Aniversários Sempre!
Nós por cá não gostamos de perder um aniversário. Temos paixão por coisas simples. Nós por cá é mais bolos. E champanhe. Desde que o sorriso travesso, a respiração e a vertigem das palavras seja essa demanda de todos os dias. Daí acreditarmos no verbo dos aniversariantes Adufe, Retórica e Persuasão (24 de Junho !? pode lá ser?) e Opiniondesmaker (21 de Junho já passou?). Mesmo que o acto de revelação dos últimos já tenha ocorrido no tempo, temos esta mania de enviar ... Parabéns. Para que conste!
sexta-feira, 2 de julho de 2004
Fernando Valle - Um Aristocrata da Esquerda
Dia 6 de Julho em Lisboa e dia 9 de Julho em Coimbra, lançamento do livro "Fernando Valle - Um Aristocrata da Esquerda", da autoria de Fernando Madail (jornalista do DN) e prefácio de Mário Soares.
- Lisboa (18.30 horas) no Auditório da Fundação Mário Soares, com a presença de Mário Soares, Almeida Santos, Manuel Alegre e Fernando Valle
- Coimbra (18.30 horas) no Anfiteatro 2 da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Estarão presentes, António Arnaut, Fausto Correia e o biografado Fernando Valle.
Fernando Valle nasceu na Cerdeira, Arganil, em 30 de Julho de 1900. Estudou inicialmente em Coja, tendo ido para Coimbra continuar os estudos liceais, completando posteriormente o curso de medicina. Foi exercer a profissão em Arganil, onde fez um trabalho meritório em prol do Hospital e das sociedades culturais e recreativas locais. Manifestando um interesse particular por questões sociais e políticas, este médico e maçon (o mais velho do mundo, possivelmente) é demitido de cargos públicos por apoiar a candidatura de Norton de Matos, apadrinha a candidatura de Humberto Delgado, é preso em 1962 (partilhou a cela com José Mário Branco), preside à reunião inicial da fundação do Partido Socialista, na Alemanha, tendo pertencido à Comissão Administrativa de Arganil a seguir ao 25 de Abril e, pelo I Governo Constitucional, exerceu o cargo de Governador Civil de Coimbra. Uma vida inteira dedicada a lutar "pela libertação do homem ... um regime de direito em que seja possível, de facto, a paz, a liberdade e a justiça social". Uma vida exemplar, diremos nós.
Livros & Arrumações
- Curioso opúsculo "A Questão Litteraria a propósito do jazigo de José Estêvão. Cartas dos Senhores A. F. de Castilho e J. A. De Freitas Oliveira", 1866.
"... a litteratura aqui em Lisboa, creia-o v. exª, não existe. As boas lettras, as lettras gordas, a sciencia, a plástica e a esthetica aninharam-se nas margens do Mondego, e nas do Douro; e as academias d'onde há de sair a verdadeira luz chamam-se o Lopes, o Carollo, e a taverna allemã da Joanna Pedra. O Grande Oriente esse é no Moré e na Águia d'Oiro.
A moral e a philosophia também passaram por grandes transformações. Hoje ser philosopho é não lavar a cara, nem as mãos, senão no dia do aniversario de Schiller. Quanto mais horror à agua, mais philosophia ..."
- Do Boletim da Academia Portuguesa de Ex-Libris, Janeiro nº10, 1959, registe-se para além do ex-libris de Adelino da Palma Carlos ("homem nu em atitude de esculpir a palavra Quero ... um ramo de carvalho com bolotas - símbolo da Força - saindo das volutas dum listel"), do Dr. Alfredo Manuel Pimenta (dizeres "Fortiter in re, suaviter in modo"), Dr. João de Meira, Don César Martinell Brunet, António Sardinha (conclusão de "Dois Ex-Libris de António Sardinha. Os Sardinhas de Elvas"), há um texto de Álvaro Ribeiro (Ignorância Positiva e Viação Simbólica), um trabalho sobre o poeta Francisco Bugalho por Luiz Moitinho de Almeida e, principalmente, um texto sobre Fernando Pessoa (Fernando Pessoa Tradutor e Astrólogo)
- Curioso opúsculo "A Questão Litteraria a propósito do jazigo de José Estêvão. Cartas dos Senhores A. F. de Castilho e J. A. De Freitas Oliveira", 1866.
"... a litteratura aqui em Lisboa, creia-o v. exª, não existe. As boas lettras, as lettras gordas, a sciencia, a plástica e a esthetica aninharam-se nas margens do Mondego, e nas do Douro; e as academias d'onde há de sair a verdadeira luz chamam-se o Lopes, o Carollo, e a taverna allemã da Joanna Pedra. O Grande Oriente esse é no Moré e na Águia d'Oiro.
A moral e a philosophia também passaram por grandes transformações. Hoje ser philosopho é não lavar a cara, nem as mãos, senão no dia do aniversario de Schiller. Quanto mais horror à agua, mais philosophia ..."
- Do Boletim da Academia Portuguesa de Ex-Libris, Janeiro nº10, 1959, registe-se para além do ex-libris de Adelino da Palma Carlos ("homem nu em atitude de esculpir a palavra Quero ... um ramo de carvalho com bolotas - símbolo da Força - saindo das volutas dum listel"), do Dr. Alfredo Manuel Pimenta (dizeres "Fortiter in re, suaviter in modo"), Dr. João de Meira, Don César Martinell Brunet, António Sardinha (conclusão de "Dois Ex-Libris de António Sardinha. Os Sardinhas de Elvas"), há um texto de Álvaro Ribeiro (Ignorância Positiva e Viação Simbólica), um trabalho sobre o poeta Francisco Bugalho por Luiz Moitinho de Almeida e, principalmente, um texto sobre Fernando Pessoa (Fernando Pessoa Tradutor e Astrólogo)
quarta-feira, 30 de junho de 2004
Aqui mar da alma ...
O futebol é todos os dias. Hoje é quarta-feira. É assim há muito, dizem-nos, mas p.f. passa por mim em Alvalade, que gostamos de estar com os amigos. Para que se saiba. Bendito é o jogo que nos esgota de felicidade. Hoje e depois. Sempre. Os afectos não se querem esquecidos. Boa sorte!
"O Porco-Espinho e a Raposa"
"Um verso, colhido entre os fragmentos do poeta grego Arquíloco, assim se expressa: «A raposa conhece muitas coisas, mas o porco-espinho conhece só uma e muito importante». Os estudiosos divergem sobre a interpretação correcta dessas palavras obscuras, que talvez signifiquem apenas isto: a raposa, em que pese a sua astúcia, é derrotada pela única defesa do porco-espinho. No entanto, tomadas figuradamente, tais palavras talvez encerrem um sentido em que caracterizem uma das mais profundas diferenças que dividem escritores e pensadores e, talvez, os seres humanos em geral. Existe, um fosso profundo entre os que, de um lado, relacionam tudo a uma grande visão central, a um sistema mais ou menos coerente e articulado, pelo qual compreendem, pensam e sentem - um princípio organizador único e universal, exclusivamente em função do qual tudo o que são e dizem possui significado - e, de outro lado, aqueles que perseguem vários fins, muitas vezes sem relação mútua e até mesmo contraditórios, ligados - se é que são - apenas de facto, por algum motivo psicológico ou fisiológico, cujo relacionamento não obedece a nenhum princípio moral ou estético (...) O primeiro tipo de personalidade intelectual e artística pertence aos porco-espinhos, o segundo, às raposas ..." [Isaiah Berlin, in Pensadores Russos]
BOCAS DA SAISON
- Notícias postas a circular por varinas sensatas e utilíssimo para todos os remédios, contra o sono do esquecimento [ou à saudosa memória do Pão com Manteiga]
Alberto João Jardim declara que os Santanistas andam mais de bicicleta que os Mendistas ou Barrosistas porque desde criancinhas foram ensinados a pedalar / Telmo Correia afiança que Jorge Sampaio é o melhor dos presidentes em exercício / Luís Delgado intervém na SIC assegurando ter sido "assassinado no dia anterior" por um comando Ferreira Leite / Marques Mendes vai a S. Bento, mas não entra porque a lotação está esgotada / Dias Loureiro põe a circular o rumor de que Durão Barroso continua primeiro-ministro / António Borges "come o porta-moedas" que Manuela Ferreira Leite lhe ofereceu, junto ao Banco de Portugal / Vasco Rato não garante que a seguir a Barroso, o Breve, suceda Santana, o Demorado / O Comissário Europeu Martins da Cruz "vai colocar uma ratoeira debaixo de uma das teclas" do PC de José Manuel / Michael Moore convida Luís Delgado para herói da sua próxima película / Um grupo de militantes do PPD/PSD envia "um frasco de sapos vivos" a Marcelo Rebelo de Sousa / Durão Barroso declara que vai demitir-se perante o pavor de Santana Lopes que ensaia a fuga para S. Bento / João Almeida mascara-se de Morais Sarmento, pelo que está a deixar crescer a barba / Fonte anónima assegura que a sorte grande saída a Paulo Portas se trata de inside trading / Paulo Pinto Mascarenhas não tem dúvidas: "Um regime autoritário acerta sempre no 13" / Adelino Salvado confessa que "as escutas telefónicas são feitas por fiscais de linha"
terça-feira, 29 de junho de 2004
Antoine de Saint Exupéry (1900-1944)
n. em Lyon a 29 de Junho de 1900
"... Só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar - disse o rei -. A autoridade baseia-se, antes do mais, no bom senso. Se um rei ordenar ao seu povo que se deite ao mar, ele revolta-se. Eu, tenho o direito de exigir obediência porque as minhas ordens são sensatas.
- E então o meu pôr do Sol? - lembrou o principezinho que, uma vez que a tivesse feito, nunca desistia de uma pergunta.
- Calma, que o hás-de ter. Eu assim o exijo. Mas a minha ciência de governação recomenda-me que espere pelas condições mais favoráveis.
- E quando é isso? - tentou o principezinho informar-se.
- Ora bem ... Ora bem ... - respondeu o rei, pondo-se a consultar um grande calendário - Ora bem ... deve ser lá para ...lá para ... lá para as sete e quarenta! E vais ver que sou cegamente obedecido ..."
[A. de Saint-Exupéry, in O Principezinho]
Santana Lopes, Figueira da Foz et pour cause ...
António não pretende instruir algum leitor ou fazer prova afadigada da borrasca Santanista na Figueira da Foz. Não é daqueles que saem disparando setas, pedantemente, espingardando lérias para zumbir sobre quem quer que seja. António não é daqueles que ruminam qualquer rancor obscuro ou pensamento pecaminoso. Tão só manifesta a autoridade de quem acompanhou, de perto, a oratória e o desempenho cívico de Santana Lopes na cidade da Figueira. Nada de espantos, portanto.
" ... Segui de perto a gestão autárquica de Santana Lopes na Figueira da Foz, conheço a lógica dos seus devaneios pueris, o seu carácter inconstante, a necessidade telúrica e febril de ser amado e ovacionado, o sentido messiânico de que se julga imbuído.
Santana tem uma relação doentia - psicótica - com a política, quase diria esquizofrénica.
Esta abordagem ologopática do poder coloca de lado a racionalidade e faz emergir o seu lado emotivo. Em Santana, toda a abordagem do poder é apaixonada, efémera e superficial. Esvai-se numa chama de muito calor e escassa duração. Santana usa o poder como D. Juan usava a alcova: numa busca insciente de si próprio, como alguém que deseja ver-se num espelho de múltiplos reflexos e nunca se vê. Esta paixão - narcísica e egocêntrica - exclui o outro, quando o outro se afirma enquanto tal. Por isto, Santana não suporta a discórdia, o são exercício da liberdade de pensar e contraditar, o que o faz rodear-se de yes men, auxiliares serviciais do seu insaciável ego. Estes, embora possam ter mérito ou competência para o exercício de funções políticas, cedo se tornam clones patéticos da sua vaidade.
Esta forma de exercitar a capacidade de mando é perigosa, porque não conhece limites de ordem alguma - veja-se a forma como se endividou a autarquia figueirense, os projectos megalómanos, as ânsias apopléticas de engrandecimento, debitadas todas na propaganda e na manipulação dos diferentes agentes sociais. É perigosa ainda, porque a insaciabilidade do monstro assim criado - leia-se do poder - torna-se invasiva e avassaladora nas suas pretensões. Esmaga quem tiver que esmagar." [António, in Serra-a-Velha]
Blogs da Figueira da Foz
"... Ter nascido à beira-mar é como ter nascido debruçado sobre a vida. Tudo é irrevogável nos decretos do tempo. Aquelas águas sobre cuja placidez o homem é tão impotente como sobre a placidez das estrelas, revestem-se de uma majestade divina. Não há searas no mar ..." [Gaspar Simões]
A Figueira da Foz, esbatida junto ao mar, feita para deleite das almas em veraneio, prenhe de sabedoria, não fica enxorada nas areias Santanistas de antanho. Ou no five o'clock tea do trottoir do Kasino. Muito menos sucumbe aos encantamentos do reaparecido Oásis. Não! A Figueira é implacável nas reprimendas, insubmissa mesmo quando frequenta o CAE, admirável de gargalhadas quando é mordaz. Única, quando a manipulam.
A atmosfera marinhada dos blogs figueirenses é uma formidável lança que varre a mediocridade indígena. Um colorido imperioso que deslumbra. Amicus Ficaria, Passeio Público, Quac Quac, Quinto Poder e Serra-a-Velha ... ao vosso dispor.
À Volta dos Blogs
- CPeC: Crise Política em Curso. Eis mais uma iniciativa de Paulo Querido, que não para de nos surpreender. Lê-se: "O CPeC pretende agregar numa lista o maior número de entradas e textos cuja temática se prenda com a crise política levantada em Portugal na semana de 21 a 27 de Junho, quando o Primeiro-Ministro colocou a hipótese de abandonar o Governo para se tornar presidente da Comissão Europeia. A natureza dispersa da blogosfera torna difícil seguir o curso das opiniões publicadas e esta lista é um instrumento para minorar essa dificuldade». A não perder.
- Parabéns: Memória Virtual. Muitos e bons.
- CPeC: Crise Política em Curso. Eis mais uma iniciativa de Paulo Querido, que não para de nos surpreender. Lê-se: "O CPeC pretende agregar numa lista o maior número de entradas e textos cuja temática se prenda com a crise política levantada em Portugal na semana de 21 a 27 de Junho, quando o Primeiro-Ministro colocou a hipótese de abandonar o Governo para se tornar presidente da Comissão Europeia. A natureza dispersa da blogosfera torna difícil seguir o curso das opiniões publicadas e esta lista é um instrumento para minorar essa dificuldade». A não perder.
- Parabéns: Memória Virtual. Muitos e bons.
segunda-feira, 28 de junho de 2004
Silêncio Ensurdecedor
Ao contrário do que se passa nos jornais, TV e nos Blogs, o silêncio sobre a tragédia do frete de Barroso à UE é ensurdecedor entre a classe política indígena e seus serviçais. A intensidade da criação e reflexão da direita/extrema-direita, a delicadeza do seu mutismo, a ideia evidente que não enxergam um palmo à frente do nariz, diz muito sobre a classe intelectual desses candongueiros da democracia.
Um anúncio assim, de tão extraordinário como inaudito, amortalha a rapaziada da classe política e os jovens turcos - todos ainda a esfregar a cara e a dar contas à vidinha -, e faz tremer qualquer um. O dernier cri é estar sossegado, pouco suspeitoso e observar a circulação. Acredita-se que em fase meditabunda não se esqueçam que "quando a imprudência vem de cima, a revolução vem sempre de baixo", como diria Gomes Leal.
Entretanto, para se confirmar como a malfadada inteligência da rapaziada apaixonada do Portas & Lopes lhes atordoa o juízo - julga-se que na falta do pai putativo Rato-, tenha-se em conta o que é eruditamente estampado no Acidental. Diz muito do que será os próximos dois anos de governação do Lopes. Não há engano possível: aquele rapaz, PPM, irá a ministro. Só pode.
À Volta dos Blogs
- [Via Incoming Signals] "Wonderful news: Ubuweb has created a permanent archive of the 365 Days Project, Otis Fodder's fantastic collection of outsider-music mp3s, which had gone offline in January ..."
Não resistimos:
1. LaurieAnderson TWO SONGS FOR TAPE BOW VIOLIN:(4:06)ETHICS IS THE ESTHETICS OF THE FEW-TURE (Lenin) SONG FOR JUANITA, 1977
2. Guy Debord Excerpt from soundtrack to Critique de la separation (Dansk-Fransk Experimentalfilmskompagni,1961
3. Allen Ginsberg | I'm a Victim of Telephones (1:30, Recorded GPS, December 1968)
4. Allen Ginsberg: C.I.A. Dope Calypso 4:00
5. William S. Burroughs|What Washington,What Orders(recorded GPS, April 1, 1974)
6. John Cage |excerpt from Silence(1:55, recorded Carbondale, Indiana, March 1969)
- [Via Incoming Signals] "Wonderful news: Ubuweb has created a permanent archive of the 365 Days Project, Otis Fodder's fantastic collection of outsider-music mp3s, which had gone offline in January ..."
Não resistimos:
1. LaurieAnderson TWO SONGS FOR TAPE BOW VIOLIN:(4:06)ETHICS IS THE ESTHETICS OF THE FEW-TURE (Lenin) SONG FOR JUANITA, 1977
2. Guy Debord Excerpt from soundtrack to Critique de la separation (Dansk-Fransk Experimentalfilmskompagni,1961
3. Allen Ginsberg | I'm a Victim of Telephones (1:30, Recorded GPS, December 1968)
4. Allen Ginsberg: C.I.A. Dope Calypso 4:00
5. William S. Burroughs|What Washington,What Orders(recorded GPS, April 1, 1974)
6. John Cage |excerpt from Silence(1:55, recorded Carbondale, Indiana, March 1969)
domingo, 27 de junho de 2004
Santana Lopes ou Nós
"Nothing is but what is not ..." [W. S. in Macbeth]
Não é difícil de pressagiar o que sobrevirá à aventura Santana Lopes. Não há nisto nada de novo. Os acontecimentos, por muito emocionais que sejam, só podem conduzir ao caos social e político, tal a hostilidade que o cenário Lopes & Portas indicia. Não podem causar espanto, portanto, a dramatização e a denúncia vindos de diferentes sectores da sociedade portuguesa. Nada de novo, portanto. O que parece ser novo é a imprudência de algumas afirmações, aqui e ali proferidas, o protesto populista (mesmo que sincero) posto a circular e, principalmente, o descuido da exigência do rigor na análise, que estas situações comportam.
Expliquemos: Do ponto de vista constitucional não existe qualquer impedição para que a Assembleia da República não continue em funções. O senhor Presidente da República terá a última palavra, certamente, mas se a obsessão de Jorge Sampaio por essa figura irrealista da estabilidade politica persistir (como infelizmente parece acontecer), então não haverá lugar a eleições. Ora, se a legitimidade formal do novo governo não é questionável, a avaliação do desempenho do governo de Durão Barroso já o é. Os cidadãos eleitores ficam, objectivamente, impedidos de exercer esse imprescindível exercício democrático, porque na verdade ao fim da legislatura não estão a classificar as mesmas políticas e os mesmos intérpretes. A fraude é evidente. E se no invés de Santana estiver a Ferreira Leite, passe a maior legitimidade processual, a posição mantém-se.
Em termos da caracterização do populismo Santanista, parece-se ignorar os seus potenciais perigos. Não se trata, meramente, de assistir a substituição do Diário das Sessões pela Gente ou pela Lux, de ver a aprovação de medidas para relvar todo o país, ou mesmo pela vaidade de construir uma sala oval em S. Bento. É divertido e imaginativo, mas há muito mais a ter em conta para além da fatuidade e do seu espectáculo. É que, por detrás do risonho Lopes e a pretexto do bem público, reside toda uma máquina de evangelização e doutrinação, aonde a lei está sistematicamente ausente, a autoridade é um meio de promoção unipessoal e a favor do grupos de amigos e onde a resistência democrática é simplesmente banida. Quem por isso passou sabe do que aqui se fala. Santana Lopes é o Berlusconi indígena. Quem disso se esquecer não viverá para contar. E não é aceitável pensar que a esquerda aproveite com a chegada de Lopes ao Governo, como alguns registam. Desde logo porque o populismo não lhes dará essa amabilidade, nem o cenário económico que se aproxima o possibilita. É bom não esquecer.
[Não fujas]
"... Não fujas. Tem ânimo e contempla-te. «Que direito teme este tipo de dizer-me o que quer que seja?» Leio esta pergunta nos teus olhos amedrontados. Ouço-a na sua impertinência, Zé Ninguém. Tens medo de olhar para ti próprio, tens medo da crítica, tal como tens medo do poder que te prometem e que não saberias usar. Nem te atreves a pensar que poderias ser diferente: livre em vez de deprimido, directo em vez de cauteloso, amando às claras e não mais como um ladrão na noite. Tu mesmo te desprezas, Zé Ninguém. Dizes: «Quem sou eu para ter opinião própria, para decidir da minha própria vida e ter o mundo por meu?» E tens razão: Quem és tu para reclamar direitos sobre a tua vida? ..."
[Wilhelm Reich, in Escuta, Zé Ninguém!]
"... Não fujas. Tem ânimo e contempla-te. «Que direito teme este tipo de dizer-me o que quer que seja?» Leio esta pergunta nos teus olhos amedrontados. Ouço-a na sua impertinência, Zé Ninguém. Tens medo de olhar para ti próprio, tens medo da crítica, tal como tens medo do poder que te prometem e que não saberias usar. Nem te atreves a pensar que poderias ser diferente: livre em vez de deprimido, directo em vez de cauteloso, amando às claras e não mais como um ladrão na noite. Tu mesmo te desprezas, Zé Ninguém. Dizes: «Quem sou eu para ter opinião própria, para decidir da minha própria vida e ter o mundo por meu?» E tens razão: Quem és tu para reclamar direitos sobre a tua vida? ..."
[Wilhelm Reich, in Escuta, Zé Ninguém!]
Emma Goldman (1869-1940)
n. na Lituânia a 27 de Junho de 1869
"A verdadeira emancipação começa ... na alma da mulher ..."
"... Se alguém quer desenvolver-se livre e plenamente, tem que se ver livre da interferência e da opressão dos outros ... Isto nada tem a ver com ... individualismo exacerbado. Tal individualismo depredador é na realidade débil, não robusto. Ao menor perigo à sua segurança, corre em direcção ao Estado para buscar refúgio e ajuda pela sua protecção ..."
"... A verdadeira liberdade é positiva; é a liberdade em direcção a qualquer coisa, a liberdade de ser, de fazer, e os meios dados para isso. Não pode tratar-se de um dom, mas de um direito natural do homem, de todos os seres humanos. Este direito não pode ser acordado ou conferido por nenhuma lei, nenhum governo. A necessidade, o desejo ardente faz-se sentir em todos os indivíduos. A desobediência a todas as formas de coação é a sua expressão instintiva. Rebelião e revolução são tentativas mais ou menos conscientes e sociais, são as expressões fundamentais dos valores humanos ..."
"... Em Emma Goldman, no princípio, estava um desejo de justiça, de amor e liberdade. Foi esse desejo que ela viveu e serviu, sempre recusando-se a submetê-lo a regras de eficácia ou de lógica (...) Por isso lutou pela felicidade, pela igualdade social, pelo direito à liberdade, pela beleza das flores e cores, pelo prazer e pelo amor, sem estabelecer hierarquias. Imagino que isso signifique ser radical. Recusar etapas, objectivos ambíguos, meias palavras. Recusar a servidão sob quaisquer de suas formas" [Beth Lobo]
sexta-feira, 25 de junho de 2004
Durão Barroso - Presidente da Comissão Europeia
Definitivamente, Durão Barroso vai ser candidato a Presidente da Comissão Europeia, sucedendo a Romano Prodi. É bom para Portugal e para a Europa. O facto, é que um mau primeiro-ministro de Portugal pode ser um excelente Presidente da Comissão. Não há qualquer contradição. A escolha de Durão Barroso serve os interesses e as diversidades dos vários países e brinda-nos com alguma vaidade. Assim Barroso saiba compreender o porquê da candidatura e, certamente, da sua eleição.
Uma outra questão é a particularidade da nomeação de Santana Lopes (como refere a SIC) para primeiro-ministro de Portugal. Uma leitura óbvia é que o populismo e a incompetência mais abjecta chegam ao poder. Já lá estavam, poderão dizer alguns. Decerto, mas a esta precipitada improvisação é um golpe palaciano que instala a barafunda e a falta de respeito pelos cidadãos eleitores. Mesmo entre os sociais-democratas. Curiosamente, o sublime disto tudo é que o PSD social-democrata e liberal é, decididamente, afastado da tarefa da governação. E o garoto da rua Paulo Portas vê-se assim auxiliado, inesperadamente, pelo seu amigo Lopes. Os próximos tempos serão de cortar à faca. Por último, como se estará a sentir o douto e perspicaz prof. Marcelo? Estará engasgado nas análises que lhe escaparam? Ou andará a limpar as armas? Aguardemos.
Natureza do Mal: um Manual de Civilidade
Todos os dias a Natureza do Mal deixa uma oração luxuriosa a todos os penitentes da blogosfera. O olhar de Sofia é o nosso exílio amoroso. As maldades nocturnas do Luís não têm emenda. André Bonirre ergue o cálice. São cruéis. Não se trocam contra reclamações. Dizem que são aniversariantes hoje, mesmo que o próximo dia 27 seja esse momento mágico em que se ouve o bater do coração. Parabéns.
Todos os dias a Natureza do Mal deixa uma oração luxuriosa a todos os penitentes da blogosfera. O olhar de Sofia é o nosso exílio amoroso. As maldades nocturnas do Luís não têm emenda. André Bonirre ergue o cálice. São cruéis. Não se trocam contra reclamações. Dizem que são aniversariantes hoje, mesmo que o próximo dia 27 seja esse momento mágico em que se ouve o bater do coração. Parabéns.
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