"O homem verdadeiramente sábio è aquele que não despreza coisa alguma"
De novo a questão da vida e da morte. Nunca daí saímos. Fecha-se a alma, clamam alguns. Fugir da morte, desembaraçar-nos dela, praticam outros. "Redescobrir a mágica estranheza, a singularidade das coisas evidentes" [Álvaro Siza] é o que é preciso.
Os sermões morais em torno da san(t)idade comportamental da populaça, proferidos por alguns intelectuais (intelectual=aquele que se desdobra, Camus dixit), sobre as manifestações de espanto e pesar na morte de um jogador de futebol são extraordinárias. Tais pregadores instruídos, do alto do seu catecismo chic, patenteiam uma nova liturgia de vida, receituário a imitar pela plebe inculta, que faria sorrir se nao estivesse encoberta pela costumeira alusão aos malefícios dos media, que curiosamente tão sabiamente utilizam e manipulam. O expediente constante ao flagelo dos media, vindo de quem vem, permite assim, com elegância, afastar qualquer debate ou controvérsia sobre esse estranho mundo dos intelectuais pregadores.
Porque, afinal, o que está em jogo é a eterna controvérsia sobre a vida e os seus interstícios, mal ou bem interiorizada ou vivida, e não uma qualquer "pornografia" mediática que todos nós estaríamos devotamente consumindo. Portanto, "saudade da vida", paixão ou espanto, prazer ou desprazer, saber e consciência, sentido que seja da vida ou da morte, permanece além de uma qualquer experiência conversável. Compreende-se que assim seja. Mas não nos comove. Na verdade, "para se achar que a vida pode ser bela e fácil, é necessário não a ter conhecido" [Camus]
Pornografia
Este é um governo de expedientes, manhas e truques, doença mental sempre em hora de telejornal. Aqui a vida é redonda. A arte é ser conformista. Celeste Cardona na TV anuncia: "Para que haja um crime fiscal é preciso que haja a apropriaçao de um património. É preciso que haja a intenção fraudulenta". Aconteceu-me fiscalidade diz um governamental. Evidentemente, diz a mioleira de Lobo Xavier. Quem age são os exportadores. Exportam. O Fisco não larga o Iva. Liberdade pornográfica, pois então. Quem diria! O Alberto João veio a Lisboa regularizar com Durão. Quanto o aluguer? Aberração: "o caminho em linha recta vai do querer ao ter, pelo poder" [António Pedro] Distraidamente os milhões para a investigação caiem. É raro florirem rosas em Janeiro, sorri Durão. O Tribunal de Contas está muito Alfredo e pouco Sousa. Preferimos o choque pornográfico, dizem. José Manuel de Mello muito seco pede Hispânia por favor. Ludgero Marques privatizações. A minha avó Leopoldina "apanhava comboios com um anzol". Sem preço.
"Basta
O público está fatigado
Mas não serei eu quem favorecerá esse desejo
Porque se o publico adormece
Não há feijão este ano" [Breton]