do saudoso prof. Sousa Franco promete. O insólito de não se prescrever, clara e definitivamente, a expulsão do Seabra & do Narciso do feudo de Matosinhos e da vida partidária; a manifesta hipocrisia do bestial José Lello e do tedioso Francisco Assis face ao pretenso timing do relatório dos incidentes e, presume-se, sobre o seu conteúdo, revelando o poder do aparelho e a afronta de carácter desses sujeitos, é simplesmente brutal. Não se percebe como, um dia destes, podem aparecer, afinadíssimos, a fazer juras de pax democrática, credibilidade política e de seriedade legítima. Ninguém os poderá entender. Se alguma vez o conseguiram. É triste.

segunda-feira, 13 de setembro de 2004



Salvé Natália Correia [n. 13 Setembro 1923]

"... teu levantar de saias oh resplendor de púbis!
o joelho agressivo das espadas flectia
e na face dos homens deixavas a penugem
das nuvens que as ancas movias.

Eras mansa eras dança e génio de balança
que as estações pesava. Fazias sol chovias
cada homem enchia com frutos o seu crânio
e na alma caíam as roupas que despias ..."

[Natália Correia, in Mátria]

Ofertório

Infindo Bagão Feliz, nós profanos indígenas oferecemos o sacrifício do PEC em boa hora ressuscitado e pela graça provada de Ferreira Leite, elevada pecadora acima de todos os défices e de todos os orçamentos, rogando-vos que alcanceis a produtividade, prática de virtude vigilante para consolo dos trabalhadores nativos e sofrimento dos pecadores capitalistas e demais gestores cheios de graça, indicando as indulgências em honra do prelado César das Neves e do Santo d'O Público Carlos Rosado de Carvalho, afugentando os inimigos visíveis e invisíveis da CGTP, defendendo a causa dos homens junto de Belém e S. Bento, concedendo-nos a eterna salvação.

Temos sede, amabilíssimo Bagão, de sofrer e morrer por vós, pelo vosso santo amor social cristão, pela castidade da liquidez, pelo sagrado mystério da bem-aventurada retoma, pelo eterno descanso dos servos Lopes & Portas, dulcíssimos senhores concebidos sem pecado, e vos consagramos os salários de miséria, dando graças pelos vossos inúmeros benefícios e a inefável doçura oratória; pela vossa piedade, Santo, Santo, Santo Bagão Feliz, imploramos o vosso poderoso patrocínio para purificares o vício da paixão ruim pelo aumento d'ordenado, volvendo na TV os olhos para o povo malévolo e humildemente pedimos, Príncipe das Finanças, que precipiteis no Inferno os espíritos malignos anti neo-liberais, e nunca nos deixais cair nas emboscadas do Estado Providência. Amém.

(365 dias de indulgências na récita de uma só vez, e uma plenária no mês rezando-a com devoção todos os dias)


Aquilino Ribeiro [n. 13 Setembro 1885]

"Para Anatole France não havia leitura mais amena e sedativa que um Catálogo de livros. De facto, depois de ouvir um discurso nas Câmaras, dar-se o parecer sobre um relatório, sustentar uma polémica sobre existencialismo, não se pode encontrar entretenimento mais repousador e edificante. É como estar debruçado à janela a ver passar, sem nos coagir a nenhuma forma de zumbaia, uma vistosa procissão à antiga.

Para o letrado e fino leitor, que se deleitam no que lêem, um catálogo é como um jardim na Primavera. (...)

Para o erudito que, por onde deite os olhos, procura elementos de trabalho, semelhante tarefa permite-lhe refrescar a memória para a contextura das sua complexas e difusas bibliografias. Os livros são a sua enxada, prestantíssimos instrumentos de cultivador, trate-se de incunábulos ou folhetos de fresca data. A necessidade obriga tanto como o gosto. (...)

Há ainda os lordes Byron da bibliofilia que apreciam um livro como apreciam uma mulher, primeiro pelo aspecto, beleza da mancha, tintagem, cores do título, boa ordenação do frontispício, depois pelo que encerra de recatado e supremo: o espírito. De facto há, não podia deixar de haver, uma certa voluptuosidade em roçar, cerebralmente, esses corpos sensuais, que são os livros bonitos, ..."

[Aquilino Ribeiro, in Nota de Abertura ao "Catálogo de Livros Seleccionados", nº 3, do Mundo do Livro (de João Rodrigues Pires), 1955]

sexta-feira, 10 de setembro de 2004

Bjork ... já cá canta. Como são belos os dias de Setembro.


É a Rentrée, ...

Pensando bem, a rentrée política alcança a celebridade quando ilustres escribas, tricotando ajuntamentos de palavras em artigos de opinião, formulam ex cathedra implacáveis desgraças, cáusticas composturas, respeitáveis queixumes sobre a dissoluta nação portuguesa e a súcia de indígenas que a habitam. A candura das suas petições, a perseverança das suas ordenações ano após ano, provoca sempre, por esta altura do ano, um vendaval nos jornais enquanto um arrepio de infelicidade perpassa pelos costados dos viciosos nativos lusos. Trata-se da rentrée, evidentemente.

O ferrete decorre na mais serena placidez. Embora este ano a moda seja os barcos de guerra em terras figueirenses, soubemos do encanto da rentrée por esse extraordinário texto de João Bénard da Costa sobre a escola (Público, 20 e 27 Agosto), afinal assunto recorrente todos os santos anos. O divertimento desse olímpico mau aluno liceal, confuso a soletrar a pérfida matemática e mártir da física-química, é fazer aparecer o cartaz do admirável reitor como panaceia para os males do sistema de ensino. Está tudo explicado.

O requinte de tal maniqueísmo sociológico, peça perfumada por uma historieta de longos arrufos contra docentes e discentes, não só ousa trazer em desordenada correria ilustres pedagogos como Delfim Santos, Vieira de Almeida ou Virgínia Rau, não se sabe a que propósito e com que ocultação, mas faz, também, sair à liça o talento esforçado de António Barreto em copioso artigalho, como era de esperar. O figurino da rentrée é, afinal, o espírito da escola. Esse fantasma que os atormentou em pequeno. A movida não acabará, evidentemente, por aqui. Por entre os papéis da Torre do Tombo, Maria Filomena Mónica, em estilo colorido e sob névoa very british, distrai-se certamente a tricotar novo queixume sobre tão clamoroso assunto. E não estivesse o comentador d'O Público, José Manuel Fernandes, a banhos, já teríamos sido atingidos pela elevada concepção da sua moderna reforma educativa. Mas não esperamos pela demora. A reprimenda vem já.
2 - Aniversários - 2

Na excelsa Blogosfera Portuguesa dois aniversários garbosos. Um, comemorado no princípio do mês pelos manos da Grande Loja, de pena caprichosa e grande empenhamento político-jurídico. Outro, pelos também manos do Barnabé, de excelente irreverência, capacidade imaginativa e talento de audácia. Parabéns a ambos.


De regresso. Os vales e as ondas calmas deixam saudade, é certo. Há dias assim, eternamente sacros. Entre grandes trabalhos e lastimosas cousas, aconteceu-nos umas férias. Que o descanso nunca amargou. Embora as noites fossem quentes. E "a ternura húmida". Estamos de volta, ainda que o tempo nos confunda. E o país seja o mesmo. Estamos de regresso. Para ficar. Vale!


quinta-feira, 2 de setembro de 2004



Juan L. Ortiz [Juanele] (1896-1978)

m. a 2 de Setembro de 1978

"Un silencio cortés, extremadamente cortés, ante las cosas y los seres... Ellos debían aparecer con su vida secreta, sólo llamando el silencio, pero con cuidados infinitos, ah, y con humildad infinita..." [Juan L. Ortiz]


"Regresaba
- ¿Era yo el que regresaba? -
en la angustia vaga
de sentirme solo entre las cosas últimas y secretas.
De pronto sentí el río en mí,
corría en mí
con sus orillas trémulas de señas,
con sus hondos reflejos apenas estrellados.
Corría el río en mí con sus ramajes.
Era yo un río en el anochecer,
y suspiraban en mí los árboles,
y el sendero y las hierbas se apagaban en mí.
¡Me atravesaba un río, me atravesaba un río!"

Locais: Biografia / Una voz subterrânea / Juan L. Ortiz: la intemperie sin fin / Para que los hombres (Poema)

O tempora, O mores!

[Quo usque tandem abutere, Portugal, patientia nostra?]

- o Presidente da Republica de turno esta semana lembrou, a propósito da "campanha alegre" da organização "Woman on Waves", que "era comandante supremo das forças armadas". A inventiva do dr. Sampaio teve a frescura de um discurso grave e insólito. Raramente se ouvia, na costumeira chateza espiritual do presidente de turno, tal assombro. Louvemos esta pujança de fim-de-estação.

Porém, ao que parece, o putativo Lopes, muito serenamente e com a tolerância emprestada do velho Botas de S. Comba, faz coro na missa pontifical do casto Portas. O "brio patriótico" iluminado pelo glorioso vaso de guerra em vigia aos perigosos "terroristas" do "Barco do Aborto" premeia a fúria louca neoconservadora e moralista. O que é magistralmente estupendo pelo resultado conseguido. Mesmo assim, a originalidade do dr. Sampaio, comovente "até às lágrimas", não obteve o resultado esperado. Ainda não foi desta que tivemos comandante. Per supoesto!

- as opiniões dos adeptos nativos e demais autoridades do futebol de bancada estão cada vez mais judiciosas. Os folhetos que imprimem nos jornais, televisão, rádio e blogs, são uma declaração surpreendente de espalhafatosas profecias, a saber: o temível FCP, sob o patrono desse jongleur Pinto da Costa, vai vassourar "cientificamente" as equipas adversárias. Implacável, a (agora) consolidada equipa azul e branca, irá registar, além de um futebol de ataque de grande fulgor filosófico e de uma viçosa defesa que causa inveja, infames vitórias sobre os ímpios. Os simpatizantes do Estádio do Dragão estão estimulados. A rapaziada indígena dos outros clubes, ao que parece, está resignada. Que malvadez! Deve o excelso campeonato continuar? Ou vamos ao próximo!? E há tempo?
Livros & Arrumações

- publicação do Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, 1935, de uma conferência realizada pela ocasião do Curso de Férias, de Eva Seifert, intitulada "Uma volta pelos arabismos da terra ibero-românica". Lê-se: "O legado dos muçulmanos oferece-nos como sopa a açorda, feita de pão, azeite e alhos; alguns preferirão talvez outra coisa: alfitete de ovos, açúcar, vinho e manteiga com uma fatia de pão. Esta última palavra deriva de fitãta «miga» e com ela formou-se o vocábulo alfitete. Haverá quem deseje um (a)tabefe «iguaria feita de leite, ovos e açúcar» ou «soro de leite coalhado» ou uma sopa de cúscus, «grânulos de farinha» (...) Para bem cozinhar, precisamos do azeite e do açúcar que tempera o alfenim, «massa de açúcar e óleo de amêndoa doce» e a aféloa, «massa de açúcar». No Minho comeríamos a falacha, «bolo de castanhas»".

- publicação "não periódica das Secções das Associações de Estudantes", de Março de 1966, dita "Cadernos Culturais", nº 1, com textos de: Eduardo Prado Coelho (Faculdade de Letras), "Questões prévias ao estudo da cultura universitária"; um texto de Arnaldo de Matos (Faculdade de Direito), "Cultura Universitária"; um outro de Jorge Veludo (Fac. Ciências), "Universidade e Cultura"; além da participação de Hélder Costa (Fac. Direito), Manuel Marcelino (Fac. Medecina), Vasco Teixeira da Silva (Fac. Medecina) , "A Situação da Arte na Sociedade Contemporânea" e de Sérgio Pombo Martins (Belas-Artes). Como nota final surge um esclarecimento sobre a proibição de um Curso de Sociologia e do Ciclo António Sérgio levado a cabo pelo Ministério de Educação. Estimado.