domingo, 7 de agosto de 2005


Curtas ou como amontoar cascalho

"Há penúria de escriturários. Tudo corre para o jornalismo" [Karl Krauss]

- à sombra da adega, que a noite era devota para animar o gentio de Vilarelho, a rapaziada da Periférica fez uma ousada entrevista a Helena Matos, conhecida militante liberal e escriba privativa d'O Público. A ventura desta arrojada paixão pelas sentenças sopeirais da dita senhora lá foi germinando, presume-se entre algum desporto líquido presenteado pelo verde puríssimo e o debate sobre as ilustrações da Atlântico, ocupando algumas páginas hilariantes da revista dos moçoilos. O calão político vulgaríssimo da grande educadora liberal foi de uma puerilidade feminina espantosa. A erudição não foi bem trabalhada. A trovadora liberal orna a ignorância com vistosa colheita de mesa-de-café. Compreende-se, pois, que o clamor picaresco da estimosa senhora eduque a boa gente liberal. Após alusões de circunstância e outras regateiradas, os entrevistadores e a insigne senhora partiram de enxada às costas para novas pregações. Virtude admirável! Quem os viu assegurou que os seus lábios eram avaros. Tal como os dias.

- a saraivada de "livros para férias" que o prof. de Oxford, João Carlos Espada, da mansidão da rotina da silly season descreve, no Expresso, para uso e abuso de veraneio, são mimosas leituras para corpos delicados e espíritos abatidos. O colunista do "Mar Aberto", averso a leituras ao longo do annus horribilis de práticas gastronómicas, assinala copiosas obras, a saber: o conhecido Martin Wolf, tormento do magistério de José Manuel Fernandes; o lembrado "What América Can Learn from School Choice in Other Countries", onde se celebram virtudes aos pobres e à classe operária em geral; as controvérsias de Scalia, para constitucionalistas prudentes e seus confessores; a narrativa social-cristã de D. António dos Reis Rodrigues sobre o lugar da Família, da propriedade privada e do Estado (versão soft de Engels); um tal "Milagre Português", croniquetas de desmando panfletário do César das Neves e 1 (um) romance recrutado ao inefável arq. António José Saraiva. Ficámos acabrunhados. Nem um policial de algibeira, uma poesia inspirada, ou romances e novelas graciosas, nos foram impacientemente sugeridos. O clima poético ou romanceado da livraria avulsa do colunista não atinge a altura intelectual chez Espada. O coração livresco do desabusado professor é um desastre. Confirma-se, assim, o dizer: "as obras fazem os homens diferentes". Boas leituras.