quinta-feira, 25 de agosto de 2005


Elogio da vida portuguesa & aviso aos nobres leitores

"Dois copos no balcão. A garrafa / à mão" [E. G. Carneiro]

Senhores, o temor das palavras deslavadas que do charco da Nação ainda nos surpreendem, pisam os nossos pés. Acabados de arribar do doce pecado além-mar ou luz do mundo, a voz dos indígenas asseguram-nos que estamos em pastagem lusa. O taxista que não pastoreia já coisa alguma, diz-nos a oração costumeira: "os povos felizes não têm história". Evidentemente!

Sentimos, entretanto, a respiração do dr. Sampaio quando bradava contra o mundo infecto dos incendiários e ... padecemos. Sampaio tinha o corpo crivado de anos de relaxação governamental e felicidade urbano-depressiva. Todos desconheciam esse glorioso desembaraço. Mesmo os jornalistas. Sem mais, essa língua do céu que é o DN, declara a candidatura presidencial do excitante prof. Silva. Sem lastimar a nossa sorte, que as desgraças são tantas & sem repouso, sentimos de imediato a venerada atenção das donas-de-casa lusas, o arrebatamento republicano da sopeiral Helena Matos, o convite chez Espada Club para um tea-party liberal, a energia da escrita de Pulido Valente filho e as avés-marias de meia-dúzia de intelectuais ditos de gauche, todos esperando o Godot de Boliqueime. Entretanto, Figueira da Foz ardia e Coimbra expirava de dor. No resto do país o choro e o luto eram totais. Home sweet home.

Antes de abrir a alma ao casual rebuliço do leito, antes mesmo de tocarmos o silêncio no descanso das palavras, soubemos do encerramento do Arqueólogo, do Aviz, Azul Cobalto, Fora do Mundo e Joaquinzinhos. O mundo está, de facto, perigoso.