domingo, 8 de fevereiro de 2004
SERÃO TRÊS VEZES ...
[Serão três vezes]
"Serão três vezes dados os sinais...
Três vezes a incerteza seguirá...
E três vezes a esperança voltará,
Sobre três intervalos siderais
Tudo em três vezes, firmes e fatais,
Se irá passando como escrito está...
E o livro do destino se abrirá
Por três vezes distintas e iguais..."
[Augusto Ferreira Gomes, in Quinto Império, 1934]
ÉLIPHAS LÉVI [1810-1875]
n. em Paris, a 8 de Fevereiro de 1810
"Os franco-maçons tiveram sua lenda secreta; é a de Hiram, completada pela de Ciro e de Zorobabel. Eis a lenda de Hiram: Quando Salomão mandou construir o templo, confiou seus planos a um arquitecto chamado Hiram. Este arquitecto, para por ordem nos trabalhos, dividiu os trabalhadores segundo sua habilidade e como era grande o número deles, a fim de reconhecê-los, quer para empregá-los segundo seu mérito, quer para remunerá-Ios segundo seu trabalho, ele deu a cada categoria de aprendizes, de companheiros e aos mestres palavras de passe e senhas particulares... Três companheiras quiseram usurpar a posição de mestres, sem o devido merecimento; puseram-se de emboscada nas três portas principais do templo, e quando Hiram se apresentou para sair, um dos companheiros pediu-lhe a palavra de ordem dos mestres, ameçando-o com sua régua. Hiram lhe respondeu: "Não foi assim que recebi a palavra que me pedis". O companheiro furioso bateu em Hiram com sua régua fazendo-lhe uma primeira ferida. Hiram correu a uma outra porta, onde encontrou o segundo companheiro; mesma pergunta, a mesma resposta, e esta vez Hiram foi ferido com um esquadro, dizem outros com uma alavanca. Na terceira porta estava o terceiro assassino que abateu o mestre com uma machadinha (...)
Cada grau da ordem possui uma palavra que lhe exprime a inteligência. Não há senão uma palavra para Hiram, mas esta palavra pronuncia-se de três maneiras diferentes. De um modo para os aprendizes, e pronunciada por eles significa natureza e explica-se pelo trabalho. De outro modo pelos companheiros e entre eles significa pensamento explicando-se pelo estudo. De outro modo para os mestres e em sua boca significa verdade, palavra que se explica pela sabedoria. Esta palavra é a de que servem para designar Deus, cujo verdadeiro nome é indizível e incomunicável..." [Eliphas Lévi, Lenda de Hiram]
Locais: Biografia / Eliphas Lévi / Eliphas Levi (1810-1875) / Levi, Eliphas / Éliphas Lévi was a freemason / A Chave dos Grandes Mistérios / O Livro dos Sábios / Fiches de Lecture
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2004
ANOTAÇÃO SOBRE O MARTINISMO
[Pascoal Martins] "era um hebreu português foragido em França, onde reorganizou o kabalismo maçónico (Lojas em Bordéus, Marselha, Tolosa) (1760) e Paris (1768) tendo, segundo J. Bertrand (L'Occultisme Ancien et Moderne, Paris 1900) como discipulos principais Van-Loo, Saint-Martin e Bacon de la Chevalerie. Ao principio algumas tradições maçónicas não ligaram importância ao movimento. É o que se deduz da Biblioteca Maçónica, dedicada aos Orientes Lusitano e Brasiliense por um Cav. Rosa-Cruz, pag. 118, 1º vol. Em França parece que só se conhece o 1º volume desta rara e interessante publicação, dando-se como único publicado. Possuímos os quatro volumes publicados em França, os três primeiros em 1840 e o quarto em 1834 (o que supõe outras edição, tendo o quarto servido a bastas iniciações)
O Martinismo ainda hoje se mantem espalhado por toda a América e Europa (...) Gil Eanes ou Gil Rodrigues de Valadares andou imerso e apagado no agiologios até a aspiração romântica de Almeida Garrett (D. Branca e Viagens na Minha Terra). Fidelino de Figueiredo reduziu-o a uma interpretação naturalista (Serôes vol. XIII), António Correia de Oliveira criou-lhe uma aura panteísta (Tentações de S. Fr. Gil), o dr. Teófilo Braga reevoca-o num poema, encarnando sedentamente o platonismo (Fr. Gil de Santarém). A ementa agiologica pode ver-se nessa obra. José Pereira Sampaio aborda-o rapidamente (...) Goethe abordou a tragedia da psicose magica porque era um iniciado (...) Depois de ter recebido a iniciação em Francfort o grande dramaturgo estudou, dirigido po M.elle de Kletenberg, o Opus Mago-Cabalisticum de Weling, a Áurea Catena Homeri e as obras de Paracelso, da Agripa, etc. Os hermetistas alemães chamam ao Fausto, o Livro dos Sete Selos (Das Buch mit Sieben Siegeleng)
(...) De Dom Francisco Manoel foi publicado com as licenças da Inquisição o «Tratado da Sciencia Cabala» (1724) em edição póstuma. É um estudo rudimentar mas curioso (...) O Visconde Miguel Maria de Figanière, autor do Mundo, Sub-Mundo e Supra-Mundo, que Inocêncio não cita, primo co-irmão de Serpa Pinto, a quem dedica esta obra, pela afinidade das suas convições teosóficas, é pouco menos que ignorado em Portugal. (...)
[João Antunes, in nota de pé-página (p. 127) de Oedipus A Historia e a Filosofia do Hermetismo, Lisboa, 1917]
"A vida é mesmo assim"
A Expansão Vertiginosa entrou em pousio. Para leedores caprichosos e soberbos, lobo em deserto puro, deu-nos ao longo de 6 meses prosa admirável, reflexões devotas e curiosidades mil. Antiquíssimo cantar da ciência, da arte ... da vida. Poemactos. Feitos por um cavaleiro da ciência, para nós ... profanos. A Expansão Vertiginosa entrou em dormência. Outros desafios, presumo. Até breve.
[Agosto de 1979 ?] Na mão, um rascunho de missiva manuscrita para o Luso, feita, talvez, depois da bica no Crespo ou a altas horas parida na Torre altaneira. Miscelânea de sinopses. Lá estavam, admiráveis de frescura, Sraffa, a equação de Bethe-Salpeter, Frobenius, Almada, o pêndulo de Foulcault, Luiz Pacheco (saindo insidioso da livraria Leitura), F. Pessoa, Manuel de Lima, os Smiths, Miles Davis e Filles de Kilimanjaro, Borges e Mishima, as máximas de Occam (filósofo e monge franciscano do sec. XII) com ligação aos Rosa Cruz de Max Heindel, o L'Ésprit, Antonioni à cause de "identificação de uma mulher", Deleuze/Guatarri (sempre!), a querida Natália Correia, a Sociedade literária e filosófica de Manchester e a teoria cinética. E tantos mais. 1979 (?). Jogava-se xadrez, fustigava-se o computador, ensaiava-se o pau chinês no bridge, saudava-se os amigos com garrafas de Porto, saídas de velhas caixas de madeira, made D. Adelaide Ferreira (a Barca Velha ficou para depois), Monte Cristo 4, tudo na mais deliciosa das confusões. E vigiava-se a Praça. A Torre era opulenta. Nós espantosamente vivos. Deo Gratias!
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2004
Discurso sobre a Paz
"Já no final de um discurso extremamente importante
o grande homem de Estado engasgando
com uma bela frase oca
escorrega
e desamparado com a boca escancarada
sem fôlego
mostra os dentes
e a cárie dentária dos seus pacíficos raciocínios
deixa exposto o nervo da guerra:
a delicada questão do dinheiro."
[J. Prévert, Discurso sobre a Paz, trad. S. Santiago]
"Já no final de um discurso extremamente importante
o grande homem de Estado engasgando
com uma bela frase oca
escorrega
e desamparado com a boca escancarada
sem fôlego
mostra os dentes
e a cárie dentária dos seus pacíficos raciocínios
deixa exposto o nervo da guerra:
a delicada questão do dinheiro."
[J. Prévert, Discurso sobre a Paz, trad. S. Santiago]
Jacques Prévert [1900-1977]
n. em Neuilly-sur-Seine, a 4 de Janeiro de 1900
"... Jacques Prévert parece que a saltar ao eixo, é o termo, conseguiu a proeza de passar do primeiro ao terceiro estádio, e não só conseguiu como soube manter-se em posição de renovar o salto em sentido inverso, e assim sucessivamente. Um pé no ele, outro no eu, este último quanto possível diferençado do supereu postiço, ou então melhor e como ele próprio disse, «um pé na margem direita, outro na margem esquerda e o terceiro no rabo dos imbecis», dispõe soberanamente da concisão susceptível de nos transmitir num relâmpago toda a caminhada sensível e esplendorosa da infância, e abastecer ao infinito os reservatórios da revolta" [in Antologia do Humor Negro, Afrodite, 1973]
"... Era tudo tão verdadeiro, deliciosamente encantador, e de gosto tão fino, que à chegada do presidente com uma sumptuosa cara de ovo de Colombo foi o delírio.
- Era simples, mas tínhamos de puxar pela cabeça - diz o presidente ao desdobrar o guardanapo, não podendo os convidados refrear a emoção perante tanta malícia e simplicidade; um grande industrial derrama verdadeiras lágrimas de alegria através dos olhos cartonados de crocodilo, outro mais pequeno mordisca a mesa, lindas mulheres esfregam suavemente os seios e, arrastado pelo entusiasmo, o almirante bebe uma taça de champanhe pelo lado contrário, trinca de pé pregado à balaustrada da cadeira, gritando: «Primeiro as crianças!».
Por estranho acaso a mulher do naufrago confeccionara de manhã, e a conselho da criada, uma espantosa cara de viúva de guerra com duas grandes rugas de desgosto aos cantos da boca e duas bolsinhas de dor por baixo dos olhos azuis ..." [ibidem, trad. Aníbal Fernandes]
Locais: Hommage à Jacques Prévert / Jacques Prévert / J. Prévert / Bio-bibliographie / Oeuvre Complète / Um Poeta em Liberdade
terça-feira, 3 de fevereiro de 2004
Anotações
"Normalmente os místicos não são ocultistas - Santa Teresa d'Ávila, São Francisco de Assis, Santo António, entre outros, são grandes místicos, mas não entram pela "via oculta", que é pertencente às Escolas de Mistérios. Por sua vez, os ocultistas, que estudam toda a parte filosófica e iniciítica, têm as Escolas de Mistérios destinadas para si, pois através da mente uma pessoa pode fazer um estudo e uma série de exercícios, desenvolvendo, pouco a pouco, a cordialidade, o lado do coração. [António de Macedo, in Lusophia]
"Portugal é um país, por enquanto, oculto. Aliás, o Lima de Freitas chama a atenção para o facto de os mitos mais proeminentes da mitogenia portuguesa (os "mitolusismos") não serem referidos nem pelo René Guénon, nem pelo Mircea Eliade, que viveu em Lisboa e deu aulas cá, e ele cita outros; eles citam o mito do imperador que há-de regressar, citam o mito do Encoberto, citam o mito do Preste João e nunca citam Portugal, além de não referirem o Sebastianismo quando se referem ao mito do Encoberto. Portugal é um país que, por qualquer razão misteriosa, não existe e tem de se manter oculto." [ibidem]
"O problema da portugalidade é um reencontrar das origens. é por isto que os livros, por exemplo, do Paulo Loução considero interessantes, pois faz um trabalho de campo muito importante... E estou totalmente de acordo com a ideia do Franclim da "verticalização da Lusitânia". Tudo ocorreu naturalmente. As pessoas começaram a chamar Lusitânia a Portugal... Portugal tem uma missão espiritual, mas sobretudo mistérica. E há bastante gente que está em Portugal a encontrar os mitologemas portugueses e a linha tradicional própria da portugalidade, que, a partir do século XVII, se distanciou bastante da europeia, até, então, existia uma linha esoterológica comum. Com a Inquisição, com o surgimento do rosacrucianismo, a nossa linha iniciítica quebrou-se da corrente iniciítica. Depois do culto do Império e do Divino Espírito Santo veio o Bandarra; no século XVII, tivemos o gigantesco Vieira, que acompanhou o século XVII todo. Ele foi buscar o mito do Quinto Império ao profeta Daniel e a Frei Gil de Santarém. Então, ficámos com os mitos diferentes: o bandarrismo, o Quinto Império, o Sebastianismo e as festas do Espírito Santo. De repente, temos uma linha iniciítica própria, que tem sido trabalhada por autores interessantes, desde o Leonardo Coimbra, o Sampaio Bruno, o Fernando Pessoa, o Almada Negreiros, Lima de Freitas, etc. e muitos outros artistas e investigadores portugueses do século XX." [ibidem]
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2004
Haja Decência!
- As afirmações proferidas na Quadratura do Círculo pelo inenarrável Lobo Xavier, com a aquiescência de Pacheco Pereira, a propósito do episódio Celeste Cardona são inaceitáveis, e mesmo burlescas. Se no caso do presumido Lobo Xavier não é de estranhar, mesmo a coberto de uma reputação de expert em legislação fiscal ou tributária com que ele sem pejo se autoproclama, abundantemente, e que está longe de se provar, o mesmo não se pode dizer do deputado europeu e comentarista Pacheco Pereira. Nestas ocasiões, Pacheco Pereira alegando desconhecimento conceptual, pouco interessado em instruir-se na matéria que interessa ao comum dos cidadãos, o que revela algum menosprezo pelos leitores e ouvintes que o acompanham interessadamente, quase sempre recusa pronunciar-se. E pasme-se, hoje nem sequer fez qualquer leitura política dos tristes acontecimentos ocorridos. Nada se passou, presume-se. Ora, para além de se saber se há ou não crime fiscal teremos de concordar, aliás como disse Marcelo Rebelo de Sousa, passe possíveis estratégicas políticas que o podem mover, no mais óbvio: é incompetência pura. E só havia um caminho a seguir, se vivêssemos num país civilizado, a demissão. Pense, meu caro Pacheco: há mais vida para além dos livros. Eu que o diga.
- As cenas desavergonhadas levadas a cabo numa conferência de imprensa, após o jogo Sporting-FCPorto, por duas personagens ridículas são o sinal dos tempos. José Mourinho e Eduardo Bettencourt não têm lugar onde existem pessoas decentes. São de uma alarvidade inacreditável. O primeiro, desejoso de ir carpir as mágoas de sujeito incompreendido pelos indígenas lusos para terras britânicas, entendeu ser o momento para pressionar a sua saída do FCP. Cabotino como poucos, julga que a civilidade está algures e que nada tem a dizer sobre isso. Engana-se. É preciso ser-se homem para se banhar de civilização. O segundo, revela um humor demasiado negro para uso em palestras. As afirmações ditas em tom grave, para excitação dos fundamentalistas leoninos, desvela o seu carácter e o mau gosto. Não há paciência. Nem decência. Estamos tramados.
Bertrand Russell [1872-1970]
n. em Ravenscroft, Wales, a 2 de Janeiro de 1872
"Wittgenstein me faz sentir que minha existência vale a pena" [Russell]
"Têm existido no mundo, em várias épocas, diferentes filosofias de solitários, umas mais nobres do que outras. Os estóicos e os primitivos cristãos pensavam que o homem podia realizar o supremo bem que a vida humana é capaz por meio da sua própria vontade, sozinho, ou pelo menos sem outra ajuda humana; outros encararam o poder como a finalidade da vida e para outros ainda essa finalidade resumia-se aos prazeres pessoais. Todas estas filosofias são filosofias de solitários na medida em que o bem se supõe ser realizável em cada pessoa separadamente e não apenas numa sociedade maior ou menor de indivíduos. Em minha opinião, tais ideias são falsas, não só consideradas como teoria de moral, mas também como expressão do que há de melhor nos nossos instintos." [Bertrand Russell, in A Conquista da Felicidade]
"Acuso a recepção da sua carta ... Não me admira que tanto o Sr. como o Sr. Lewis hesitem entre chamar-me ateu ou agnóstico, porque eu próprio tenho as minhas dúvidas e ora me considero uma coisa como outra. Penso que sob o ponto de vista estritamente filosófico, na medida em que duvido da existência de objectos materiais e que ponho a hipótese de que o mundo pode ter apenas cinco minutos de existência, me devo considerar um agnóstico; mas sou, na prática um ateu. Não considero a existência de um Deus cristão mais provável que a existência dos deuses do Olimpo ou a de Walhalla. Para dar outro exemplo: ninguém pode provar que entre a Terra e Marte não anda um bule de porcelana a descrever uma órbita elíptica, mas ninguém considera a hipótese suficientemente provável para a encarar a sério. Penso que o Deus dos cristãos é igualmente improvável."
[Bertrand Russell, Carta a ... 18 de Maio de 1958]
domingo, 1 de fevereiro de 2004
Cuidem-se!
O esmifrante sociólogo Luciano Espectador prepara-se para cantar nos 100 anos do nascimento de Raymond Aron (2005) algumas triviais banalidades do autor de "As Etapas do Pensamento Sociológico", sugeridas ao que se sabe pelo extraordinário e "conhecido" sociólogo português Eduardo de Freitas, como a fradesca defesa contra o pecado carnal do amor livre, a discussão entremeada sobre as gulodices das drogas e a vigorosa defesa contra a homossexualidade. Tudo bem regado pelo Maio de 68 em França, com os libertinos estudantes parisienses em pano de fundo. Ao que se sabe, não situará na obra de Aron a luta anti-colonialista, em memória do aroniano e casto ministro da defesa de Portugal. Aproveitará, porém, para malhar em Foucault e Derrida, ou mesmo nesse petulante Sartre, autores que, como se sabe, nunca existiram, não têm obra, nem se viram e ouviram nesses fatídicos dias de Maio de 68. A performance, culminará numa teorização assombrosa sobre o horror dos intelectuais europeus contra os EUA, lendo opúsculos de Bush, intervalados com uma oratória sobre a obra "Ópio dos Intelectuais", expurgando, evidentemente, as alusões a Lord Keynes. Por último, confessa Luciano que não pretende falar de Sokal, não irá referir o que pensa Isaiah Berlin de Aron, e jura que o prof. Maltez não se amotinará da cadeira. No final, a Sociedade dos Intelectuais, assim rejuvenescida, irá em romaria fazer a queimada das "Dezoito lições sobre a Sociedade Industrial", para a qual convidou um assombroso anti-sindicalista eborense, porque na verdade "history is again on move". Bom trabalho.
José Marinho [1904-1975]
n. a 1 Fevereiro 1904
"(...) José Marinho foi, como se sabe, discípulo de Leonardo Coimbra e é necessário situar a orientação do seu pensamento ente a filosofia nocturna de Sampaio Bruno e a filosofia diurna do Mestre. O poeta com quem mais proximidade dialogava era Teixeira de Pascoaes, em cuja poesia se conciliam o sentido gnóstico da ausência e do exílio próprio de Sampaio Bruno e o sentido apolíneo e pagão da presença imediata de Deus na sensação, isto é, no mundo das formas sensíveis, com maior ou menor erro tido por natureza (...)"
[António Telmo, in A Teoria do Instante em José Marinho, Revista Leonardo, nº2, 1988]
n. a 1 Fevereiro 1904
"(...) José Marinho foi, como se sabe, discípulo de Leonardo Coimbra e é necessário situar a orientação do seu pensamento ente a filosofia nocturna de Sampaio Bruno e a filosofia diurna do Mestre. O poeta com quem mais proximidade dialogava era Teixeira de Pascoaes, em cuja poesia se conciliam o sentido gnóstico da ausência e do exílio próprio de Sampaio Bruno e o sentido apolíneo e pagão da presença imediata de Deus na sensação, isto é, no mundo das formas sensíveis, com maior ou menor erro tido por natureza (...)"
[António Telmo, in A Teoria do Instante em José Marinho, Revista Leonardo, nº2, 1988]
sábado, 31 de janeiro de 2004
Viri Doctissimi
O debate mensal na Assembleia da República foi esclarecedor. O prócere dr. Barroso a matraquear promessas para o próximo ciclo eleitoral; o liliputiano Marques Mendes a fazer de ponto nessa vil comédia brejeira; a senhora do défice, Ferreira Leite, ar patriótico de orgulho por não ter perdido os 3 por cento do PEC, respeitavelmente meditabunda, pensando quiçá na próxima espoliação aos funcionário públicos; a rapaziada desmemoriada do PP em pânico e à beira da extrema-unção. Uma estucha, é claro.
Inimputável, diz Louçã sobre a política levada a cabo pela senhora ministra da Justiça. Absolutamente. Só resta saber se a senhora ministra, a quem alguém com piada disse que sabia de fiscalidade, é de facto ministra. Até hoje, temos dúvidas. Daí o assombro.
O berrador Pires de Lima, barão viril da extrema-direita com assento parlamentar, desata em impropérios vários contra o anti-colonialismo de Mário Soares, ao mesmo tempo que a sua bancada ameaça processar o deputado do BE, Francisco Louçã em tribunal por ter considerado ser a ministra (?) Celeste Cardona inimputável politicamente. Curiosamente tudo isto aconteceu no dia em que a TSF apresenta uma sondagem eleitoral (TSF/DN/Marktest). Coincidências?
Em entrevista a Carlos Vaz Marques (Pessoal ... e Transmissível), a escritora Agustina Bessa Luís confessa que "gostaria de fazer milagres". Que Deus seja louvado. É que depois de ter patrocinado a luminária da intelectualidade indígena o dr. Santana Lopes, qualquer milagre é absolutamente desnecessário.
Norman Mailer
n. em New Jersey, a 31 de Janeiro de 1923
"O senhor se define como um conservador de esquerda. O que é isso?
MAILER: Acredito que há coisas extraordinárias neste mundo que estão em vias de extinção e que temos de lutar para que sobrevivam. Por exemplo, a arquitetura antiga, como a de Edimburgo, ameaçada pela enorme feiúra das novas construções. Acredito que as sociedades humanas deveriam se basear numa cooperação que não estivesse centrada no dinheiro, mas na experiência concreta do homem. Meu conservadorismo de esquerda é a denúncia dos aspectos opressores e totalitários das novas tecnologias, é uma tentativa de conservar o que há de bom neste mundo. Não creio na utopia da ciência: "confie em nós e viverá 200 anos com as mesmas condições que tinha aos 50". É totalmente falso. Não podemos fazer nada contra a lei natural da energia.
Seu último livro fala da guerra do Iraque.
MAILER: Opus-me radicalmente a ela porque se disseram coisas inventadas. Não encontraram sequer uma arma de destruição em massa. Saddam é um monstro, mas não tinha vínculos com Bin Laden. Pelo contrário, eram rivais. As pessoas não importam para nossos líderes, o que fazem é matá-las às centenas. Para quê? Nada pode levar a democracia a um povo, esta é uma idéia equivocada. A democracia é um estado de graça que só é alcançada por povos com muitíssima gente conscientizada. As únicas coisas que levamos ao Iraque foram violência e morte.
O senhor conheceu pessoalmente presidentes americanos como John Kennedy e Ronald Reagan. O que pensa de Bush?
MAILER: Por trás da guerra do Iraque está o seu desejo de se apoderar do Oriente Médio e do mundo. É perigoso: segunda sua própria confissão, crê que Deus o livrou do alcoolismo para o levar até a Casa Branca. Isso dá medo.
[Entrevista de Norman Mailer, La Vanguardia]
sexta-feira, 30 de janeiro de 2004
Catálogo nº 18 de Luís Burnay, Janeiro 2004
O livreiro-antiquário Luís Burnay (Calçada do Combro, 43-47, Lisboa) lançou a sua lista nº 18 (nova série) do mês de Janeiro com 552 obras, a preços muito acessíveis. Depois de um excelente leilão, Burnay aí está com o seu novíssimo catalogo.
Algumas referências: Almanach histórico e illustrado de Villa Viçosa para o anno de 1910, Évora, 1909 (c/ um listagem dos administradores da vila) / Almanach Liberal para 1876, 1º anno da sua publicação, Coimbra, 1875 (raro) / O Archivo da Torre do Tombo ..., por António Baião, 1905 / Leal Conselheiro, o qual fez Dom Duarte …, por Don Duarte Rei de Portugal, Pariz, 1854 (c/ introd. do Visconde de Santarém) / Da Vida e Morte dos Bichos (subsidio para o estudo da fauna de Angola e noas de caça), de Teodósio Cabral, Abel Pratas & Henrique Galvão, Lisboa, 5 vols / Arqueologia Árabe em Portugal, de Correia de Campos, Lisboa, 1965 / Taxas dos Ofícios Mecânicos da Cidade de Coimbra no ano de 1623, de J. M. Teixeira de Carvalho, Imp. Univ., 1923 / Dictionnaire des Operas (Dictionnaire Lyrique) ..., de Félix Clemént & Pierre Larousse, Paris / Manual Politico do Cidadão Portuguez (2ª ed.), por Trindade Coelho, 1908 / Soror Marianna a Freira Portugueza (2ª ed.), de Luciano Cordeiro, Lisboa, 1891 / Cultura da Granza, ou Ruiva dos Tintureiros ..., Lisboa, 1803 (opúsculo raro de botânica) / Descrição abreviada do Concelho de Cabeceiras de Basto principalmente da freguezia de S. Miguel de Refoyos sua capital por um Cabeceirense, Lisboa, 1874 (rara monografia) / D. Afonso Henriques e a Fundação da Nacionalidade Portuguesa, por Tomaz da Fonseca, Coimbra, 1949 / A Arte em Portugal, de José Augusto França (Séculos XIX e XX) / Manual do Navegante: regras e preceitos da lide do mar por Guilherme Ivens Ferraz, (da Biblioteca de Instrução Profissional de Bordalo Pinheiro) / Do Restauro dos Painéis de São Vicente de Fora, por António Manuel Gonçalves, Lisboa, 1960 / A Ermida Românica de Santa Catarina de Monsaraz, 1969 (junto c/ O Fesco dos Paços da Audiência de Monsaraz, 1966), Évora / O Nuno Gonçalves da Phaidon: erros, omissões e plágios, de Adriano Gusmão, 1956 (polémico) / Les Poesies d'Horace, avec la traduction du R.P. Sanadon de la Compagnie de Jesus, 1756, 2 vols / História dos Mosteiros, Conventos e Casas Religiosas de Lisboa ..., Lisboa, CML, 1950-1972, 2 vols / Theatro Cómico Portuguez, ou Collecção das Operas Portuguezas, que se representarão nas Casas dos Theatros Públicos do Bairro Alto ... por +++, 1787-1792, 4 vols (raro) / Inventario Artístico de Portugal (Distrito de Aveiro), por A. Nogueira Gonçalves, 1991 / O Templo das Siglas: a Igreja da Ermida do Paiva, por Aarão de Lacerda, 1919 (raro) / O Senhor dos Passos da Graça, de Gomes Leal, 1904 (polémica) / Marchas, Danças e Canções próprias para Grupos Vocais ou Instrumentos Populares (Lopes Graça, versos de Armindo Rodrigues, Carlos de Oliveira, Edmundo Bettencourt, JJ Cochofel, Joaquim Namorado, José Gomes Ferreira, José Ferreira Monte, Mário Dionísio),Seara Nova, 1946 / A Arte dos Jugos e Cangas do Douro Litoral, por Armando de Matos, Porto, 1942 (des. de Gouveia Portuense) / O Supremo Conselho do Grau 33 e o Grande Oriente Lusitano Unido, Lisboa, GOLU, 1914 / Diccionario Histórico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Constructors Portuguezes ou a serviço de Portugal, coord. de Sousa Viterbo, 1899-1922, 4 vols / O Culto do Chá, de Wenceslau de Moraes, Typ. do Kobe Herald, 1905 (peça de colecção)
quinta-feira, 29 de janeiro de 2004
PREGADORES INSTRUÍDOS
"O homem verdadeiramente sábio è aquele que não despreza coisa alguma"
De novo a questão da vida e da morte. Nunca daí saímos. Fecha-se a alma, clamam alguns. Fugir da morte, desembaraçar-nos dela, praticam outros. "Redescobrir a mágica estranheza, a singularidade das coisas evidentes" [Álvaro Siza] é o que é preciso.
Os sermões morais em torno da san(t)idade comportamental da populaça, proferidos por alguns intelectuais (intelectual=aquele que se desdobra, Camus dixit), sobre as manifestações de espanto e pesar na morte de um jogador de futebol são extraordinárias. Tais pregadores instruídos, do alto do seu catecismo chic, patenteiam uma nova liturgia de vida, receituário a imitar pela plebe inculta, que faria sorrir se nao estivesse encoberta pela costumeira alusão aos malefícios dos media, que curiosamente tão sabiamente utilizam e manipulam. O expediente constante ao flagelo dos media, vindo de quem vem, permite assim, com elegância, afastar qualquer debate ou controvérsia sobre esse estranho mundo dos intelectuais pregadores.
Porque, afinal, o que está em jogo é a eterna controvérsia sobre a vida e os seus interstícios, mal ou bem interiorizada ou vivida, e não uma qualquer "pornografia" mediática que todos nós estaríamos devotamente consumindo. Portanto, "saudade da vida", paixão ou espanto, prazer ou desprazer, saber e consciência, sentido que seja da vida ou da morte, permanece além de uma qualquer experiência conversável. Compreende-se que assim seja. Mas não nos comove. Na verdade, "para se achar que a vida pode ser bela e fácil, é necessário não a ter conhecido" [Camus]
Pornografia
Este é um governo de expedientes, manhas e truques, doença mental sempre em hora de telejornal. Aqui a vida é redonda. A arte é ser conformista. Celeste Cardona na TV anuncia: "Para que haja um crime fiscal é preciso que haja a apropriaçao de um património. É preciso que haja a intenção fraudulenta". Aconteceu-me fiscalidade diz um governamental. Evidentemente, diz a mioleira de Lobo Xavier. Quem age são os exportadores. Exportam. O Fisco não larga o Iva. Liberdade pornográfica, pois então. Quem diria! O Alberto João veio a Lisboa regularizar com Durão. Quanto o aluguer? Aberração: "o caminho em linha recta vai do querer ao ter, pelo poder" [António Pedro] Distraidamente os milhões para a investigação caiem. É raro florirem rosas em Janeiro, sorri Durão. O Tribunal de Contas está muito Alfredo e pouco Sousa. Preferimos o choque pornográfico, dizem. José Manuel de Mello muito seco pede Hispânia por favor. Ludgero Marques privatizações. A minha avó Leopoldina "apanhava comboios com um anzol". Sem preço.
"Basta
O público está fatigado
Mas não serei eu quem favorecerá esse desejo
Porque se o publico adormece
Não há feijão este ano" [Breton]
ANOTAÇÕES
"This is Moleskinerie, a blog dedicated to the proposition that not all notebooks are created equal. (...) Moleskine is not my obsession, it’s an attitude. I use other journals also. This site is not here to pontificate. It just is." / an Eudæmonist › ciceronian / [Via Whiskey Bar] Davos Discovers the Blogs
"Hoje a sociologia entrou na ordem natural das coisas. Há sociólogos mais à esquerda, outros mais à direita, e provavelmente a média dos sociólogos situa-se mais à esquerda do que a média dos nossos economistas. Mas não deixa de ser sociologicamente significativo que entre os anúncios da secção "Relax" de uma grande quotidiano português apareça esta sugestiva proposta: "Inesquecível socióloga, 26 anos, exótica, elegante, corpo perfeito, convive distinto cavalheiro." A semiótica poderia deter-se nas conotações deste "distinto cavalheiro". Mas uma visão mais sociológica não poderá deixar de considerar como particularmente interessante esta "inesquecível socióloga". Será inesquecível enquanto socióloga? Será inesquecível apesar de ser socióloga? De qualquer forma, ser socióloga é manifestamente uma mais-valia e imaginamos como uma relação erótica poderá ser completada por uma animada conversa sobre a polémica entre Luhmann e Habermas, as críticas de Jeffrey Alexander a Bourdieu, o sentido da sociedade de risco de Beck ou a terceira via de Giddens." [Eduardo Prado Coelho, in Publico]
Subscrever:
Mensagens (Atom)