Obviamente, Mário Soares!Os mistérios presidenciais são um escolho fatal. Entre a razão e a emoção, entre súplicas e saudades, o sentimento que sobrevive a tudo isso é estar-se presente uma desconfortável
anomalia da vida política lusa. As flagelações intelectuais dos comentadores dos crentes, a longa jornada do calvário opinativo presenteada aos indígenas pelos régulos costumeiros & o decoro de alguns putativos candidatos, são enternecidas retóricas suspiradas sem felicidade, encanto ou glória, mesmo que a devoção seja imensa. Se o acontecimento presidencial não deixa de ser uma
tristeza absoluta, o desvelo de algum discurso oficioso resta um imenso ruído, habilmente alimentado. Mesmo uma outra qualquer discursividade, situada ou não à margem do território falante institucionalizado, esbate-se nessa paisagem de tédio e desassossego que consagra, definitivamente, a incapacidade de renovação do tecido político luso, à esquerda ou à direita. Daí a inquietude em tudo isto. E a bondade & o
apuro da escolha.
A querela
Soares versus Cavaco, apresentada com antecedência como facto consumado, tem as virtudes, além do exercício submisso de retórica, de clarificar, de uma só vez, quem quer novas e insanas
rupturas de regime - à boa maneira da enunciação de
António Barreto nos tempos idos da
AD (e que deu no que deu), e que contam com o entusiástico apoio de
Paulo Rangel et al, bem como do sector
neoconservador. A tarefa em causa será sempre uma imensa
cambalhota, se o putativo candidato for
Cavaco Silva [
C.S.]. Veremos se o "
pai" do monstro e apóstolo fervoroso da consumação do actual estado social, económico-politico, deixará de inspirar, para citar
Vasco Pulido Valente referindo-se ao prof. de
Boliqueime, "
um sentimento muito próximo do horror", apesar de
V.P.V. nos assegurar que "
um homem como ele não pode existir". Temos algumas
dúvidas desse sentimento vicioso.
Deixando de lado, por ora, esse cúmulo da perversidade que é transpor para a actual situação politica a impostura da exigência do debate económico, como se o Presidente fosse governo ou tivesse mandato para tal espectáculo; esquecendo mesmo, que no actual estado de coisas, um economista bom é um economista "
morto", tal o fado das vozes sediciosas, de
Beleza a
Ferreira Leite ou de
Pina Moura a
Constâncio, que ao longo dos anos nos conduziram a esta ruína ignominiosa; resta sorrir daqueles que, ora entendem, no reboliço das suas emoções, que um presidente como
Soares dará cobertura e apoio à actual governação de direita (daí, dizem, o esmero de
Sócrates na sua candidatura) ora gemem, em abatimento cívico, pela suposta conflitualidade que
Soares provocaria na maioria governamental. O gozo existente destas meditações não dá importância a qualquer contraditório. Isto é, se ao invés de
Soares lermos
Cavaco Silva, qual o cenário em ambos os casos? Parece
difícil atinar com as instruções dos cavaquistas.
Mas evidentemente que não é essa a questão principal. Mudar o regime, configurar o caudilho, dar novo fôlego à trapaça política e a novo compadrio clientelar, eis o que é prometido.
Contra isso, apesar das muitas criticas possíveis, resta apoiar ...
obviamente, Mário Soares.