sábado, 31 de janeiro de 2004


Norman Mailer

n. em New Jersey, a 31 de Janeiro de 1923

"O senhor se define como um conservador de esquerda. O que é isso?
MAILER: Acredito que há coisas extraordinárias neste mundo que estão em vias de extinção e que temos de lutar para que sobrevivam. Por exemplo, a arquitetura antiga, como a de Edimburgo, ameaçada pela enorme feiúra das novas construções. Acredito que as sociedades humanas deveriam se basear numa cooperação que não estivesse centrada no dinheiro, mas na experiência concreta do homem. Meu conservadorismo de esquerda é a denúncia dos aspectos opressores e totalitários das novas tecnologias, é uma tentativa de conservar o que há de bom neste mundo. Não creio na utopia da ciência: "confie em nós e viverá 200 anos com as mesmas condições que tinha aos 50". É totalmente falso. Não podemos fazer nada contra a lei natural da energia.

Seu último livro fala da guerra do Iraque.
MAILER: Opus-me radicalmente a ela porque se disseram coisas inventadas. Não encontraram sequer uma arma de destruição em massa. Saddam é um monstro, mas não tinha vínculos com Bin Laden. Pelo contrário, eram rivais. As pessoas não importam para nossos líderes, o que fazem é matá-las às centenas. Para quê? Nada pode levar a democracia a um povo, esta é uma idéia equivocada. A democracia é um estado de graça que só é alcançada por povos com muitíssima gente conscientizada. As únicas coisas que levamos ao Iraque foram violência e morte.

O senhor conheceu pessoalmente presidentes americanos como John Kennedy e Ronald Reagan. O que pensa de Bush?
MAILER: Por trás da guerra do Iraque está o seu desejo de se apoderar do Oriente Médio e do mundo. É perigoso: segunda sua própria confissão, crê que Deus o livrou do alcoolismo para o levar até a Casa Branca. Isso dá medo.

[Entrevista de Norman Mailer, La Vanguardia]